ROMA E OS VOLSCOS -- 21-27/10/2017
NOVAS SÉRIES DE WILLIAM LAGOS
ROMA E OS VOLSCOS
-- 21 OUT 2017
SONETO SETENTA E
QUATRO -- 22 OUT 17
RESILIÊNCIA -- 23
OUT 2017
CONSEQUÊNCIA -- 24
OUT 2017
CASUÍSTICA -- 25
OUT 2017
REPENTE... -- 26
OUT 2017
GRAVIDADE -- 27 OUT
2017
DOCE ALÍVIO -- 21
ABR 2006
ROMA E OS VOLSCOS -- 21 OUT 2017
ROMA E OS VOLSCOS 1
Foram os Volscos antigos italianos,
a língua que falavam indo-europeia,
de aspecto físico não muito diferentes
do que se reconhece dos Romanos,
sua história a formar longa epopeia,
mais conhecida por travar guerras frequentes,
em que foram vencedores ou vencidos,
sendo por Roma, enfim, absorvidos.
De fato, só
existe um documento,
com exceção
de citações de historiadores,
a Tábula
Vélitras, cujos caracteres
são
justamente os do romano assento,
a qual
descreve uma pena a infratores,
sem nada
draconiano em seus dizeres. (*)
(*) Sem pena
sanguinária ou violenta.
ROMA E OS VOLSCOS 2
Na verdade, mal se sabe, realmente,
quando teria sido iniciada a sua história,
que nos parece anterior à fundação
da cidade de Roma, hoje imponente,
mas um povoado de muito pouca glória,
com imigrantes de cada outra nação.
que no final raptaram as Sabinas,
dos Patrícias as origens femininas...
Contudo
afirmam historiadores italianos
com base em
achados arqueológicos
que poderiam
Volscos ter sido poderosos,
se não
tivessem pela frente esses Romanos,
talvez
podendo, por motivos lógicos,
ter toda a
Itália dominado, valorosos.
ROMA E OS VOLSCOS 3
Seus detratores afirmam que os Patrícios
descendiam de ladrões e prostitutas,
apesar de seus costumes bem austeros,
agricultores com muito poucos vícios
e ferozes combatentes em suas lutas,
suas leis justas a contrariar costumes feros,
que a pouco e pouco a península tomaram
e quase toda a Europa dominaram.
Quando Roma
surgiu, a Itália era habitada
por muitos
povos, chamados de Italiotas,
denominação
que lhes foi dada por Helenos:
Apúlios e
Mesápios, gente armada,
que contra os
Gregos combateu, cortando as rotas,
durante
décadas seus avanços bem pequenos.
ROMA E OS VOLSCOS 4
Foram os Romanos dos Etruscos descendentes,
que por sua vez descendiam dos Hititas
ou mais exatamente, dos Troianos,
que dominaram as terras existentes
desde os Gauleses até os Samnitas,
seu império durando por mil anos.
até por Roma serem absorvidos,
após por estes ser submetidos.
Os Mesápios
habitavam o sudeste,
Umbros e
Oscos na região central
e na Sicília
também Cartagineses,
além dos
Sículos e Sardos do noroeste,
povos
antigos, língua e origem, afinal,
bem anterior
à dos Celtas montanheses.
ROMA E OS VOLSCOS 5
Romulus e Remus seriam descendentes
da família real de uma cidade,
Alba Longa chamada, semente do deus Marte,
mas embora fossem Romanos bem valentes,
não puderam enfrentar a capacidade
bélica da Etrúria e seus reis, em parte,
pelo menos os três últimos, real fato,
foram Etruscos, razão de triste desacato.
Seria Reia
Silvia a mãe dos dois,
uma virgem
vestal, que enterrariam
ainda viva,
por haver engravidado,
se o deus
Mavorte, chamado Marte só depois,
à cuja voz
eles obedeceriam,
não
aparecesse, redimindo seu pecado.
