domingo, 26 de maio de 2019



AS FLORES CAEM AO CHÃO
NOVAS SÉRIES DE WILLIAM LAGOS – 17-26/9/2018




AS FLORES CAEM AO CHÃO (vi) – 17 SET 2018
ADIPOSO (vi) – 18 set 2018
PASSAGEIRAS (iii) – 19 set 2018
PALAVRA DE ORDEM (vi) – 20 set 2018
DESAVENÇAS (iv) – 21 set 2018
A ESPERA DOLOROSA (iv) – 22 set 2018
SEXO E REFLEXO (iii) – 23 set 2018
MANDATO (iv) – 24 set 2018
SUBESTABELECIMENTO (iii) – 25 set 2018
SONETO DE ENCOMENDA (iii) – 26 set 2018

AS FLORES CAEM AO CHÃO I – 17 SET 18

Poucas coisas exprimem mais a vida
que essas flores redolentes de um jardim:
elas insistem em exibir-se qual festim,
nenhuma delas quer passar despercebida.

A destacar-se contra o verde a flor garrida,
chama a atenção a contrastar sobre o capim,
que lhe dá a vida, mas vive dela assim,
na humilde relva que tu pisas distraída...

Se flores não houvessem, esse verde,
com seu formato virente e corriqueiro,
seria um símbolo bem mais importante,

pois ante esplendorosa flor se perde,
que nossa mão e olhar atrai ligeiro,
oculta a seiva em sua raiz vibrante.

Enquanto as flores mostram sua vaidade
e mais que o céu nos dão noção de cor,
toda a beleza a depender de seu valor
se não tivesse um rosto a humanidade,

pois nossa estética terá inicialidade
em nosso berço se nos fitam com amor
boca, dois olhos e nariz, o transmissor
do sopro vivo, da afeição e castidade.

Mas nossas faces, por mais sejam diferentes,
basicamente serão sempre iguais,
suas proporções a mudar, sua melanina,

suas concentrações mais fracas ou potentes,
os olhos claros só reflexos siderais,
disposição de seus grânulos mais fina.

Assim as flores são nossas rivais,
em sua variação esplendorosa;
como essa pele suave e mais formosa
têm essas pétalas, que querias ter iguais!

São seus odores quase sobrenaturais,
tão diversos da trescalagem acintosa
que apresenta quem higiene tem viciosa:
perfumes caros provêm desses quintais!

Ali as flores se expandem, silenciosas,
enquanto falam através de seus olores,
a interpelar-nos com multidão de cores,

tantas à noite conservando-se odorosas,
mesmo que fechem as corolas, assustadas
pela mudança que as torna acinzentadas.

Porém as flores sobre a vida mais ensinam
por sua expectativa limitada,
uma semana a luzir, um quase nada,
murcham depressa, para o chão se inclinam.

Naturalmente, à sua função se afinam,
cada uma dela é rainha fecundada,
cada semente sobre a terra despejada,
que para nova geração assim consignam.

De modo idêntico que a beleza da mulher
e o vigor físico do homem no esplendor,
outras tantas armadilhas transitórias

da natureza que somente filhos quer,
para o futuro transmitindo esse vigor
e tais belezas de minúsculas vitórias.

Quando as flores permanecem nos canteiros
e chega o fim da breve eternidade,
se as abelhas, pela nectaridade,
as vieram polinizar, ferrões ligeiros,

as sementes deixarão em seus abeiros,
para brotarem nessa proximidade,
pouco espaço a existir na realidade,
bem poucas a desfilar noutros janeiros.

Por isso, é mau aviso condenar
que sejam colocadas dentro em vasos,
depois de murchas, sendo descartadas,

pois em lugar bem diverso irão deixar
essas sementes ao exílio condenadas,
sendo apenas aparentes tais descasos.

Porém sementes espalham-se aos milhares,
em seu vasto e aparente desperdício,
pelos ares distribuídas em bulício,
para arraigar-se, enfim, noutros lugares.

Somente as flores que para ti guardares
dentro de um livro, qual breve resquício
de um momento de amor, ingênuo vício,
não terão chances de novos rebrotares.

De modo igual que, se amor não revelares,
mas conservares num esquivo coração,
jamais pode a emoção frutificar

e mesmo quando em vão o propalares
não saberás se um vestígio de paixão
em outro peito não se irá enraizar.

