A
QUARTA BUSCA I – 11 AGO 2022
No
oceano da noite eu sonharei contigo,
o
tempo todo te supondo nos meus braços
e
se na onirosfera mal distingo os traços,
embora
em outro rosto, eu sei estás comigo.
No
oceano da noite eu firmarei os laços
que
te prendam a mim e te darei abrigo
nessa
túnica talar em que me ligo,
junto
de mim a preencher amplos espaços.
Eu
sei que dormes enquanto durmo eu
e
assim presumo vogares junto a mim,
iguais
portais a percorrer assim,
quando
teu cérebro em cochilo adormeceu,
quando
meu próprio ressonar então embebes
e
pelas ondas de teu sonho me percebes...
A
QUARTA BUSCA II
No
oceano do leito em que adormeço
contemplo
de viés os teus cabelos.
Para
ti guardo todos meus desvelos,
enquanto
pela insônia ainda padeço.
Mais
do que nunca então o sono peço,
que
não mergulhes em mil estranhos selos,
pouco
me importa que sejam sonhos belos,
ainda
te busco até que desfaleço.
Não
quero que em teus sonhos vás dançar
nos
braços de qualquer outro fantasma,
mas
sei dormiste e eu não dormi ainda...
Sabe-se
lá na onirosfera milenar,
qual
será a aparição que então te pasma
e
então te ilude com qualquer miragem linda?
A
QUARTA BUSCA III
No
oceano do amor há pesadelos
de
que vás desfrutar de outros abraços,
mesmo
que apenas nos sonhos mais madraços:
de
que sonhes só comigo sinto zelos!
Fortes
impulsos que nem sei contê-los,
meus
próprios sonhos eu parto em mil pedaços,
que
te procurem na vastidão desses espaços,
até
que possas finalmente percebê-los.
Que
em tal instante de contração fugaz
abandones
qualquer vulto que venha te acenar
e
só te deixes prender junto de mim,
em
sonho mútuo que destarte se perfaz,
pelas
planícies de quimeras a passar,
em
nosso amor quadriculado de arlequim...
A
QUINTA BUSCA I – 12 AGO 2022
Minha
alma é cheia de mil petit-pois; (*)
em
cada ponto um olhar nela se cravou,
em
cada ervilha há uma estrela que brotou
e
a seu redor matéria escura se achará.
(*)
Pronunciado “petipoá”.
Minhalma
é um manto solto ao deus-dará,
não
foi meu coração que a controlou,
nem
o meu cérebro que a dominar deixou,
alma
irrequieta que por tudo buscará.
Mas
sem ater-se ao jugo corporal,
pouco
lhe importa satisfação sensual
e
nem sequer um pendor espiritual;
o
que ela busca é mais do que o desejo,
somente
em si a sustentar cada lampejo,
sem limitar-se a um singular adejo...
A
QUINTA BUSCA II
Minhalma
é o manto de veludo qeu recobre
cada
intervalo do céu ao derredor,
de
cada astro a receber brilho maior,
queimados
círculos por seu calor de cobre.
Mas
permanece livre o tecido que ainda sobre,
como
uma tela a conservar o seu calor,
por
orifícios sua luz gentil expor,
que
atravessam minhalma em jura dobre. (*)
(*)
Juramento falso.
mas
estes fulcros estelares te iluminam,
enquanto
eu passo igual que tempestade,
porém
da terra me vêm novos ressaltos,
que
na camada inferior tão só se afirmam,
sem
profundos alcances na verdade,
sem
que as estrelas percebam tais assaltos.
A
QUINTA BUSCA III
Iguais
pingentes as luzes vêm da Terra,
de
cada olhar endereçado a mim,
cristais
de gelo ali pendendo assim,
estalagmites
nas cavernas de minha serra,
que
a força de minhalma firme encerra,
estalactites
inversas em jardim,
lágrimas
pálidas de odorifico jasmim,
os
ventos a enfrentar em longa guerra.
Minhalma
assim transita em luz de estrela
e
ainda adsorve a cada incrustração,
num
imenso burel que tudo abarca,
que
cada olhar da Terra fere e marca,
em
seu conjunto da maior feiúra bela,
concretada
em sua magia de ilusão.
A
SEXTA BUSCA I – 13 AGO 2022
A
luz do sol me circundou os dedos,
feito
contorno de ouro ao derredor,
então
a palma da mão perdeu sua cor,
silhueta
negra por momentos quedos.
A
mão se foi virando em gestos ledos,
o
fogo brando a percorrê-la sem ardor,
logo
apenas uma risca desse auror
da
eminência hipotenar mostra os segredos. (*)
(*)
A parte da palma oposta ao polegar.
Assim
meu pulso girando permaneço
e
essa fagulha que queimou a janela
vai
perpassando cada ponto de minha pele.
Cansou-se
o braço. A luz tem novo apreço,
indo
pintar da parede a lisa tela,
enquanto
o cobertor meu punho sele...
A
SEXTA BUSCA II
Fui
ao fogão buscar lasca de fogo
que
guardar possa dentro do casaco;
cortei
a labareda naco a naco:
placidamente
submetida ao rogo.
Guardei-a
em minha lanterna, logo-logo,
e
o que sobrou depositei num saco,
sobre
o tapete deixei cair um caco,
entranhado
nos desenhos nesse afogo.
Não
guardo fogo na palma de minha mão,
igual
que vi fizeram os feiticeiros:
não
deixa espaço para nada mais!
Nas
algibeiras as brasas se acharão,
em
que seus brilhos se desfarão ligeiros,
tristes
migalhas que já não queimam mais.
A
SEXTA BUSCA III
Brilha-me
menos o fogo em dia claro,
com
a invasão solar trava disputa,
a
radiação a derrota em força bruta,
mal
e mal permanece no meu faro.
Possui
a flama um certo gosto amaro,
seu
crepitar nas cocleias só se escuta,
mas
cada pálpebra seu cintilar refuta,
sem
permitir nas íris seu reparo.
Porém
me atrevo a fitar cada fogueira,
especialmente
quando a brasa cresce
e
mal me atrevo a contemplar o Sol;
somente
da silhueta a breve esteira
que
nos contornos de minha palma desce
e
então se afasta ao transitar desse arrebol...
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