A RAINHA DO MAR
(Folclore nordestino de origem portuguesa, recolhido
por Silvio Romero e recontado por Monteiro Lobato, versão poética em estilo Terza Rima, popularizado por Dante
Alighieri em A Divina Comédia, de William Lagos, 24/7/14)
A RAINHA DO MAR
I
Era uma vez um
país, em que existiu
Um rei
entronizado com uma certa idade;
Vivera em
guerras e no mundo inteiro viu
Bem mais feiura que beleza, na verdade,
E até então ainda não casara,
Pois fora duque durante a mocidade
E um centenar
de mulheres namorara,
Mas sendo de
seu pai o terceiro filho,
A ter um
herdeiro nunca se obrigara...
Era chamado até Duque Andarilho;
Porém na guerra morreu o príncipe herdeiro,
O seu irmão mais velho...
E o mesmo trilho
Seguiu o
segundo, chamando-se o terceiro
Quando o velho
rei seu pai ficou enfermo,
Visto que agora
ele era o filho derradeiro...
Logo a seguir,
ocupou o trono paterno;
Apenas filhas
haviam tido os seus irmãos,
Todas vivendo
em algum país externo,
Com príncipes casadas e vastas ambições,
Cobiça extrema pelo trono do país,
Cada um deles a apresentar suas pretensões...
Havia chance de
até correr um chafariz
De sangue em
qualquer guerra civil,
Caso vagasse o
trono por um triz...
Seria impossível a decisão servil
Do Conselho da Coroa por nenhum,
De outros a ofender a ambição vil...
Seria difícil
firmar acordo algum
E deste modo,
Dom João era a esperança
Da salvação do
reino e o bem comum...
E pela lei que
determinava a herança,
Teve o duque
sua legítima ascensão,
Preparado,
afinal, desde criança...
Mas duvidosa também sua sucessão,
Porque filho ele ainda não tivera,
Já dando margem a má especulação...
Caso morresse
sem ter filho, era
Quase certo o
estouro de uma guerra;
Viriam tropas
aos portos, de galera
Cruzando outras as fronteiras pela serra
E pelos campos do país se chocariam,
Destruição a causar em toda a terra!...
Grandes cidades
então destruiriam,
Ficando o reino
em atroz devastação:
A derradeira
coisa que queriam!...
A RAINHA DO MAR
II
Destarte, logo
após a coroação,
Dirigiu-se o
Conselho ao novo rei,
Claramente a
lhe expor a situação.
Disse Dom João que cumpriria a lei,
Mas sem casar por política somente:
“A minha esposa eu mesmo escolherei.”
“Não com
qualquer que o Conselho me apresente,
Pensando apenas
em formar uma aliança
Com outro
reino, enquanto fico descontente...
“Minha experiência feminina longe alcança
E desgostei-me com essas jovens da nobreza,
Sempre tiveram de governar-me a esperança.
“Quero casar-me
com a mulher de mais beleza
Que neste reino
encontrar seja possível,
Seja ela
citadina ou camponesa...
“Não me parece
que estrangeira seja crível
Como linhagem
favorável à sucessão;
De originar
qualquer guerra é até possível,
“Como esse genro de meu primeiro irmão
Ou o que casou com minha outra sobrinha;
Prefiro alguém de minha própria nação.
“A mais bela de
todas a minha rainha
Farei, desde
que saiba com certeza
Que mais irmãos
sua família continha
“Do que mulheres, questão de singeleza:
Que me dê como filho um bom rapaz
E não mais filhas, por maior beleza
“Que tal donzela
de trazer seja capaz;
Continuaremos
com problema semelhante,
Pois cada genro
nova ambição me traz!...
“Ainda sou
moço, posso esperar bastante,
Minha saúde é
boa e sou bem forte...
Mas iniciem as
buscas neste instante!...”
E é claro que iniciaram pela corte,
Mas examinando as donzelas casadouras
De imediato não lhes deu o rei suporte:
“Pouco me
importa sejam morenas ou louras;
Nelas só busco
a grande formosura;
Posso até
examinar as jovens mouras...
“Somente insisto que essa bela seja pura
E tenha, ao menos, dois ou três irmãos,
De preferência sem irmãs, por mais doçura
Que apresentem
os seus jovens corações;
Que me garanta
essa linhagem masculina,
Sem longos anos
de vãs expectações!...”
