A PATINHA ENCANTADA – 12-16/8/2018
(Folklore
tcheco, adaptação e versos de WILLIAM LAGOS)
A PATINHA
ENCANTADA (vii) – 12/8/2018
A
ENFERMEIRINHA (iii) -- 13/8/2018
SER GÊNIO
(iii)) – 14/8/2018
MODA INFANTIL
(III) – 15/8/2018
VISÃO
INFANTIL (iii) – 16/8/2018
A PATINHA ENCANTADA I – 12 AGO 2018
Certo nobre, senhor de grã riqueza,
tinha dois filhos, uma jovem e um rapaz,
porém toda a felicidade se desfaz,
cedo ou mais tarde, igual como a tristeza
e assim sua esposa faleceu após doença
e como os filhos eram pequenos, contratou
uma governanta com quem mais tarde se
casou
e aconteceu igual que você pensa:
amor não tinha pelos enteados a madrasta
e logo a morte também seu pai afasta!
Assim a viúva mansão e bens herdara
e segura de si, mandou buscar
uma filha, que “esquecera” de
informar
enquanto vivo o barão que a
desposara;
tanto o rapaz como a menina eram
belos,
muito educados, ambos gentis e bons;
aulas lhes dera com fingidos tons,
mas para a filha voltou então seus
zelos
e como agora de tudo era a senhora,
passou a tratá-los com chicote e
espora!
E assim transcorreram mais dez anos,
os enteados com formosura e educação,
mas era à filha que entregara o coração,
com sua soberba e caprichos soberanos,
ficou vaidosa, indócil e orgulhosa,
as suas falhas atribuindo à meia-irmã,
assim punida por razão bem falsa e vã,
caluniada por aquela mentirosa
e os castigos que ela merecia
era a pobre enteada que sofria
A maior parte dos criados despediu,
a menina a transformar em arrumadeira
e da tarefa mais pesada inteira
encarregou o irmão e até o proibiu
de conversar com a irmã. Trapos vestiam
e não importa o trabalho desses dois
nenhuma recompensa havia depois,
somente os restos que os dois comiam,
mas como ele era também o hortaleiro,
verdura e frutas comiam ambos ligeiro!...
Ora, a sua filha, mal-educada e feia,
logo encantou-se com o meio-irmão,
mas a madrasta era cheia de ambição
e como de um namoro ela receia,
Emil, o enteado, logo mandou embora:
fez a sua trouxa e da irmã se despediu
e um retratinho ela lhe deu quando
partiu,
que lhe pintara uma velha senhora,
sem a madrasta tomar conhecimento,
depois os dois se separaram com lamento.
A PATINHA ENCANTADA II
Queria a madrasta arranjar rico casamento
para a filha, mas a comparação
com a enteada a desvirtuava de antemão;
pensou casá-la com um velho, em tal
momento,
que contratara para as tarefas realizar,
que antes seu irmão executara,
mas o empregado a ideia recusara:
“Eu sou casado e não vou me divorciar.”
Assim a vida foi seguindo em frente,
mas o destino dispôs tudo diferente...
Um domingo de manhã, antes de ir à
igreja,
Bozhava, a enteada, foi até o
jardim, (*)
flores colher para o altar assim
e um estranho evento ali então se
enseja:
três belas moças avistou entre os
canteiros,
vestidos lindos de um branco
deslumbrante
e uma mendiga apareceu no mesmo
instante,
pedindo esmola com olhares
sorrateiros;
logo Bozhava, que “Divina” significa
louca de pena da velhinha fica...
(*) Pronuncia-se “Bojáva”.
Ela vestia sua roupa domingueira,
embora velha, cerzida e bem lavada,
em cujo bolso uma moeda era guardada,
de seu pai a lembrança derradeira;
e num impulso, ela a deu para a mendiga,
que guardou a moedinha em seu surrão (*)
e sobre a cabeça de Bozhava pôs a mão:
“Que prêmio será dado a esta alma amiga,
que ora me deu sua única riqueza,
de seu pai a recordar em sua pobreza?”
(*) Saco de couro.
E
respondeu-lhe a primeira donzela:
“Que verta pérolas quando lágrimas
chorar!”
