AS FLORES CAEM AO CHÃO
NOVAS SÉRIES DE WILLIAM LAGOS –
17-26/9/2018
AS FLORES CAEM AO CHÃO (vi) – 17 SET 2018
ADIPOSO (vi) – 18 set 2018
PASSAGEIRAS (iii) – 19 set 2018
PALAVRA DE ORDEM (vi) – 20 set 2018
DESAVENÇAS (iv) – 21 set 2018
A ESPERA DOLOROSA (iv) – 22 set 2018
SEXO E REFLEXO (iii) – 23 set 2018
MANDATO (iv) – 24 set 2018
SUBESTABELECIMENTO (iii) – 25 set 2018
SONETO DE ENCOMENDA (iii) – 26 set 2018
AS FLORES CAEM AO CHÃO I – 17 SET 18
Poucas coisas exprimem mais a vida
que essas flores redolentes de um
jardim:
elas insistem em exibir-se qual
festim,
nenhuma delas quer passar
despercebida.
A destacar-se contra o verde a flor
garrida,
chama a atenção a contrastar sobre o
capim,
que lhe dá a vida, mas vive dela
assim,
na humilde relva que tu pisas
distraída...
Se flores não houvessem, esse verde,
com seu formato virente e
corriqueiro,
seria um símbolo bem mais importante,
pois ante esplendorosa flor se perde,
que nossa mão e olhar atrai ligeiro,
oculta a seiva em sua raiz vibrante.
Enquanto as flores mostram sua
vaidade
e mais que o céu nos dão noção de
cor,
toda a beleza a depender de seu valor
se não tivesse um rosto a humanidade,
pois nossa estética terá inicialidade
em nosso berço se nos fitam com amor
boca, dois olhos e nariz, o
transmissor
do sopro vivo, da afeição e
castidade.
Mas nossas faces, por mais sejam
diferentes,
basicamente serão sempre iguais,
suas proporções a mudar, sua
melanina,
suas concentrações mais fracas ou
potentes,
os olhos claros só reflexos siderais,
disposição de seus grânulos mais
fina.
Assim as flores são nossas rivais,
em sua variação esplendorosa;
como essa pele suave e mais formosa
têm essas pétalas, que querias ter
iguais!
São seus odores quase sobrenaturais,
tão diversos da trescalagem acintosa
que apresenta quem higiene tem
viciosa:
perfumes caros provêm desses
quintais!
Ali as flores se expandem,
silenciosas,
enquanto falam através de seus
olores,
a interpelar-nos com multidão de
cores,
tantas à noite conservando-se
odorosas,
mesmo que fechem as corolas,
assustadas
pela mudança que as torna
acinzentadas.
Porém as flores sobre a vida mais
ensinam
por sua expectativa limitada,
uma semana a luzir, um quase nada,
murcham depressa, para o chão se
inclinam.
Naturalmente, à sua função se afinam,
cada uma dela é rainha fecundada,
cada semente sobre a terra despejada,
que para nova geração assim
consignam.
De modo idêntico que a beleza da
mulher
e o vigor físico do homem no
esplendor,
outras tantas armadilhas transitórias
da natureza que somente filhos quer,
para o futuro transmitindo esse vigor
e tais belezas de minúsculas
vitórias.
Quando as flores permanecem nos
canteiros
e chega o fim da breve eternidade,
se as abelhas, pela nectaridade,
as vieram polinizar, ferrões
ligeiros,
as sementes deixarão em seus abeiros,
para brotarem nessa proximidade,
pouco espaço a existir na realidade,
bem poucas a desfilar noutros
janeiros.
Por isso, é mau aviso condenar
que sejam colocadas dentro em vasos,
depois de murchas, sendo descartadas,
pois em lugar bem diverso irão deixar
essas sementes ao exílio condenadas,
sendo apenas aparentes tais descasos.
Porém sementes espalham-se aos milhares,
em seu vasto e aparente desperdício,
pelos ares distribuídas em bulício,
para arraigar-se, enfim, noutros
lugares.
Somente as
flores que para ti guardares
dentro de
um livro, qual breve resquício
de um
momento de amor, ingênuo vício,
não terão
chances de novos rebrotares.
De modo
igual que, se amor não revelares,
mas
conservares num esquivo coração,
jamais
pode a emoção frutificar
e mesmo
quando em vão o propalares
não
saberás se um vestígio de paixão
em outro
peito não se irá enraizar.