ROMA E OS VOLSCOS 6
Por isso, uma República fundaram,
mas os Etruscos criam em profecia
que seu império duraria por mil anos,
que pelo ano de 600 a.C. se completaram;
em breve Roma sua nação dominaria,
de seu vasto território os soberanos,
embora ao sul e ao leste os Italiotas
dominassem os vales e suas rotas.
Ali habitavam
os Sabinos e os Veientes,
os Hérnicos e
os Équos ao redor,
de tal forma
que Roma, inicialmente,
só se pôde
expandir em estreitas frentes,
do Mar
Tirreno em fértil corredor,
sempre
premida por vizinho mais potente.
ROMA E OS VOLSCOS 7
Bem mais ao sul havia colônias Gregas,
a Magna Grécia, fundadas por Helenos,
mas como Graetia foi a primeira conquistada,
para os Romanos foram gregas as suas regas
e até hoje, pelo Ocidente, ao menos,
ainda é a Hélade como Grécia denominada,
sendo a península de Itália então chamada
pelos Helenos, em sua história registrada.
Durante um
certo período, esses Helenos
importantes
conquistas realizaram,
por seu Rei
Priscos comandados com valor,
mas os
Italiotas não faziam por menos:
"Outra
vitória como esta," alguns narraram,
"e
estarei perdido", teria dito o vencedor.
ROMA E OS VOLSCOS 8
Dos Volscos só sabemos, realmente,
através de seus combates com Romanos,
suas alianças, traições e rebeldias
apenas conhecemos pela gente
com que lutaram ao longo desses anos,
aliados aos Latinos em tais dias,
mas sendo os Volscos conhecidos, sobretudo
por tais embates, seu passado é mudo.
Mas é preciso
dizer que historiadores,
tais como
Titus Livius, os descreveram bem,
embora digam
melhor ser sua rebelião
do que na
guerra serem bravos lutadores
Dionysos de
Halicarnasso os mencionou também
pelos
combates que travou essa nação.
ROMA E OS VOLSCOS 9
Tinham os Volscos só cidades-estados,
tal qual fazia a maioria dos Latinos,
reis dominando só pequenos territórios,
sem vastos reinos enfim sendo formados,
sendo os Romanos gestores bem mais finos
cidadania a distribuir a tais empórios
que demonstrassem a Roma lealdade,
pouco a pouco a expandir romanidade.
Dominavam os
Volscos desde Cora
e Narba,
locais bem próximos de Roma,
até Antium,
na região meridional,
hoje Anzio,
conquistada noutra hora
pelos
Aliados, nessa guerra que retoma
mais do que
as outras, o nome de Mundial!
ROMA E OS VOLSCOS 10
Nessa inscrição que ainda existe conservada,
a Tábula Vélitras, determina-se o castigo
de alguém que cortou os galhos da floresta
consagrada a Decluna, à deusa Diana identificada:
um boi foi entregue ao sacrifício antigo
e mais dois Asses de cobre para a testa,
um destinado do vinho à aquisição
e outro aos cálices empregados na ocasião.
Os Volscos,
no temor dessa expansão
dos Romanos
aguerridos e ambiciosos
com os Équos
fizeram aliança
ainda no
tempo em que a novel nação
era um
reino. Mas os Hérnicos fogosos
emprestaram
para Roma a forte lança.
ROMA E OS VOLSCOS 11
Essas guerras por décadas seguiram,
quase sempre a vitória dos Romanos,
mas os Volscos, em qualquer oportunidade,
rompias os tratados que assinaram,
até de novo submeter-se aos soberanos
da nova e nobilíssima cidade,
pensando de suas derrotas se cobrar
e assim fizeram até Romanos se tornar.
Já em 338
a.C., quando assinaram
esse tratado
de paz definitivo,
quando foi
Antium finalmente anexada.
