PEQUENO
IDEAL I – 22 NOV 2021
Bem
que eu queria as mulheres infelizes,
de
algum modo, poder todas consolar
e
não se pense que as anseie conquistar,
seria
impossível enfrentar todas as crises;
todas
terão as suas tristezas, tu me dizes,
múltiplas
causas de aflição a suportar,
caso
as procure, poderão se revoltar,
muito
cuidado precisarás no chão que pises!
Mas
não seria nenhum padre confessor,
diariamente
a escutar as mesmas queixas:
mudam-se
as faces, permanecem os pecados,
a
desgastar nessa escuta todo o amor
e
em penitência repetir as mesmas deixas,
nesse
quieto absolver dos mesmos fados...
PEQUENO
IDEAL II
Nem
quereria ser um psicanalista,
com
horas certas para suas confissões,
cobrando
em troca excessivas exações,
que
ao fim da hora, sem pudor, insista:
“Acabou
o nosso tempo. Essa sua lista
de
mágoas e queixumes e ilações
continuaremos
nas próximas sessões,
isso
faz parte do processo e da conquista
“que
disciplina, cautelar, os sentimentos;
tenho
de ouvir outros padecimentos:
dê
a si mesma a sua absolvição!
Porém
não pense que eu seja indiferente,
retorna
a meu divã, que arrancarei, paciente,
as
farpas, uma a uma, de teu coração!”
PEQUENO
IDEAL III
Por
mais que o tenha, não sobraria amor
a
cada uma daquelas que encontrar;
mais
do que a umas, a outras posso dar
minha
lealdade, meu respeito e meu calor
e
desse modo, menor será o favor
a
tantas outras que me venham a rodear;
não
será humano tanto amor a desdobrar
por
mais altruísta que seja o meu pendor.
Contudo
eu posso, a todas as mulheres,
enviar
meus mil sonetos desparelhos,
que
a algumas sirvam como bons conselhos,
enquanto
a outras causem desprazeres;
outros
enfim, que lhes lançar a esmo,
fatias
levem recortadas de mim mesmo...
SOLIPSISMO INVERSO I
– 23 NOV 2021
Será que existe
alguma coisa anteriormente
ou o mundo começou
quando nasceste?
É bem certo que nada
antes percebeste,
como algo pode ter
existido realmente?
Apenas te disseram –
e bem frequentemente,
tais anteriores que
nunca conheceste
e descreveram-te
esses anos em que cresceste,
sem que recordar os
possas claramente.
Tantas vezes foram
tais coisas repetidas
que finalmente só as
vens acreditar,
sem sequer por único
momento duvidar;
mas só por isso
seriam coisas ocorridas?
Ou ao invés disso só
imaginaste as ilusões,
talhos sangrentos de
tuas próprias emoções?
SOLIPSISMO INVERSO II
Caso o mundo começou
quando nasceste,
essas pessoas que vês
a teu redor
serão reais ou
criações de teu pendor
e nesse caso, de que
forma nelas creste?
Se no momento em que
o mundo conheceste,
a pouco e pouco os
criaste a teu favor,
de teus parentes e
amigos és o senhor
e até de coisas que
nem mesmo compreendeste,
mas que controlas
pelo poder da mente
ou pelos ritmos de
teu próprio coração,
manejas tudo quanto
preside o teu viver
e então – quem sabe?
– seja só impertinente
o que te afirmam, na
maior convicção:
como como eles, também
tu hás de morrer?
SOLIPSISMO INVERSO
III
E mesmo aqui, na
leitura destes versos,
quem sabe cada linha
imaginaste,
que pela força dos
desejos estampaste,
nessa tela digital em
pixels dispersos?
E que te diz que tais
fantasmas tersos
a partir do próprio
peito não ditaste?
Se este poeta para ti
é que inventaste,
sem que possua seus
próprios dons inversos?
E se cada golpe que
te causa o mundo
não imaginas para a
ilusão fortelecer?
Se algo te fere ou
bate, real deverá ser!
E não apenas teu
elocubrar profundo...
Quem sabe? Só sei que posso te aceitar
como essa esfinge que
a mim virá julgar...
DOMÍNIO DO UNIVERSO I – 24 NOV 21
Porém que seja assim não é provável,
que sejas mesmo a criadora de teu mundo;
por mais que seja meu amor por ti profundo,
bem me percebo tangível e tocável...
Mas outro enigma já é mais imponderável:
o tempo é a vaga correria de um segundo,
cada futuro misterioso de ircundo,
todo o passado não mais recuperável.
Resta somente esta nesga do presente,
esta névoa tão clara de um momento,
que tão veloz se esvai para o passado;
somente existe esse incerto intermitente,
em que respiras teu futuro num alento
e logo o expiras, sem tê-lo segurado!
DOMÍNIO DO UNIVERSO II
Não obstante, há o momento da consciência,
que é muito mais do que parece ser:
por velocíssimo que seja o transcorrer,
percebes muito mais nessa imanência,
o derredor que te enrola em insistência,
não só o átimo fugaz que vais perder,
mas os avisos que podes perceber
de teus sentidos em gentil potência.
Pois nesse instante, tens consciência do universo,
de toda a Terra, dos meandros da lembrança,
das punhaladas que te traz o deeneá;
num só momento todo o cosmo ali converso,
tudo englobado em tal fantasma de esperança,
tudo o que existe então a ti pertencerá!
DOMÍNIO DO UNIVERSO III
Contudo ocorre que, com imensa rapidez,
esse momento que é só teu, já não o é,
já foi lançado para trás, para o sopé
das mil lembranças que já não mais vês;
e de um novo universo em plena tês,
após a escolha do fio da nova fé,
da mente e alma abrange plena sé:
que tudo existe em ti somente crês...
Mas ninguém tem qualquer igual percepção:
também os outros se adonam do universo,
preso no instante desse incauto berço;
mas o universo em sua mente e coração
não é o teu, mas sempre algo diverso:
um novo mundo, do qual nada te darão!
Nenhum comentário:
Postar um comentário