sábado, 18 de fevereiro de 2023


 

 

              A PRINCESA DO MAR

                                 (Conto de fadas russo, recontado por William Lagos.)

 

A PRINCESA DO MAR I   (22 jun 11)

 

Em Novgorod vivia antigamente

um talentoso mas pobre menestrel,

que vivia de compor e de cantar...

Dificilmente conseguia alimentar

sua esposa Lyubova, cujo anel

tivera de empenhar, continuamente,

para comprar para os dois o que comer!

Por sorte Sadko, o pobre menestrel,

de um modo ou de outro conseguia resgatar

a sua aliança e de novo colocar

nos longos dedos da esposa tão fiel,

cujo amor nunca vira fenecer...

 

Nijni-Novgorod era cidade rica,

construída junto a um lago, alimentado

pelo degelo das neves... Mercadores

armavam tendas em seus arrededores,

vendendo o seu estoque, transportado

por longo tempo, pois tal burgo fica

separado do mar, pois nem um rio

o percorria e não havia estrada.

Ficava cara tal mercadoria...

Mas muita gente das estepes ia

para comprar a seda fabricada

no Extremo Oriente, sem temor do frio...

 

A PRINCESA DO MAR II

 

Os estrangeiros assim enriqueciam,

porém gastavam em seu luxo na cidade.

Com os habitantes sua riqueza partilhavam,

mas grande lucro para si guardavam.

E passavam a viver na ociosidade,

depois que lojas por ali estabeleciam...

O povo os respeitava, certamente:

davam emprego para muita gente,

compravam lã, minérios e carvão,

que em caravanas transportavam no verão.

Peles também e trigo era frequente

que adquirissem em tal comércio ingente.

 

Também ali se encontravam marinheiros,

que atravessavam em todos os sentidos

esse mar interior e negociavam

com os lapônios do norte e lhes compravam

carne salgada e mais chifres compridos

das renas que criavam seus arrieiros.

Ainda compravam grandes lotes de madeira

dos carélios e das tribos mais selvagens.

Da Rússia vinham outros comerciantes,

traziam de vinho os odres transbordantes.

E da Ucrânia, após longas viagens,

chegava azeite, que vendiam na feira...

 

A PRINCESA DO MAR III

 

Assim Sadko cantava nos festins:

ganhava em troca algumas moedinhas...

Tocava o gusli, de formato triangular,

com cinco cordas para se afinar,

enquanto salmodiava ladainhas

sobre batalhas, guerreiros e fortins...

Chegou um dia à cidade outro guslar,

com grande habilidade no instrumento,

oriundo de Kiev, então a capital,

quando Moscou não passava de arraial,

com voz tão bela de causar portento,

que o pobre Sadko chegou a superar.

 

Nazhata se chamava esse cantor,

que se tornou dos banquetes favorito.

Sadko foi desprezado pelos nobres

e reduzido a cantar só para os pobres,

que o honravam, qual cantor bendito,

mas nada lhe pagavam de valor...

Uma noite, foi banquete celebrado

na residência de um rico mercador.

Naturalmente, Nazhata foi chamado,

mas o dono da casa, já cansado

de ouvir elogios em seu louvor,

mandou que Sadko fosse convocado.

 

A PRINCESA DO MAR IV

 

Chegou o guslar, um tanto esfarrapado,

trazia consigo seu instrumento velho.

Porém Nazhata se vestia ricamente,

seu gusli rebrilhava de imponente,

sua madeira reluzia como espelho,

em cada acorde melodioso e compassado.

Fizeram troça de Sadko, no começo,

enquanto as cordas tangeu e afinou.

Mas sua voz mostrava um timbre delicado...

Assim Nazhata se sentiu ameaçado

e para um duelo de canções o desafiou,

a fim de ver quem merecia mais apreço.

 

Como de Sadko fosse a voz melhor

e no instrumento mais habilidoso,

os partidários de Nazhata começaram

a troçar dele e tanto o apuparam

que Sadko ofendeu-se e, corajoso,

decidiu-se a abordar tema maior.

E assim cantou que mais prosperidade

teria Novgorod, caso ao Oceano

tivesse acesso, pois muito mais riquezas

poderia alcançar, pelas proezas

de cem barcos lançados a cada ano,

que lhe trariam um tesouro de verdade...

 

 

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