Durante a
guerra em que se separaram
patrícios e
plebeus. o povo ativo,
tentou ver a
forte Roma derrotada,
ROMA E OS VOLSCOS 12
Outra guerra ocorreu por ocasião
de uma pente que por Roma grassava,
porém sua tropa acabou contaminada,
os Volscos a partir em confusão
e quando Breno com os Gauleses atacava,
mais uma vez foi sua luta retomada,
sempre os Romanos acabando por vencer
e o território dos Volscos a encolher...,
No século
quinto, Vergílio nos relata,
que foram
comandados por Camilla,
sacerdotisa
virgem e guerreira;
outro
episódio igualmente se dilata,
depois que
Roma a Coriolano exila,
as tribos
volscas congregando em sua esteira.
ROMA E OS VOLSCOS 13
Nesse período foi Antium a capital,
porém Velitrium era a capital do norte,
onde encontraram essa inscrição famosa;
aqui surgiu a família Octavia original,
casa imperial depois tornada pela sorte,
Octavius Augustus, do Império o mais glorioso,
sendo Attina e Frasinone outras cidades,
Em Suessa Prométia e Sátrio quantidades
importantes
de cereais se cultivaram;
Arpinum de
Gaius Marius foi a terra
e da família
de Cícero, o orador,
depois que
todos se romanizaram.
Eregeia, Sera
e Terracina sendo anexadas,
após serem
noutras guerras conquistadas.
ROMA E OS VOLSCOS 14
Quando se aliaram à Liga Latina,
já foram por Octavius Maximillus derrotados;
e nessa disputa entre Patrícios e Plebeus,
mais uma vez a independência o povo atina.
sendo por Publius Servullus Priscos dominados,
perdendo novos territórios seus,
pelo Tratado de Ecetra que assinaram,
depois que os adversários triunfaram.
Camilla era
filha de seu rei,
Métador e foi
bem nessa ocasião
que Titus
Livius redigiu a afirmação
de na revolta
mostrar-se melhor grei
que nos
combates; por mais que fosse devotada,
foi a
guerreira por Tarquinius Superbus derrotada.
ROMA E OS VOLSCOS 15
Dessa feita, o rei romano conquistou
Suessa Prométia, a temporária capital,
com o vasto espólio mandando construir
o grande templo que a Júpiter consagrou,
do Capitólio na colina triunfal...
De novo o povo Volsco voltou a se insurgir,
sendo por Spurius Cassius derrotado,
forçada assim a assinar novo tratado...
que resultou
em nova anexação,
os Volscos
cada vez mais reduzidos
e provocados
novamente à rebeldia,
nessas
guerras de pequena duração,
por Gaius
Martius de novo a ser vencidos,
que expugnou
Coriolis nesse dia.
ROMA E OS VOLSCOS 16
Foi desta forma cognominado Coriolano,
porém sua fama veio a causar inveja
aos Tribunos da Plebe, que o exilaram;
com a injustiça enfureceu-se esse Romano,
que refugiou-se entre os Volscos, quando enseja
a mais feroz das guerras que travaram,
pois Coriolano assolou o Lácio inteiro,
de Roma às portas chegando bem ligeiro,
E só não
conquistou a sua cidade
porque sua
mãe, Vetúria e sua esposa,
chamada
Volúmnia, com seus filhos,
implorar
foram, cheias de humildade
em seu
acampamento e a tropa airosa
retirou-se na
conquista de outros trilhos.
ROMA E OS VOLSCOS 17
Coriolano ao rei Ansilios contrariou,
convencendo os Volscos a saquear
as granjas e as villas
dos Romanos; (*)
porém dos Volscos o rei não o perdoou
e finalmente o mandou executar
pela traição; mas prodígios mais arcanos
impediram se realizasse a execução,
sendo exilado para sempre da região.
(*) Grandes propriedades rurais ou fazendas.
Também a Roma
jamais pôde retornar,
acabando por
viver entre os Helenos,
ali lutando
como um mercenário;
noutra
versão, se teria feito contratar
como
estratego, seus êxitos pequenos, (*)
depois sua
fama a obter renomes vários.
