sábado, 4 de fevereiro de 2023


 

 

NASREDDIN-HODJA E ZALINA III – 25 JUN 2022

 

“Lamento muito, mas não tenho dinheiro,

só se alguém aqui me financiar...

ninguém pretende ajudar seu companheiro?”

“E de que forma você pretende nos pagar?

Quem mais acreditar vai nesse embusteiro

que sementes de burro pretende lhe empurrar?”

Mas a essa altura, o jovem Miklos combinara

com três amigos e seu apoio já ganhara!...”

“Olhe, eu nunca vi, mas em Latáquia um primo tenho,

 que certa vez me contou a mesma história...”

“E um marinheiro me contou, com igual empenho,

que na Síria plantam burros...” – em apoio à estória.

“Depois,” disse o terceiro, piscando o olho para a gente,

“Vocês já viram alguma burra ter a glória

de ganhar qualquer filhote alguma vez...?”

Não havia jumentas nessa aldeia, logo vês!...

“Quem sabe, então, você me presentearia?”

Sugeriu Nasreddin, espertamente,

ao jovem Miklos. “De presente, eu não daria,

mas posso lhe dar quatro, exatamente,

por dez por cento do que ganharia

pela venda do seu sal, honradamente.

Se quer assim, fazemos sociedade,

conservará noventa por cento em realidade...”

“Mas ainda não tenho para o sal o suficiente,

só se quatro patacas me emprestar...”

Miklos, crendo que a vitória se apresente,

com seus amigos quatro moedas foi juntar

e as entregou a Nasreddin, contente:

Valiam pouco, não iriam lhes faltar.

“Depois desconte de sua parte nessa venda,

noventa por cento é suficiente prenda!”

“Afinal, o senhor tem o trabalho de criar

quatro jumentos, depois ir buscar o sal

e para os compradores transportar;

dez por cento para mim não fará mal...”

Nasreddin decidiu-se a aceitar,

feito o negócio de forma natural

e retirou-se para casa, satisfeito,

com as quatro sementes junto ao peito.

 

NASREDDIN-HODJA E ZALINA IV – 26 JUN 2022

 

Chegando em casa, plantou-as no pomar,

perto da base de quatro macieiras;

quando a mulher o porquê quis indagar,

respondeu-lhe que, por razões certeiras,

quatro burros de manhã iria enxergar.

Zalina retrucou com palavras zombeteiras,

mas Nasreddin foi tomar o seu jantar

e foram os dois para a cama se deitar.

Na manhã seguinte, mal saíra o sol,

Nasreddin se levantou do mesmo jeito,

lavou o rosto, esvaziou seu urinol

e foi ver os burros a que tinha direito.

Ao abrir a porta, viu brilhando qual farol

o sorriso zombeteiro e satisfeito

do jovem Mikos e seus três companheiros,

que pretendiam troçar dele um ano inteiro...

Nasreddin não perdeu a compostura:

“Olá, amigos, querem um chazinho?”

Gritou para cima, com desenvoltura:

“Zalina, Zalina, chega aqui pertinho:

a minha ideia chamaste de loucura,

pois olha só como eu estava bem certinho:

apareceram quatro burros no quintal!

A razão terás de dar-me no final!...”

Miklos e os amigos muito se desapontaram:

Pois vieram buscar lã e saíram tosquiados!

Nasreddin e a mulher os convidaram:

“Já temos uns pãezinhos preparados,

mas não sei se com capim já se fartaram...

Comam de pé, nunca vi burros sentados!”

Foram os quatro embora, envergonhados,

sem das patacas serem reembolsados!

Só mais tarde, foram de Miklos reclamar,

o resultado para eles bem pior!

Logo em seguida, todos do lugar

viram que o turco levara a melhor

e dos quatro não cansavam de troçar...

Nasreddin até agradeceu-lhes o favor,

que os pagaria após vender o sal,

só precisava era comprar outro animal!

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