OS HOMENS VAZIOS — T. S. ELIOT (1925) — tradução
William Lagos, 2006
(Homens Ocos não soa bem ao meu ouvido).
(THE HOLLOW MEN -- ILUSTRAÇÃO DE ELLSPETH ANNIE MACRAE)
Epígrafes:
O Seu Kurtz — tá morto. (O Coração das Trevas, de Joseph Conrad).
Um centavo para o velhote (canção
infantil para o Guy Fawkes Day).
I
Nós
somos os homens vazios / Nós somos homens estufados / Apoiados uns nos outros /
Cabeças
cheias de palha. Ai de nós! / Nossas vozes secas, quando / Sussurramos juntos /
São
tranqüilas e sem sentido / Como o vento no capim seco /
Ou
patas de ratos sobre cacos de vidro / Em nosso porão seco /
Vultos
sem forma, sombras sem cor, / força paralisada, gesto sem movimento; /
Aqueles
que atravessaram / Com olhares fixos, para o outro Reino da morte /
Lembrai-vos
de nós — se lembrardes — não como perdidas / Almas violentas, mas somente /
Como os homens vazios / Os homens estufados. /
II
Olhos
que não ouso contemplar em sonhos / No reino onírico da morte / Estes não
aparecem: / Lá, os olhos são / A luz do sol em uma coluna partida /
Lá,
uma árvore se balança / E as vozes estão / No canto do vento /
Mais
distantes e mais solenes / Que uma estrela, quando empalidece /
Que
eu não chegue mais perto / Do reino onírico da morte /
Que
eu também me revista / De disfarces tão deliberados / Pele de rato, penas de corvo,
bastões cruzados / Em um campo /
Comportando-me
como o vento se comporta /
Não
chegar mais perto... / Não daquele encontro final / No reino do crepúsculo /
III
Esta
é a terra morta / Esta é a terra dos cactos / Aqui imagens de pedra /
São
erguidas, aqui elas recebem / As súplicas da mão de um homem morto /
Sob
a centelha de uma estrela pálida. /
É
assim que acontece / No outro reino da morte / Caminhando sozinhos / Na hora em
que estamos / Tremendo de ternura /
Lábios
que queriam beijar / Erguem preces para pedras partidas. /
IV
Os
olhos não se acham aqui / Não existem olhos aqui / Neste vale de estrelas
moribundas /
Neste
vale oco / Esta mandíbula quebrada de nossos reinos perdidos /
Neste
lugar dos encontros derradeiros / Tateamos juntos / E evitamos falar /
Reunidos
na margem de um rio encapelado /
Sem
visão, a não ser que / Os olhos reapareçam / Como a estrela perpétua / A rosa
multifólia / Do reino crepuscular da morte / A única esperança / Dos homens
vazios. /
V
E
aqui rodamos ao redor da opúncia espinhenta / Opúncia espinhosa, pêra
espinhenta /
E
aqui rodamos ao redor da opúncia espinhenta / Às cinco da madrugada. /
Entre
a idéia / E a realidade / Entre o movimento / E o ato /
Cai
a Sombra / Pois Teu é o Reino /
Entre
a concepção / E a criação / Entre a emoção / E a resposta /
Cai
a Sombra / A vida é muito longa /
Entre
o desejo / E o espasmo / Entre a potência / E a existência /
Entre
a essência / E a queda / Tomba a Sombra / Pois Teu é o Reino /
Pois
Teu é / A vida é / Pois tua é a /
Esta
é a maneira como o mundo acaba / Esta é a maneira como o mundo acaba /
Esta
é a maneira como o mundo acaba / Não em uma explosão, mas com um gemido.
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