Aljava
de Condão 1 – 7 Fevereiro 2023
(Goldie Hawn e Kurt Russell)
Há
quem afirme serem somente flores
Essas
setas de Cupido, rijos talos
Retirados
do fundão dos férteis valos,
Destarte
a transmitir seus esplendores.
Seguirão
órgãos de plantas para amores,
Nos
corações abrindo fundos ralos,
Em
outros casos talvez formando calos,
Se
alguém atingem com demais rigores.
Mas
um poeta será bem mais atingido
Por
essas setas de agudo perfurante,
Que
tão somente lhe arranham o coração.
Pois
tanta vez o seu peito é assim colhido
Que
se conserva da aljava quase amante,
Já
em outra frecha a buscar inspiração.
Aljava de Condão 2
Não sei se Amor de fato ama a poesia;
Segundo dizem, ao próprio amor é
indiferente,
Para inspirar qualquer paixão é mais
potente
E com enganos a causar se divertia.
Não sei se Amor é cego, qual ouvia
No passado dizer por tanta gene,
Mas acredito possuir visão descrente
De qualquer real amor que se sentia.
Pode até ser que sua mãe o tenha
gerado
Para impedir se extinguísse a
humanidade,
Muito mais gente em gula e embriaguez
E tantos mais que se tenham
exterminado
Nos campos de batalha ou por maldade,
Sem sequer tempo para fazer nenês...
Aljava de Condão 3
Talvez foi isso que preocupou
Afrodite,
Vendo encolher os seus adoradores
E ainda a contemplar tantos horrores
Da falsa deusa que à castração
incite.
Pois ela é a deusa que só vida nos
transmite,
Bem desgostosa ante os estertores
E falsos dogmas terríveis de pavores,
Que no seu bom coração jamais
permite.
E assim como o pólen traz a abelha
De uma flor para outra inseminar,
O seu filhinho abastece o seu carcaz
Com talos longos de flores em
corbelha,
Com os quais possa de paixões nos
incendiar ,
Enquanto a vida reproduzir nos faz.
Palavras
de Condão 1 – 8 Fevereiro 2023
Palavras
há com duplo e mais sentidos
Que
não conseguem claramente se expressar,
Salvo
se alguém as vai interpretar
Conforme
melhor lhe caiam a seus ouvidos.
Porém
tais motes poderão ser ofendidos,
Por
quem busque seu significado limitar
Ou
os restringir através de liminar,
Por
decisões monocráticas contidos...
Mas
as palavras não são só instrumentos
Porém
de fato consciência têm de si
E
assim afirmam seus próprios sentimentos
E
então flutuam como puros pensamentos
Invisíveis
ou que ao menos jamais vi,
A
nos impor seus insistentes julgamentos.
Palavras de Condão 2
Deste modo, não é qualquer
dicionarista
Que as consiga em prepotência limitar
De seus verbetes não alcança o aleijar,
Cada palavra a prosseguir em sua conquista.
Pela mente dos humanos segue a pista,
Sempre novo significado a compilar,
Até aceitando em seu resumo
transformar
Desde que em outra mente assim persista.
Só assim penetram em cada celular
E pelos dedos ou pelo paladar
Vão percorrendo os estames cerebrais,
De algum modo então podendo conservar
As suas vidas por gerações a mais,
Sem que gramáticos as possam dominar.
Palavras de Condão 3
Para mim sempre aparece algo suspeito
Na resiliência que as palavras têm,
Por outras línguas a se espalhar
também,
Em que celebram casamentos de direito.
Mas outras feitas concubinato é feito
E um novel símbolo então ali retêm
Para os ouvidos os as vistas dos que
leem
Em um novo território a ser aceito.
Sempre vivi por palavras emboscado,
Talvez sejam de fato a inspiração
E não o amor, o ciúme ou a tristeza.
As reais musas por que sou guiado
E não os poetas com que tenha
comunhão,
Nem mesmo o sonho que na alma se
embeleza.
Amantes
de Condão 1 – 9 Fevereiro 2023
Alguns
dizem que as palavras são amor
E
não o amor que em palavras se expresse,
Mas
o reflexo do amor ao peito desce
Como
palavras perpétuas de vigor.
Na
incandescência consoante a seu calor
Será
a palavra incendiada que enlouquece
E
que nos marca bem mais que alguma prece,
Pois
vem de fora em seu pleno favor.
Assim
não posso ter em mim a pretensão
De
ser o autor sequer parcial de versos,
São
as palavras somente que os compõem,
Que
quais amores digladiam por minha mão,
Meus
ardores em seus símbolos conversos,
Quando
os mais velhos sentimentos me repõem.
Amantes de Condão 2
Porém não quero me afastar do amor,
Mesmo que das palavras seja escravo,
Como não espero só aceitar o cravo
Da flecha de Cupido que me trará
calor.
Bem gostaria de alguns versos ser o
autor,
Em puro efeito do coração de um bravo
E as palavras com meu sangue sempre
lavo
E as ilumino com a fraca luz de meu
palor.
Mas até que ponto sou apenas induzido
Por tais palavras que me queiram
dominar
E até que ponto só pretendam me
encantar?
E não serei só por suspeitas
conduzido,
Que tais palavras apraz-me de
abraçar,
Quais mil amantes que só eu possa
acariciar.
Amantes de Condão 3
“No princípio era a Palavra, que
estava com Deus
E a Palavra era Deus”, desde o
começo;
Filamentos santos do Espírito assim
peço,
Que me venham conduzir com salmos
seus.
Deusas antigas sendo avatares meus,
Do Santo Espírito a tapeçaria teço
E limitar-me em sua ação não meço,
Mesmo que certos verbos sejam réus.
Pois nas palavras não me acharei
perdido,
Só com seus termos exprimo meus
amores,
Só com palavras a uivar meus
estridores.
E só por elas não abraçarei o olvido,
Que o verso fique quando
desaparecerei,
Que à fama indiferente sempre me
mostrei.
Nenhum comentário:
Postar um comentário