(*) Comandante
de tropas.
ROMA E OS VOLSCOS 18
Finalmente o secular embate terminou,
com os Volscos em total submissão,
Posthumus Cominius Auruncus conquistando
Antium, a derradeira cidade que restou;
porem foi rápida sua romanização,
dos vencedores os costumes aceitando,
com eles a se aliar em casamentos,
cidadania a receber por documentos.
Como foi
dito, foi de volsca origem
Octavius
Augustus, o grande Imperador,
e Gaius
Marius, que foi antes ditador,
a quem a
culpa pelo Império alguns impingem;
também foi um
Volsco o grande Cícero orador
e tantos
outros Romanos de valor!
EPÍLOGO
Se por acaso tomei alguma liberdade,
venha perdoar-me agora, bom leitor,
que essa guerra foi, de fato,
complicada,
e por deixá-la mais clarificada,
da liberdade poética senhor,
foi finalmente por mim simplificada.
Contudo, a seu propósito serviu,
sendo os Volscos antigos retirados
lá do passado para serem relembrados,
caso até este momento me seguiu!
O mapa maior representa tão somente
as iniciais conquistas dos Helenos,
que maiores territórios ocuparam
em todo o sul italiano realmente.
A parte oeste aos Samnitas atribuída
era a terra que os Volscos habitaram;
o menor mapa apresenta seus terrenos
antes de serem levados de vencida
pelos reis a dominarem a coisa
pública
anteriormente à fundação de sua
República.
SONETO SETENTA E
QUATRO I -- 22 OUT 17
Espanto causa que eu já tenha escrito
setenta e quatro sonetos, não é verdade?
Não corresponde, porém, à atualidade,
embora o número acima esteja inscrito.
Setenta e quatro seria um número
bendito,
mas se encontra muito aquém da
realidade;
setecentos e quarenta uma possibilidade
bem maior dos resultados que hoje adito.
Não são, tampouco, setecentos e
quarenta...
Quem sabe sejam sete mil e quatrocentos?
Não lhe parece um total mais fabuloso?
Mas quem deles completar a conta
intenta,
examinando com paciência tais assentos,
verá que o número é bem mais portentoso!
SONETO SETENTA E QUATRO II
Quem sabe, sejam dezessete mil
e quatrocentos? Chegamos bem mais perto,
mas novamente não há um real acerto...
Caberia então mais um zero nesse ardil?
Sendo setenta e quatro mil o seu
perfil...
Não creio atingirei tantos, decerto;
Quarenta e sete mil é um alvo aberto,
mas não cheguei ainda neste atril...
Quarenta mil, já é certo, ultrapassei,
embora não tenha jamais todos contado,
basta pensar em vasto acervo acumulado,
que a limpo do passado não tirei,
mais os milhares que só datilografei,
antes de algum computador haver
comprado.
SONETO SETENTA E QUATRO III
Por que, então, este número escolhido?
Na verdade, foi apenas brincadeira,
não por vaidade, nem zombaria certeira:
motivo houve e até bem definido...
É que neste 22 de Outubro foi cumprido
mais um ano desta já bem longa esteira;
setenta e quatro são os anos de minha
jeira:
setenta e cinco já começa a ser perdido.
Podem dizer que aniversário é um ano a
mais,
como se os anos se guardassem numa
estante,
lado a lado, como livros ou CDs...
É um ano menos, na verdade, que jamais
saberei quantos ainda tenho por avante
se tu, destino, por acaso outros me
dês...
SONETO SETENTA E QUATRO IV
Somente posso guardar as suas memórias,
meus dias bons e maus em sucessão,
anos passados em real lamentação,
que alijaria com prazer sobre as
escórias...
Ou aqueles dias de pequenas glórias,
pelos quais tenho de ser grato obrigação
ou de milhares de outros dias, multidão
monótona, incômoda, sem histórias...
