POEMALIPSE
I (1º mai 11)
(Joanne
Woodward, apogeu hollywoodiano)
Sinceramente,
espero não descer
a
qualquer tumba e nem tampouco ao Averno,
por
mais que seja fácil ao inferno
deixar
que a alma possa descender. (+)
Já
basta para mim esse escorrer
dos
humores do corpo para o externo...
Prefiro
muito mais ter duplo inverno,
que
corpo e alma possam proteger...
Mas
desde sempre pedi a cremação,
para
depois que daqui tiver partido:
que
seja o corpo em chama consumido,
como
já foi, afinal, o coração,
queimado
tantas vezes na vaidade
da
inútil queimação de minha saudade.
(+)
Facilis descensus Averni --
Vergílio, citado por Dante Alighieri.
POEMALIPSE II
De certo modo, percebo como azia
essa ânsia voraz de que padeço,
em cuja poeira quase me enlouqueço,
dentre a faina semanal de minha poesia.
Não que me queixe. A vida é bem vazia
quando tenho de pagar do ócio o preço:
dos momentos angustiosos não me esqueço,
fica a memória enrolada em desvalia...
São prendas de minhalma, no afinal,
de muitas coisas começadas mal
e só muito lentamente corrigidas...
Os dons que recebi sobrenadaram,
porém os meus defeitos perduraram
por longos anos de noites mal dormidas.
POEMALIPSE
III – 19 novembro 2023
Bem
cedo eu aprendi a ler mil versos,
sem
me sentir capaz de outros fazer.
Contudo,
quando a mim faziam ler
versos
mal-feitos, de imperfeitos terços,
depressa
ia encontrar os sons dispersos,
para
imperfeitas rimas desfazer,
a
métrica e a cesura entretecer,
em
ritmos dos tipos mais diversos.
Foi
pela música que assim eu comecei:
compunha
melodias religiosas
e
nelas colocava fios de rosas,
em
versos livres que fácil adaptei
às
circunvoluções dessa harmonia,
com
que meu Deus louvar eu procurei...
POEMALIPSE
IV
Depois, ao
editar um jornalzinho,
representando
da paróquia o boletim,
vi-me
forçado a redigir, assim,
breves
sonetos leves, de mansinho...
Quando o
pároco cansado, coitadinho,
já quase
meia-noite, um poema, enfim,
me pedia
preparar, sem alfenim,
sobre um
trecho da Bíblia, com carinho,
escolhido
por ele... Era um soneto
para a
primeira página, que era
sempre do
pároco real obrigação.
E lá fazia
eu, sem grande afeto,
os versos
simples, em conclusão da espera
dos
tipógrafos a cargo da missão...
POEMALIPSE V
Foi assim que recebi
da língua o dom,
aos poucos se
alinharam os sonetos,
das rimas descobri
locais secretos,
meu Dom de Línguas
revelou-se bom
para tanger dentro da
mente o som
mais adequado para
versos mais diletos,
da métrica e das rimas
nos afetos,
no melhor ritmo de
agradável tom
e como Irmão Parmenas
assinava,
um dos sete diáconos
iniciais,
por bem poucos
conhecido no ademais;
quiçá para a
humildade eu assinava,
talvez o meu orgulho
me atiçasse,
às críticas que a mim
mesmo eu iniciasse.
POEMALIPSE VI – 20 NOV 2023
Tocou sua trombeta meu primeiro anjo
e sobre mim seu vaso derramou,
o fogo sobre a mente se espalhou,
meu sangue refluiu como o de arcanjo
e meus dedos se tornaram em alfange,
no recorte de palavras a granel,
em mil imagens doces como o fel,
amargo o mel que esta minhalma tange.
Pois rebrotaram em versos de esplendor,
bem mais terrestre do que divinal,
não só do espírito vive o ser mortal,
é pela carne que descobre o amor,
o Irmão Parmenas se foi com sua tonsura,
deixando em mim não mais que um rastro de ternura.