ADIPOSO
– 18 setembro 18
(Paródia
de WILLIAM LAGOS sobre o CARINHOSO)
Meu
coração / Não sei porquê
Bate
feliz / Vendo TV!
Vejo
novela e minissérie,
O
noticiário e o Big Brother,
Mas
minha paixão / É o futebol!
Ai,
se eu pudesse / Ficar 24 horas
Bem
na frente do telão,
Sem
me importar / Com a radiação
Que
causa câncer / No meu pulmão,
Ai,
coração!
Vem,
vem trazer / A pipoquinha,
Com
a cervejinha / Presa na mão.
Se
bater fome / Como um hambúrguer,
Logo
depois / um cachorrão
E
só assim eu fico / Bem gordão,
Ai,
coração!
Ai,
se tu soubesses
Como
eu sei / Ser adiposo,
Sentado
o dia inteiro no sofá!
E
se eu quiser outra cerveja,
Sem
levantar / Mando a patroa
Ir
me buscar:
Vai,
vai, vai, vai!
E
já aproveita / Traz salgadinho,
Tá
na gaveta / Bem lá atrás.
Vou
matar / Essa paixão
Que
me devora / O coração
E
só assim, enfim
Serei
feliz, bem feliz!
Depois
te levo / Ao supermercado,
Fico
no carro / Estacionado
E
só assim, enfim,
Morro
feliz / Bem feliz!
passageiras 1 – 19 set 2018
ainda hoje me estremece a tentação
de um veloz vulto que pela rua passa,
deixando empós um cheiro que perpassa
pelas narinas até meu coração.
somente sinto a passageira sedução
que os olhos me envolve em doce graça,
nenhum impulso que me leve à caça,
salvo em cubículos desta imaginação,
somente vejo nessa figura passageira
um avatar das musas retraídas
em seu passado de fulgor pagão
e caso a alma então se encha inteira,
sem despertar luxúrias reprimidas,
faz-se pretexto para mais inspiração.
passageiras 2
não sei quem
seja e nisso está o seu fascínio;
poderia ser
uma gravura ou uma aquarela
a leve imagem
que cruzou por minha janela
a se encaixar
de minha visão no escrínio,
sem sobre mim
exercer qualquer domínio,
pois muito em
breve esquecerei dessa donzela,
por mais me
exponha momentânea graça bela,
é só imagem de
passagem em declínio;
só a registro
aqui por que não morra
totalmente o
perpassar do breve evento,
tais
passageiras jamais seguir eu tento,
se uma notasse
a acompanhar quem sabe corra
e nem desejo
que algum dia pense em mim,
essa miragem
que irei plantar no meu jardim.
passageiras 3
não penso nelas pelo gozo dos abraços
dos beijos puros de qualquer gentil menina,
só irão plantar em mim o que fascina,
para um parto natural de meigos traços;
não vejo nelas mais que descompassos,
em outra geração se insere a sina,
súbita ânsia de uma espera pequenina,
gravada a imagem, sem seguir-lhe os passos.
que vou fazer, se é apenas um pretexto
para escrever este soneto ou mais?
e se me acusa de uma atroz pedofilia,
em resultado do mais humilde gesto,
por mais que fossem inocentes por demais
os galanteios que aos ouvidos lhe diria?
PALAVRA DE ORDEM
I – 20 SET 2018
Antigamente,
muito me surpreendia
que se adotasse
com tal facilidade
qualquer slogan da maior banalidade
que na rádio ou
na tevê se escutaria.
Eu nunca fui
assim, tão somente repetia
o que
encontrasse com originalidade
ou em frase
lapidar da antiguidade
em qualquer
livro que minha vista percorria.
Na verdade, já
passados três mil anos,
tantas palavras
que agora se proclamam
como sendo
coisas novas ou ideais
foram passadas
por Etruscos aos Romanos
ou por Hititas
aos Etruscos que conclamam
ou por Sumérios,
dos Hititas ancestrais.
PALAVRA DE ORDEM II
Sem esquecer de mencionar esses Helenos,
que não somente filosofia nos legaram,
como cada emoção denominaram,
mesmo aqueles sentimentos mais pequenos.
Não que eu afirme ser coisa de somenos
isso que meus coevos se esforçaram
em redigir ou nas propostas que afirmaram:
por toda parte diviso os seus acenos.
Mas novo mesmo é só o tecnológico
que foi erguido sobre o antigo acervo,
essas ideias seminais dos ancestrais,
nada de novo no raciocínio lógico;
e nos meus versos igualmente só refervo
dos ancestrais essas ideias seminais.
