VISÃO DE MIM – 27/8-5/9/2018
Novas Séries de WILLIAM LAGOS
VISÃO DE MIM (VIII) – 27 AGO 2018
ORVALHO (III) – 28 AGO 2018
ASCENSÃO (V) – 29 AGO 2018
O RIO INVERSO (IV) – 30 AGO 2018
ABRINDO ESPAÇOS (IV) – 31 AGO 2018
CUI BONUM QUID PRODEST? (VII) – 1º SET
2018
GESTOS MINÚSCULOS (IV) – 2 SET 2018
EM PRECE CARMESIM (IV) – 3 SET 2018
EM PRECE PARA MIM (III) – 4 SET 2018
EM PRECE PARA TI (IV) – 5 SET 2018
VISÃO
DE MIM I – 27/8/2018
Que
coisa estranha! Não faz nada que afirmei
quão
raramente a mim nos sonhos via,
quando
talvez, numa pontinha de ironia,
a
mim mesmo ontem em sonho contemplei!
Como
em tela de cinema divisei
a
quem beijar bela mulher queria,
leve
erotismo em que se cumpria
essa
visão de mim que ontem neguei!
Mas
foi de lado, visão em duplo plano,
como
se a mim representasse, igual que ator
e
só de lado essa boca então beijei,
porém
cartaz não era, sem engano,
em
movimento houve um beijo de sexor:
lábios
abertos contra os meus provei!
VISÃO
DE MIM II
Será
que de algum modo pude envergonhar
esse
duende por Morfeu encarregado
de
administrar o arquivo dedicado
a
tantos temas que eu deveria sonhar?
E
como não costumava me mostrar,
fez
um esforço meio que apressado
e
conseguiu apresentar-me assim de lado,
como
resposta com que me intimidar?
Pobre
duende, que é tão dedicado!
Nunca
eu iria denunciá-lo ao Pai Morfeu!
Há
quantas décadas não me envia pesadelos?
“Querido
meu, eu só havia observado,
sem
reclamar da obra que empreendeu
e
que sempre executou com tantos zelos!”
VISÃO DE MIM III
Será que de mim mesmo reclamei
que me indicasse uma visão de mim?
Não de uniforme, nem usando
borzeguim,
só para ver como me conservei
em meu subconsciente, se mudei
ou permaneço igual ao que era assim?
Foi uma imagem adulta no confim
de um cartaz de cinema que mostrei!
Foi uma imagem de um certo
desaponto,
pois a carreira de ator eu não
segui,
principalmente a meus alunos dirigi,
mas em nenhum papel nelas desponto:
já morreu há muitos anos esse ator,
enterrado sem pompas nem rigor...
VISÃO
DE MIM IV
Será
que eu mesmo, de fato, me mostrei,
para
meu eu acordado em ironia?
Se
ali beijei essa mulher que via,
em
minha vida real nunca a encontrei...
Existe
algo com que sempre me intriguei:
até
que ponto meu sonhar é fantasia,
até
que ponto alternativa via
na
qual em outro de mim me transformei?
Já
demais vezes descrevi meus sonhos,
com
uma lógica perfeita a desenhar,
outros
lugares de novo a visitar,
a
contemplar iguais rostos risonhos,
que
reconheço, mas não vejo por aqui...
Descrevo
o mundo de um passado que vivi?
VISÃO
DE MIM V
Veja-se
bem: não sonho em ser um rei,
nem
um herói revestido de armadura,
não
sou um ancião de sabedoria pura
nem
um profeta do que jamais verei.
Eu
sou o mesmo ali – e me satisfarei
em
percorrer com a mesma investidura
planícies
plácidas, mas cheias de ventura
e
monstro algum ali combaterei.
Porém
visito igual algumas bibliotecas
(e
algumas vezes, lojas filatélicas!),
sempre
viajo de ônibus ou de trem,
encontro
damas comedidas ou sapecas,
que
a meu redor se mostram perihélicas,
sem
agressores que a reclamá-las vêm!...