Disse a segunda jovem a falar:
“Que brotem rosas dos sorrisos dela!”
Disse a terceira, um pouco
caprichosa:
“De qualquer água em que ela enfie a
mão,
lindos peixinhos dourados surgirão!”
E todas quatro em faísca esplendorosa
desapareceram dentro de um instante,
deixando a órfã supresa e vacilante!
Correu ligeiro de retorno ao lar,
tendo nas mãos o seu buquê de flores;
descrente ainda de tais resplendores,
ia somente com os tamancos se calçar,
quando veio a madrasta e a esbofeteou:
“O que estavas fazendo, vagabunda?”
Com o tapa ficou sua face rubicunda
e com a dor inesperada ela chorou
e de imediato o milagre sucedeu:
fiada de pérolas de seus olhos escorreu!
A PATINHA ENCANTADA III
Assim que a madrasta o percebeu,
pôs-se as pérolas a recolher avidamente!
Então Bozhava foi sorrir, naturalmente,
e um segundo milagre aconteceu,
de sua boca caíram rosas perfumadas!
“Não sei o que fizeste no jardim,
mas para a igreja não irás assim!
Vai recolher essas rosas encantadas!’
Então Bozhava foi encher uma bacia
de água pura em que as colocaria...
E quando a água com seus dedos tocou,
logo surgiram dez peixes dourados,
a nadar ao redor, muito animados!
Sem perder tempo, a madrasta a
interrogou;
quando sorria, brotavam novas rosas
e assim Bozhava narrou o
acontecido...
“Doravante, só sorria a meu pedido!
Saem rosas lindas, mas demasiado
numerosas!”
E foi falar com sua filha, Bohuslava,
que no outro dia para o jardim
mandava...
Mas as quatro fadas não apareceram...
”Acho melhor o outro domingo se esperar...”
E dito e feito, quando de novo a foi mandar,
coisas bem parecidas sucederam...
Quando a mendiga apareceu, Bohuslava
logo estendeu-lhe um dobrão de ouro,
na esperança de obter igual tesouro,
mas a fada-mãe sua soberba calculava
e disse às três donzelas ataviadas:
“Quais são as penas a ambiciosas destinadas?”
“Esta é antipática e tem mau coração!
Quis subornar-me com moeda de ouro,
bondade falsa para seu desdouro,
o que vocês, minhas filhas, lhe
darão?”
Disse a primeira: “Cada vez que ela
chorar,
iguais lagartos suas lágrimas serão!”
Disse a segunda, com igual conotação:
“Dentre seus lábios feios sapos a
brotar!”
Falou a terceira: “Quando for mexer
em água,
só serpentes surgirão para sua
mágoa!”
Bohuslava correu, tomada de terror,
mas ao contar à sua mãe o acontecido,
surgiram sapos como fora prometido
e de suas lágrimas lagartos em furor!
Com muito nojo, foi as mãos lavar,
surgindo logo serpentes venenosas!
Chamou Bozhava a madrasta e as perigosas
serpentes obrigou-a a espantar!
Mas depois, muitas sovas foi-lhe dar,
Para um tesouro de pérolas juntar!
A PATINHA ENCANTADA IV
Enquanto isso o seu irmão, Emil,
foi empregar-se no palácio do rei:
Aqui um bom trabalho encontrarei,
estou cansado de tanta obra mais vil!
E teve a sorte de ser logo contratado
e destinado ao serviço do jardim;
em suas folgas, sentava no capim
e o retratinho que a irmã lhe tinha dado
segurava, a observá-lo carinhoso:
era o consolo de seu olhar saudoso!
Meses depois, quando o estava a
contemplar,
pelas suas costas aproximou-se o
rei...
“Meu caro Emil, nenhum castigo te
darei,
não precisas com minha vinda te
assustar!
Mas o que foi que escondeste tão
depressa?”
“Senhor meu rei, é apenas um retrato
de minha irmã, que conservo com
recato,
para que seu belo rosto eu não
esqueça...”
“Pois desde que nasci, não vi beleza
igual,
nem nos sonhos, nem no mundo mais real!...”
“Sem dúvida, tal beleza me fascina!
É viva ainda, ou o céu já a chamou?”
“Vive, senhor, que carta me mandou...”