PALAVRA DE ORDEM III
E só por isso então me surpreendia
como a amplidão da falta de cultura,
levava alguns, em sua vaidade pura
a achar novo o que sua mente concebia.
A pouco e pouco, porém, já compreendia
que a mente humana é igual que agricultura,
a mesma terra a ser plantada com ternura
em novo adubo que ao solo nutriria.
Não é importante o que se diz agora,
qualquer que seja tal palavra de ordem,
sim a maneira como esta seja dita,
pois até mesmo esta paixão que me devora
por novos temas que igualmente abordem
é antiga ordem por milênios repetida.
PALAVRA DE ORDEM IV
Assim, não mais me espanta que um modismo
tão facilmente venha a se “viralizar”,
título novo que alguém soube cunhar
e a tanta gente contamine qualquer “ismo”.
Mesmo este sendo um velho neologismo,
como uma “peste” que se iria propagar,
antigamente era o costume se afirmar:
novas palavras para idêntico arcaísmo.
Contudo, eu busco fugir ao tingimento
nem mesmo aqui por espontânea decisão,
que no Eclesiastes já dizia Salomão
que nada havia de novo em seu momento
e em cada coisa a que atribuem novidade
eu só percebo a mesma e igual continuidade.
PALAVRA DE ORDEM V
Mas não há calma para os Viandantes,
nem uma concha a beber de Compostela,
as gerações sempre a mirar a nova estela (*)
erguida além para tantos viajantes.
(*) Coluna comemorativa com dísticos ou imagens.
Desde os primórdios os humanos são errantes
e já estando explorada a Terra bela,
que mais nos resta senão migrar a estrela,
satisfação de nossas ânsias inconstantes.
E como isto até agora não é possível,
precisamos de uma estela contemplar
num oratório qualquer em nosso lar,
qual um pequeno celular portátil
ou em tela plana os proclamas escutar
de qualquer palavra de ordem mais versátil.
PALAVRA DE ORDEM
VI
Palavras de
ordem são aclamações tribais,
quem as escuta
não se acha mais sozinho,
desconhecendo o
rosto do vizinho,
cheio apenas de
atribulações individuais.
Tais uniformes
então se fazem habituais,
essas propostas
a girar em torvelinho;
tatuagens cobrem
feridas com carinho,
as novas drogas
as inquietações normais.
E embora nada
realmente sendo novo,
sempre há uma
forma de congregar o povo,
camaleões a
abdicar sua individualidade ,
tão mais difícil
formar-se uma opinião
e tão mais fácil
se aceitar a promoção
de outra
roupagem de igual mediocridade.
DESAVENÇAS
I – 21 SET 2018
Não há
descanso para desenraizados,
numa
mescla de saudade e desafio,
forçados
a remar no mesmo rio
após a
rejeição de seus passados;
todos
os memes por eles adotados
nada
mais que um cartaz sem alvedrio, (*)
uma
cópia desbotada de um só fio,
por
iguais vírus a ser contaminados.
(*)
Livre-arbítrio
E por
isso é tão fácil se viciar
em
qualquer droga a ondular na moda:
“Se todo
mundo faz, faço também.”
Mas
teus colegas não podem te ajudar,
sendo
usuários também dessa encantada
psicodélica
quimera de um porém.
DESAVENÇAS II
Não têm os jovens real participação
na sociedade civil que nos rodeia,
na diuturna exigência que incendeia
sua mente pobre e sem imaginação;
ergue-se a poeira quando passos dão,
o próprio amor uma emoção alheia,
a aranha social imensa teia,
só compartilham da mútua solidão.
Mas mesmo na adoção desses modismos
está o passado impertérrito ao
redor,
que é respirado a cada inalação,
mas arrancada a raiz em auto-sismo,
quebrada a imagem que levava o seu
andor
nada mais resta que sua
auto-negação.
DESAVENÇAS III
No desencanto da irresponsabilidade,
dos produtos a viver da sociedade,
na rejeição da inicial moralidade,
é necessário se aceitar novo
broquel,
por mais que seja um picolé de fel
ou ímpia boda sem forjar anel,
esquecimento temporário de ouropel,
expressão química de novel
iniquidade.
Não me iludi com as tais redes
sociais
que mais servem para expandir a
dissensão
ou, pelo oposto, a causar
escravidão,
sem ter os esteios mais
tradicionais,
desentendimentos tornados mais
estólidos,
relacionamentos quebrados que eram
sólidos.
