sábado, 7 de maio de 2022


 

 

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O TRIÂNGULO DO OLHAR I – 29/4/2022

 

Ainda hoje se emprega pela Maçonaria

um elemento do antigo paganismo,

do Olho de Amen-Rah o simbolismo,

que ainda contempla aquilo que antes via.

 

O pensamento do divino compreendia

a criação do inicial temporalismo,

cada hora a indicar o vasto abismo

entre o passado que não mais havia

e o futuro que não havia chegado,

como uma forma de o tempo dominar,

que menos fosse, por arbitrárias divisões

desse presente, por fantasia criado,

rápida linha entre o passado desgastado

e os porvires a surgir por exclusões...

 

O TRIÂNGULO DO OLHAR II

 

Pois cada vez que uma hora era chegada,

as demais horas possíveis se exauriam;

o mês lunar e a semana pretendiam

submeter à solar vista encantada.

 

Num só piscar de olhos a abençoada

luz astral, que de modo igual temiam,

nesse país em que as chuvas nao caíam,

ao novo dia ordenando a caminhada

e assim, por matemáticas diversões,

elaborar foram o primeiro calendário

para os Egípcios, porém já remanescente

das tabelas estelares, cujas construções

pelos Sumérios feitas, em inicial fadário,

o tempo conceberam para escravizar a gente.

 

O TRIÂNGULO DO OLHAR III

 

Foi por eles inventado o solar quadrante

e a clepsidra com que as noites dividir,

relógio de água, a torrente a transmitir

do deus Sobk, o jacaré lacrimejante.

 

Também ele um avatar do deus constante,

Atom-Rah, o mundo inteiro a constituir,

cada pequeno deus da luz a se fundir

nesse deus único da claridade dominante,

que na verdade, só dois deuses existiam,

Osíris, o deus dos mortos, sobre o escuro

e Amon-Amen-Aton-Horashteh da luz,

mas até mesmo esses dois se confudiam,

que a cada noite Aten-Rah iria, seguro,

iluminar os mortos com seus raios em cruz.

 

O OLHO QUE AINDA VÊ I – 30 ABR 22

 

Foi assim a metáfora do triângulo criada,

em sua natureza potente e admirável,

em sua base, qualquer deus menos notável,

que em cada cidade então era adorado.

 

Todas as deidades nesse sopé, elevado

acima dos homens e do animal mutável;

por isso suas cabeças, de formato honorável,

coroavam os deuses em seu perfil alçado.

De cada lado, subiam linhas diagonais,

que conduziam à mais alta divindade,

seu mistério é ser de fato horizontais,

cada qual grupos de linhas paralelas,

até o ápice chegar, com a particularidade

de que esse vértice era de fato igual candelas.

 

O OLHO QUE AINDA VÊ II

 

Pois ali brilhava a potente luz solar:

era o próprio Amem-Rah, senhor da vida,

e esse espaço a que o triângulo dá guarida

era ocupado por tal visão a cintilar.

 

Ali espiava o divinal globo ocular,

que contemplava qualquer coisa conhecida

e ao mesmo tempo as criava, na renhida

luta constante pelo espaço milenar;

mas o triângulo era de fato perenal,

sem ter começo e portanto, sem ter fim,

sendo um presente constante e sem passar,

sempre imutável, permanecendo assim,

somente as lágrimas de Sobk a pingar,

nesse ritmo incessante todo o tempo original.

 

O OLHO QUE AINDA VÊ III

 

Mas esse tempo só domina o ser mortal,

visto que o Sol nunca cessara de existir,

porque jamais se iniciara o seu luzir,

sendo Aton-Rah, senhor eterno e divinal.

 

Também a Esfinge, de pedra colossal,

tinha a cabeça em triângulo, a recobrir

a mesma coroa de lápis-lazuli a refulgir

sobre a cabeça do Faraó existencial;

cada um deles, ao adormecer com os seus pais,

indo tornar-se em nova linha horizontal

nesse grande equilátero do espaço,

como a luz solar, tornando-se eternais,

desmesurados em sua alma perpetual,

do imenso deus contida em seu abraço.

 

O TEMPO QUE NADA VÊ I – 1º MAIO 2022

 

O tempo chegou cansado e veio sentar-se à porta,

no degrau mais inferior de minha escadinha;

ouvi ruído e fui ver.  A sua aparência tinha

o ar entumescido e gigantesco de comporta;

no mais sendo bem humana a sua figura torta,

de tanto carregar a enxúndia com que vinha;

fiquei só a observar e encarou-me desde a linha

mais perto da calçada que a sua silhueta corta.

 

Fiquei apalermado e preso em sua figura,

só depois de algum período começando a perceber

que de carros ou transeuntes não havia movimento.

Havia uma jovem parada, com a expressão mais pura,

uma perna para a frente, como em passo a pretender,

flutuando imóvel, sem aflorar o pavimento.

 

O TEMPO QUE NADA VÊ II

 

Só confabulei com o tempo em pensamento,

se ele falasse, começaria já a passar,

se algo eu proferisse, só o iria perturbar

e fazer com que expelisse o seu alento.

Mas como o tempo se cansara, em tal portento,

Ou por que o espaço cessara de avançar?

Só em meu cérebro compreendi seu inventar

pelos humanos, em mui antigo julgamento.

 

Fora de fato contra os humanos concebido,

que pelo tempo se deixassem afligir,

sem que os animais se deixassem consumir,

no dia a dia, pelo espaço transcorrido,

ficando o tempo assim, de olhar cansado,

há tantos séculos pelos humanos inventado...

 

O TEMPO QUE NADA VÊ III

 

Todo esse tempo, a tal jovem de olhar puro

permanecia em seu estático ballet,

sem na calçada jamais depor o lindo pé,

nesse equilíbrio incauto, mas seguro,

o Sol parado, sem mover-se para o escuro,

meus pensamentos na proteção de meu boné,

fitando o tempo a me encarar até,

a projetar-se sobre mim, qual brando muro.

 

Durou um instante, ou foi uma eternidade?

Mas que sentido teria o tempo se parar,

só em minhas pupilas a poder se aconchegar?...

Quanto começa tem sua finalidade

e assim o tempo infundiu-me seu suspiro

e ainda exausto, retomou seu longo giro...

 

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