“Pois então sabe escrever essa menina?”
“Sim, Majestade, nosso pai era um barão
e enquanto vivo, tratou-nos muito bem;
nossa mãezinha já faleceu também,
mas recebemos muito boa educação...”
“E que idade terá ela agora...?”
Indagou o rei, a quem já o amor devora!
“Majestade, deve estar com dezessete,
era dois anos mais moça do que eu...”
“E essa carta que você dela recebeu?”
“Senhor meu rei, ou um delírio se
intromete,
ou é só produto de sua imaginação!”
“Deixe-me ver a carta, meu amigo,
se é que você ainda a traz
consigo...”
“Sim, Majestade, mas não lhe dê muita
atenção:
o que ela escreveu é surpreendente,
não posso crer tenha ocorrido
realmente!”
“Deixe que eu chegue por mim mesmo à
conclusão,”
falou o rei, logo após a ficar
maravilhado:
“Quatro fadas a teriam abençoado,
em recompensa por seu bom coração?
Quando chora, pérolas brotam em profusão,
quando sorri, de sua boca saem rosas,
peixes dourados de suas mãos formosas?”
“Sire, deve ser só imaginação,
ela é forçada a trabalhar por dia e noite
e sem motivo apanha até de açoite!”
A PATINHA ENCANTADA V
“Tenho até medo que tenha enlouquecido!”
“Não, meu amigo, meu coração é
conselheiro!
Talvez por isso até agora estou solteiro;
se for verdade, já me encontro resolvido
a me casar com ela... Quem é seu pai?”
Emil falou de sua família de imediato.
“É o melhor sangue da nação, um triste
fato
que em combate esse barão perecer vai,
mas na verdade, ele morreu em minha
defesa
e recompensa lhe é devida, com certeza!”
“Vou lhe dar hoje um posto de tenente
na minha guarda e mandarei chamar
a sua irmã, a quem pretendo desposar,
mesmo que seja imaginação somente...
A sua beleza e sua origem nobre
são o bastante para meu casamento!
Sem dúvida é causa de grande lamento
que viva agora em condição tão
pobre!”
E de imediato um arauto ele enviou,
que para a corte Bozhava convocou!
Uma história bela se conta bem depressa,
mas são diversos os acontecimentos...
Quando a madrasta ficou ciente dos eventos,
um encantamento preparou à toda pressa,
que na verdade, era uma bruxa disfarçada
e mandou logo aprontar a sua carruagem,
com as duas moças iniciando sua viagem,
até chegar a uma certa encruzilhada,
em que na estrada lançou sua enteada,
caiu na poeira a pobre desgraçada!
Então cuspiu três vezes sobre ela
e balbuciou a sua ímpia bruxaria
que em patinha logo a transformaria;
saiu correndo a infeliz donzela
e de volta à carruagem, novamente,
fez sinais impíos e cantilena declamou
e assim sua filha Bohuslava
transformou
na imagem de Bozhava inteiramente!
“Segue nadando pelo rio em
liberdade!”
gritou a madrasta, num assomo de
maldade!
O rei encantou-se com tal falsa beleza,
embora ela permanecesse silenciosa...
Sua timidez ainda a torna mais graciosa,
pensou o rei. É
imaginária a tal proeza!
Nem mesmo Emil dessa troca desconfiou
e logo foi celebrado o casamento,
mas ao dizer o “Sim!” grave portento:
bando de sapos de sua boca lhe brotou!
Mas mesmo assim, como a beleza o encantava,
a cerimônia logo a seguir se
completava...
A PATINHA ENCANTADA VI
Ele aguardava ainda as pérolas do olhar,
mas durante o banquete do festim,
novos sapos fez produzir assim
e então chorou, para lagartos espalhar!
A madrasta, porém, logo insistiu:
“As reais núpcias já foram celebradas
e não mais poderão ser renegadas!”
Então um pajem com bacia surgiu,
para que a noiva suas mãos lavasse
e cem cobras venenosas espalhasse!
Diz um ditado que é Deus quem determina,
ao nascimento, de que doença morreria
e o par com quem alguém se casaria,
ficando o rei consternado com sua
sina!
“Por que vocês me contaram tal
mentira/?
Em vez de pérolas, são lagartos
asquerosos!”