DESAVENÇAS
IV
O
problema com a moderna sociedade
é
justamente a falta de escassez,
tudo se
exibe ao alcance do freguês,
tão
fácil crédito em acessibilidade;
bem ao
contrário que na antiguidade,
cada um
só usufruía do que fez,
a
cultivar e a ter colheita por sua vez,
as
próprias roupas tecendo, na verdade!
Mas
tudo existe, até armazenado,
as
máquinas descartam ação manual
e o que
sobra para quem não se educou?
Já
tanto curso superior ultrapassado,
a
desavença um suplemento natural
para
esse ambiente que a ti antes rejeitou.
A ESPERA DOLOROSA I – 22 SET 18
A espera é uma faceta deliciosa
De toda ânsia de amor irrelevante;
O coração profetiza o próprio avante,
Sem sentir essa espera tenebrosa
Como sendo realmente dolorosa
E após amor ter sido triunfante,
Algo se apaga, fica algo de
inquietante,
Perdido o espinho inicial da doce rosa:
Já se conhece o que antes se esperava
E por mais que felicidade se obtenha,
Sempre fica insatisfeito o coração,
Perdida a luz que a incerteza nos
mostrava,
Chegado ao clímax da portentosa
penha,
Para onde mais se avançar nessa
ocasião?
A ESPERA DOLOROSA II
Existe em nós essa insatisfação
De querer sempre mais do que se tem
E se o desejo fosse amar-se alguém,
Quando alcançado esse ideal do coração,
Por mais nos traga prazer, luz e paixão,
Não se procura mais o quanto se obtém,
Surge o aguilhão por algo mais além,
Ingrato sempre o arfar desse pulmão.
É desse modo que um colecionador,
Adquirido algum item com esforço,
Enquanto a entrega envolve uma demora,
Quando ele chega, rebrilha um novo ardor!
Mas logo após, gira ao redor o dorso,
Mais uma peça desejando nessa hora.
A ESPERA DOLOROSA III
Assim a espera é que nos impulsiona
Para a conquista de cada coisa nova;
Como vencer essa seguinte prova,
É a nova ânsia que da mente se faz dona
E pouco a pouco se faz sensaborona
Essa paixão menestrel da antiga trova;
Outra luxúria é que a alma nos renova,
Guardada a antiga no cristal de uma redoma,
Voltando assim a delícia dessa espera,
Que tanto esforço nos espicaça a envidar
Para esse novo objetivo se atingir;
Mas a cobiça da posse não se altera,
O que se tem se deseja conservar
E o novo prêmio ao primeiro se reunir.
A ESPERA DOLOROSA IV
Se não houvesse essa espera
insatisfeita
Provavelmente não se faria mais nada,
A própria vida sendo assim
determinada
Que a refeição, por mais seja
perfeita,
Perante a fome da próxima é sujeita;
Só se respira do ar qualquer lufada,
Para a seguinte depois ser respirada,
Só o coração seu batimento aceita
Para poder nova sístole causar,
Por que a diástole, sem tal
repetição?
Destarte a espera é a nossa salvação,
Eternamente a novo amor impulsionar,
Servindo só as contrações do coração
Para as lembranças das ânsias
coletar.
SEXO
E REFLEXO I – 23 SET 2018
São
tolos os que vêem apenas sexo
num
corpo humano esculpido ou retratado;
trazem
na mente a mancha do pecado
que
a tudo da malícia empresta o nexo.
O
visualizar do humano é mais complexo,
com
ele o ego se faz identificado,
o
próprio corpo no outro corpo confirmado,
Mais
que por carne, espiritual amplexo.
Todo
desejo carnal é passageiro,
quer
atendido ou ao invés frustrado,
mas
ali está a nossa imagem refletida,
no
oposto sexo se recorda o dia primeiro,
materno
corpo no nosso continuado,
na
pedra ou tela a própria vida concebida.
SEXO
E REFLEXO II
Com
a estátua bela me identificarei,
meu
próprio sexo ali glorificado,
o
oposto sexo nessa obra conservado,
tendo
a certeza de que desparecerei.
Mas
nesse meu irmao continuarei,
igual
que foi nesse modelo continuado,
meu
organismo também nesse revelado,
de
certo modo ali sobreviverei.