VISÃO DE MIM VI
Dizem alguns que os sonhos realizam
os objetos de atuais preocupações:
a isso que temes não dês mais
atenções,
pois já ocorreu nesses sonhos que
deslizam!
Mas eu não vejo tais coisas que me
bisam
meus sentimentos magoados de
paixões.
Serão de fato só uma teia de ilusões
Rotas concretas que meus passos
pisam?
Algumas vezes o que ali me aconteceu
é o repetir de qualquer sonho
anterior,
mas com detalhes bem mais
complicados,
mas sou eu sempre quem tudo percorreu,
em movimento por um círculo
exterior,
sem que por mim sejam meus traços avistados.
VISÃO
DE MIM VII
De
fato, em tal mundo eu sou ator,
no
sentido de que ajo permanente,
não
sou passivo nesse outro ambiente,
as
circunstâncias volto a meu favor.
Se
por acaso algo me vem contra o pendor,
sei
que é meu sonho e decido firmemente
que
assuma direção que me contente:
como
um roteiro do qual seja o diretor.
Talvez
seja a mensagem desse sonho,
em
que me vi num cartaz em movimento,
eu
sou ator, mas tão leve como o vento
e
em tudo nele minha atuação eu ponho,
mas
é como se um filme dirigisse,
sem
que meu próprio rosto distinguisse...
VISÃO
DE MIM VIII
Não
me convém mudar essa atitude:
se
por acaso Morfeu ou seu duende
ordem
de outro que não eu atende,
é
bem possível que sofra um choque rude!
Que
tal cenário num outro se demude,
em
que a inimigos meu avatar contende
ou
que a imagem minha que se prende
seja
trocada pela igual que não me ilude
que
o tempo passa e nele passo igual
e
que esse mundo de tempo diferente
comece
a obedecer este daqui,
não
mais que cópia deste mundo atual,
que
a meus próprios desejos não atente,
por
mais que insista nos finais que preferi!
ORVALHO
I – 28 AGO 18
Minha
alma inteira te projeto como um lírio,
para
adejar sobre tua alma em tempestade,
serei
sombra em teus lábios de vaidade,
serei
sumo em teus olhos de delírio,
serei
sangue em teu sonho de martírio,
serei
plasma em tua promíscua castidade,
serei
faro em tua breve olfatidade,
serei
cera sebre tuas lágrimas de círio,
destarte
um bálsamo para teus sentidos,
em meu
breve drapejar sobre tua alma,
despetalado
frente a ti em plena calma,
um
elixir sobre teus membros feridos,
tua
larga soma de angústias a roubar
até o
suspiro de teu incauto despertar!
ORVALHO
II
Que
nesse amplo projetar me faço em nada,
meu
corpo abandonado sobre o leito,
meu
coração silencioso no meu peito,
pois só
bate a teu redor na madrugada;
em cada
lágrima serei pétala dourada,
sobre
as dobras de tua face então me azeito,
sobre
as dobras de teu corpo então me deito,
orvalho
puro em tua noite amargurada,
em teus
ouvidos eu choverei canção,
igual
àquelas que escutaste no teu berço,
eu teu
louvor desfiarei meu terço,
serei a
música de tua circulação,
simples
refrão para cada melodia,
como
lâmina a cortar tua dor mais fria.
ORVALHO
III
Não
obstante, não me escutarás,
talvez
percebas tão somente algum zumbido
e me
confundas com inseto presumido:
teu
doce sangue nesse instante negarás;
na
escuridão meu vulto não verás,
talvez
percebas algum clarão perdido,
como um
raio na distância perseguido
mas nem
sequer a esclerótica abrirás; (*)
mas
pouco importa, se te der algum consolo,
a
desfatiar de teu peito essa agonia
da
solidão que te deixou vazia,
só por
instante a respirar teu colo,
ali
deixando tanta coisa que te dei
e em grande vácuo para
mim retornarei.
(*) O branco do olho.