“Majestade, Emil e a irmã são os
mentirosos,
eu não falei que o choro em pérolas
se vira!”
Cheia de medo a madrasta protestou;
Do rei a cólera para Emil então tornou!
E de um só golpe, o atravessou com a espada!
Ao vê-lo morto, logo o rei se arrependeu:
Seu pai em minha
defesa pereceu!
E na igreja foi uma Essa colocada, (*)
com o rapaz em magnífico ataúde
e uma guarda de honra de soldados!
Logo a sogra o convenceu de que os maus fados
eram feitiços... Com a mentira ao rei ilude,
mas da noiva não quis mais aproximar-se:
E se a infeliz novas
cobras convocasse?
(*) Plataforma em que se coloca um ataúde.
Ora, à meia-noite, as portas se
abriram
e toda a guarda caiu adormecida;
uma patinha entrou, meio perdida,
mas seus passos ao catafalco a
conduziram (*)
e então, junto aos degraus, se
sacudiu,
suas penas todas largando pelo chão,
de corpo e rosto a retomar a sua
feição
e se ajoelhou, suaves rezas proferiu,
enquanto rosas caíam ao derredor,
cada leve sorriso em outra flor!
(*) Plataforma funerária; sinônimo de
Essa.
E logo em pérolas seu pranto transmutou;
contudo, ao soar a badalada
de uma hora, foi de novo transformada
e a patinha bem depressa se afastou;
somente então a guarda se acordou,
a contemplar, com verdadeiro espanto,
rosas vermelhas juncando cada canto
e o mar de pérolas que por ali ficou!
Quando o rei soube, ficou logo
desconfiado,
dobrando a guarda que havia designado.
A PATINHA ENCANTADA VII
Já nessa noite foi esconder-se atrás do
altar
e à meia-noite viu tombar a guarda,
pelas lajes do chão sujando a farda,
terrível sono também a ele dominar,
mas o conseguiu, em parte, combater,
até assistir a entrada da patinha,
que então do ataúde se avizinha,
a sacudir-se para as penas desprender
e transformar-se na donzela em que
pensou;
sem mais lutar, o sono o conquistou!
De madrugada, quando o rei se despertou,
assistiu à sua guarda se acordando,
logo o perdão do rei já suplicando!
E um grande fardo de pérolas juntou!
Mas na terceira noite, tomou uma
poção,
que o deixou excitado fortemente,
à meia-noite, ainda resistente,
a guarda inteira viu tombar ao chão!
E novamente apareceu a tal patinha,
que bem segura do ataúde se
avizinha...
Mais uma vez viu quando ela sacudia
as penas todas e as derramava pelo chão;
tomado foi por veloz inspiração:
pegou num círio votivo que ali havia
e bem depressa, evitando escorregar
nas pérolas ou nas rosas já abundantes,
chegou às penas empilhadas como dantes,
com a débil chama indo a todas incendiar!
Pois de imediato, a jovem o contemplou:
“Senhor meu rei, o encanto se quebrou!”
Então surgiram aquelas três donzelas,
cada uma a lhe entregar um elixir;
Bozhava sobre o irmão os fez fluir:
o primeiro a restaurar-lhe as faces
belas,
o frio da morte depressa a espantar,
mas logo o sangue da ferida a
escorrer!
Com o segundo, parou inteiro de
verter,
com o terceiro, fez Emil logo
acordar!
A fada-mãe surgiu e os abençoou
E o gentil bando para o céu voou!
No mesmo instante, todo o feitiço se
desfez:
recobrou a sua feiúra Bohuslava,
que com a mãe em cela se encerrava
e um novo matrimônio então se fez,
o anterior sendo anulado de imediato,
o rei e Bozhava na maior felicidade,
Emil restaurado em toda a dignidade
que fora de seu pai; no mesmo fato
sendo nomeado do reino o general,
para seu rei defender com pleno ideal!
EPÍLOGO
Mas a madrasta com sua filha Bohuslava
foram juntas em cela encarceradas,
por sapos e lagartos dominadas,
enquanto a mãe qualquer água negava!
Porém a sede venceu a filha, finalmente,
e no momento em que os dedos dela
tocaram na beirada da tigela,
surgiram cobras em multidão fremente,
que muito venenosas as morderam
e as duas malvadas depressa faleceram!