De
certo modo nesses outros estarei,
mesmo
depois de me achar morto e cremado
ou
em gaveta colocado a desmanchar,
mas
como arquétipo não me perderei,
mesmo
sem descendente direto ter deixado,
e
sem ser reprodução desse avatar.
SEXO
E REFLEXO III
A
natureza não é de fato assim cruel,
por
mais que o protoplasma se derrame,
sem
que uma cópia direta a si reclame,
todos
provimos de um idêntico farnel.
E
de outro plano na imagem do broquel
sempre
contemplo o quanto a mim proclame,
que
uma parte de minha raça ali se afame,
mesmo
depois que desvestir este burel,
chamado
corpo, em que estou aprisionado,
sabendo
que outros a minha tocha tomarão,
para
bem ou para mal, pouco me importa,
que
os genes sempre se misturarão
e
um novo corpo então será formado,
na
eterna coalescência da retorta.
MANDATO
I – 24 SET 2018
alguém
que me compreenda... já nem sei
se
isso é o que mais quero... que afinal
pareceria
até antinatural
que
uma mulher pensasse igual pensei,
pois
tantas vezes meu olhar lancei,
cheio
de mágoa, sem achar fanal;
o
que elas buscam é muito mais carnal
e
esse meu lado concreto já lhes dei,
pois
lhes dei filhos, não que não quisesse;
bem
ao contrário, desejava minha semente
em
dezenas de outros ventres implantar;
mas
o que quero ainda, ai, se pudesse!
era
alguém que amasse o que minha mente
por
toda a vida amou, sem alcançar.
MANDATO II
pois na verdade, não encontrei jamais
quem pensasse de modo igual que eu
e nenhuma mulher que me escolheu
compartilhou meus preconceitos triunfais,
alguma achei com pendores naturais
por um tipo de música igual que o meu,
mas não por todos, ecletismo que abrangeu
dos eruditos aos folclóricos reais...
de forma alguma a tais sons comerciais
que na rádio se escuta e na televisão,
contrariamente ao espontâneo popular
e que pudesse acompanhar os meus fanais
vinte e quatro horas por dia, sem exceção
desses momentos em que devia dormitar.
MANDATO III
alguma outra foi por literatura,
podendo até discutir filosofia
e surpreender-me no que me dizia...
uma terceira apreciadora de pintura,..
dezenas dizem apreciar a minha poesia,
mesmo que afirme, com total lisura,
que não descreve nossa mútua ventura,
mas qualquer tipo alhures de elegia;
houve até quem meus autores apreciasse
de ficção-científica ou de fantasia,
que em literatura de terror confundiria
e a qualquer clássico mesmo se negasse
sequer a ler por julgar ser aborrecido:
sempre um desvio de meu pensar sendo mantido.
MANDATO IV
mas sobretudo, que de fato
compreendesse
o que eu pensava ou ao menos que
queria,
essa mulher que inteiramente me
amaria
e partilhar meu coração igual pudesse
que minha mente, sem que se esquecesse
desse lado mais sensual que em mim
havia.
mas em que tipo de ilusão eu
confiaria
ao desejar que alguém assim houvesse?
contudo, eu sei que ainda existe por
aí
alguém capaz de uma igual
esquizofrenia
e em tantas coisas se tornar ao mesmo
tempo,
mas que não a encontrarei me
convenci,
tão só que alguém este poemeto até
leria
que a recordasse de seu próprio
contratempo.
SUBESTABELECIMENTO I –
25 SET 2018
Foi nesse amor de tipo
pedestal
Que minha alma derramei
em estribilho,
De cada vez que minha mente
encilho
Para os desfiles desse
triste carnaval.
Nesse amor que não me
trouxe bem nem mal,
Só revelando a
humanidade de meu trilho,
Somente a solidão de
quem sou filho,
Todo amor nela esparzido
ao natural.
Na verdade, a mim mesmo
até me basto
E desisti de achar quem
me compreenda,
Pois encontrei quem me
amasse à sua maneira.
Eis o motivo por que não
mais me desgasto:
Há companheira idônea na
minha tenda,
Sem busca insana pela
amante derradeira.
SUBESTABELECIMENTO II
Afinal, se o causídico
não consegue
Executar tudo o que deve
advogar,
De antemão já se pode
precatar
Para que certas de suas
tarefas legue.
Procuração se assina que
não negue
Que subestabelecer possa
indicar
E com outras causas
possa-se ocupar
E a sobrecarga assim não
o persegue.