ASCENSÃO I – 29 AGO 18
Nunca pensei em praticar o
alpinismo,
mas sempre desejei subir montanhas;
não sejam estas contraditórias
artimanhas:
bem mais seguro será fazer só
montanhismo,
mas no meu pampa bem oposto é tal
modismo:
é uma planície com bem poucas
manhas,
só à beira dos rios algumas canhas,
sem grande chance de se encontrar
abismo;
assim somente pude o Cerro de Bagé
subir um dias com três companheiros,
já falecidos, que me não podem
desmentir;
porém subimos a estradinha a pé,
antiga senda de muitos caminheiros,
sem nem o fôlego dos pulmões fugir!
ASCENSÃO
II
Na
verdade, na Sexta-Feira Santa,
era
um costume ir até lá, frequente,
para
colher a macela florescente,
que
a data ínclita de poder imanta;
e
muita gente ali subindo canta,
crianças
com os velhos, lentamente,
que
os adultos só hoje o fazem raramente,
subindo
os velhos com nós na garganta,
mas
procuram conservar a tradição,
enquanto
os jovens e os de meia-idade
pouca
importância atribuem a tal costume
ou,
quando muito, irão subir de condução,
sem
da escalada sentir necessidade,
por
menos íngreme que se apresente o cume.
ASCENSÃO
III
Naturalmente, não ficam na estradinha,
pulam
arames, sendo o maior perigo
rasgar
a blusa para expor o umbigo,
nessa
invasão que dos campos se avizinha,
porque
a macela cresce pequeninha,
mas
longe sopra seu perfume amigo
e
então as flores vêm furtar de seu abrigo,
para
a bênção pascoal em que se alinha
uma
fila de gente que acredita
que
essa flor só se faz medicinal
depois
de ser abençoada em alguma igreja,
igual
que em Ramos quem sofre é o palmeiral,
quando
nas testas a cinza então palpita,
nesta
mesma Sexta-feira que se enseja!
ASCENSÃO
IV
Para
nós quatro foi só um divertimento
e
nem ao menos subimos na Quaresma;
caíra
a cruz que espantava o abantesma,
cinza
a madeira pelo tempo, em passamento
das
intempéries e, no impulso de um momento,
em
destemor do toque de uma lesma,
tentei
quebrar uma lasca dela mesma,
para
guardar como lembrança desse evento,
sem
conseguir com minha mão quebrar,
porém
meu velho amigo, o bom José,
que
tantas vezes solava no coral,
melhor
que os brancos os negros a cantar,
quebrou-me
a lasca com golpe de seu pé
e
ma entregou com um sorriso natural!
ASCENSÃO V
Eu a guardei durante muitos anos,
mesmo depois de falecer o meu amigo;
era a lembrança que trazia comigo
dessa ascensão a tais altos
profanos;
mas no retorno, quando na praça
estamos,
uma cigana com cabelos cor de trigo,
a contrariar um estereótipo tão antigo,
quis ler as nossas mãos e até
aceitamos;
não sei o que falou aos outros três,
eu “viveria até os Noventa-e-três,
teria seis filhos e dois casamentos”;
de fato, os filhos tive e assim
casei
por duas vezes... mas apenas sei
que nao morri até os atuais momentos!
O
RIO INVERSO I – 30 AGO 2018
Costumam
rios correr desde a nascente,
perenemente,
no sentido da vazante
e
se represa não lhes estiver adiante,
até
a foz ou estuário vão em frente,
salvo
que algum se torne em afluente
de
outro rio que suas águas leve avante
ou
se outro encontrar de igual montante,
cada
um dos dois a tornar-se confluente.
Seguem
sempre para baixo a gravidade,
na
demanda derradeira pelo mar,
mesmo
se um dique os vier atrapalhar.
A
água é persistente de verdade
e
se escapa por cima ou por um lado,
até
ao curso antigo ter voltado.
O
RIO INVERSO II
Mencionam
muitos que igual é o rio do tempo,
para
a frente, eternamente, a disparar,
para
os humanos com ele a carregar,
por
breve ou longo que seja seu destempo,
mas
nessa trova eu vejo um contratempo,
não
leva a todos para o mesmo mar,
um
segue adiante, o outro vai parar,
nem
todos ganham seu igual portempo.
