NASREDDIN-HODJA E ZALINA V
– 27 JUN 2022
Noutra ocasião, Zalina
queria fazer um doce
de ameixa, em abundância
no pomar,
mas não tinha um panelão
que grande fosse
o suficiente para todas as
frutas conservar.
Depressa Nasreddin então
lembrou-se
de um caldeirão que pudera
observar
no galpão de seu vizinho
pendurado,
que a seguir foi pedir
fosse emprestado...
Seu vizinho Pavel o emprestou de boa vontade
e Nasreddin transportou o caldeirão,
enferrujado, cheio de sujidade,
que há muito tempo fora deixado no galpão,
que então limpou, só por dentro, na verdade
e assim Zalina preparou uma boa porção;
o marido, a seguir, que era muito caprichoso,
limpou por dentro e fora, até deixar brilhoso...
Até parecia ser um outro caldeirão,
que o ferro ele deixara bem polido,
chegando a ver o reflexo de sua mão;
de devolvê-lo ficou então arrependido,
pois o vizinho nunca lhe dava atenção;
mas era honesto, tinha de ser devolvido!
Então pensou bastante e foi buscar
seu caldeirão menor para limpar.
Após deixar o panelão brilhante,
foi muito alegre levá-lo a seu vizinho
e ao ver que estava sua atenção chamando,
pois claramente era bem menorzinho,
num alvoroço foi logo lhe falando:
“Pavel, meu amigo, veja só que bonitinho!
Uma coisa espantosa aconteceu
A cegonha o trouxe para o caldeirão seu!”
“Se eu não visse com meus
próprios olhos,
nem teria nessa história
acreditado!...
Não ouviu as asas a bater
pelos refolhos?
Pois deixou o caldeirãozinho
bem ao lado:
brilhava tanto, que
cheguei a pôr antolhos,
mas aqui está. Olhe só que bem formado!
E como o caldeirão-pai era
o seu,
O filhotinho trago que lhe
pertenceu!...”
NASREDDIN-HODJA E ZALINA
VI – 28 JUN 2022
“Mas foi trazido pelas asas
da cegonha?
Nunca na vida ouvi falar
que acontecesse!”
“Ah, Pavel, coisas há que
nem se sonha!
Eu me iludi que minha
mulher a recebesse,
mas nunca quis ganhar,
coisa medonha!
E a boa ave, para que não
a esquecesse,
chegou voando com este
lindo caldeirão!
Segure firme, não se trata
de ilusão!...”
O vizinho seu assombro não escondeu
e segurou entre as mãos o objeto:
era mais uma chaleira, mas o brilho seu,
só de se olhar, já despertou o seu afeto...
Nasreddin facilmente o convenceu,
mas não quis contar a ninguém quanto dileto
lhe pareceu ser o pequeno caldeirão
e Nasreddin se despediu, com afeição.
“Olha, ainda estou meu doce aferventando,
caro Pavel, mas na semana que vem,
eu te trago um potinho e o caldeirão vibrante,
todo escovado e bem limpo também!
E voltou para casa, se felicitando,
mas nova fase da safadeza ainda tem:
três dias depois, ao vizinho ele voltou,
quase chorando e assim se lamentou.
“Meu amigo Pavel, ai, que desgraça!”
“Que foi, que foi, o que te aconteceu?
Dona Zalina, como está, como ela passa?”
“Ela está bem, nada de mal lhe sucedeu,
está na cozinha, preparando umz uva-passa,
mas seu caldeirão foi que morreu!”
“Morreu meu caldeirão? Não posso acreditar!”
“Mas, como não? Por acaso, ouviu falar”
“Que um caldeirão pudesse
ter um filho?”
“Claro que não! Mas, Hodja, mesmo assim...”
“Eu comecei a limpar, até
deixar com brilho,
tanto esfreguei, ficou tão
brilhante, enfim,
que veio um anjo e para o
celestial trilho
o carregou, igual que
gente ou serafim!
Seu caldeirão, por tanto
tempo abandonado,
teve tempo de rezar e
acabou sendo encantado!
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