Não obstante, bons ou maus, todos se
foram
e jamais os reverei no doravante
e aqui não mostro nem orgulho, nem
tristeza,
tão só a espera dos outros que demoram,
de mágoas ou de luz em cada instante,
que os setenta e quatro já se foram, com
certeza!
RESILIÊNCIA I -- 20 abril 06
Quanta vez se compara à mariposa
A paixão que avassala e que nos queima...
O amor que domina e que em nós reina
De forma irresistível, poderosa...
E quanta vez se diz que a mariposa,
Enamorada pela luz da vela,
Nas asas chamuscadas se revela
Não mais que uma idealista, que desposa
No amor da chama a frigidez da morte.
Existe amor, porém, mais resistente,
Palpita em asas de aço temperado,
Que resistem muito mais à dura sorte.
Seu amor pela vela é persistente,
Sem ser jamais por sua flama devorado.
RESILIÊNCIA II -- 23 OUT 2017
O mais das vezes, a mariposa é macho;
mulher existe que rebrilha como vela;
adeja o inseto ao redor de sua donzela;
vêm outros mais, em expectante cacho...
Chega ao brilho um qualquer, usando pacho
que lhe limita a visão a uma janela,
pela qual somente enxerga a dama bela,
suas asas a queimar perante o facho.
por um instante, vê-se vaidade a rebrilhar,
sem que de fato ela deseje o pretendente.
que esperneia, agonizante, ao castiçal...
Persiste a chama, sem ao menos se importar,
somente o cheiro dos queimados permanente,
sem espantar outros que a buscam no final!
RESILIÊNCIA III
Por breve instante, um tal amor perturba,
na agitação das asas da paixão,
em seu probóscide beijos de fogo estão, (*)
asas sacode e no agitar se turba
(*) O bico dos insetos.
e enquanto as asas fremem e suplicam
à chama bruxuleante dessa vela,
mal compadecem por instantes a donzela:
não voam mais esses carvões que ficam
e logo a chama se reergue, autoritária,
paixões alheias não a fortificaram,
sua vaidade, por instantes só, lustrando.
Mas nem assim se torna solidária,
que consumir o seu pavio só ajudaram
e a cera desce, ao castiçal se acumulando...
RESILIÊNCIA IV
Bem poucas vezes é a vela masculina
e por capricho, as fêmeas ali adejam,
competem entre si, mais que desejam
do tal dominador tornar-se a sina...
Não é por busca de valor que se destina,
mas porque outras a mesma chama beijam
e suas invejas mais ânsias ensejam,
umas às outras a mostrar fúria
assassina,
também suas asas sendo assim queimadas,
mas bem mais rápido esgota-se o
candeeiro,
muito depressa já perdida a sedução,
já alijada a multidão das namoradas,
já aleijado o longo círio bem ligeiro,
na longa dança sem motivo e sem razão...
CONSEQUÊNCIA I -- 21 abril 2006
Espero tenhas tido mil prazeres.
Eu realmente os tive, por te veres
tão incensada no meu corpo e beijos
voltados para ti, nestes quereres
que toda a alma infundem de carinho,
nessa centelha amarelada de azevinho,
ao ver maduro o fruto dos desejos,
que fora dantes rubro feito vinho
e agora é rosa negra, como a flor
que acende assim teus olhos de candor,
enquanto gozo eu dou, sem ter fruído.
tão infundido desse teu ardor,
que quatro e cinco vezes faça amor
na carne de outro amor... desiludido...
CONSEQUÊNCIA II -- 24 OUT 17
Assim pensa o arpoador inconsequente,
que de outras vezes queimou-se, parcialmente,
no bombástico calor dessa outra vela,
apenas um nesse bando permanente...
Ele mesmo aspirando a redolente
e nauseabunda morte de um valente
que se deixou queimar por tal donzela,
qual dragão fêmea fosse, realmente...