E se a lei lhe permite
que ao cliente
Com outro representante
satisfaça,
Por que não pode ser
igual assim no amor?
Da companheira vendo as
falhas complacente,
De quem os dotes com
prazer se abraça,
A perfeição substituída
por calor?
SUBESTABELECIMENTO III
Ela passou também igual
procuração
Para um suposto
companheiro ideal,
Em nós a ver substituto
natural
Para atender menor
requisição.
Não todas essas que lhe
gerava o coração,
Um contrato entre
amantes, afinal,
Quebrar arestas não
provoca grande mal,
Melhor carinho real do
que paixão.
Assim se cumpre o
subestabelecimento
Pela procuração dada ao
fantasma
Que já não crê que
jamais encontraria.
Difuso ideal a barganhar
por julgamento,
Que um sentimento mais
manhoso pasma,
Enquanto mútuas
concessões se trocaria.
SONETO DE
ENCOMENDA I – 26 SET 18
QUERIAS ENTÃO UM
SONETO SÓ DE AMOR?
MAS ESTE TEMA JÁ
FOI MUITO EXPLORADO,
EU MESMO QUANTOS
JÁ TENHO ELABORADO,
QUE ENTÃO MANDEI
PARA A REDE EM DESTEMOR...
MAS POR TER ESTA
EMOÇÃO BEM MAIS VALOR
DO QUE PODE EM
UM SÓ SONETO SER MOSTRADO,
DE CADA VEZ QUE
PENSO, TENHO ACHADO
NOVA FACETA
INESPERADA DE FULGOR
E A CADA VEZ QUE
O CONTEMPLO ABRASADOR,
A ME PULSAR NO
SANGUE DOS OUVIDOS
PALAVRAS SURGEM
EM TOM DIVERSO DO ANTERIOR,
PORQUE, DE FATO,
AMOR É INESGOTÁVEL
E QUAISQUER
OUTROS TEMAS PERSEGUIDOS
CONVERGEM TODOS
PARA O AMOR INEXORÁVEL.
SONETO DE ENCOMENDA II
NÃO SE PODE ESCREVER UM SONETO SÓ DE AMOR,
POIS SÓ DE AMOR SE COMPÕE QUALQUER SONETO,
ATÉ MESMO SE NÃO TRAZ SINAIS DE AFETO
COMO ESSES TANTOS EM QUE ABORDO OUTRO TEOR,
MAS SE FALAR DE CIÊNCIA, AÍ ESTÁ O CALOR
DE O UNIVERSO DESVENDAR TODO E COMPLETO
E AO DESCREVER EPISÓDIO HISTÓRICO DILETO,
ALI SE ESCONDE UM IDÊNTICO PENDOR,
PORQUE AMOR PONHO EM CADA VERSO LOUCO,
MESMO QUE BUSQUE O RIDÍCULO OU O HUMOR,
SE NÃO TIVER AMOR, NÃO TENHO RISO;
E QUANDO ACABO O MAIS LONGO, ESCREVO POUCO
DA REFULGÊNCIA PLENA DE ESPLENDOR,
SE AMOR EXILO, DESCARTO O PRÓPRIO SISO.
SONETO DE
ENCOMENDA III
ASSIM TE ESCREVO
UM SONETO SÓ DE AMOR
E ENTÃO NÃO
POSSO ESCREVÊ-LO PARA TI;
MESMO QUE SINTA
AMOR QUANDO ESCREVI,
O AMOR É TEU E
TEU AMOR É SEU FULGOR;
DA EMOÇÃO QUE
DESCREVI NESSE PENDOR,
SE REDIGIR SÓ
PARA TI NÃO CONSEGUI
ESSE SONETO SÓ
DE AMOR NÃO REDIGI,
POIS FOI SONETO
PARA TI EM SEU CANDOR.
E ASSIM PREFIRO
ATÉ DE AMOR NÃO MAIS FALAR
PORQUANTO QUERO
SÓ FALAR DESTE QUE SINTO,
ESSE AMOR QUE A
TI SOMENTE SE DESTINA,
POIS UM SONETO
SÓ DE AMOR SE IRÁ LANÇAR
PARA MIL OLHOS E
OUVIDOS AOS QUAIS MINTO,
QUE NÃO SEJA SÓ
O TEU QUE ME FASCINA.
Recanto das Letras > Autores >
William Lagos
Brasilemversos >
brasilemversos-rs > William Lagos
No Facebook, procurar
também por William Lagos
Nenhum comentário:
Postar um comentário