domingo, 28 de novembro de 2021


 NORMA TALMADGE, ESTRELA DO CINEMA MUDO

 

ROSA MÍSTICA  I – 19 NOV 2021

Quando a meu mundo assim te conduzi,

cresceste aos poucos, até chegar bem perto

e só então te recebi de peito aberto

e te acolheste ao mistério que te abri;

mas foi o oposto que pareceu a ti,

fui eu que tive o meu tamanho incerto:

cresci dentro de ti, sonho desperto,

foi no teu coração que me acolhi.

E qual dos dois cresceu mais em tal abraço?

Foi em teu coração que me acolhi

ou no meu coração que te abrigaste?

E nesse amor que em versos eu retraço,

no mais cresceu de tudo quanto eu vi,

foi a grandeza do amor que me entregaste.

 

ROSA MÍSTICA  II

Surgiu nos dois uma igual concepção:

engravidei teu coração e engravidaste

o meu quando com o teu me fecundaste,

em cada um acrescendo-se a emoção,

ao mesmo tempo que o mistério da razão

cresceu em mim por tudo o que enviaste,

meu encéfalo duplicado me deixaste,

sem fisicamente aumentar-lhe a dimensão.

Não é qualquer amor que assim transcorre:

sempre é possível a um ventre engravidar

e o ventre oposto por igual se imaginar,

por romantismo que tais almas percorre,

mas não resulta descendência dalma,

nem nesse turbilhão de estranha calma.

 

ROSA MÍSTICA  III

Pois certamente meu coração cresceu

quando uma vez te tomei em acolhimento;

cresceu minhalma em similar portento,

mesmo a razão se em mim fortaleceu.

Porém fico a pensar se recebeu

teu coração semelhante provimento,

por pretensão te dei renascimento,

quando meu peito afinal nada te deu.

Sem dúvida, vem-me de ti a inspiração,

que ainda hoje te retrato nos meus versos,

mesmo os que possam não mais te descrever,

porém suspeito que te dei só uma ilusão,

teus pensamentos não vejo mais dispersos

e há muito tempo já paraste de escrever...

 

LILÁS MÍSTICA I – 20 NOV 2021

Quando a meu lado assim te conduzi

eu pretendia maravilhas te mostrar,

que me pudesses a magia acompanhar

do multiforme imaginar que descrevi,

porém de certo modo eu me perdi

nesse teu mundo de estranho cintilar,

brilho de sombra em ouropel de despertar

e em tal genérico esplendor eu me assumi,

muito mais teu sendo o vago turbilhão,

as minhas angústias em firme mutação,

as tuas mágoas em real perenidade;

e ao te trazer para o meu coração

a mim trouxeste total completação

e sou humilde sem querer ter humildade.

 

LILÁS MÍSTICA II

A meu lado te encontras realmente,

mas quanto vejo de mim dentro de ti?

Teus preconceitos eu nunca dissolvi,

tuas mágoas a conservar integralmente.

O que eu fiz por ti tão diferente

por todo o tempo em que contigo convivi?

O teu abraço diuturno usufruí,

ganhei de ti o meu arcano mais pungente,

mas de algum modo nada pude dar:

nessa minha ânsia de tanto te abrigar,

foi em fato só em ti que me abriguei,

sabendo bem que todo o amor que recebi

foi bem maior que quanto eu concedi:

pensando achar-te, foi a mim que achei.

 

LILÁS MÍSTICA III

Como em lilás corimbos de agapanto,

eu me acolhi no colo da ternura,

pensando em vão servir-te bênção pura,

mas por sorriso lavei teu rosto em pranto,

que não correu, quais lágrimas de santo

que algum crente imagina em sua doçura;

para minhas dores a temporária cura

e a razão toda precípua de meu canto.

Só posso agradecer o que me deste

e lamentar o quão pouco que te dei,

foste a desculpa para as poesias que te faço

e de algum modo sei me compreendeste,

mas teus mistérios eu nunca desvendei,

ao dar-te em versos o fantasma de um abraço.

PUNHALADA I – 21 NOV 21

Quando operei o meu olho direito,

parei de usar a sua lente de contato.

deixei o esquerdo ainda em seu recato,

mas a visão conservou certo defeito;

à perspectiva dupla encontro-me sujeito,

as posições eu erro em desacato:

quer queira, quer não queira, sou cordato,

com outra operação fico menos imperfeito...

Deste modo, já marquei a intervenção,

por alguns dias a suspender a escrita,

e mesmo esta saga suméria tão bonita

terá de esperar sua próxima ocasião:

já nem sei se causo alívio ou uma tristeza,

mas darei incômodo futuro, com certeza!

 

PUNHALADA II

O problema é que, há cerca de três anos,

mancha amarela me surgiu no olho direito;

alguns oftalmólogos não viram qualquer jeito

de descobrir a razão dos meus afanos!

Não se trata de petéquia ou quaisquer danos

que localizem com maquinário tão perfeito

ou algum exame maior não  têm a peito,

para a enxergar com esforços mais insanos...

Então o terceiro, um oftalmocirurgião,

racionalmente chegou à conclusão

que meu problema seria a catarata,

além da velha amiga miopia na ocasião

e nova lente me implantou como se trata,

contudo a lente de mim não desacata!

 

PUNHALADA III

Contudo, a intervenção é irreversível.

Usando a lente só no olho esquerdo

meu grau de acuidade fica lerdo:

só vejo para longe e é impossível

conseguir ler e em nada é exequível

passar a limpo os mil rascunhos que herdo;

e se ponho óculos para enxergar de perto,

o olho operado se torna indisponível;

assim de meu olho essa apunhalação

dentro de alguns breves dias  sofrerei,

sem poder ler ou visar computador

e deste modo vou avisando de antemão

que nem a saga suméria eu poderei

passar a limpo com a mesma devoção!...

 

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