ALMATÓRIO I – 1º NOV 21
Já se afirmou que todo o ser humano
É uma alma em corpo de animal,
Como uma forma de justificar o mal
Que todos nós cometermos cada ano.
Sem dúvida, nosso corpo causa dano
À nossa própria mente espiritual,
A exigir diariamente o material,
Em seu físico perpetuar de cada afano.
Precisamos de diariamente alimentar
A esse corpo e eliminar os seus dejetos,
Sempre a causar certo aborrecimento
E ainda nos é necessário respirar,
Vezes sem conta, em ofegos e afetos,
Tempo cobrando de nosso pensamento!
ALMATÓRIO II
E de igual modo, para a reprodução,
Existe instinto bem violento em nós;
Talvez se pense ir do prazer empós,
Buscando orgasmo na ejaculação,
Ou da mulher na mais suave contração;
Mas na verdade, a coisa é mais atroz,
A natureza é que se faz o nosso algoz,
Sendo o prazer só a medida da ilusão.
E ao mesmo tempo, toda a acumulação
De alimentos ou de bens para o futuro
Desperta em nós outro desejo impuro;
Como animais a guardar a provisão,
Assim o instinto mais nos leva a cobiçar
E nos impede nosso excesso partilhar.
ALMATÓRIO III
Já se afirmou existir o Animaltório,
Para onde irão as almas animais,
Sem poderem partilhar das celestiais
Alegorias do incenso e do cibório;
Não sei se pensam ser um purgatório,
Cada bicho a sofrer como as demais
Almas humanas, até pagarem seus fatais
Erros e culpas até o compensatório?
Ou será um limbo, qual esse lugar nefando,
Em que as crianças que não tiveram
batizados
Irão sofrer mesmo sem ter quaisquer pecados?
Pobres dos bichos pressionados em tal
bando!
Terão os insetos também um Insectório
E as bactérias seu próprio Microbiório?
QUANTICOTÓRIO I – 2
NOV 21
Fico a pensar por que
razão necessitamos
De tantos corpos
semiespirituais
Para nossas estruturas
materiais,
Quânticos seres anunciando
seus reclamos;
É de supor-se que nos
assemelhamos
A essa série de
aparições espectrais:
O que existe no da
carne, nos demais,
Terá reflexos quais
espectros humanos.
Aceito que isso que
detectam ultimamente
São vibrações
calóricas sem nada de anormais:
Todo ser vivo certa
aura possui,
Mas sete auras a
mostrar lucidamente,
Deveriam assemelhar-se
quais fractais,
Sendo uma de outra
projeções bem naturais.
QUANTICOTÓRIO II
Afirmado já foi que
uma a uma
São descartadas
durante a viuvez
Entre a alma e o
corpo, porém certa vez
Algum astral para trás
fique e reassuma
A característica que o
material consuma,
Como leve assombração
que mês a mês
Se dilui, caso energia
não lhe dês:
É o que se invoca
enquanto não se esfuma.
E em qualquer ponto de
sua invocação
Pode até dar
batidinhas ou mover
A Prancha Ouija, caso
alguém se entregue
A seu controle, em
vaga inquietação;
Mas também esta acaba
por morrer,
Salvo quando rebel à
sua alma se ligue.
QUANTICOTÓRIO III
Ainda é possível, que
milênios perpassando
De um certo povo a
invocar essa entidade,
Igual assuma alguma
sombria identidade,
Não a que tinha quando
ao corpo acompanhando
E muitos deuses assim
foram se formando,
Como egrégoras a
adquirir sua densidade,
Forjam gnômons tal
personalidade,
Mais do que
inconsciente coletivo se tratando.
E um tal deusinho
talvez possa recobrar
Alguns dos corpos
dessa setemania,
Com a energia dos féis
a congregar;
Bem mais fácil que
astronauta se afirmar
Que a raça humana
assim controlaria
Em proteção ou qual
reserva alimentar!
DUVIDOTÓRIO I – 3 NOV 21
Toda mentira sempre é verdadeira
Para quem nela crê; portanto, é
Fundamental para manter-se a fé
De que ideologicamente seja herdeira;
Das assertivas feitas em primeira
Vez por gente que não mais põe o seu pé
Na superficie da Terra, em cuja sé
Se embasa essa certeza derradeira.
Talvez a vida a negue totalmente,
Mas pouco importa, os dogmas ficaram,
De sua política, religião, filosofia
E se mantêm quase que impunemente
Nas mentes dos que um dia acreditaram,
Julgando ser a vida que mentia.
DUVIDOTÓRIO II
Toda verdade é sempre uma mentira
Para quem não a crê; desilusão
De quem convencimento traz na mão
E cujo ideal desprezo alheio fira.
Quem crer no logro, a conservá-lo mira,
A salvo de qualquer perturbação;
Julgam preciso conservar essa ilusão,
Crendo que o mundo é a seu redor que
gira.
Porque que verdade dói. Plena certeza
Existe neste adágio cristalino,
Quando destrói algum mundo imaginário;
E os pés oscilam perante tal fadário,
Ao pressentr também outra incerteza:
De ter a seu dispor servo divino!...
DUVIDOTÓRIO III
“O que é a verdade?” Já Pilatos indagou,
Esse infeliz a quem a igreja condenou
A ser lembrado de forma negativa
Na redação que em nosso Credo registrou,
Porque Herodes nesse texto não se aviva,
Nem Anás ou Caiphás, em sempreviva
Lembrança que o Evangelho confirmou,
Mas a sua parte não foi ainda mais ativa?
Qual a intenção de se imputar a Roma
Toda a culpa desse antigo sacrifício?
Seria uma forma de absolver Judeus?
Quando os Apóstolos por nome se toma,
Não eram Maria, João Batista em seu
ofício,
Todos do Povo a quem escolheu Deus?
AMORATÓRIO I – 4 NOV 21
Raro é o amor que se termina de repente,
Não com um simples estalo ou explosão
Que se transforme em feroz constatação,
É a pouco e pouco que se faz dolente;
A monotonia é feroz e constringente:
Não é apenas de um desejo a cessação,
Nem da nova de qualquer contestação,
É a vida a dois tornada adstringente.
Amor é fácil de sentir, mas a amizade
Que permite aceitar falhas alheias,
Sem pretender realmente reformá-las
Não se obtém com real facilidade,
Embora o familiar, com muitas teias,
Divergências possa abrandar ou
conservá-las.
AMORATÓRIO II
O amor real se faz fraternidade,
Todo feito de constante aceitação,
É o mastigar de cada irritação,
Sem quebrantar o vínculo e a amizade.
Algumas vez há irritabilidade,
Em outras surge a mútua compaixão,
Enquanto os anos se escorrem pela mão
E pela mão de nosso par com igualdade.
Em outras vezes, são interesses em comum,
Desde os filhos até amor por um só jogo,
Ou algum parente mais velho que se cria,
Por leve amor ou sem motivo alguem,
Enquanto arde entre os dois um manso fogo
Que de outro modo nem se acenderia.
AMORATÓRIO III
Claro que existe também o costume
Ou interesses financeiros em ocasião
Ou há fortunas que divórcios quebrarão,
Mas sempre há contribuição ao mútuo lume;
Bem mais difícil que a lugar diverso rume
O par que mais vive em tal repetição,
Sem se dispor à total condenação
Dessas décadas em que a vida se consume.
Porem se nessa amizade se constrói
Respeito mútuo, interesse igual também,
Pouco importa a fria ausência da paixão,
Tanta coisa que em conjunto a gente mói,
Nessa argamassa que compõe o mútuo bem,
Por mais tranquilo que nos bata o coração.
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