(PRAÇA CENTRAL DE BIROBIDZHAN)
BIROBIDJAN E MAIS --
NOVAS SÉRIES DE WILLIAM LAGOS -- 24-28/9/2017
ADOLESCÊNCIA I -- 24 SET 2017
A tendência ao suicídio é natural
na adolescência, essa época
terrível;
qualquer problema parece
intransponível,
ser rejeitado tal qual golpe mortal.
Quem não sofreu parelha dor igual,
de lágrimas um refluxo inexaurível,
depressão e desespero imperecível,
conducentes a um impulso assim
fatal?
A rejeição do próprio corpo
material,
qualquer defeito em exacerbação,
sem consolo nos pais ou algum irmão,
a raiva e a angústia perante o amor
sexual,
antes de tê-lo em plena aceitação,
no sublimar da tristeza no final...
ADOLESCÊNCIA II
Também passei por essa fase
transitória
e o suicídio certamente contemplei;
racionalmente, nunca me entreguei:
se ao invés causasse paralisia
inglória?
Quantos sofrem por ineficácia dessa
escória?
Morrer é fácil, porém considerei
e mesmo adolescente, me arranjei
a dar início à minha própria
história...
E aqui me encontro, meio século
depois,
perfeitamente conformado com minha
vida,
pois já foi dito: "não tive o
quanto quis,"
mas o que tive -- fosse a vida a
dois
ou o ato gerador, a obra cumprida,
foi suficiente -- e até mesmo fui
feliz!...
ADOLESCÊNCIA III
"Quem passou pela vida sem
tristeza",
verso legou-nos Francisco Otaviano,
não passou por real destino humano:
sofrer faz parte da humana natureza.
Contudo, algo depende da riqueza;
quem passou fome, mais que
desengano,
quem foi doente, mais que mental
afano,
tempo não teve de sofrer essa lerdeza.
Quem precisou lutar pelo seu pão
ou passou sede nas areias do
deserto,
vivendo apenas para sobreviver,
não se tentou matar por ilusão,
porque mantém somente o olhar aberto
para esse pouco que consegue
recolher.
ADOLESCÊNCIA IV
Assim, pelo sofrer de adolescente
devo ser grato, pois significou
que alimento então não me faltou,
aleijado não fui e nem doente.
E sem tristeza a se fazer presente
este vigor que tão bem me
impulsionou
provavelmente não se manifestou
em tantos outros, a acicatar sua
mente.
Portanto, minha amiga, se hoje vives
é que a tristeza e toda a tua
penúria
não te levaram a encontrar a morte
e embora, às vezes, hibernes ou
estives
pelo tédio, monotonia ou incúria,
pensa bem e rende graças por tua
sorte!
BIROBIDJAN I -- 25 set 2017
Nem sei porque, há alguns anos,
escolhi
o Birobidjan para um tema de
sonetos;
alguns de meus motivos são secretos
e nem eu mesmo os posso compreender.
Pois muito bem. Então o vamos empreender.
Foi o Birobidjan um desses projetos
que receberam bem mais críticas que
afetos:
pátria judaica se iria ali
estabelecer...
Foi pouco mais que uma loucura
Stalinista,
sujeita a seus caprichos de tirano:
ao Extremo Oriente enviaria seus
Judeus,
como uma forma de impedir conquista
pelos Chineses do território
siberiano,
pelos Sovietes contado junto aos
seus.
BIROBIDJAN II
Era o Pogrom um esporte nacional
entre os Russos e também dos
Ucranianos:
incêndios, mortes e outros atos
desumanos
contra os Judeus, sem punição real.
Mas como muitos comunistas, afinal,
eram Judeus, compreendem-se os
afanos
que influenciaram a mente dos
tiranos
à concessão de um território
nacional.
E toda essa juventude comunista,
buscando embora o próprio
território,
não partilhava do sonho sionista;
longe que fosse de Israel, seria
melhor que o perigoso consistório
que em "assassinos de
Jesus" os descrevia.
BIROBIDJAN
III
David
Berelson, desta forma, defendeu
a
ideia de emigrar com entusiasmo,
por
mais que lhes pudesse causar pasmo
tão
distante lugar do que era seu.
E
a Josip Stalin depressa convenceu
que
os Judeus fossem comer pão asmo
no
Extremo Oriente, junto àquele casmo
que
de Mar de Okhotsk o nome recebeu.
Eram
dois rios, o Biro e o Bidzhan,
afluentes
do Amur, bem mais potente rio,
junto
à Mandchúria, atendendo o russo afã
de
defender essa terra siberiana
contra
os Chineses, ocupando esse vazio,
também
impedindo a expansão coreana.
BIROBIDJAN
IV
Nos
arquivos que em iídiche escreveu, (*)
Berelson
maravilhas apontou,
a
aspereza e o frio não mencionou,
duas
mil famílias a emigrarem convenceu.
