quinta-feira, 4 de agosto de 2022


 

DOMINAÇÃO DE AMOR I – 31 JUL 2022

(Elizabeth Olsen = Capitã Marvel)

 

Por certo existe a mulher dominatriz,

a quem se submete um masoquista

e seu prazer com ela só conquista,

sob a chibata e seu salto está feliz.

Fero destino que para mim não quis,

só o amor suave meu coração avista:

talvez de dor e desprezo encontre a pista,

porém buscar tal mal jamais eu fiz,

pois certamente não gosto de sofrer,

embora inspiração me vá trazer

qualquer pena de amor que o vento traga,

porque a mulher consciente do poder,

em rosto bate e só depois afaga,

nalgum capricho de amor que possa ter.

 

DOMINAÇÃO DE AMOR II

 

Muitos caprichos de amor são generosos,

sendo carínhos melífluos na verdade,

inversamente a comprovar sinceridade:

é a bem-amada que tem caprichos mais formosos,

que ao se saber querida, serão mais viçosos

e nessa troça está a peculiaridade,

a se cambiar com extrema liberdade,

final origem de amores mais ditosos,

pois ela julga que irá tornar feliz

ao seu amor depois de suas negaças:

“Que importa que ele sofra, se é por mim?”

E quantas vezes nossa história diz

que até preferes essa mulher que abraças,

quando ela cede em grande amor enfim?

 

DOMINAÇÃO DE AMOR III

 

Já muita vez encontrei pela minha vida

essa mulher que se aproxima e foge,

convidativa ontem, tão distante hoje,

qual lamentando pequena graça concedida.

E quanta vez tal graça foi perdida,

quando minha própria incompreensão arroje

toda promessa de amor assim despoje,

por não ter sido buscada e perseguida.

 

Que não é de qualquer mulher algum capricho

que me atraia para o empenho da conquista,

mas na verdade, só me torna mais prolixo,

em fazer versos de abandono e de lamento,

sem de fato lamentar a breve pista,

que percorri no capricho de um momento!

 

CONDIÇÃO DE AMOR I – 1º AGOSTO 22

 

Quando eu souber que sonhas só comigo,

que para ti não existe outra pessoa,

sem devaneios por motivo atoa,

que só por mim teu coração ressoa;

quando eu souber que teu peito só ecoa

meu nome e ali apenas permites seu jazigo,

que em tua válvula mitral encontre abrigo,

que em tua tricúspide habitação consigo,

 

só então confessarei que só contigo

eu mesmo sonho a cada noite e dia;

não dou meus passos em abismo de incerteza,

só por caminhos seguros é que eu sigo,

nunca a arriscar por prêmio sem valia

esse que eu tenho já composto de nobreza.

 

CONDIÇÃO DE AMOR II

 

Na verdade, amor que é amor existe um só,

não se encontram amores na calçada,

por detrás de cada pedra levantada,

lá dormem tristes as emoções sem dó,

algumas vezes no emaranho de algum nó,

cada ilusão por outrem desprezada

sem qualquer crença de novamente ser amada,

a tijoleta sua proteção e portaló...

 

Mas há amores certamente por aí,

pelas calçadas estão a saltitar,

alegremente, sob o sol a rebrilhar,

de um par de olhos a se fitar em ti,

são seguros de si e não se ocultam

em desenganos que facilmente indultam.

 

CONDIÇÃO DE AMOR III

 

De certo modo, do amor eu sou vampiro,

não que pretenda o sangue teu furtar,

nem de tua alma sequer me apoderar,

quando minhas vistas para teu rosto eu giro

e em seguimento meu olhar retiro,

somente em casos de amor irei sonhar,

assentimento ou desprezo irei buscar,

quando meu próprio coração assim eu firo.

 

Não mais serás que o tema de um soneto,

no esvaziamento de tuas possibilidades,

tal qual seria o calor desses teus braços,

como eu teria o teu desprezo mais completo;

e assim redijo as minhas inverdades,

enquanto os dedos pensam nos teus traços.

 

TUMBAS DE AMOR I – 2 AGO 22

 

A cada hora mil olhos sei se cerram

e porventura o mundo para de girar?

Indiferente é a Terra ao trespassar

das ilusões que outrora ali se encerram,

ou das tristezas e rancores que ali erram

ou dos amores que tiveram de deixar,

dos descendentes que puderam alcançar,

dos sentimentos que corações aterram.

 

Por que motivo seria diferente,

se honestamente nos dispusermos a pensar?

De fato hoje vivemos todos muito mais

do que vivia toda essa arcaica gente,

mesmo os que hoje vão florestas habitar,

tão curtas sendo suas vidas naturais.

 

TUMBAS DE AMOR II

 

O que sabemos dos muitos que morreram

na antiga Suméria, em Mitani ou dos Hititas,

salvo um que outro em recobradas criptas,

nas quais seus corpos os crentes encerraram;

sabemos mais o que os Egípcios deixaram,

por seu costume de enrolar em fitas

seus próprios mortos para futuras ditas,

seus pobres restos ressuscitar julgaram.

 

Li a história de arqueóloga Americana,

seu objetivo sendo especializado

no Egito antigo que há tanto terminou;

num cemitério antigo ela se afana,

suas tochas sendo os braços ressecados

de velhas múmias que Osíris já julgou!

 

TUMBAS DE AMOR III

 

Se alguma coisa me assombra é esse costume

de guardar mortos em vastos cemitérios,

após séculos submetidos aos despautérios,

suas sepulturas reabertas para o lume,

artefatos a despojar que o corpo assume

tal povo antigo por seus mitos sérios,

necessitados para seus eremitérios

nesse outro mundo para o qual se rume...

 

Até suas roupas já se encontram em museus,

expostos em vitrinas os acessórios

ou os esqueletos melhormente preservados...

Bem que faziam os Romanos com os seus,

somente as cinzas, sem quaisquer emunctórios,

que no futuro ser pudessem dessacrados...

 

TUMBAS DE AMOR IV

 

Só imagino quanta terra de cultivo

é com os mortos assim desperdiçada,

por túmulos inúteis pontilhada,

sem colheitas alimentarem qualquer vivo,

tudo em função de um sacerdócio altivo,

cada necrópole por eles explorada,

em afirmação pela Escritura contrariada,

que um corpo morto voltasse a ser ativo...

 

Contradição da Epístola aos Romanos,

em que São Paulo chama de insensato

a quem menciona a ressurreição do material,

guardar cadáveres costumes bem insanos:

semeado um corpo físico, é real fato

que ressuscite apenas um corpo espiritual!

 

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