A RAINHA DO MAR
III
Escolhidas as
da corte, a pente fino,
Foram sendo ao
soberano apresentadas,
Suas maquiagens
favorecendo o feminino...
Mas por Dom João foram sendo descartadas,
Que a maioria não era bela o suficiente
Outras de irmãos eram mal aquinhoadas...
E das cidades
procuraram entre a gente,
Mas nenhuma a
Dom João satisfazia:
“Eu quero uma
de beleza tão saliente
“Que minha escolha seja aceita em harmonia
Como sendo dentre todas a mais bela:
De forma alguma um motivo de ironia!...
“Que a mais
bonita eu desejo e hei de tê-la
Ou ao menos, a
mais formosa do país...
Tenho certeza
de que acabarei por vê-la...”
Seus arautos
cumpriram o que o rei quis
E casa a casa
pelo reino esmiuçaram...
Mulheres belas
qual a flor-de-lis
Aqui e ali os mensageiros encontraram,
Mas em famílias de muitas irmãs...
Bem menos belas facilmente acharam,
Com linhagens
masculinas mais louçãs,
Mas nenhuma que
a ambas condições
Satisfizesse
suas longas buscas vãs...
Dom João avaliou bem as situações
E elaborou uma lista de “passáveis”,
Sempre as mais belas nessas ocasiões...
Das quais
escolheria as mais afáveis,
Pois com alguma
casaria, possivelmente,
Dessa lista das
que lhe eram aceitáveis...
Mas não se
achava satisfeito, realmente,
Pois se sentia
como homem já maduro
Para casar-se
assim, impensadamente...
Estavam as coisas nesse pé, quando no escuro
De uma igreja viram um jovem a chorar
Diante da santa de coração mais puro...
Chegou um padre
para lhe perguntar
Qual o motivo
de seu arrependimento:
No
confessionário o poderia escutar...
“Mas eu não tenho pecado.
É o sofrimento.
Da casa de meus pais tenho saudade
E essa imagem despertou meu sentimento,
“Sem que eu
tivesse cometido uma maldade...
É que essa
imagem de Nossa Senhora
Lembra muito
minha irmã, essa é a verdade!...
A RAINHA DO MAR
IV
O padre
recordou-se, nessa hora
Da bela noiva
que buscavam para o rei,
De corpo e
rosto tão perfeito quanto outrora
Fora Maria agraciada dentre a grei,
Para gerar do mundo o Salvador,
Logo pensando: “Ao bispo eu falarei!...”
Mas primeiro
indagou: “Caro senhor,
Você é
conterrâneo ou estrangeiro?”
E respondeu-lhe
o rapaz, com grande ardor:
“Desta nação sou cidadão certeiro,
Igual meus pais e como foram meus avós;
O nosso lar é justo e hospitaleiro...”
“E quantos
filhos eles têm, além de vós?”
“Ah, somos
doze, mas só temos essa irmã...
Moramos no
Escarpado, junto do rio a foz...
“A nossa terra
é fértil, boa e chã,
Mas para morar
lá somos demais
E à procura de
emprego estou no afã...”
“De um jardineiro precisamos, ademais...”
Disse-lhe o padre. “Fique
esperando aqui,
Um bom emprego conseguir-te vais...”
E disse ao
bispo: “Senhor, a noiva consegui
Que nosso rei
ansioso está a buscar...
O irmão dela
está na igreja, logo ali...”
Foi logo o bispo ao rapaz interrogar
E prometeu-lhe emprego e um bom quartinho,
Indo depressa ao rei se apresentar...
E o Conselho
convocou o rapazinho,
Que novamente
descreveu sua irmandade,
Da única irmã
falando com carinho...
Mensageiros
mandaram para a veracidade
Confirmarem do
relato do rapaz,
Que a
verificassem com sinceridade...
À casa de seu pai o irmão os traz,
Maravilhados ficando com a beldade,
Que os requisitos do rei bem satisfaz!...
Mas disse o pai
da moça: “Na realidade,
A minha filha a
vocês não entregarei,
Sem documento
que garanta a idoneidade
“Do casamento assim proposto pelo rei;
Nunca antes de um escrito juramento
É que o desposará, segundo a lei...
“Só então eu
lhe darei consentimento;
Inês criamos
com demasiado amor
E só aceito um
tal procedimento...