ADIPOSO – 18 setembro 18
(Paródia de WILLIAM LAGOS sobre o CARINHOSO)




Meu coração / Não sei porquê
Bate feliz / Vendo TV!
Vejo novela e minissérie,
O noticiário e o Big Brother,
Mas minha paixão / É o futebol!

Ai, se eu pudesse / Ficar 24 horas
Bem na frente do telão,
Sem me importar / Com a radiação
Que causa câncer / No meu pulmão,
Ai, coração!

Vem, vem trazer / A pipoquinha,
Com a cervejinha / Presa na mão.
Se bater fome / Como um hambúrguer,
Logo depois / um cachorrão
E só assim eu fico / Bem gordão,
Ai, coração!

Ai, se tu soubesses
Como eu sei / Ser adiposo,
Sentado o dia inteiro no sofá!
E se eu quiser outra cerveja,
Sem levantar / Mando a patroa
Ir me buscar:
Vai, vai, vai, vai!

E já aproveita / Traz salgadinho,
Tá na gaveta / Bem lá atrás.
Vou matar / Essa paixão
Que me devora / O coração
E só assim, enfim 
Serei feliz, bem feliz!

Depois te levo / Ao supermercado,
Fico no carro / Estacionado
E só assim, enfim,
Morro feliz / Bem feliz!

passageiras 1 – 19 set 2018
ainda hoje me estremece a tentação
de um veloz vulto que pela rua passa,
deixando empós um cheiro que perpassa
pelas narinas até meu coração.
somente sinto a passageira sedução
que os olhos me envolve em doce graça,
nenhum impulso que me leve à caça,
salvo em cubículos desta imaginação,
somente vejo nessa figura passageira
um avatar das musas retraídas
em seu passado de fulgor pagão
e caso a alma então se encha inteira,
sem despertar luxúrias reprimidas,
faz-se pretexto para mais inspiração.

passageiras 2
não sei quem seja e nisso está o seu fascínio;
poderia ser uma gravura ou uma aquarela
a leve imagem que cruzou por minha janela
a se encaixar de minha visão no escrínio,
sem sobre mim exercer qualquer domínio,
pois muito em breve esquecerei dessa donzela,
por mais me exponha momentânea graça bela,
é só imagem de passagem em declínio;
só a registro aqui por que não morra
totalmente o perpassar do breve evento,
tais passageiras jamais seguir eu tento,
se uma notasse a acompanhar quem sabe corra
e nem desejo que algum dia pense em mim,
essa miragem que irei plantar no meu jardim.

passageiras 3
não penso nelas pelo gozo dos abraços
dos beijos puros de qualquer gentil menina,
só irão plantar em mim o que fascina,
para um parto natural de meigos traços;
não vejo nelas mais que descompassos,
em outra geração se insere a sina,
súbita ânsia de uma espera pequenina,
gravada a imagem, sem seguir-lhe os passos.
que vou fazer, se é apenas um pretexto
para escrever este soneto ou mais?
e se me acusa de uma atroz pedofilia,
em resultado do mais humilde gesto,
por mais que fossem inocentes por demais
os galanteios que aos ouvidos lhe diria?

PALAVRA DE ORDEM I – 20 SET 2018

Antigamente, muito me surpreendia
que se adotasse com tal facilidade
qualquer slogan da maior banalidade
que na rádio ou na tevê se escutaria.

Eu nunca fui assim, tão somente repetia
o que encontrasse com originalidade
ou em frase lapidar da antiguidade
em qualquer livro que minha vista percorria.

Na verdade, já passados três mil anos,
tantas palavras que agora se proclamam
como sendo coisas novas ou ideais
foram passadas por Etruscos aos Romanos
ou por Hititas aos Etruscos que conclamam
ou por Sumérios, dos Hititas ancestrais.

PALAVRA DE ORDEM II

Sem esquecer de mencionar esses Helenos,
que não somente filosofia nos legaram,
como cada emoção denominaram,
mesmo aqueles sentimentos mais pequenos.

Não que eu afirme ser coisa de somenos
isso que meus coevos se esforçaram
em redigir ou nas propostas que afirmaram:
por toda parte diviso os seus acenos.