POEMALIPSE VII
Veio o segundo anjo e
sua trombeta
tocou, trazendo sobre
mim montanha,
ardendo em chamas,
com força tamanha,
que o mar da mente,
ante a visão secreta,
se transformou em
sangue nessa meta
de transmutar-se em
verdadeira sanha
de versos escrever,
que não se acanha
de lançar aos
corações sua feroz seta.
Porém morreu a terça
parte de minha vida,
perante o choque do
vasto meteoro
e se esvaiu, no vapor
de seus miasmas,
levando o meu desejo
de vencida,
em troca dos poemas
em que afloro
os sonhos castos
desses mil fantasmas.
POEMALIPSE
VIII
Quando a
trombeta soprou o anjo terceiro,
morreu em
mim um terço que pressinto
pelo seu
nome atribulado de Absinto,
me causaria
um dano derradeiro.
Em vez das
águas do mar, caiu inteiro
dentro em
meu coração, no qual eu sinto
a sua
amargura total, tornando extinto
esse terço
de meu sangue aventureiro,
que essa
bênção-maldição de minha poesia
me prende
junto à pena diariamente,
como a
trombeta que ditou minha pena
e não mais
saio empós a fantasia,
só me
recolho na profusão da mente,
que essa
terceira trombeta me envenena.
POEMALIPSE
IX – 21 NOVEMBRO 23
Veio
outro anjo a soprar trombeta quarta,
para
secar em mim a luz do sol,
para
apagar da luz o seu anzol,
enquanto
a luz da estrela já se aparta
e
de minha vida escureceu, bem farta,
a
terça parte da existência do crisol
que
dizem purifica e traz escol,
pois
toda a escória do ouro ele descarta,
e
desse modo tirou terço de mim,
a
minha malícia e angústias mais secretas,
na
forja altiva de maior sublimação,
porém
fez permanecer em meu confim
toda
a saudade das horas mais diletas,
em
que pecava na maior satisfação!
POEMALIPSE
X
Quando a
quinta trombeta se escutou
e o meu
abismo se abriu em cinza e lava,
dele surgiu
a multidão escrava
de
exércitos de ardor que libertou
os
gafanhotos a quem o anjo dotou
com caudas
de escorpiões e assim estava
toda a
minhalma em tal textura brava,
que a horda
inteira a mim atormentou
saindo
assim em brasa outros poemas,
contra o
mundo e contra a vida a protestar
e que nas
minhas gavetas quis guardar,
mesmo
fossem alguns preciosas gemas,
na religião
do engaste de minhas taras,
mescla de
angústia e de mil mágoas raras.
POEMALIPSE XI
Mas da sexta trombeta ao ribombar,
em mim trotearam os
quatro cavaleiros,
suas armaduras
forjadas por armeiros
em fogo e enxofre
acidulando a rebrilhar
cabeças crocodilianas
a ostentar
os cavalos em que
montavam os guerreiros,
com caudas de
serpentes bem certeiros
açoites para meu
sonho estraçalhar
e a terça parte de
minhas ilusões
que ainda me
restavam, extirparam,
só me sobrando o
orgulho e minha vaidade;
foi nesse então que
iniciei digitações
e meus versículos
lentamente se mostraram,
em timidez buscando a
humanidade.
POEMALIPSE
XII
E no troar
da sétima trombeta,
o dia
marcando de meu julgamento,
não dos
méritos de amor ou sentimento,
porém dos
versos que a tua visão completa,
nas reações
com que meu ser te afeta,
dos risos
breves do entretenimento,
da interpolação
de cada pensamento,
das formas
novas que minha mente excreta.
Não sei
ainda qual o tenebroso dia
da ira, em
que a cólera domina,
mas sei que
és tu que a mim irás julgar
e decidir
se há valor qualquer nessa poesia,
enriquecida
por ti sua própria sina
ou se ao
contrário, só irás me condenar.