A RAINHA DO MAR
V
Vendo um
retrato feito por pintor
E escutando as
descrições dos mensageiros,
Dom João
assentiu com seu valor,
Pois de fato, os anos passam, bem ligeiros
E já cansara de escolher mulher
Que o satisfizesse e também aos estrangeiros...
Sendo aquela a
mais formosa que puder
Encontrar de
seu reino nos rincões,
Jurou casar-se,
sem a ver sequer...
Foi uma esquadra a confirmar suas intenções,
Levando a carta, com a promessa escrita,
Esclarecendo totalmente as posições
E vendo o pai
ser verdadeira a dita,
Concordou que a
levassem, afinal,
Dando a seu rei
a filha tão bonita...
Levou consigo
seu minúsculo enxoval,
Tecido às
pressas por sua mãe e amigas...
Mas devido à
sua pobreza natural
Tinha a família só roupas muito antigas,
Desgastadas pelo uso e bem grosseiras,
Que na corte provocariam troça e figas...
Rendia pouco o
produto de suas jeiras
E eram tantos
os que delas comiam!...
Monte Escarpado
localizado nas fronteiras
Entre a nação e outros reinos que existiam.
E assim Inês partiu, só acompanhada
Por três aias, que da capital lhe enviam...
Era uma jovem
gentil, bem educada,
Mas não
conhecia as maneiras cortesãs;
De ensiná-las
cada aia encarregada...
Mas as
precauções acabaram sendo vãs,
Porque
encontraram uma forte tempestade,
Que persistiu
por três noites e manhãs...
As caravelas, das ondas à vontade,
Umas das outras, aos poucos, se afastaram
E a de Inês, para maior infelicidade,
Com violência
as vagas naufragaram,
Saindo em botes
tripulantes e soldados
E Inês em
outro, mas as aias se afastaram!
Chegou o bote à praia, em alcantilados
Rochedos, trazendo Inês e uns marinheiros
E nos penhascos ficaram isolados!
No outro dia,
chegaram uns montanheiros,
Que os alçaram
para além dos montes
E os acomodaram
nas casas de chacreiros...
A RAINHA DO MAR
VI
Foi Dona Inês
por uma velha recebida,
Que lhe
emprestou umas roupas a trocar;
Mas ao saber
que essa jovem acolhida
Era a noiva do rei, sua inveja a dominar,
Logo a levou para
conhecer a horta,
Para num poço fundo a empurrar!...
Com as mesmas
roupas ajeitou sua filha torta,
Mais feia e
nariguda que o pecado,
Calculando que
Inês já estava morta!...
Com um véu grosso seu rosto bem tapado
E sem nada falar, sob o pretexto
De que ficara com o rosto todo inchado
E por uns
tempos, só falaria por gesto...
E num barco
diferente essa impostora
Embarcou, nesse
truque desonesto...
Depois que
foram, chegou a malfeitora
Até a boca do
poço; e descobriu
Viver ainda
Dona Inês, gelada embora!
Para evitar ser descoberta, decidiu
Puxá-la bem depressa para fora;
E como estava desmaiada, desferiu
Com as longas
unhas, dois golpes nessa hora,
Ambos os olhos
da pobrezinha perfurando!
E a cabeça lhe
raspou, sem mais demora!
Logo a seguir, braços e pernas amarrando,
Ela a encerrou dentro de um caixão,
Sobre a beira do precipício o derrubando!
Sem ter por ela
mercê nem compaixão,
Porém querendo
assim só garantir
Da própria
filha a feliz coroação!...
Mas as ondas do
mar, no seu bulir,
O ataúde
inteiramente transportaram
Até a capital
do reino ele atingir!...
Depois, dois pescadores o puxaram
Para seu barco e, na maior surpresa,
A pobre moça cega ali encontraram!...
Enquanto isso,
a esquadra já chegara
E a pouco e
pouco, junto ao porto se reuniu;
Tão somente um
dos navios que naufragara...
O almirante, em desespero, a não cumprir
A missão de que seu rei o incumbira,
A culpa inteira do sinistro a assumir...
Mas lentamente,
toda a gente se reunira
E nem um único
marinheiro perecera,
Coisa bem rara
quando a tormenta gira!...
A RAINHA DO MAR
VII
Feliz de novo o
almirante, pois recebera
A jovem noiva
do rei, carga preciosa,
Mas cujo véu,
realmente, não entendera...