Mas novo mesmo é só o tecnológico
que foi erguido sobre o antigo acervo,
essas ideias seminais dos ancestrais,
nada de novo no raciocínio lógico;
e nos meus versos igualmente só refervo
dos ancestrais essas ideias seminais.

PALAVRA DE ORDEM III

E só por isso então me surpreendia
como a amplidão da falta de cultura,
levava alguns, em sua vaidade pura
a achar novo o que sua mente concebia.

A pouco e pouco, porém, já compreendia
que a mente humana é igual que agricultura,
a mesma terra a ser plantada com ternura
em novo adubo que ao solo nutriria.

Não é importante o que se diz agora,
qualquer que seja tal palavra de ordem,
sim a maneira como esta seja dita,
pois até mesmo esta paixão que me devora
por novos temas que igualmente abordem
é antiga ordem por milênios repetida.

PALAVRA DE ORDEM IV

Assim, não mais me espanta que um modismo
tão facilmente venha a se “viralizar”,
título novo que alguém soube cunhar
e a tanta gente contamine qualquer “ismo”.

Mesmo este sendo um velho neologismo,
como uma “peste” que se iria propagar,
antigamente era o costume se afirmar:
novas palavras para idêntico arcaísmo.

Contudo, eu busco fugir ao tingimento
nem mesmo aqui por espontânea decisão,
que no Eclesiastes já dizia Salomão
que nada havia de novo em seu momento
e em cada coisa a que atribuem novidade
eu só percebo a mesma e igual continuidade.

PALAVRA DE ORDEM V

Mas não há calma para os Viandantes,
nem uma concha a beber de Compostela,
as gerações sempre a mirar a nova estela (*)
erguida além para tantos viajantes.
(*) Coluna comemorativa com dísticos ou imagens.

Desde os primórdios os humanos são errantes
e já estando explorada a Terra bela,
que mais nos resta senão migrar a estrela,
satisfação de nossas ânsias inconstantes.

E como isto até agora não é possível,
precisamos de uma estela contemplar
num oratório qualquer em nosso lar,
qual um pequeno celular portátil
ou em tela plana os proclamas escutar
de qualquer palavra de ordem mais versátil.

PALAVRA DE ORDEM VI

Palavras de ordem são aclamações tribais,
quem as escuta não se acha mais sozinho,
desconhecendo o rosto do vizinho,
cheio apenas de atribulações individuais.

Tais uniformes então se fazem habituais,
essas propostas a girar em torvelinho;
tatuagens cobrem feridas com carinho,
as novas drogas as inquietações normais.

E embora nada realmente sendo novo,
sempre há uma forma de congregar o povo,
camaleões a abdicar sua individualidade ,
tão mais difícil formar-se uma opinião
e tão mais fácil se aceitar a promoção
de outra roupagem de igual mediocridade.

DESAVENÇAS I – 21 SET 2018

Não há descanso para desenraizados,
numa mescla de saudade e desafio,
forçados a remar no mesmo rio
após a rejeição de seus passados;
todos os memes por eles adotados
nada mais que um cartaz sem alvedrio, (*)
uma cópia desbotada de um só fio,
por iguais vírus a ser contaminados.
(*) Livre-arbítrio

E por isso é tão fácil se viciar
em qualquer droga a ondular na moda:
“Se todo mundo faz, faço também.”
Mas teus colegas não podem te ajudar,
sendo usuários também dessa encantada
psicodélica quimera de um porém.

DESAVENÇAS II

Não têm os jovens real participação
na sociedade civil que nos rodeia,
na diuturna exigência que incendeia
sua mente pobre e sem imaginação;
ergue-se a poeira quando passos dão,
o próprio amor uma emoção alheia,
a aranha social imensa teia,
só compartilham da mútua solidão.

Mas mesmo na adoção desses modismos
está o passado impertérrito ao redor,
que é respirado a cada inalação,
mas arrancada a raiz em auto-sismo,
quebrada a imagem que levava o seu andor
nada mais resta que sua auto-negação.

DESAVENÇAS III

No desencanto da irresponsabilidade,
dos produtos a viver da sociedade,
na rejeição da inicial moralidade,
é necessário se aceitar novo broquel,
por mais que seja um picolé de fel
ou ímpia boda sem forjar anel,
esquecimento temporário de ouropel,
expressão química de novel iniquidade.