Esta é uma lenda muito antiga, porém na Baixa Idade
Média foi submetida a uma transformação, sendo a fada-mãe identificada com
Maria, que surgia acompanhada por três santas.
A ENFERMEIRINHA I – 13 AGO 18
Certa menina queria ser enfermeira
quando crescesse, para fazer
curativos
em doentes e conservá-los vivos,
para a vida enfrentar de forma
inteira.
É bem comum em meninas a maneira
de atribuir a bonecas dons ativos
ou castigá-las por atos mais
esquivos,
talvez seja apenas imitação ligeira,
mas é inata essa tendência maternal,
por mais que a queira contrariar o
feminismo,
com sua revolta contra a “opressão
social”;
mais facilmente nos mostrarão
carinho
do que os meninos, que têm maior
egoísmo,
mais competitivo seu natural
caminho.
A
ENFERMEIRINHA II
Pois
a menina mostrava real propensão
para
essa atividade curadoura;
esparadrapo
e curativos entesoura
para
empregar em fratura e luxação
imaginárias
ou se quebradas são
as
suas bonecas ou o passarinho que achou fora,
de
asa quebrada, de que agora é a cuidadora:
bem
instintivos os talentos lhe serão,
pois
sua família tem bem outra vocação,
talvez
se lembre de ter sido atendida
ou
tratamento que viu em algum irmão...
E
se lhe indagam, com malícia escondida:
“O
que faria, caso parar meu coração?”
“Ora,
eu te dava uma enorme sacudida!”
A ENFERMEIRINHA III
E quando a avó vinha brincar com
ela,
indagando como tratar de uma doença,
sempre indicava qualquer cura
pretensa,
sem que a adulta fizesse troça dela,
de moléstia infantil que se convença
saber curar... “E um soluço na costela?”
“Tem bichinhos na barriga e pulam
nela,
até ganhar colher de açúçar da
despensa!”
Sempre a Vovó achava graça na
Netinha
e continuava mais perguntas a fazer,
até que aos poucos a menina se
chateava...
“E se acaso morresse a bonequinha,
algum remédio então podes
conhecer...?”
“Ora, Vovó, ia no pátio e a
enterrava!”
SER GÊNIO I –14/8/18
Genialidade não é fácil de entender
para um menino de seis anos ou sete:
“Ser gênio é saber abrir um canivete,
sem a unha quebrar nem se prender!”
“Ser gênio é o cara conseguir comer,
se está com a boca cheia de confete,
quando a comida pelo meio se intromete
e pelo queixo começa a escorrer!”
“Ser gênio é um patinete se ganhar
e conseguir correr pela calçada,
sem na esquina a gente tropeçar,
no meio dessa gente atrapalhada,
na nossa frente sempre a se enfiar,
até pedindo para ser atropelada!”
SER GÊNIO II
“Gênio é um cara
que faz o que não deve
de um jeito que
ninguém vai descobrir;
se desconfiam, bem
depressa vai fugir
e então a culpa um
outro cara leva!
Se pôr a culpa
alguém nele se atreve,
sua inocência
consegue até fingir!”
“Ser gênio é aprender
o jeito de mentir
e uma desculpa
inventar em tempo breve!”
“Mas isto tudo é
só desonestidade!”
“Ora, até o
Presidente fez também!”
“Só que agora ele
se encontra na cadeia!”
“E daí? Se a gente é de menoridade
e até faz uma
carinha de neném,
sempre dá um jeito
de escapar de coisa feia!”
SER GÊNIO III
“Gênio é um cara
que no “bafo” faz trapaça
e até consegue
sempre se dar bem
e depois grita mais
alto do que alguém
que desconfia do
golpe que ele passa!”
“Gênio é um cara
que o cocô amassa
de um cachorro na
rua, mas também
consegue os tênis
lavar, sem que ninguém
perceba a porcaria
que ele faça!”
“Ser gênio é o
cara beijar uma menina,
sem em seguida
levar tapa na cara!
O gênio chega
perto e então se anima,
mas logo depois da
garota ele dispara:
se ela gostar,
nunca mais nos sai de cima
e de beijar o
carinha nunca para!...”