POEMALIPSE
I (1º mai 11)
Sinceramente,
espero não descer
a
qualquer tumba e nem tampouco ao Averno,
por
mais que seja fácil ao inferno
deixar
que a alma possa descender. (+)
Já
basta para mim esse escorrer
dos
humores do corpo para o externo...
Prefiro
muito mais ter duplo inverno,
que
corpo e alma possam proteger...
Mas
desde sempre pedi a cremação,
para
depois que daqui tiver partido:
que
seja o corpo em chama consumido,
como
já foi, afinal, o coração,
queimado
tantas vezes na vaidade
da
inútil queimação de minha saudade.
(+)
Facilis descensus Averni --
Vergílio, citado por Dante Alighieri.
POEMALIPSE II
De certo modo, percebo como azia
essa ânsia voraz de que padeço,
em cuja poeira quase me enlouqueço,
dentre a faina semanal de minha poesia.
Não que me queixe. A vida é bem vazia
quando tenho de pagar do ócio o preço:
dos momentos angustiosos não me esqueço,
fica a memória enrolada em desvalia...
São prendas de minhalma, no afinal,
de muitas coisas começadas mal
e só muito lentamente corrigidas...
Os dons que recebi sobrenadaram,
porém os meus defeitos perduraram
por longos anos de noites mal dormidas.
POEMALIPSE
III – 19 novembro 2023
Bem
cedo eu aprendi a ler mil versos,
sem
me sentir capaz de outros fazer.
Contudo,
quando a mim faziam ler
versos
mal-feitos, de imperfeitos terços,
depressa
ia encontrar os sons dispersos,
para
imperfeitas rimas desfazer,
a
métrica e a cesura entretecer,
em
ritmos dos tipos mais diversos.
Foi
pela música que assim eu comecei:
compunha
melodias religiosas
e
nelas colocava fios de rosas,
em
versos livres que fácil adaptei
às
circunvoluções dessa harmonia,
com
que meu Deus louvar eu procurei...
POEMALIPSE
IV
Depois, ao
editar um jornalzinho,
representando
da paróquia o boletim,
vi-me
forçado a redigir, assim,
breves
sonetos leves, de mansinho...
Quando o
pároco cansado, coitadinho,
já quase
meia-noite, um poema, enfim,
me pedia
preparar, sem alfenim,
sobre um
trecho da Bíblia, com carinho,
escolhido
por ele... Era um soneto
para a
primeira página, que era
sempre do
pároco real obrigação.
E lá fazia
eu, sem grande afeto,
os versos
simples, em conclusão da espera
dos
tipógrafos a cargo da missão...
POEMALIPSE V
Foi assim que recebi
da língua o dom,
aos poucos se
alinharam os sonetos,
das rimas descobri
locais secretos,
meu Dom de Línguas
revelou-se bom
para tanger dentro da
mente o som
mais adequado para
versos mais diletos,
da métrica e das
rimas nos afetos,
no melhor ritmo de
agradável tom
e como Irmão Parmenas
assinava,
um dos sete diáconos
iniciais,
por bem poucos
conhecido no ademais;
quiçá para a
humildade eu assinava,
talvez o meu orgulho
me atiçasse,
às críticas que a mim
mesmo eu iniciasse.
POEMALIPSE VI – 20 NOV 2023
Tocou sua trombeta meu primeiro anjo
e sobre mim seu vaso derramou,
o fogo sobre a mente se espalhou,
meu sangue refluiu como o de arcanjo
e meus dedos se tornaram em alfange,
no recorte de palavras a granel,
em mil imagens doces como o fel,
amargo o mel que esta minhalma tange.
Pois rebrotaram em versos de esplendor,
bem mais terrestre do que divinal,
não só do espírito vive o ser mortal,
é pela carne que descobre o amor,
o Irmão Parmenas se foi com sua tonsura,
deixando em mim não mais que um rastro de ternura.