Quando indagou, ela respondeu-lhe, ansiosa:
“Bati com o rosto quando naufraguei,
Estou inchada, cheia de manchas, horrorosa!
“Pior ainda,
perna e braço ainda quebrei
E nesses meses,
sem ter um tratamento,
Soldaram mal... Acho até que me aleijei...”
Porque sua mãe lhe dera um bom ensinamento
Para explicar o horror de sua feiura,
Sem que pudesse haver contestamento...
Graças a tal
desculpa sem lisura,
Foi a mentirosa
até a real presença,
Fingindo ser
inocente, boa e pura...
O almirante
desculpou-se, com veemência:
“Majestade,
aceito a culpa, inteiramente:
Não calculei
uma borrasca assim tão densa...
“Se a pobre jovem se feriu, aceito totalmente
A culpa inteira desta infelicidade:
Dê-me o castigo que achar mais conveniente!”
Porém Dom João,
com magnanimidade,
Que ninguém
fora culpado declarou:
“Foi tudo
apenas uma fatalidade...
“Que a pobre jovem torpemente lastimou,
Ficando assim tão feia em consequência...
Mas cumprirei o que meu pacto firmou...
“Portanto,
casarei. Creio que a Providência
Decidiu-se a
castigar a minha vaidade
E à palavra
dada não negarei valência!...
Foram as bodas
marcadas, na realidade,
Para daí a três
meses, que haveria
Tempo bastante
para a grande quantidade
De roupas que o enxoval demandaria
E além disso, curaria alguns estragos
No rosto e ossos, com uma boa cirurgia...
Mas o rei não
conseguia dar afagos
A essa noiva de
aparência tão estranha
De rosto feio e
de equilíbrios vagos...
Também o tempo suficiente assim se ganha
Para trazer-lhe os pais e seus irmãos:
Dinheiro envia para lhes aliviar tamanha
Pobreza, mais
roupas e boas embarcações:
“Quero que
todos da boda participem,
Confirmando
minha nobreza de intenções...”
A RAINHA DO MAR
VIII
A falsa Inês,
antes que o enxoval equipem,
Insistia para a
boda antecipar,
Afirmando não
precisar de cada item;
A cirurgia também a recusar
E as três aias já estavam desconfiadas,
O seu temor indo ao Conselho denunciar...
Mas as
promessas do rei estavam dadas
E ele afirmou
não poder voltar atrás;
Possibilidades
de herdeiro já esperadas...
“Tantos irmãos a condição me satisfaz;
Que seja feia é uma pena, realmente,
Mas tendo um filho, finalmente terei paz!”
Mas apressar o
casamento não consente.
“São
necessários, ao menos, os proclamas,
Ou a dispensa
papal, naturalmente...
“Com esta mais
tempo, no final, ainda conclamas;
Então espere,
Inês, os cirurgiões:
Seu rosto ao
menos consertar como reclamas!
“Virão em breve seus pais e seus irmãos
E deste modo, poderás matar saudades!”
Sem ter a intrujona as menores ilusões,
Exceto de sua
mãe nas habilidades:
Qualquer
feitiço ou malvada bruxaria
Atenderia às
suas necessidades!
Prometeu a velha que logo chegaria
Na capital, ainda na mesma noite,
Só assim ninguém sua vinda assistiria
E a seus dois
grifos daria algum acoite
Nas redondezas,
em qualquer gruta secreta,
Depois chegando
a pé, sem mais afoite!...
E como aos
ventos a bruxa má afeta,
Nova borrasca
veloz conclamaria,
Para o barco
afundar em negra treta!
Toda a família de Inês se afogaria,
Sem que sua filha acabasse desmentida
E o casamento, afinal, se realizaria!
Estava a
situação assim mantida,
Quando o ataúde
encontraram os pescadores,
Vendo a moça
achar-se viva, de saída
Persignaram-se, cheios de terrores,
Mas viram um crucifixo no seu peito,
Tranquilizados assim os seus temores...
Era a jovem
cega e careca, mas defeito
Nenhum acharam
em seu corpo e face:
“Foi resultado
de maligno malfeito!...”
A RAINHA DO MAR
IX
E o mais velho,
temendo o seu trespasse,
Levou a jovem
para seu próprio lar,
Pedindo à
esposa que então dela cuidasse...
Esforçou-se a boa mulher para a curar
E muito em breve, a saúde recobrou:
Mas sem cabelos e sem nada enxergar!...
