FEBRE DE AMOR I – 14 março 2024
(ELKE SOMMER)
Nunca o amor é total felicidade,
essa que se desejaria ser constante
antes conjunto de emoções bem delirante,
entre a alegria e a angústia da vontade,
dilacerada a alma na realidade,
ao mesmo tempo ansiando ter por diante
o objeto do amor e odiando o mesmo instante,
grande amargura na doçura da verdade;
mas quem ama quer avistar seu objeto,
mesmo que este em nada a corresponda,
batendo o coração em feroz ronda
e então se afasta, deixando um abjeto
vazio dentro do peito ensimesmado,
preferindo mesmo não tê-lo encontrado.
FEBRE DE AMOR II
Mas quanto mais a alma se amargura
na consequência de tal separação,
tanto mais quer renovar essa emoção,
no sal da lágrima a saborear doçura
e quando o ardor enfraquece a sua tortura
é então que mais se quer renovação,
mesmo sem ser reciprocada sua noção
é uma dor que traz em si alegria pura;
quem ama acolhe esse desapontamento,
o leve aperto em seu coração,
sem se importar com tal decepção,
pois mesmo assim usufrui do sentimento,
sem de fato apreciar sua liberdade,
mesmo no amor se apresenta em orfandade.
FEBRE DE AMOR III
Quem deveria ser senhora da paixão
acaba sempre por dela ser escrava,
nessa forma de loucura em que se achava,
velha doença a roer toda a razão;
mas enquanto febre real de provação,
provocada por moléstia que encontrava,
livre acesso a ter no corpo que atacava,
a febre de amor tem nela plena aceitação
e quem adoece dela também ama
não só o objeto material de seu amor,
mas se apaixona pelo amor que assim a afeta
e para si a febre mais reclama,
sempre querendo encravar mais fundo a seta
sem jamais querer livrar-se desse ardor.
ÁLCOOL AMORÍLICO I – 15 MARÇO 24
Amor é uma espécie de certa embriaguez,
que deixa a mente imersa em sua tontura,
toda a razão a ser tomada de loucura,
sem se saber o que se quis e o que se fez!
Mas a embriaguez do álcool, por sua vez,
ou de outra droga que se tome em ânsia pura,
quando enfraquece, o viciado mais procura,
tornado escravo em total desfaçatez!
Assim é a embriaguez de amor na endorfina,
na mente humana mais que no corporal,
quem ama se acha em paraíso terrenal,
mesmo ser ter a recíproca que a fascina,
mas igual a um vício, a procura alimentar,
por seus olhos amor bebendo sem cessar.
ÁLCOOL AMORÍLICO III
E como é bela a embriaguez de amor!
A gente sente como nas nuvens pisotear
e quando encontra correspondente par.
é o suprassumo do natural ardor
e ao mesmo tempo, pouco dura o seu frescor,
com ou sem correspondência a se gastar,
deixa um vazio que não parece terminar,
deixa a saudade na mente sem vigor;
contudo amor só se bebe pelo olhar,
não existem frascos de mágico elixir,
por mais que fique o coração a porejar
e mesmo a carne que nos vem abraçar
não nos goteja pleno amor para o porvir,
somente é a alma que nos pode acalentar.
ÁLCOOL AMORÍLICO III
Quem não sentiu desta moléstia a embriaguez
não viveu realmente sobre a terra;
pouco importa a ventura que se encerra,
é a sensação de entontecer em plena tês
e assim quem ama, mesmo em viuvez
de alma que do himeneu jamais se abeira,
alvo se torna de tal sensação certeira,
que sobrepuja a qualquer outra por sua vez.
Deste modo, se em ti sentes paixão,
usufrui da multidão dos sentimentos,
alguns gentis, outros bem violentos,
melhor que manter viúvo o coração,
sem gozar a ventura da inclemência
da febre amada em sua feliz ardência.
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