(*)
Língua dos judeus asquenazim da Europa Oriental, 85% do alemão medieval, 5% de
hebraico e 10% de polonês, russo, etc.
Mas
logo a gente infeliz se arrependeu:
Meshe
Gessen a verdade revelou: (*)
Inundação
o plantio desarraigou
e
de carbúnculo seu gado pereceu!...
(*)
Em seu livro "Birobidjan: Onde não há Judeus."
Pois
na verdade era uma terra montanhosa
e
no inverno inóspita e gelada:
a
maior parte retomou a ferrovia;
para
o oeste os levou sorte inditosa
e
alguns mesmo iniciaram a empreitada
de
para a América fazer a travessia...
BIROBIDJAN V
Porém chegou aquela guerra tão
terrível,
pelos nazistas milhões executados,
e centenas de milhares deslocados:
após a guerra, seu retorno
inatingível,
por ordem de Stalin enviados para a
incrível
vastidão siberiana e ali alocados
nessa Oblast Autônoma confinados,
após viagem de penúria
indescritível.
Deu-lhes direito de falar iídiche e
hebraico
e cultivar as suas antigas
tradições,
porém Stalin era mau e caprichoso
e se pôs a perseguir, em vezo
arcaico,
a pobre gente, acusada de traições:
nacionalismo para os Sovietes
perigoso!
BIROBIDJAN VI
Oitenta e cinco milhares tem hoje de
habitantes,
porém só uns quatro mil sendo
judeus;
há renascimento dos interesses seus,
Yiddishkeit é a Tevê
dos imigrantes.
Só em 2012 abriu-se escola, como
dantes,
e em 2004 a sinagoga dos hebreus,
a qual frequentam os que não são
ateus,
com crescimentos lentos mas
constantes.
Em 1931 inaugurou-se a capital;
do território o nome compartilha...
Não mais perseguem os
"cosmopolitas sem raízes"
nesse fraseado do Stalinista
conceptual.
Novo Israel, longa estrada se
palmilha,
sem que de Jerusalém as ruas
pises!...
CELLPHONE I -- 26 SET 2017
Eu uso apenas a roupa necessária,
sem ostentar enfeite ou especiaria;
por que relógio de pulso eu usaria
ou um anel, colar, medalha vária?
De igual maneira, nessa atual,
atrabiliária
rede social, dos celulares a mania
ou de tablets, smartphones, não iria,
nem aceitar tal despesa perdulária!
Na verdade, tudo isso é comercial,
pois quantos mais tweets enviados,
mais alta a conta a ser apresentada
e as pessoas param até de conversar,
nestes modismos por que são
dominados,
sem conseguirem mais deles se afastar!
CELLPHONE II
Até hoje não adquiri um celular,
que usar o meu email já é bastante,
o Facebook para mim é inquietante:
manter diário para outrem acessar?
Não é questão apenas de mostrar
meu pensamento à amiga ou à amante,
por que me expor de forma delirante
a qualquer um que me queira
desvendar?
E ao mesmo tempo por que ir
desgastar
meu tempo a ler e a mandar mensagens
que facilmente poderiam esperar
até o irmão ou o sócio se encontrar,
face a face, em materiais paragens,
sem um satélite precisar de
atravancar?
CELLPHONE III
E pode hoje haver coisa mais
perigosa
que andar por avenidas a teclar?
Dando margem a quem quiser-nos
assaltar
ou se expondo a esmagamento em rua
airosa?
Bem raramente uma corrida é
vagarosa,
algum limite de velocidade a
respeitar
e quando a via lhes parece vaga
estar
ainda dirigem em borracheira tenebrosa?
E pode haver reunião mais insociável
de um bando de amigos ou parentes,
sentados numa roda, seus olhares
para what's-apps em fluxo interminável,
desdenhando de olhar para os
presentes,
mas concentradamente em seus teclares?
CELLPHONE IV
Talvez eu seja o derradeiro morador
desta cidade que não tenha celular;
eu não preciso de hora consultar
nem me tornar de alguém o seguidor.
Dos meteorologistas não sou o
fiador,
sua inconsistência posso bem notar,
cada canal sua previsão a dar,
quem pretende da atmosfera ser
senhor?
Assim eu fico a lutar contra a maré,
não dando as costas para atender cellphone:
somente a febre da poesia me consome.
e em sonetos deponho toda a fé,
sem me ligar a verso livre ou
branco,
que soa para mim bem pobre ou manco!
LOBISEATO DE LICANTROPIA I -- 27 SET
17
Hoje em dia, quase tudo é proibido:
não se pode mencionar da pele a cor;
a homofobia é punida com horror;
ser branco hoje é crime a ser
punido!
"Dívida Histórica" é o
lema requerido
para cobrar da sociedade algum
valor,
indefinido seu credor ou devedor,
após cem anos depois haver nascido.
