O DESPERTAR DE
EL-REY
De: Gracilene do Rosário Pinto
Escuras ondas
Se alteiam iradas, vigorosas,
E o móbil cárcere
De míseros cativos
Vão levando em suas cristas
tormentosas...
O barco de mercantes
Que segue para o Oriente,
É negro inferno,
Infecto e maldito,
Onde aos furores
Da brava tempestade
Jogadas de um lado para o outro
Almas insones,
Assaz atormentadas,
Sonham com as sombras
Esguias das palmeiras,
Com a brisa fresca
Da orla das nascentes,
Imaginando um meio
de reaver a liberdade
Antes, bem antes,
Da hora derradeira.
Mas, eis que Posseidon,
Com fúria de Justiça,
Iguala a todos,
Algozes e escravos,
A bracejar nas vagas
No temor da morte
Que tem à frente
O rígido rochedo.
Impávido guerreiro
Aos outros sobressai,
Em tudo tem nobreza...
Lhe vibra o coração,
Lhe vibra todo o ser,
Conflito de emoções
Da sede de poder...
Pra quem foi rei,
Difícil é contentar-se
Viver acorrentado.
Difícil escravo ser...
Com a memória
Deserta de lembranças,
As quais, em vão,
Procura dentro em si,
Rola nas águas,
Qual simples escravo
El-Rey e Senhor
De uma grande nação...
De vaga em vaga,
De léu em léu,
Pisando mar e chão,
Chega El-Rey a uma costa
Onde as palmeiras acenam viridentes
E as ondas brigam
Com a fúria das tormentas,
Chega ao Maranhão!
E ali, em linda praia branca de lençol
Lembrando areias do tórrido deserto,
El-Rey encontra
Terra e povo ideal
Pra fundar um novo reino
De paz e de fartura
Onde sua gente o coroa com ventura,
Com fé no coração,
O desejado El-Rey Sebastião...
E o reizinho encantado,
O touro coroado,
Veio de Portugal
Aqui morar pra sempre...
Pra sempre ser feliz no Maranhão!
MOCORÓCA
De: Gracilene Pinto
A madrugada
Acorda fauna e flora
E se renova
Nas cores do mistério
Oculto no escuro mais profundo
Das águas barrentas
Do teu mundo.
Com o sol raiando
A mata se engalana
Nos acordes
Da sonata de trinados
Do pássaro canoro apaixonado,
Desiludido e triste vagabundo...
E, como sempre,
Vem com a luz a vida
No teu monte esmeraldino
Refletida
No estranho labirinto de mistérios
Das muitas águas
Deste rio fecundo.
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