E por maior que fosse a sua paixão,
envolvido em tal cruel competição,
depois de chamuscar-se, se afastou,
buscando apenas, dentro ao coração,
doravante só obter satisfação
para o orgulho que o desdém lhe sapecou.
CONSEQUÊNCIA III
Porém o fato de haver sobrevivido
e essa amarga experiência haver sofrido,
já o impulsiona para novas aventuras,
com numerosas parceiras envolvido.
A quem consegue, facilmente, seduzir,
real amor não esperando conseguir,
sem se importar se provoca desventuras,
o seu prazer desejando só fruir...
A negra rosa como fruto dos arpejos,
que lhe rasgaram, em parte, o coração,
só lancinando-se em tal consumação,
buscando a seu redor trazer adejos
que por sua vez ele possa chamuscar,
da própria dor novas dores a causar...
CONSEQUÊNCIA IV
Quem sabe um dia, entre as muitas que o quiseram,
essas quantas que iludiu e que o perderam,
possa de fato encontrar consolação;
na maioria porém dele já esqueceram...
Bem menos queima a vela masculina,
mais precavida a mulher que ali se inclina,
mais do que tudo a esperar conservação,
instinto forte que há na alma feminina!...
E a cada vez que ele obtém nova conquista,
conserva ainda no seu peito a amargura,
por não ter sido dessa única que quis.
E se derrete, então, sem que desista,
bem lá no fundo da alma a voz obscura
daquela vela que o faria mais feliz..
CASUÍSTICA I [1981?]
Teu beijo foi meu destino, jogado no mesmo instante
Que o fado mui casualmente, que o fado tão
zombeteiro
Os dados sobre a roleta, da vida no tabuleiro
Lançou sem pensar em nada, vago, insípido, inconstante.
Apenas por desatino, apenas por desfastio,
Apenas porque desejo nos olhos nos descobriu
E fez-nos sentir do outro, no mesmo olhar que luziu
E aos dois nos colheu na rede, urdida de igual feitio.
Urdida dos desenganos, tecida de mil ensejos
Que nunca granjearam nada, que nunca viraram beijos,
Mesclados sempre de medo, no vazio da aceitação
De véu torpe e inacessível, véu de altar feito carinho,
Metade perdão completo, metade rancor mesquinho,
Que em visgo puro enlaçou-nos, nas cordas do coração.
CASUÍSTICA II -- 25 OUT 17
Nesse espantoso momento, na armadilha da ilusão,
Um novo amor se oferece, como estertor derradeiro,
Conseguindo até ocultar o amor que foi primeiro,
Nesse ergástulo de amor, calabouço da paixão.
Não que se esqueça, é fato, mas na inicial impressão,
O amor antes sentido, esse amor mais seresteiro,
Que geme bem lá no fundo, em um breve esgar brejeiro:
"Se pensas que me esqueceste, é bem falsa tua emoção."
"Pois aqui me encontro dentro, qual lembrança desmaiada,
Qual lembrança indesejada, qual memória suspirando,
Trancada em compartimento, porém nunca descartada."
"Já que amor sentido um dia, surge sempre, sorrateiro,
Na alma muito integrado, perdurando toda a vida,
Nessa força misteriosa que conserva o amor primeiro!..."
CASUÍSTICA III
"Este amor de arrazoado, no teu peito achando abrigo,
Por mais ter sido desdém, por mais ter tido desprezo,
Que o coração pensa morto, no coração se acha preso,
E puxa a argola do tempo, a desvelar seu jazigo."
Esse meu amor primeiro tampouco esquecer consigo,
Por mais que um amor recente, esse amor que tanto prezo,
Que permanece comigo, novena que tanto rezo,
Não se impõe pela saudade, mas por cisma de inimigo.
Amor que é mais ameaça, mandando sempre mensagem:
"Eu jamais te livrarei, estou sempre de tocaia,
Qualquer novo amor que tenhas não passará de miragem!"
