LUZES
PERDIDAS I – 24 MAIO 2022
Em
cada olho eu tinha uma menina,
muito
curiosa, à espia do universo,
porém
seu cosmos foi ficando terso
e
das meninas o crescimento foi a sina.
A
adolescer cada qual delas se inclina,
à
sua maneira escolhendo o próprio verso;
tiveram
sonhos, eu neles fui imerso
e
o contemplar do mundo ainda as fascina.
Mas
essa fase passou-lhes bem depressa,
tive
de usar fortes lentes de contato,
cada
menina submetida a tal recato;
por
trinta e sete anos, usei o mesmo par,
minhas
meninas o mundo viam, sem ter pressa,
até
que o computador fui encontrar...
LUZES
PERDIDAS II
Minhas
meninas assim envelhecendo
mais
depressa do que seria de esperar,
três
vestidos tiveram de trocar,
por
embaciado o mundo estarem vendo.
A
menina direita acabou querendo
ver
o mundo em luzeiro singular,
véu
amarelo no semblante a colocar,
mas
para mim qual mancha aparecendo.
E
desse modo, decidi-me, finalmente
a
sepultar as meninas que eu amava
e
os dois olhos submeti a operação;
sem
dúvida já consigo mais potente
observar
cada coisa que encontrava,
porém
perdida está a antiga comunhão.
LUZES
PERDIDAS III
Essas
meninas que guardavam minhas vistas
foram
deixadas para trás num hospital,
não
que as pedisse guardar, mas afinal
tais
solicitações não seriam benquistas.
De
seu paradeiro sequer terei as pistas...
Perdas
ocorrem de modo natural,
sempre
que ocorre algo intervencional,
sou
estatística das modernas listas...
E
agora eu vejo sem minhas duas meninas,
um
implante colocado em seu lugar,
mas
realmente, não sei se estou melhor;
eram
diamantes de contato as velhas minas,
sempre
a deixarem-me o mundo desvendar,
sem
precisar me desfazer de um velho amor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário