O
ATORMENTADO I – 12 FEV 22
Embora
Abiran, o “Pai de Deus” signifique,
não
se deve o seu nome interpretar
como
origem do Monoteísmo milenar,
que
o próprio nome em Avraham modifique,
e
em “Pai de Muitos” simplesmente fique,
das
mil nações que haveria de gerar;
de
Sarai também o nome a transmutar,
que
de “Heroína” para “Mãe” se simplifique.
Mesmo
ele a perceber fosse impossível
que
tivesse concebido tal conceito,
sem
receber uma real epifania,
na
“inspiração” dessa “visita” incrível
da
divindade revelada em seu direito,
implantada
no espírito, que assim cria.
O
ATORMENTADO II
O
fato é que Abiram foi instruído
quando
em Paddan-Aram ainda vivia,
no
culto aos deuses que ali se pretendia
e
mesmo neles certamente crido,
porém
tais deuses do coração banido,
um
bem furioso quando se ofendia,
uma
dengosa que seu corpo oferecia,
a
carne humana preço em troca requerido.
E
igualmente existia o deus da guerra,
sacrifício
humano supremo ali exigido,
milhares
a morrer ao invés de um,
que
o massacre de prisioneiros ainda encerra,
um
empalado, outro à tortura conduzido
ou
morto em fogo, sem se perdoar nenhum!
O
ATORMENTADO III
E
que se pode esperar desse infeliz,
envolto
em tantas elocubrações,
em
suas noites sem luar, as multidões
de
estrelas a fitar... O que lhe diz?
São
olhos de deuses, alguém quis
lhe
garantir, diante de tantas confusões:
não
só os olhos, lá estão em profusões
deuses
estranhos, suas pupilas quais burís
a
nos rasgar, a perscrutar pobres humanos,
corpos
ocultos sob negros mantos,
a
contemplar nossas ações, boas ou más:
“Por
isso ao deus Sin, nos invocamos,
que
nos proteja e lhe compomos cantos:
é
o deus-pastor que todo bem nos traz!...”
O
ATORMENTADO IV
E
lhe falavam do poder dessa Ishtar,
não
só da Lua, mas da fecundidade,
que
aos humanos não vigia com maldade,
mas
vem rebanhos e colheitas aumentar,
embora
peça sacrifícios, na verdade,
as
primícias das colheitas lhe queimar
e
o primogênito das ovelhas sobre o altar,
todo
“o que abre a madre” em realidade!
E
em consequência, lhe chegavam a afirmar
que
de cada mulher o fruto primordial
se
lhe devia imolar, em grande fausto!
Seu
sangue sobre os campos a jorrar,
queimada
a carne em fogueira triunfal,
pago
cem vezes no futuro o holocausto!
O
ATORMENTADO V
E
depois que a Mesopotâmia ele deixou,
não
tanto por dos deuses ter rancor,
mas
por escassez de um pasto protetor
de
seus rebanhos, que rápido aumentou,
na
peregrinação em que lenta se empenhou,
viu
outros povos, cada qual com seu senhor,
rei
e sacerdote, cobrando seu penhor
para
algum deus que na mente ele gerou!
É
indubitável que Abraão lhe pagaria
o
pedágio da passagem e o direito
de
beber de seus poços com frequência;
não
há razão por que alguém se espantaria
que
a Melkisedek ele pagasse preito
e
o dízimo ele entregasse à sua potência!
O
ATORMENTADO VI
Mas
finalmente alcançou a revelação:
que
nem as estrelas lá no céu pregadas,
nem
o luar de inconstantes madrugadas,
deuses
seriam que lhe dessem proteção;
tampouco
o Sol de imponente floração,
por
quem planícies seriam ressecadas,
suas
preces merecia alcandoradas,
sequer
o vento, a chuva ou o trovão.
Se
Yahweh falou enfim a Abraão,
só
ao que podia entender se limitou,
dentro
da mácula de seu antigo entendimento
e
desse modo, concebeu a tentação
do
filho único que Sara lhe gerou,
sacrificar
para provar seu sentimento!
O
ATORMENTADO VII
Talvez
não seja mais que alegoria,
talvez
quisesse só a obediência comprovar
do
filho Isaac, a quem dizia amar,
mas
de antemão um carneiro esconderia
nesse
monte a que seu filho conduzia,
levando
o fogo e a pedra de amolar!
A
narrativa não registrou o protestar
dessa
rez que no final se imolaria...
Talvez
nada mais fosse que um ritual:
sabia
Isaac que não seria degolado?
Sabia
Abraão que jamais o mataria?
Seria
uma forma de expiar o antigo mal,
quando
Ishmael ao deserto foi levado,
ação
bem certo que o atormentaria?
O
ATORMENTADO VIII
Mas
é preciso sempre se lembrar
que
com Ketura outros filhos já tivera;
caso
um matasse, igual outro escolhera
para
um herdeiro que haveria de abençoar!
Não
se encontra nenhum texto a recordar
que
de Ketura algum filho se perdera
em
sacrifício ao Deus que conhecera,
por
que a Isaac escolheria degolar?
O
certo é que este, embora consentindo,
até
o momento final teve incerteza:
estaria
preso o tal carneiro, seu penhor?
Mesmo
o ritual sem sua morte se cumprindo,
os
dois do monte descendo sem lerdeza,
sempre
lembrou-se de Jeová como O Temor!
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