POEMALIPSE VII
Veio o segundo anjo e
sua trombeta
tocou, trazendo sobre
mim montanha,
ardendo em chamas,
com força tamanha,
que o mar da mente,
ante a visão secreta,
se transformou em
sangue nessa meta
de transmutar-se em
verdadeira sanha
de versos escrever,
que não se acanha
de lançar aos
corações sua feroz seta.
Porém morreu a terça
parte de minha vida,
perante o choque do
vasto meteoro
e se esvaiu, no vapor
de seus miasmas,
levando o meu desejo
de vencida,
em troca dos poemas
em que afloro
os sonhos castos
desses mil fantasmas.
POEMALIPSE
VIII
Quando a
trombeta soprou o anjo terceiro,
morreu em
mim um terço que pressinto
pelo seu
nome atribulado de Absinto,
me causaria
um dano derradeiro.
Em vez das
águas do mar, caiu inteiro
dentro em
meu coração, no qual eu sinto
a sua
amargura total, tornando extinto
esse terço
de meu sangue aventureiro,
que essa
bênção-maldição de minha poesia
me prende
junto à pena diariamente,
como a
trombeta que ditou minha pena
e não mais
saio empós a fantasia,
só me
recolho na profusão da mente,
que essa
terceira trombeta me envenena.
POEMALIPSE
IX – 21 NOVEMBRO 23
Veio
outro anjo a soprar trombeta quarta,
para
secar em mim a luz do sol,
para
apagar da luz o seu anzol,
enquanto
a luz da estrela já se aparta
e
de minha vida escureceu, bem farta,
a
terça parte da existência do crisol
que
dizem purifica e traz escol,
pois
toda a escória do ouro ele descarta,
e
desse modo tirou terço de mim,
a
minha malícia e angústias mais secretas,
na
forja altiva de maior sublimação,
porém
fez permanecer em meu confim
toda
a saudade das horas mais diletas,
em
que pecava na maior satisfação!
POEMALIPSE
X
Quando a
quinta trombeta se escutou
e o meu
abismo se abriu em cinza e lava,
dele surgiu
a multidão escrava
de
exércitos de ardor que libertou
os
gafanhotos a quem o anjo dotou
com caudas
de escorpiões e assim estava
toda a
minhalma em tal textura brava,
que a horda
inteira a mim atormentou
saindo assim
em brasa outros poemas,
contra o
mundo e contra a vida a protestar
e que nas
minhas gavetas quis guardar,
mesmo
fossem alguns preciosas gemas,
na religião
do engaste de minhas taras,
mescla de
angústia e de mil mágoas raras.
POEMALIPSE XI
Mas da sexta trombeta ao ribombar,
em mim trotearam os
quatro cavaleiros,
suas armaduras
forjadas por armeiros
em fogo e enxofre
acidulando a rebrilhar
cabeças crocodilianas
a ostentar
os cavalos em que
montavam os guerreiros,
com caudas de
serpentes bem certeiros
açoites para meu
sonho estraçalhar
e a terça parte de
minhas ilusões
que ainda me
restavam, extirparam,
só me sobrando o
orgulho e minha vaidade;
foi nesse então que
iniciei digitações
e meus versículos
lentamente se mostraram,
em timidez buscando a
humanidade.
POEMALIPSE
XII
E no troar
da sétima trombeta,
o dia
marcando de meu julgamento,
não dos
méritos de amor ou sentimento,
porém dos
versos que a tua visão completa,
nas reações
com que meu ser te afeta,
dos risos
breves do entretenimento,
da interpolação
de cada pensamento,
das formas
novas que minha mente excreta.
Não sei
ainda qual o tenebroso dia
da ira, em
que a cólera domina,
mas sei que
és tu que a mim irás julgar
e decidir
se há valor qualquer nessa poesia,
enriquecida
por ti sua própria sina
ou se ao
contrário, só irás me condenar.
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