Mas
não é o rio que vai para o futuro,
somos
nós que o porvir vamos buscar,
sempre
subindo para o tempo perdurar,
por
mais que o antemão seja obscuro,
não
nos queremos nos minutos afogar,
sobrenadando
a um presente tão impuro.
O
RIO INVERSO III
Na
realidade, o futuro é um delta extenso,
separado
em milhares de canais
e
nunca podes saber aonde vais,
salvo
se escolhes, com cuidado intenso,
encruzilhadas
em pântano tão denso,
que
te pareçam melhores que as demais,
porém
escolhas são, de fato, emocionais,
teu
livre-arbítrio é muito mais pretenso.
Pois
logo surge uma nova divisória,
em
que terás, novamente, de escolher
qual
seja a senda de tua preferência.
E
nem serás senhor da própria história,
quando
ainda à frente há tanta divergência,
sem
nunca a escolha final te pertencer.
O
RIO INVERSO IV
Contudo
inverso ao do tempo é o rio da vida,
que
percorre para trás o teu passado,
para
baixo de ti sendo juntado
cada
minuto incessante da corrida,
que
certamente te leva de vencida,
rumo
inverso do que havias esperado,
jamais
escolhes o tempo superdo,
que
assim te puxa com energia incontida.
Não
obstante, é tua única certeza,
mais
clara ainda que te seja a morte,
pois
o que foste, à nascente é retornado,
o
rio da vida tem jusante empresa,
que
desde o início acumulou tua sorte
e
diariamente te renova o seu chamado!
ABRINDO
ESPAÇOS I – 31 AGO 18
Bem
certo é que o ser humano é aventureiro,
sempre
na busca de uma nova pauta,
por
isto há tanto que hoje quer ser astronauta,
na
exploração de um universo sobranceiro.
Se
conquistamos este mundo por inteiro,
foi
através da exploração incauta,
a
recompensa para os demais foi lauta,
mesmo
perdendo a vida o vanguardeiro.
Por
longo tempo se fez a afirmação
que
era o homem que deveria procurar,
e
a mulher ficar à espera no seu lar,
até
que o par alcançasse aceitação;
será
que um dia isso de fato funcionou
e
quando a iniciativa ela tomou?
ABRINDO
ESPAÇOS II
Sem
dúvida, para maior exploração,
foram
os homens as naus a tripular
e
nos oceanos seus ossos a deixar,
ficando
a esposa em sua nova gestação.
Existe
nisso uma lógica razão,
é
a mulher que vai a raça projetar;
muitos
dos homens se podem dispensar,
já
nas batalhas a morrer em profusão.
Nos
velhos tempos da poligamia,
se
um morresse, pouca falta causaria,
sempre
outro homem poderia fecundar;
e
em nossos tempos de monogamia,
só
uma triste solução se encontraria:
nos
conventos as solteiras a encerrar!
ABRINDO
ESPAÇOS III
As
coisas hoje se tornaram diferentes;
é
a vida das cidades protetora,
não
precisa ser a mulher só a criadora,
enquanto
os homens morrem nessas frentes.
Desigualdades
mesmo sendo ainda aparentes,
a
mulher cada vez mais protestadora,
mesmo
que estupros ainda ocorram como outrora,
as
defesas se acumulam permanentes.
E
como existem creches, é possível
deixar
os filhos e sair a trabalhar,
sempre
o espaço da mulher a se ampliar,
oportunidade
cada mais mais perceptível,
salvo
se as guerras também as venham dizimar,
sendo
as restantes necessárias para o lar.
ABRINDO
ESPAÇOS IV
Hoje
os espaços poderão, literalmente,
ser
abertos muito mais pela mulher,
cujo
corpo mais compacto requer,
menor
equipamento, certamente;
talvez
se tornem as astronautas, realmente,
que
abrir o espaço venha a ser o seu mister,
por
mais que opostamente o homem quer
ser
quem desbrava as fronteiras permanente.
E
uma colônia de umas vinte mulheres,
com
um os dois homens à sua frente,
poderá
alcançar uma rápida expansão,
mas
se vinte homens ali forem colocados,
por
só uma ou duas mulheres amparados,
dificilmente
se evitará a sua extinção!