"Eu sou o amor corajoso, o sentimento mais bravo,
De mim não tens elogio, só escutarás minha vaia,
Pensando haver liberdade, não passas de meu escravo!"
CASUÍSTICA IV
A gente fica pensando, recolhido num consolo
Que nos envolve de calma, que nos dá tranquilidade,
Que amor novo é bem mais forte, amor de fraternidade,
Amor de terna confiança, amor sem sombra de dolo...
Pois de fato é bem melhor, amor que se sabe pô-lo
Na alma e no corpo inteiro, amor de sensualidade,
Amor de soma incessante, amor de fragilidade,
Mas que tanto se deseja permanente em nosso colo.
Mas o velho amor de visgo, artérias rubras correntes,
Aquele amor temeroso de tristezas imanentes,
Ainda se manifesta, considerando o rancor,
Portanto conclui de novo, no instante do devaneio
E me assalta num convite, a cada sonho em permeio,
Que ainda quer ser amado, que ainda quer ser amor!...
REPENTE... (I) --
24/4/06
Queria que me
escrevesses
sobre meu jeito de ser,
sobre toda essa
inconstância
que reflete o meu
viver...
Hoje quero estar
sozinha,
amanhã acompanhada,
hoje tudo está tão bom,
depois não quero mais
nada...
Hoje eu acho o mundo
lindo,
vejo amanhã tudo
horrível,
hoje até gosto de mim,
me sinto bela e
sensível...
Amanhã são só defeitos,
nada gosto do que vejo,
sou feia, boba, inconstante,
nem sei mais o que
desejo...
Me sinto cheia de fases,
transformada como a lua,
que hoje brilha no céu,
mostrando sua face
nua...
Amanhã desaparece,
não dá luz a mais
ninguém.
É assim que então
me sinto,
não sirvo mais para quem
costuma me dar
carinho...
Não dou sorriso sequer:
eu parei na
adolescência,
nunca me tornei
mulher...
REPENTE II -- 26 OUT
2017
Se bem me lembro,
escrevi
em poético formato
a mensagem sem recato
que em tal dia eu
recebi.
Não me interessa quem
foi,
que a certeza nem mais
tenho,
mas defrontar-me hoje
venho,
memória que o tempo rói.
Não costumo estas
quadrinhas
com frequência redigir,
mas vem o verso assumir
tais lembranças
pequeninhas.
Foi alguém que consolei,
sem que o ombro lhe
alcançasse,
mensagem puro repasse,
só meu olhar lhe
emprestei.
Porém tantas já escutei,
gentil perante lamentos,
compartindo sentimentos
nos momentos que passei.
Foi mais por
paternidade,
tendo a alma compassiva,
memória faz-se inativa
na lembrança da amizade.
E nesse saguão de
espera,
sem que lágrima
vertesse,
a vida fez que
esquecesse:
tanto olvido o tempo
gera!
REPENTE III
Julgo o registro,
contudo
de bastante exatidão,
das letras em compulsão
no visor da tela mudo.
Creio na interpretação
das frases bem acurada,
qualquer delas transformada
por força da inspiração.
Serviu tudo de pretexto
na minha imaginação,
a prosa da confusão
para o poema que
apresto.
O original não recordo,
a mensagem já apagada,
veio a mim em quase
nada,
restou mágoa que ora
abordo.
E que importância, afinal,
sendo apenas desabafo?
(Com esta frase me safo
de um compromisso real).
Porém essa indecisão
não foi de uma só
menina:
muitas vezes vi tal sina
de mulher no coração.
E se soube responder,
tal lástima a registrar,
a alma soube entregar,
mesmo após tudo
esquecer.
REPENTE IV
Mesmo não sendo
indeciso,
sem ter segunda
intenção,
eu lhe abri o coração
em momento compassivo.
Não lhe fui indiferente,
no ato da compreensão;
mesmo sem tocar-lhe a
mão,
sua alma auscultei,
paciente.
Contudo, me indago agora,
tantos anos já passados,
se de fato atribulados
foram seus sonhos de
outrora.
