quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023


 

 

NASREDDIN-HODJA E ZALINA V – 27 JUN 2022

 

Noutra ocasião, Zalina queria fazer um doce

de ameixa, em abundância no pomar,

mas não tinha um panelão que grande fosse

o suficiente para todas as frutas conservar.

Depressa Nasreddin então lembrou-se

de um caldeirão que pudera observar

no galpão de seu vizinho pendurado,

que a seguir foi pedir fosse emprestado...

Seu vizinho Pavel o emprestou de boa vontade

e Nasreddin transportou o caldeirão,

enferrujado, cheio de sujidade,

que há muito tempo fora deixado no galpão,

que então limpou, só por dentro, na verdade

e assim Zalina preparou uma boa porção;

o marido, a seguir, que era muito caprichoso,

limpou por dentro e fora, até deixar brilhoso...

Até parecia ser um outro caldeirão,

que o ferro ele deixara bem polido,

chegando a ver o reflexo de sua mão;

de devolvê-lo ficou então arrependido,

pois o vizinho nunca lhe dava atenção;

mas era honesto, tinha de ser devolvido!

Então pensou bastante e foi buscar

seu caldeirão menor para limpar.

Após deixar o panelão brilhante,

foi muito alegre levá-lo a seu vizinho

e ao ver que estava sua atenção chamando,

pois claramente era bem menorzinho,

num alvoroço foi logo lhe falando:

“Pavel, meu amigo, veja só que bonitinho!

Uma coisa espantosa aconteceu

A cegonha o trouxe para o caldeirão seu!”

“Se eu não visse com meus próprios olhos,

nem teria nessa história acreditado!...

Não ouviu as asas a bater pelos refolhos?

Pois deixou o caldeirãozinho bem ao lado:

brilhava tanto, que cheguei a pôr antolhos,

mas aqui está.  Olhe só que bem formado!

E como o caldeirão-pai era o seu,

O filhotinho trago que lhe pertenceu!...”

 

NASREDDIN-HODJA E ZALINA VI – 28 JUN 2022

 

“Mas foi trazido pelas asas da cegonha?

Nunca na vida ouvi falar que acontecesse!”

“Ah, Pavel, coisas há que nem se sonha!

Eu me iludi que minha mulher a recebesse,

mas nunca quis ganhar, coisa medonha!

E a boa ave, para que não a esquecesse,

chegou voando com este lindo caldeirão!

Segure firme, não se trata de ilusão!...”

O vizinho seu assombro não escondeu

e segurou entre as mãos o objeto:

era mais uma chaleira, mas o brilho seu,

só de se olhar, já despertou o seu afeto...

Nasreddin facilmente o convenceu,

mas não quis contar a ninguém quanto dileto

lhe pareceu ser o pequeno caldeirão

e Nasreddin se despediu, com afeição.

“Olha, ainda estou meu doce aferventando,

caro Pavel, mas na semana que vem,

eu te trago um potinho e o caldeirão vibrante,

todo escovado e bem limpo também!

E voltou para casa, se felicitando,

mas nova fase da safadeza ainda tem:

três dias depois, ao vizinho ele voltou,

quase chorando e assim se lamentou.

“Meu amigo Pavel, ai, que desgraça!”

“Que foi, que foi, o que te aconteceu?

Dona Zalina, como está, como ela passa?”

“Ela está bem, nada de mal lhe sucedeu,

está na cozinha, preparando umz uva-passa,

mas seu caldeirão foi que morreu!”

“Morreu meu caldeirão? Não posso acreditar!”

“Mas, como não? Por acaso, ouviu falar”

“Que um caldeirão pudesse ter um filho?”

“Claro que não!  Mas, Hodja, mesmo assim...”

“Eu comecei a limpar, até deixar com brilho,

tanto esfreguei, ficou tão brilhante, enfim,

que veio um anjo e para o celestial trilho

o carregou, igual que gente ou serafim!

Seu caldeirão, por tanto tempo abandonado,

teve tempo de rezar e acabou sendo encantado!

 

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