CUI
BONUM QUID PRODEST? I – 1º SET 18
(Para quem convém, para que serve?)
O
próprio nome de pedofilia
indica
um ato de cunho homossexual,
por
um menino o pender inatural,
que
muitas vezes no passado até ocorria;
em
muitos casos gente mesmo criaria
tais
infelizes para um fim sensual,
alguns
castrados de modo natural
numa
cultura que o não condenaria!
Ou
simplesmente para as vozes conservar,
finas
e puras para o coro de uma igreja,
seus
corpos puros em louvor a Deus,
que
se o quisesse, os podia assim criar,
desde
seu berço, de modo que se enseja
belo
argumento para os bons ateus!
CUI
BONUM QUID PRODEST? II
Não
é de admirar que o celibato
conduza
qualquer padre à tentação,
que
esses meninos tão bonitos são,
quando
o pecado é amar mulher, de fato!
E
muito jovem que sofreu tal desacato
cedo
ou tarde buscará repetição,
como
uma espécie de retribuição
por
ter passado pelo imoral contato.
É
compreensível, mas não se justifica,
não
é o amor que tece essa cadeia,
mais
um ódio pela sua iniciação,
uma
fileira de mal que se pratica,
esse
veneno que em si mesmo se pranteia,
mas
se transmite por retaliação!
CUI
BONUM QUID PRODEST? III
Só
que hoje querem ampliar o alcance
para
abranger amor heterossexual
e
por trás disso existe algo de imoral,
muito
pior que a acusação que lance!
O
monstruoso existe em tantos natural
que
de criar novos crimes não se cansem
e
relações amorosas imbalancem,
por
não poderem usufruir de amor igual.
Durante
séculos se aceitou perfeitamente
o
casamento de jovem adolescente
e
muitas culturas ainda lhe dão aprovação,
mas
se procura agora, de repente,
por
mais precoces as experiências que hoje são,
tornar
em crime uma coisa tão frequente!
CUI
BONUM QUID PRODEST? IV
Naturalmente,
um estupro é criminoso,
mas
ainda há pouco, para a “defloração”,
que
era um crime, haveria aceitação,
se
contraído um matrimônio prestimoso;
caso
a menina engravidasse, era ditoso
constituir
a sua família na ocasião
e
noutras vezes, havia plena aceitação
de
adolescente virgem ter esposo.
Talvez
protestem que isso era antigamente,
quando
viviam muito menos as pessoas,
tais
ligações serem tidas como boas,
para
a nova geração levar à frente,
sendo
raro se alcançar quarenta anos,
quando
tão cedo faleciam os humanos!
CUI
BONUM QUID PRODEST? V
Mas
como hoje se vive em média muito mais,
é
necessário se adiar a gestação,
manter
constante nossa população,
sendo
inibidos os processos naturais?
E
embora o sexo se pratique por demais,
cada
vez mais prematura a iniciação,
se
a adolescente experimentar excitação
por
homem mais velho, há protestos colossais!
Mas
e por que? Se o adulto é experiente
e
melhor pode sustentá-la, geralmente,
também
tratá-la com bem menos egoísmo
do
que um rapaz da sua mesma idade,
que
buscará mais sua própria saciedade,
sem
a menor intenção de um altruísmo?
CUI
BONUM QUID PRODEST? VI
E
quantas vezes quem toma a iniciativa
é
a adolescente, um adulto a seduzir,
não
é possível cada caso se incluir,
pedofilia
sendo assim tão incisiva!
Quando
a insistência no sexo incentiva,
na
telinha tantas novelas a assistir...
Mas
se condena uma mulher se imiscuir
em
provocar adolescente ainda passiva?
Em
tudo isso vejo só ardilosidade
e
não real condenação de algum pecado,
para
que o campo permaneça mais aberto,
hoje sendo até um galanteio condenado!
Quem
é o regente desse tal concerto,
voltado
contra a heterossexualidade?
CUI
BONUM QUID PRODEST? VII
E
assim encaro com muita desconfiança,
se
a tanto sexo se concede liberdade,
dando-se
apoio à homossexualidade,
quem
se aproveita dessa atual bonança?
