VLADKO E LODNISSA IX –
17 jan 2023
Foi pura sorte, que
tinha só uma bala,
mas entrou direta no
olho do carneiro,
que estrebuchou,
morrendo bem ligeiro,
Vladko pensou: Todo fanfarrão se abala,
Mas o modesto a sua prosápia cala!
O melhor mesmo é que o velo está inteiro!
Animado, o carneou como
um bom açougueiro
e o cadáver lançou no
fundo de uma vala.
Enrolou o velo com todo
o cuidado
e o carregou nos ombros
até o castelo:
“Senhor meu rei, cá está
o dote da princesa!”
Por toda a corte foi ali
aclamado:
Meu noivo é corajoso, além de belo!
Pensou Lodnissa, com
orgulho e gentileza.
Mas o conde não se deu por satisfeito:
“Para um pastor, enfrentar algum carneiro
é muito fácil, majestade. Faça um teste derradeiro,
alguma coisa de bem maior efeito...”
E cochichou-lhe ao ouvido em seu proveito,
que um genro não aceitasse bem ligeiro;
ele aceitou o ardil do trapaceiro,
obrigando Vladko a justificar o seu direito.
“Deves plantar em meu pomar uma videira
e ao sétimo dia suas uvas me trazer,
caso contrário, mando cortar a tua cabeça!”
Lodnissa protestou, firme e altaneira:
“Isso é injustiça que não pode um rei fazer!
Por que deseja que meu noivo assim padeça?”
“Por muito tempo aceitei
tua condição,
agora é o tempo de
aceitares a minha!”
Indignada demonstrou-se
a sua rainha:
“O rei seu eu e esta é
minha decisão!
É inútil me fazeres
qualquer petição
e não pretendo escutar
tua ladainha!”
Chorou Lodnissa quantas
lágrimas que tinha,
mas sem seu pai demover
da posição!
Vladko então despediu-se
da princesa.
“Não se atreva a sair de
meu país!”
“Senhor meu rei, vou
procurar a solução!”
Seus pais mostraram a
maior tristeza:
“É seu castigo por
atrevimentos vís!
Jamais um pobre poder
subir de situação!”
Vladko ao ver-se deste
modo condenado,
saiu de casa, vagueando
em desatino.
Pôs-se a chorar, coisa
que desde menino
já não fazia, a tal
ponto desolado!
Enxugando as vistas,
olhou para um lado,
mulher belíssima
avistando ao sol a pino.
“Por que choras, pastor,
por teu destino?”
“Não, minha senhora,
estou a ele conformado.”
“Eu choro apenas, porque
jamais poderei ter
o amor de minha princesa
bem-amada
e pior ainda, por saber
ser destinada
a se casar com quem não
a pode merecer,
mesmo sabendo ser a mim
que ela deseja,
mas por orgulho, o rei
seu pai não nos enseja!”
VLADKO E LODNISSA X – 18
jan 2023
“Choro ainda mais, por
saber que está sofrendo:
ficasse ela feliz, eu
nem me importaria
por morrer, mas sei
minha morte a tornaria
muito infeliz! Isto é
que está me remoendo...”
“Pois muito bem, caro
Vladko, está mesmo padecendo,
mas neste transe
ajudá-la eu poderia,
por amor dela, sua dor
aliviaria,
eu sou sua fada-madrinha
e sempre a estive protegendo.”
“Tome esta bolsa, que
contém cepa de parreira
e mais um galho
abençoado de alecrim,
plantarás ambos onde quiseres
ter a vinha
e então te deitarás
junto a essa jeira:
dentro de uma semana
crescerá a videira assim,
e colherás as uvas a
pender de sua gavinha.”
Mas é importante que lhe dês este alimento
como adubo e esta água tal como te pedir;
sendo assim, a tua missão irás cumprir,
se te submeteres a meu completo julgamento.
Ficou o rei surpreendido, mas a contento
marcou o lugar, sua falsidade ainda a fingir,
vendo que Vladko não tinha intenção de lhe fugir,
marcando um lugar de estéril provimento.
Vladko plantou a cepa após carpir o chão,
junto à raiz pôs o raminho de alecrim,
com a comida a adubou e com a água que levava,
sem esperança real de alcançar satisfação,
mas ao lado se deitou e então dormiu assim
e em poucas horas
já a parreira germinava.
Mas enquanto essa semana
se passava,
o Conde Bopp tentou a
princesa seduzir,
sem o menor resultado
conseguir,
tampouco a rainha
qualquer atenção lhe dava,
mas com o rei
constantemente conversava
e espertamente o
conseguia conduzir:
“Melhor genro serei eu,
sem o iludir,
além de nobre e rico, já
enfrentei batalha brava.”
“E como eu sou
estrangeiro, não despertarei rancor
entre os nobres do país
por terem sido preteridos,
de meu valor serão mui
facilmente convencidos,
com gentileza logo
conquistarei o seu favor,
os objetivos de Vossa
Majestade serão fácil cumpridos,
sem a menor chance de os
realizar algum pastor!”
O que o rei mais
lamentava era ter perdido
todos os filhos em lutas
e combates
e já sentindo da velhice
os seus embates,
via no conde um novo
filho preferido
e este o convenceu de
que Vladko só havia vencido
por feitiçaria ou
demoníacos engates:
“O conveniente é que
quanto antes o mates,
antes que o trono que
ele quer seja obtido.”
“Já que por magia
conquistou sua bela filha,
mesmo que ame seu pai,
fará o que ele quer
e logo os dois
provocarão sua pior sorte,
para garantir a coroação
em breve trilha:
Lodnissa o obedecerá no
que quiser
e bem depressa
apressarão mesmo sua morte!”
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