Não me iludi com as tais redes sociais
que mais servem para expandir a dissensão
ou, pelo oposto, a causar escravidão,
sem ter os esteios mais tradicionais,
desentendimentos tornados mais estólidos,
relacionamentos quebrados que eram sólidos.

DESAVENÇAS IV

O problema com a moderna sociedade
é justamente a falta de escassez,
tudo se exibe ao alcance do freguês,
tão fácil crédito em acessibilidade;
bem ao contrário que na antiguidade,
cada um só usufruía do que fez,
a cultivar e a ter colheita por sua vez,
as próprias roupas tecendo, na verdade!

Mas tudo existe, até armazenado,
as máquinas descartam ação manual
e o que sobra para quem não se educou?
Já tanto curso superior ultrapassado,
a desavença um suplemento natural
para esse ambiente que a ti antes rejeitou.

A ESPERA DOLOROSA I – 22 SET 18

A espera é uma faceta deliciosa
De toda ânsia de amor irrelevante;
O coração profetiza o próprio avante,
Sem sentir essa espera tenebrosa
Como sendo realmente dolorosa
E após amor ter sido triunfante,
Algo se apaga, fica algo de inquietante,
Perdido o espinho inicial da doce rosa:
Já se conhece o que antes se esperava
E por mais que felicidade se obtenha,
Sempre fica insatisfeito o coração,
Perdida a luz que a incerteza nos mostrava,
Chegado ao clímax da portentosa penha,
Para onde mais se avançar nessa ocasião?

A ESPERA DOLOROSA II

Existe em nós essa insatisfação
De querer sempre mais do que se tem
E se o desejo fosse amar-se alguém,
Quando alcançado esse ideal do coração,
Por mais nos traga prazer, luz e paixão,
Não se procura mais o quanto se obtém,
Surge o aguilhão por algo mais além,
Ingrato sempre o arfar desse pulmão.
É desse modo que um colecionador,
Adquirido algum item com esforço,
Enquanto a entrega envolve uma demora,
Quando ele chega, rebrilha um novo ardor!
Mas logo após, gira ao redor o dorso,
Mais uma peça desejando nessa hora.

A ESPERA DOLOROSA III

Assim a espera é que nos impulsiona
Para a conquista de cada coisa nova;
Como vencer essa seguinte prova,
É a nova ânsia que da mente se faz dona
E pouco a pouco se faz sensaborona
Essa paixão menestrel da antiga trova;
Outra luxúria é que a alma nos renova,
Guardada a antiga no cristal de uma redoma,
Voltando assim a delícia dessa espera,
Que tanto esforço nos espicaça a envidar
Para esse novo objetivo se atingir;
Mas a cobiça da posse não se altera,
O que se tem se deseja conservar
E o novo prêmio ao primeiro se reunir.

A ESPERA DOLOROSA IV

Se não houvesse essa espera insatisfeita
Provavelmente não se faria mais nada,
A própria vida sendo assim determinada
Que a refeição, por mais seja perfeita,
Perante a fome da próxima é sujeita;
Só se respira do ar qualquer lufada,
Para a seguinte depois ser respirada,
Só o coração seu batimento aceita
Para poder nova sístole causar,
Por que a diástole, sem tal repetição?
Destarte a espera é a nossa salvação,
Eternamente a novo amor impulsionar,
Servindo só as contrações do coração
Para as lembranças das ânsias coletar.

SEXO E REFLEXO I – 23 SET 2018

São tolos os que vêem apenas sexo
num corpo humano esculpido ou retratado;
trazem na mente a mancha do pecado
que a tudo da malícia empresta o nexo.

O visualizar do humano é mais complexo,
com ele o ego se faz identificado,
o próprio corpo no outro corpo confirmado,
Mais que por carne, espiritual amplexo.

Todo desejo carnal é passageiro,
quer atendido ou ao invés frustrado,
mas ali está a nossa imagem refletida,
no oposto sexo se recorda o dia primeiro,
materno corpo no nosso continuado,
na pedra ou tela a própria vida concebida.

SEXO E REFLEXO II

Com a estátua bela me identificarei,
meu próprio sexo ali glorificado,
o oposto sexo nessa obra conservado,
tendo a certeza de que desparecerei.

Mas nesse meu irmao continuarei,
igual que foi nesse modelo continuado,
meu organismo também nesse revelado,
de certo modo ali sobreviverei.