Que
verdadeira liberdade mais se alcança,
se
existe um código de inequalidade,
ou
ao menos assim o aplica a sociedade?
Bem
raro é o homem que a acusação avança
contra
a proposta de algum homossexual;
rara
a menina ou adolescente que, afinal,
contra
uma lésbica apresenta acusação!
Sendo
o protesto politicamente condenado,
se
apenas o hétero vem sendo limitado,
sou
eu apenas que desconfio da razão?
GESTOS MINUSCULOS I – 2 SET 18
NÃO SOU O HERÓI QUE VAI GALGAR TUA
TORRE
QUE TU MESMA, PEDRA A PEDRA,
CONSTRUÍSTE,
NEM UM BEIJO TE DAREI QUANDO
DORMISTE,
EM QUE TEU SUMO QUAL MAÇÃ ESCORRE
E TE ENVENENA EM SONO QUE NAO MORRE,
POIS NENHUM DESTES DOTES ME PEDISTE,
É MAIS TUA SOLIDÃO QUE SEMPRE
INSISTE
NUM FRACASSO E DESAPONTO QUE TE
ACORRE.
NA VERDADE, MUITO BUSCASTE ME
AFASTAR,
SENDO TUA SÚPLICA APENAS DESENHADA
POR SOB OS CÍLIOS, APENAS PRESSENTIDA,
TEU DESESPERO ESFARRAPANDO DEVAGAR,
A TUA ÂNSIA SÓ DE LEVE REVELADA
POR BREVE APERTO DE TUA MAO
DESILUDIDA.
GESTOS
MINÚSCULOS II
SE
BEM DE FATO NADA ME PEDISTE,
TEMENDO
O QUANTO ME FARIAS SOFRER,
CADA
MOMENTO DE EXPULSÃO A ESCONDER
O
TEU DESDÉM POR QUEM DE TI DESISTE,
ESSA
PARTE DE TI QUE SEMPRE INSISTE
QUE
POR MAIS QUE TE NEGASSES ME PRENDER,
QUE
TE JURASSE EM SILÊNCIO DESFAZER,
QUALQUER
RECUSA QUE NOS LÁBIOS TEUS SE AVISTE.
NÃO
ME PEDISTE NADA DE DEFINITIVO,
NENHUM
GESTO DE HEROÍSMO AVENTUREIRO,
FICASSE
APENAS QUIETO DO TEU LADO,
SUPORTANDO
TEU DESCASO MAIS ATIVO,
ESSE
TEU FALSO DESPREZO SOBRANCEIRO,
VEZ
APÓS VEZ EM QUE ME HAVIAS EXPULSADO.
GESTOS
MINÚSCULOS III
O
QUE QUERIAS ERA MAIS SER DESMENTIDA
A
CADA VEZ QUE AMAR-ME RECUSAVAS.
DE
CADA VEZ QUE O SENTIMENTO ME NEGAVAS,
DE
QUE ERA FALSO TEU NEGAR SER CONVENCIDA,
SOMENTE
AOS POUCOS CONFESSANDO A DESVALIDA
INSEGURANÇA
COM QUE NALMA TE CASAVAS,
O
IMPOSSÍVEL COM QUE TE DIVORCIAVAS
DO
MALQUERER DE TUA ALMA MALFERIDA.
E
FOI ASSIM QUE DEVOREI A TUA TRISTEZA,
A
INQUIETAÇÃO IMATURA, TUA IMPACIÊNCIA,
OS
TEUS PERÍODOS DE TOTAL DESATENÇÃO,
SEM
INSISTIR QUE SÓ QUISESSE TUA BELEZA,
MÍNIMOS
GESTOS DE PEQUENA CONTINÊNCIA
FENDENDO
A MÁGOA DE TEU CORAÇÃO.