MODA INFANTIL I – 15
AGO 18
(Sugerido por tesxto
de Art Linkletter)
A garotinha foi a um aniversário
e a dona da casa a cumprimentou:
“Oi, Mariazinha, que bom que já chegou!”
“Eu me apressei para chegar no horário!”
“Mas que bonito que você caprichou!”
“Não, minhas calcinhas botei ao contrário,
mas me escondi atrás do seu armário
e o lado de trás na frente ja ficou!”
“E o que estava na frente eu já deixei atrás!”
Ficou a senhora um tanto embaraçada:
“Bem, está gostando da festinha, então?”
“Ora, é igual às que a Mamãe me faz!”
“E alguma coisa a deixou mais entusiasmada...?”
“Nas minhas calcinhas tem um coração!”
MODA INFANTIL II
Então a senhora foi falar com um garotinho:
“Por que está usando suspensório e cinto?”
“É que assim mais à vontade eu sinto,
a minha bermuda fica bem no lugarzinho!”
“Assim você pode comer mais um pouquinho!”
“Não, a senhora sabe que eu não minto,
é que baixarem minha bermuda eu não consinto!”
“Mas quem iria fazer isso, meu filhinho?”
“Os caras fazem, depois que eu puxo a deles!”
“Não acredito que faça isso, queridinho!”
“A gente tem de dar o puxão muito ligeiro!
Eu vou chegando e então me encosto neles!”
“Mas não fica apertado, garotinho?”
“Ah, se eu ficar, eu vou no seu banheiro!”
MODA INFANTIL III
“Você parece cansada, minha filhinha...”
“É que nesta tarde eu não sesteei,
Mamãe ficou ralhando e eu me apressei:
“Vamos depressa, senão apanha da madrinha!”
“Mas eu não bato em você, minha queridinha!”
“Lá no “prèzinho” da sua filha eu apanhei!
Mas sou boazinha e nem mesmo lhe contei,
senão você ia bater nela, a coitadinha!”
A dona de casa, meio envergonhada,
comentou: “Você está muito elegante...”
“Estou com duas saias do vestidinho embaixo!”
“Mas por que duas saínhas, minha amada?”
“Sabe porquê?” – disse a menina, triunfante:
“A saia nova me comicha se eu me abaixo!”
VISÃO INFANTIL I – 16 AGOSTO 2018
Por que as crianças falam diferente
do que faz a maior parte dos adultos?
Não me refiro a gramaticais insultos
ou dificuldade de pronunciar que sente.
Quero dizer que uma criança inexperiente
enxerga o mundo com totais indultos,
da maldade existente vê só vultos,
tudo contempla com um olhar contente...
O que acontece é que nós, mais velhos,
já encaramos muita real maldade
e não apenas reflexos em espelhos;
ou em nossa vida vemos só monotonia,
sua rotineira e real opacidade,
enquanto elas têm o senso da magia!
VISÃO INFANTIL II
Vêm o mundo todo feito de
aventura,
uma enorme vastidão a se
explorar,
tudo se pensa poder conquistar,
sem o rancor que nossa alma
tortura.
Não experimentaram ainda a
desventura
e tudo é novo no seu contemplar,
nenhuma espera monstros
encontrar,
salvo em histórias de beleza
pura,
em que tais monstros sempre são
vencidos
mas não se encontram dentro de um
armário
nem embaixo da cama eles se
escondem!
Dragões existem com seu fogo
multifário,
mas para terras distantes
perseguidos,
sem que ao redor da casa
quaisquer rondem!
VISÃO INFANTIL III
O importante é que sejam derrotados
pelas crianças os malvados das histórias;
no inconsciente abundam as memórias
dos animais no outrora dominados!
Assim é errado mostrar contos desbotados
numa versão açucarada e sem escórias:
quem vence monstros é que adquire glórias;
qual o valor, se não forem bem malvados?
Porque de fato, os monstros são humanos
e contra eles previnem-se as crianças,
à espreita em cada esquina e em cada trilha!
Mas quanto a mim, passados todos esses anos,
nunca perdi de fato minha esperança
de contemplar a surpresa e a maravilha!
Recanto das Letras > Autores >
William Lagos
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