Ou se foi só caprichosa,
para ser interessante,
talvez por levar avante
qualquer coisa mais
formosa.
Será que não compreendi
e algo mais esperava
que as respostas que lhe
dava
no momento em que
escrevi?
No entretanto, a
experiência
já revelou-me, outras
vezes,
artifícios e revezes
da feminina existência.
Mas confesso a pretensão
de ter dado algum
consolo,
sem qualquer sombra de
dolo,
vaidoso de compaixão!
GRAVIDADE I -- 23 abril 06
Como é difícil lidar com a
intermitência
da alma feminina, essa inconstância,
esse oscilar perene, essa frequência
de quem quer e não quer, essa
fragrância
a despertar desejo e depois nada,
nem das narinas um fremir, apenas
indiferença, rodeios, uma estrada
que se bifurca tanto, falsas cenas
de quem nos ama hoje e então odeia,
sem ter motivo que se possa ver,
sem ter razão qualquer para entender.
E a gente sofre tanto... e sempre
anseia
conhecer os motivos da mulher,
que quanto mais se estranha, mais se
quer!
GRAVIDADE
II - 27 OUT 17
Nunca
um homem compreende totalmente
os
desparelhos caminhos da mulher,
quando
ela mesma mal sabe o quanto quer,
quando
hoje anseia e amanhã é indiferente.
Existe
um êxtase, contudo, eventualmente,
nesses
lampejos com sabor de malmequer,
nesses
luzeiros que nos vêm, sequer
sem
indicar-nos sua razão nascente...
Um
espocar de luz, só transitório,
quando
camada de sua alma se permeia
e
por momento a gente entende tudo,
até
que gire outra vez o clerestório
quando
outra vez a escuridão se ateia,
como
a chama invertida de um veludo.
GRAVIDADE
III
Como
é sagrado usufruir desse lampejo,
alma
na alma, mente contra mente,
peito
no peito em seu bater fremente,
corpo
no corpo em pegajoso ensejo...
Como
é profundo, muito mais que simples beijo,
como
nos unge, tal qual óleo transparente,
esse
clarão de um clarão inconsequente,
um
breve instante de perfurante adejo!
Quando
parece que ela mesma se compreende
e
uma fresta se abre na armadura,
até
fechá-la no assomo de um momento,
inditosa
em perceber que algo se entende
que
preferia ainda esconder, mostrar-se pura.
sem
revelar o seu interno julgamento!...
GRAVIDADE IV
Cem vezes houve que desvendei-lhe a
armadura
por um instante, tão somente, de descuido,
fugaz percepção de um sentimento
fluido,
transmogrifado na expressão mais
pura.
Quantas vezes, porém, na minha
loucura,
eu lhe falei do que avistara no seu
peito,
para que então me repreendesse com
despeito,
sua falsa máscara retirada da ternura...
A insistir na mais total puerilidade
das conclusões a que eu havia
chegado,
até que, a largo custo, eu aprendi.
E quando hoje algo desvendo, sem
maldade,
nada lhe digo do que foi assim
mostrado,
sem ela própria confessar que estava
ali...
DOCE ALÍVIO I -- Wm Lagos, 21 ABR 06
[Para Lacy da Silva Macedo] ¾ [I Samuel 16:23].
Samuel nos conta, nas Santas Escrituras
como Saul sofria e, quando a harpa
do pastorzinho ele escutava, a farpa
sendo afastada de tão cruéis torturas...
Assim, em nossas vidas, as agruras
que nos afligem tanto, esses remorsos
por falhas nossas, todos os esforços
que temos de fazer, nossas impuras
ânsias de ganho, as penas do desejo
que tanto nos afligem, tal fisgar
de angústia em nosso peito, essa incerteza,
quando Jesus nos toca, com certeza,
tudo se esvai, como afetuoso beijo:
nos molha a fronte no mais gentil cantar...
Recanto das Letras
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