AMOR CONFESSO I – 22 MARÇO 2024
(MYLÈNE DEMONGEOT, apogeu francês)
Sempre entendi para mim que uma
mulher
quisesse dar e receber carinho,
que um ‘Eu te amo!’ seria um
rosmaninho
na boca desse alguém que ela
mais quer,
que amor não é uma flor de
malmequer,
despetalada com um medo
pequeninho,
qual profecias guardasse no seu
ninho
de pétalas que se arranca, sem
sequer
imaginar o mal feito a essa
planta,
deixando apenas seu régio
meristema,
depois jogado ao solo
casualmente,
qualquer que fosse o resultado
com que imanta
a nossa alma tão egoísta e tão
pequena,
com seu número assim casual e
indiferente...
AMOR
CONFESSO II
Sempre
entendi que amor é demonstrado
por
palavras e ações e não presentes,
que ‘eu
te amos’ proferidos tão frequentes
só
aumentariam do amor seu véu alado,
que
mesmo amor que se encontre desbotado,
ao ser
assim manifestado em diariamentes,
realmente
novo ardor nos subjacentes
sentimentos
faria amor mais acentuado
e que
esse amor às claras repetido
teria
as pétalas e as raízes restaurado,
igual
que água em sangue transformado
ou como
a flor nesse chispar contido
reverdescesse
e o caule levantasse,
erguendo
ao sol a corola que ostentasse.
AMOR
CONFESSO III
Mesmo
em desânimo, sempre reafirmei,
ainda
perante aparente indiferença,
meus
‘eu te amos’ na expressão mais densa
e de
seus olhos a expressão roubei;
múltiplas
vezes tal fervor não encontrei,
perdida
a íris na esclerótica da descrença,
para a
expressão de amor, por mais intensa
ser
respondida simplesmente por ‘eu sei’!
E ao
investigar meu desapontamento,
eu
persisti o meu amor a demonstrar,
mesmo
sem ver que seu amor fortificava
e
descobri, sem maior surpreendimento,
o quão
era importante isso afirmar,
pois
meu amor, seguro e terno, confirmava!
AMOR NÃO MANIFESTO I – 23 MAR
24
“‘Eu te amo!’” – me dizem –
“que coisa mais batida!”
“Foi empregado de forma tão
variada,
que de sentido se tornou toda
esvaziada,
por que se usar expressão tão
repetida?
Nesse ‘eu te amo’ a emoção não
está contida,
é em sua demonstração mais
conservada,
a intimidade assim sendo
preservada,
como se a nota ao se tocar
fosse perdida.”
Seria assim um amor tão diluído
nessas diárias mazelas de uma
vida,
no marchetar inserido em tais
matizes,
que se afirmar um amor tão
desabrido
nos afastasse de sua emoção
contida
e algo se perdesse em tais
deslizes...?
AMOR
NÃO MANIFESTO II
Mas
amor não se perde ao proclamar,
qual
não se gasta em demonstrar carinho,
não
resulta em coração mais pequeninho,
nem
menos denso é esse amor a revelar;
até
julguei que no fundo desse olhar
haja um
temor de perder-se no caminho,
por
emitir frases de amor tão comezinho
e que
da boca o mais terno palpitar,
frase
após frase a enfim fosse enrugar,
como se
fazem as rugas de expressão
e que
‘eu te amo’ melhor fora evitar,
conservando
por mais tempo a juventude,
cada
‘eu te amo’ um desgaste da paixão
por
mais sincera em sensação bem rude...
AMOR
NÃO MANIFESTO III
Se
fosse assim, eu não me importaria,
caso
‘eu te amo’ sugasse o meu vigor
e
repetiria com o máximo estridor:
dizer
‘eu te amo’ amor não gastaria,
por
dizer ‘eu te amo’ amor não perderia,
não
está na frase o verdadeiro ardor,
porém
na alma que inveja o seu sabor,
que
mais forte ficará com tal surpresa,
tal
qual o fôlego se renova tão frequente
para o
pulmão – e dessa frase o seu frescor
diariamente irá ampliar a minha certeza...
COLHEITA DE AMOR I – 24 MAR 24
Eu vejo a rosa sentada no
jardim
e de possuí-la me encho de
desejo,
mas seus espinhos igualmente
vejo:
é perigoso tentar colhê-la
assim!
O que haverá caso estenda a mão
enfim
para essa haste no mais egoísta
beijo?
Enquanto isso, qual beija-flor
adejo,
batendo as asas num duvidar de
querubim,
pois afinal, a rosa rubra e
cintilante
conserva o seu vigor presa no
pé,
se for quebrá-la, em breve
murchará
e para onde levarei sua cor
flamante,
mesmo sabendo que há de murchar
até
e sobre o solo enfim
despencará...?
COLHEITA
DE AMOR II
Possui
um tempo de vida a meiga rosa,
não a
colhi quando era um só botão,
passei
de largo, sem cuidar sua brotação,
sem
perceber até que ponto era formosa...
E se a
tocasse, teria sido dadivosa?
Nas
suas pétalas da primeira floração
ainda
não crescera em seu pendão...
Até que
ponto seria minha tão viçosa?
De
qualquer modo, ao passar pelo canteiro,
vi
finalmente dessa rosa o esplendor,
mesmo
perdido seu inicial frescor,
a me
saudar em tom alvissareiro...
Mas foi
a visão, enfim, que me aceitou
e de
meu caule finalmente me apartou...
COLHEITA
DE AMOR III
O que
acontece, se a tomar nos dedos,
neste
momento de final aceitação,
por
quanto tempo guardará sua floração,
antes
que as pétalas percam seus segredos?
Que me
haverá à luz de tantos medos,
por que
meus braços sentem tanta retração
e só se
elança para ela o coração?...
Os seus
perfumes já não são mais ledos?
Mas
nela vejo o suprassumo da mulher,
mesmo
que não se encolha nos meus braços:
também
o tempo marcou o jardineiro...
mas se
em redoma se replantar quiser,
eu
cuidarei prestimoso de seus traços,
só
lastimando não a ter visto primeiro!
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