GESTOS MINUSCULOS IV
MAS NÃO POSSO NEGAR QUE ME AVISASTE,
PELA LONGA PERSISTÊNCIA DO PROCESSO,
SE NA INSISTÊNCIA DO AMOR EU NUNCA
CESSO
DE RETORNAR A CADA VEZ QUE ME
AFASTASTE
E UM JURAMENTO ENFIM ME RECLAMASTE:
QUE POR MAIS QUE ME AFASTASSES, NUM
POSSESSO
RASGO DE ÓDIO, SEMPRE HOUVESSE MEU
REGRESSO,
FICAR PERTO DE TI SEM QUE EM MIM
GASTE
A QUANTIDADE DE GESTOS SILENCIOSOS
E ASSIM POR MEU PENAR FUI CONDENADO,
MAIS UMA VEZ, EM MINÚSCULO GESTUAR,
A QUEBRANTAR TEUS SILÊNCIOS
PORTENTOSOS,
NESTE MEU SONHO DE AMOR ESCALAVRADO,
MAS QUE ATÉ HOJE CONSEGUE PERDURAR.
EM
PRECE CARMESIM I – 3 SET 2018
Vejo
no céu a Lua Avermelhada
e
lhe suplico para ter pena de mim,
que
meu amor seja forte como brim,
fazenda
forte que se fez tão espalhada,
e
que hoje em dia se compre já rasgada...
Nem
sei por que motivo foi assim,
que
protegia do espinho e do capim
e
nessa moda se tornou descompensada.
Que
seja então a imagem contrariada:
que
meu amor seja forte como o espinho
que
conseguiu dilacerar essa fazenda,
quiçá
mesmo por ação deliberada,
em
masoquismo tomado por carinho,
abrindo
dentro em minha testa escura fenda.
EM
PRECE CARMESIM II
Dizem
que a Lua favorece mais os zelos,
a
se expandir de um coração enamorado,
isto
se aplica bem melhor a enciumado.
Também
dizem que provoca pesadelos,
nos
quais a adquirir os tons mais belos
dessa
púrpura senil dos mal-amados,
sem
os proteger, lança dardos afiados
sem
que alma ou coração possam contê-los!
Assim
eu rogo a tal círculo encarnado
que
não me traga quaisquer sonhos maus,
que
não me dê razões para ciúme,
mas
ao contrário, mande o fulgor prateado
para
colar os rasgões deste meu caos,
açulado
pelo rubro do azedume!...
EM
PRECE CARMESIM III
Talvez
me atenda mais a Lua Azulada,
pareça
embora ser distante e fria,
que
esse calor que da vermelha me luzia.
Talvez
me iluda a Lua Amarelada,
cada
raio numa gota amanteigada
a
deslizar na ferida que lá havia,
a
costurar com torçal de nostalgia
cada
lástima triste e atribulada.
Nunca
Selene foi minha estrela-guia
em
veracidade, na multidão galática,
nem
sei se estrela para mim sobrou;
talvez
os astros me irradiem zombaria,
sua
posição indiferente e estática
que
condimento de amor nunca enviou.
EM
PRECE CARMESIM IV
Por
que motivo afinal, mutável Lua
qualquer
consolo sopraria em minha tristeza?
Raios
de estrela não se põem à mesa...
Raios
de luar são como espada nua,
a
Lua apenas outro fulgor na rua,
mulher
perdida a deslumbrar beleza,
mulher
promíscua de falsa gentileza,
fino
estilete que nos fere como pua.
Assim
suplico à Lua Avermelhada
e
lanço acenos à Lua Amarelada,
que
se não quer meu bem, não faça nada;
e
a prece volto para a Lua Prateada,
meio
difusa em véu de Lua Azulada,
que
meu amor não perfure de enciumada!
em
prece para mim I – 4 SET 2018
o
que eu penso é que, às vezes, na alvorada,
sem
nem pensar em ti, vem à memória
aquela
sensação de argúcia inglória,
reconhecendo
só em ti o que eu queria.
isso
depois de uma extensa madrugada
ter
mantido em vigília, pois sabia
necessitar
de cem horas, à porfia,
no
lapidar da ganga e dessa escória
de
mim retirar diamante novo,
seja
na forma escorreita de poema,
seja
em maciço ardor de tradução;
e
nem lembro de ti, somente provo
o
sabor reticente de minha pena
ao
descrever teus olhos sem paixão.