Porém toda a
sua história ela contou
E na cidade, já
cheia de boatos,
Depressa o povo
nela acreditou!...
Mas encarando com cuidado os fatos,
Não se atreveu a mulher do pescador,
Meio por medo e meio por recatos
A levar a pobre
ao castelo do senhor:
“Nosso rei já
marcou seu casamento
Com a tal
donzela feia que é um horror!
“Para nós,
pobres, o melhor procedimento
É ir à igreja,
para uma graça suplicar!”
E decidiram ir
à missa em tal momento...
E quando Inês se aproximou daquele altar,
Em cuja santa suas feições reconhecera
O seu irmão, ajoelhou-se a suplicar...
A congregação
reunida percebera
Que a pobre
cega queria ver de novo!
E muita gente
por ela intercedera...
Então ali, em frente a todo o povo,
Duas cascas caíram de seus olhos,
A sua visão retornando num renovo!
As suas
lágrimas carregando como espólios
Essas feridas
que lhe fizera a feiticeira,
Desprendendo-as,
qual se fossem dois antolhos!
Foi comentada a
notícia alvissareira
Por praça e
rua, em toda a capital,
Até o palácio
chegando, derradeira!
Quis o Conselho ver o milagre, é natural
E a bela Inês ao palácio convocaram,
Pobremente vestida, porém sem qualquer mal!
Nesses três
meses, seus cabelos encompridaram,
A cabeleira já
batia em seu pescoço,
Madeixas louras
que a todos deslumbraram!
Ao rei chamaram, com grande alvoroço,
Que reconheceu a imagem do retrato,
Com seu rosto perfeito e o rosto moço!...
Esclareceu-se
logo o estranho fato
E o rei mandou
prender a impostora,
A Inês mandando
vestir com mais recato...
A RAINHA DO MAR
X
E aconteceu que
a feiticeira aliciadora
Foi ao chegar
logo reconhecida,
Antes de ser da
tempestade a condutora...
Foi a bruxa algemada e conduzida
À presença do rei, negando a filha:
“Nunca vi uma tal feiura na minha vida!...”
Furiosa porque
a mãe não a perfilha,
A falsa Inês
tudo contou na acareação,
Uma à outra
jogando na armadilha!...
Logo a seguir, chegou a embarcação,
Trazendo ilesa de Dona Inês a parentela:
Reconheceram-se, cheios de emoção!...
“Faça-se o
mesmo que foi feito a ela!”
Decretou o rei,
entre furioso e aliviado
Por ter agora
esposa assim tão bela!...
E cada um dos
dois caixões foi atirado
Desse penhasco
de que caíra Inês,
Mas nos
rochedos sendo espatifado!
Contra as malvadas justiça assim se fez
E logo após foi celebrado o casamento,
O povo inteiro feliz por tais mercês!...
Pois o
Arcebispo não pôs impedimento,
Já que os
proclamas antes anunciados
Eram os de Inês
e tudo achou a contento!...
Os seus cabelos já longos e penteados,
Com um vestido de pérolas bordado,
Sapatinhos de camurça e fios dourados!
Nenhum
casamento tão belo celebrado,
Nem antes, nem
depois, naquela terra,
Nem outro par
igualmente apaixonado!...
Um dos irmãos
voltou para sua serra
Para na granja
continuar a trabalhar,
Como os avós,
cujos ossos ela encerra,
Porém os outros preferiram se casar
Com moças da nobreza e se alistaram
Na marinha ou no exército, para lutar
Pelo reino,
quando inimigos ali chegaram,
Todos sendo
facilmente derrotados
E de atacar
finalmente se cansaram...
Dom João e Inês continuando enamorados,
Diversos filhos trazendo à dinastia,
Todos rapazes muito bem apessoados...
Anos passados,
o povo ainda dizia,
Como sendo a
maior realidade,
Que Inês da
santa de algum modo descendia!
EPÍLOGO
Recompensados
os dois bons pescadores,
Deram títulos
de nobreza aos doze irmãos,
Porém seu pai a
tudo recusou
E para a velha
granja retornou...
A linda história
ficou anos a contar
O povo inteiro,
à luz de seus fogões
E recordando as
peripécias que passou,
Sempre a
chamavam os muitos narradores
Como “A Rainha
que Saiu do Mar”!...
Nenhum comentário:
Postar um comentário