Os descendentes de um antigo
escravagista
talvez mesmo tenham algo a devolver,
mas e os milhões que só após a
abolição
imigraram para aqui em nova pista,
nenhum escravo chegando a conhecer
e progrediram por trabalho e
profissão?
LOBISEATO DE LICANTROPIA II
Muitas mentiras se proferem
deslavadas,
como se os brancos fossem só
senhores
e os negros só infelizes perdedores,
realidades em tudo deturpadas...
Dos europeus as gerações passadas
foram compostas por escravos
servidores;
não havia negros submissos a
opressores:
escravos brancos das levas conquistadas.
E sob o nome de "servos"
continuaram,
quase ao término do século dezenove;
escravos brancos para o Brasil
mandaram,
chamados
"degredados". Aos portugueses
a escravidão dos ameríndios se
comprove,
mas os negros nos trouxeram os
holandeses!
LOBISEATO DE LICANTROPIA III
Pleno direito admito a homossexuais
vazão a darem a suas proclividades,
que manifestem suas
individualidades,
porém sem as imporem aos demais.
Nem que busquem converter a seus
iguais
crianças, desde as mais tenras das
idades;
se de pedófilos se condenam
iniquidades,
propagar homossexualidade o é ainda
mais!
De fato, é um tipo racial de
suicídio,
que a conversão às drogas equiparo;
que cada um mostre orgulho do que é,
mas nessa marcha se vai louvar o
homicídio,
que à "humilhação dos
presos" já comparo,
dada a ampla difusão dessa má fé!...
LOBISEATO DE LICANTROPIA IV
Por que então combater canibalismo
se de alguns de nós reflete a
natureza?
Vamos reabrir as arenas com certeza,
que os gladiadores nas telas são
modismo!...
Por que então combater o vampirismo,
se sugar o sangue alheio alguém já
preza,
em quantos filmes e romances a
nobreza
de alguns vampiros se atesta sem
egoísmo?
Vamos, portanto, aos lobisomens
apoiar,
alguma droga potente conseguindo,
para que nunca retomem forma humana!
Lobiseato de Licantropia a se
chamar,
o Ministério da Saúde a distribuindo
como respeito a essa antiga forma
arcana!
ESCRIBARIA I -- 28 SET 2017
Estou cansado de redigir poemas
a descrever as coisas que me cansam;
de nada adiantam e a ninguém
amansam,
de circunstâncias sob o controle
apenas.
Serão queixas inúteis de minhas
penas,
estrebaria adubada em que se lançam,
escribaria os motes que aqui dançam
diante dos olhos em mil inúteis
cenas.
Já que em nada interessam aos
possíveis
leitores de meus tolos desabafos,
pois nem sequer a mim mesmo já
interessam...
tudo apenas consequências
previsíveis:
condenados a afogar em batiscafos,
mergulhados em meu sangue sem que o
meçam.
ESCRIBARIA II
Provavelmente, daqui a cinco anos
ou mesmo mais, quando chegar a
ocasião
de retomar os rascunhos que aqui
estão,
meu tempo a recobrar dos desenganos,
eu me desgoste a erguer imundos
panos
envolvendo estas queixas sem razão
e se prendam em farrapos nesta mão,
sem ao mundo libertar de tantos
danos.
Eu sei que muitos até se identificam
com os mesmos sentimentos
represados,
politicamente incorretos nesta via;
mas minhas tolices tão só
exemplificam
os pensamentos de meus antepassados
que igual que eu hoje julgarem
percebia!
ESCRIBARIA III
Mais do que nunca meus rascunhos se
acumulam,
já de poeira e de mofo
marchetados...
Vou amontoando suas pilhas pelos
lados,
velhas aranhas dentre esses maços
pulam!
Percevejos quiçá também pululam,
serão até por muquiranas
frequentados;
os cascudinhos proliferam, anelados,
lepismas e traças por alimento
emulam!
E quando vou passar a limpo o
original,
ali o encontro tão cheio de buracos
que muita coisa é preciso adivinhar!
E os aracnídeos protestam, afinal,
porque suas teias eu reduzo a cacos
e seus reclamos sou forçado a
aturar!
ESCRIBARIA IV
Tudo pensado, é questão de ecologia,
pois meus rascunhos vida já perderam
e esses insetos que seu papel
comeram
direito têm à vida e à harmonia!...
Muita gente sequer sabe que existia
a muquirana. Percevejos já esqueceram,
os gafanhotos quase desapareceram,
não há mais nuvem que o lar nos
invadia!...
Pois respeitemos as espécies em
extinção!
Os escorpiões e as falenas são
sagrados,
a traça e o mofo que sejam apoiados!
E para o maranduvá estendo a mão,
pois tem direito, como membro da
natura,
de me causar a mais horrível
queimadura!
Recanto das Letras > Autores >
William Lagos
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