em
prece para mim II
o
que eu penso é que o fado não se importa
com
a minha sorte ou o bem do meu futuro;
só
em mim mesmo há o palpitar impuro
com
que contemplo a mágoa que se entorta,
a
gravitar na atração que se comporta
de
modo tal a desviá-lo para o escuro,
nessa
órbita divergente do obscuro
latejar
de minha alma qual retorta
em
que misturam-se tantos elementos,
nessa
química e variegada reação,
novas
moléculas a criar inesperados,
perante
os olhos cegos ou atentos,
de
tal modo que nem sei qual emoção
irá
aflorar de meus sonhos contrariados.
em
prece para mim III
eu
olho o céu, a contemplar constelação,
grupos
de estrelas a formar teia de aranha,
que
essa tela do céu toda emaranha
e
a contragosto me oferece inspiração
e
então olho para mim, sem desrazão
e
percebo neste sangue que me banha
o
sangue teu em tão furiosa sanha
que
me remói a pouco e pouco o coração.
e
que mais posso fazer, senão lançar
os
olhos para mim e a mim mesmo suplicar
que
nao destrua o que sobrou de mim
e
que ainda possa contemplar na madrugada
a
luz difusa de incerteza da alvorada
que
em mim conserve a tua lembrança assim.
Em
Prece Para Ti 1 – 5 set 2018
Ultimamente
eu emprego só papel
Na
redação de mil e um sonetos,
Ao
invés de cartões por objetos
Do
meu roçar das veias sem quartel,
Cortando
a saga de meus desafetos,
Qual
suspiro de abelha empós o mel
Que
lhe roubaram; ou a emoção novel
De
meus rasgos de amor sempre incompletos;
Pois
já escrevi demais, dia após dia,
Nessa
massa de dores e desejos,
Que
meu sangue esguichou ao mundo inteiro;
Mas
já tentei parar, como fazia
E
não consigo, no respirar dos beijos
Que
me fariam redigir o derradeiro.
Em
Prece Para Ti 2
Assim
não sei se peço o teu amplexo,
Ou
inversamento suplico teu desprezo,
Por
conservar esse dom que tanto prezo,
Despedaçado
em amoroso nexo
Ou
se desejo a delícia de teu sexo.
E
nessa pia batismal constante rezo,
Enquanto
a inspiração me foge e leso,
Só
de leve encarar posso o seu reflexo,
Que
é tão mais fácil escrever de amor sofrido
Que
descrever um bem assim gozado,
Se
é possível magnificar o turbilhão,
Em
que me jorro em ti, todo perdido,
No
sacramento do amor crucificado,
No
cravo único e concreto da paixão.
Em
Prece Para Ti 3
Talvez
prefira a ausência desses beijos
Que
me faz redigir constantemente
A
descrição desse moinho opalescente
Que
faz flutuar minha poeira de desejos,
Transformados
em palavras como adejos,
Transmutados
num som que não se sente,
Transportados
em cor que não se assente,
Santelmo
feito arco-íris em tais ensejos;
Talvez
se fossem os ósculos constantes,
Me
desgastasse nessa angústia bela
De
cada orgasmo qual luzir de vela,
A
requeimar-me por dentro em tais instantes
Em
que explodiria em ti feito uma estrela,
Sem
nada mais que me sobrasse de exultante.
Em
Prece Para Ti 4
Em
mim reside essa ânsia atribulada,
Perversidade
de auto-destruição,
De
mais sofrer para gozar inspiração,
Na
plena saga da busca malfadada!
E
assim te encaro com certeza desconfiada:
Até
que ponto beberás meu coração,
De
cada vez que atenderes minha paixão,
Até
veres a hemorragia já estancada?
Pois
quando em versos me derramo, algo é perdido,
Destinado
para a fome universal,
Mas
se em ti eu me consumo, volta o ardor,
Para
novo ato de amor mil repetido
E
assim o ganho dos outros é meu mal,
Porém
recebo em transfusão o teu amor.
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