De certo modo nesses outros estarei,
mesmo depois de me achar morto e cremado
ou em gaveta colocado a desmanchar,
mas como arquétipo não me perderei,
mesmo sem descendente direto ter deixado,
e sem ser reprodução desse avatar.

SEXO E REFLEXO III

A natureza não é de fato assim cruel,
por mais que o protoplasma se derrame,
sem que uma cópia direta a si reclame,
todos provimos de um idêntico farnel.

E de outro plano na imagem do broquel
sempre contemplo o quanto a mim proclame,
que uma parte de minha raça ali se afame,
mesmo depois que desvestir este burel,

chamado corpo, em que estou aprisionado,
sabendo que outros a minha tocha tomarão,
para bem ou para mal, pouco me importa,
que os genes sempre se misturarão
e um novo corpo então será formado,
na eterna coalescência da retorta.

MANDATO I – 24 SET 2018

alguém que me compreenda... já nem sei
se isso é o que mais quero... que afinal
pareceria até antinatural
que uma mulher pensasse igual pensei,
pois tantas vezes meu olhar lancei,
cheio de mágoa, sem achar fanal;
o que elas buscam é muito mais carnal
e esse meu lado concreto já lhes dei,
pois lhes dei filhos, não que não quisesse;
bem ao contrário, desejava minha semente
em dezenas de outros ventres implantar;
mas o que quero ainda, ai, se pudesse!
era alguém que amasse o que minha mente
por toda a vida amou, sem alcançar.

MANDATO II

pois na verdade, não encontrei jamais
quem pensasse de modo igual que eu
e nenhuma mulher que me escolheu
compartilhou meus preconceitos triunfais,
alguma achei com pendores naturais
por um tipo de música igual que o meu,
mas não por todos, ecletismo que abrangeu
dos eruditos aos folclóricos reais...
de forma alguma a tais sons comerciais
que na rádio se escuta e na televisão,
contrariamente ao espontâneo popular
e que pudesse acompanhar os meus fanais
vinte e quatro horas por dia, sem exceção
desses momentos em que devia dormitar.

MANDATO III

alguma outra foi por literatura,
podendo até discutir filosofia
e surpreender-me no que me dizia...
uma terceira apreciadora de pintura,..
dezenas dizem apreciar a minha poesia,
mesmo que afirme, com total lisura,
que não descreve nossa mútua ventura,
mas qualquer tipo alhures de elegia;
houve até quem meus autores apreciasse
de ficção-científica ou de fantasia,
que em literatura de terror confundiria
e a qualquer clássico mesmo se negasse
sequer a ler por julgar ser aborrecido:
sempre um desvio de meu pensar sendo mantido.

MANDATO IV

mas sobretudo, que de fato compreendesse
o que eu pensava ou ao menos que queria,
essa mulher que inteiramente me amaria
e partilhar meu coração igual pudesse
que minha mente, sem que se esquecesse
desse lado mais sensual que em mim havia.
mas em que tipo de ilusão eu confiaria
ao desejar que alguém assim houvesse?
contudo, eu sei que ainda existe por aí
alguém capaz de uma igual esquizofrenia
e em tantas coisas se tornar ao mesmo tempo,
mas que não a encontrarei me convenci,
tão só que alguém este poemeto até leria
que a recordasse de seu próprio contratempo.

SUBESTABELECIMENTO I – 25 SET 2018

Foi nesse amor de tipo pedestal
Que minha alma derramei em estribilho,
De cada vez que minha mente encilho
Para os desfiles desse triste carnaval.

Nesse amor que não me trouxe bem nem mal,
Só revelando a humanidade de meu trilho,
Somente a solidão de quem sou filho,
Todo amor nela esparzido ao natural.

Na verdade, a mim mesmo até me basto
E desisti de achar quem me compreenda,
Pois encontrei quem me amasse à sua maneira.

Eis o motivo por que não mais me desgasto:
Há companheira idônea na minha tenda,
Sem busca insana pela amante derradeira.

SUBESTABELECIMENTO II

Afinal, se o causídico não consegue
Executar tudo o que deve advogar,
De antemão já se pode precatar
Para que certas de suas tarefas legue.

Procuração se assina que não negue
Que subestabelecer possa indicar
E com outras causas possa-se ocupar
E a sobrecarga assim não o persegue.

