NERECZINKA
Folklore
da Eslovênia, Adaptação e Forma Poética
William
Lagos
(Frances Gifford e Johnny Weissmüller,
o primeiro casal Jane e Tarzan)
Nereczinka
I – 9 fev 2022
Era
uma vez uma pobre camponesa,
casada
havia anos, mas vivendo na tristeza
de
nunca poder ter gerado nenhum filho:
naquela
época e lugar, grande vergonha,
diziam
ser estéril, acusação que a ponha
entre
as mulheres do mais inferior trilho.
Nunca
culpavam o marido, realmente,
por
mais que às vezes a situação pressente
que
fosse ele que a não podia engravidar;
talvez
do homem dela até troçassem,
mas
as mulheres dela só zombassem:
era
um defeito de que não poderia se livrar!
Assim
a infeliz passava os dias
entre
lágrimas, envolta em agonias,
pedindo
a Deus que as faltas lhe perdoasse,
sem
saber de que culpas se tratava,
de
ser castigo tão somente suspeitava
que
essa falta sobre seu ventre trouxesse!
Que
lhe mostrasse a Sua misericórdia,
que
para ela olhasse com concórdia
e
permitisse que um filho enfim tivesse!
Por
algum razão nem pensava ser menina;
seria
um menino bem mais forte e de sua sina
poderia
ser liberta se tal bênção lhe desse!
“Meu
Deus,” pedia, “nem Lhe peço um filho belo,
mesmo
o mais feio receberá o meu desvelo,
pequeno
seja tal qual um pimentão!
Eu
lhe darei proteção e o amor inteiro
e
o abraçarei até o momento derradeiro,
com
os mil carinhos que trago ao coração!”
Um
dia, o Senhor de suas preces se cansou
ou
quem sabe foi um anjo que a escutou
e
ela notou que havia engravidado!
Tomou
a seguir as maiores precauções,
sem
se arriscar na menor das ocasiões:
chegou
o menino, pequeno e bem formado!
Disse
a parteira que era um “setemezinho”,
sendo
normal que nascesse pequeninho,
que
no seu ventre só ficara sete meses...
Mas
era muito menor que o habitual;
para
ela sem lhe causar o menor mal,
mesmo
mais leve que um pimentão que peses!
O
problema é que o menino só cresceu
uns
dez centímetros, porém desenvolveu
igual
criança normal, só que menor!
Passaram
anos e foi apelidado “o Pimentão”
ou
Nereczinka, no antigo idioma da região,
quase
um boneco, mas criado com calor!
Nereczinka
2 – 10 fev 2022
Mesmo
assim, não se perturbou a alegria
da
pobre mãe; já o pai, ao ver que não crescia,
acreditou
ser o produto de uma fada,
que
de algum modo teria a mãe enganado
com
um changeling, num instante
desprezado:
tratava-o
bem, mas não o amava em nada!
E
mesmo a mãe, no perpassar dos anos,
vendo
crescer os demais filhos dos humanos,
começou
a tais suspeitas aceitar,
especialmente
depois que, mesmo pequeno,
já
os ajudava, com aspecto sereno,
sua
força e robustez bem singular!
Não
se atrevia para Deus ir reclamar,
mas
da tristeza já não podia se livrar,
porque
pedira mesmo que fosse um pimentão
e
seu pedido fora atendido claramente,
sentindo
em si um pecado repelente:
ao
próprio filho causar tal degradação!
Mas
certa noite, viu uma bela criatura,
de
aparência muito bela e muito pura,
sem
ter certeza se a dormir ou a meditar,
que
lhe falou: “Mulher, não chores mais!
Maior
teu filho será do que os demais,
tão
logo a hora apropriada lhe chegar!”
E
desse modo, se passaram quinze anos
e
a tal visão pensou serem enganos
com
que ela a si mesma consolava...
Enquanto
isso, era o menino bem dotado,
em
suas tarefas esperto e atarefado,
até
na lida do campo ele ajudava!
Lavava
a roupa e a estendia no varal,
subindo
rápido pelo poste, num dedal
enfiando
cada peça de roupa que lavava
e
quando da corda ele atingia a ponta,
de
volta ao tamanho natural logo reponta
aquela
peça de roupa que levava!
Só
não o fazia quando havia gente,
sem
estar muito preocupado, mas ciente
de
que poderiam chamar de bruxaria!
Também
a louça ele lavava com cuidado,
sem
um só prato por ele ser quebrado,
por
mais difícil que esse peso lhe seria!
E
na horta, igualmente ele plantava
e
até o alto das árvores se alçava,
para
jogar as frutas para o chão;
até
de noite, quando o pai dormia,
realizar
parte da ceifa conseguia,
meio
escondido, temendo repreensão!
Nenhum comentário:
Postar um comentário