E se a lei lhe permite que ao cliente
Com outro representante satisfaça,
Por que não pode ser igual assim no amor?

Da companheira vendo as falhas complacente,
De quem os dotes com prazer se abraça,
A perfeição substituída por calor?

SUBESTABELECIMENTO III

Ela passou também igual procuração
Para um suposto companheiro ideal,
Em nós a ver substituto natural
Para atender menor requisição.

Não todas essas que lhe gerava o coração,
Um contrato entre amantes, afinal,
Quebrar arestas não provoca grande mal,
Melhor carinho real do que paixão.

Assim se cumpre o subestabelecimento
Pela procuração dada ao fantasma
Que já não crê que jamais encontraria.

Difuso ideal a barganhar por julgamento,
Que um sentimento mais manhoso pasma,
Enquanto mútuas concessões se trocaria. 

SONETO DE ENCOMENDA I – 26 SET 18
QUERIAS ENTÃO UM SONETO SÓ DE AMOR?
MAS ESTE TEMA JÁ FOI MUITO EXPLORADO,
EU MESMO QUANTOS JÁ TENHO ELABORADO,
QUE ENTÃO MANDEI PARA A REDE EM DESTEMOR...
MAS POR TER ESTA EMOÇÃO BEM MAIS VALOR
DO QUE PODE EM UM SÓ SONETO SER MOSTRADO,
DE CADA VEZ QUE PENSO, TENHO ACHADO
NOVA FACETA INESPERADA DE FULGOR
E A CADA VEZ QUE O CONTEMPLO ABRASADOR,
A ME PULSAR NO SANGUE DOS OUVIDOS
PALAVRAS SURGEM EM TOM DIVERSO DO ANTERIOR,
PORQUE, DE FATO, AMOR É INESGOTÁVEL
E QUAISQUER OUTROS TEMAS PERSEGUIDOS
CONVERGEM TODOS PARA O AMOR INEXORÁVEL.

SONETO DE ENCOMENDA II
NÃO SE PODE ESCREVER UM SONETO SÓ DE AMOR,
POIS SÓ DE AMOR SE COMPÕE QUALQUER SONETO,
ATÉ MESMO SE NÃO TRAZ SINAIS DE AFETO
COMO ESSES TANTOS EM QUE ABORDO OUTRO TEOR,
MAS SE FALAR DE CIÊNCIA, AÍ ESTÁ O CALOR
DE O UNIVERSO DESVENDAR TODO E COMPLETO
E AO DESCREVER EPISÓDIO HISTÓRICO DILETO,
ALI SE ESCONDE UM IDÊNTICO PENDOR,
PORQUE AMOR PONHO EM CADA VERSO LOUCO,
MESMO QUE BUSQUE O RIDÍCULO OU O HUMOR,
SE NÃO TIVER AMOR, NÃO TENHO RISO;
E QUANDO ACABO O MAIS LONGO, ESCREVO POUCO
DA REFULGÊNCIA PLENA DE ESPLENDOR,
SE AMOR EXILO, DESCARTO O PRÓPRIO SISO.

SONETO DE ENCOMENDA III
ASSIM TE ESCREVO UM SONETO SÓ DE AMOR
E ENTÃO NÃO POSSO ESCREVÊ-LO PARA TI;
MESMO QUE SINTA AMOR QUANDO ESCREVI,
O AMOR É TEU E TEU AMOR É SEU FULGOR;
DA EMOÇÃO QUE DESCREVI NESSE PENDOR,
SE REDIGIR SÓ PARA TI NÃO CONSEGUI
ESSE SONETO SÓ DE AMOR NÃO REDIGI,
POIS FOI SONETO PARA  TI EM SEU CANDOR.
E ASSIM PREFIRO ATÉ DE AMOR NÃO MAIS FALAR
PORQUANTO QUERO SÓ FALAR DESTE QUE SINTO,
ESSE AMOR QUE A TI SOMENTE SE DESTINA,
POIS UM SONETO SÓ DE AMOR SE IRÁ LANÇAR
PARA MIL OLHOS E OUVIDOS AOS QUAIS MINTO,
QUE NÃO SEJA SÓ O TEU QUE ME FASCINA.

William Lagos
Tradutor e Poeta – lhwltg@alternet.com.br
Blog:
www.wltradutorepoeta.blogspot.com
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