WEHMGERICHT
I – 5 NOV 2021
(Ou o
Verboten Gericht = Tribunal Proibido)
Muito
se fala da Santa Inquisição,
com
seus terríveis interrogatórios,
que
tanto mal fizeram até a simplórios,
que
nada tinham a dizer em confissão.
Sem
dúvida terrível essa organização,
porém
seus métodos de tortura peremptórios
não
eram exclusivos em tão merencórios
séculos
da Baixa Idade Média em duração.
Mesmo
em países de menos crueldade,
tal
como em Portugal, que o Ofício recusava,
a
prática da tortura era coisa bem normal,
ao
menos a chamada Ordinária, na verdade,
causando
dor, mas que ossos não quebrava,
qual
a Extraordinária, já bem menos habitual.
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II
Contudo
os padres que eram torturadores,
tinham
a desculpa, quiçá, da religião,
por
mais sadístico o seu coração
e
outros também praticavam tais horrores.
Nos
século XIV e XV os infelizes estertores
eram
causados por profana obrigação,
muito
temida e sem ter contestação
a
Liga da Corte Sagrada em seus fervores.
Havia
até mesmo uma certa hierarquia:
Anciães,
Juízes, Espiões, Executores
e os
Escrivães, sob as ordens do Conselho;
e
quanto o tribunal secreto resolvia
os
Executores obedeciam a seus autores,
a
invadir lares no realizar de um mal parelho.
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III
A
Corte Vêhmica tinha do Imperador
autoridade
para julgar e executar,
que
raramente se queria incomodar
com
crimes comuns em tal setor.
Em
Dortmund seu poder de julgador,
na
Wesphalia, em que podiam convocar
os
acusados para em porões interrogar:
raro
era aquele que sobrevivia a tal horror.
Ainda
no século Treze começaram,
em
alguns casos indo até o Dezessete,
sendo
inocentes ainda torturados;
por
religião tais não se desculparam,
só
no cível é que seu poder projete,
dos
mais arcaicos direitos projetados.
WEHMGERICHT
IV
Dos Freischöffen o costume derivava,
os
“Juízes Livres “ para tal “Corte Secreta”
ou heimliches Gericht, a qual afeta
um
outro nome que igual os designava.
O
tribunal ainda Stillgericht se
chamava,
o
“Tribunal Silencioso” de cujas gretas
o
medo se espalhava em ondas pretas,
que
a multidão inteira apavorava.
Quando
a Igreja Luterana o proibia,
tal
tribunal secretamente se reunia
à
revelia a ordenar assassinatos,
mas
apesar de tantos desacatos,
no
século dezoito ainda persistia
essa
Liga, que só o tempo extinguiria.
FAREJANDO CARINHOS I – 6 NOV 21
Quando amor possui uma vera solidez
de nada importam os percalços no caminho,
a rispidez é acobertada por carinho,
sofrendo apenas temporária palidez.
Quando amor se gravou em qualquer tês,
por amizade e por afeto, qual espinho
encravado na alma, pequeninho,
sem causar dor, mas permanente em grês.
Então abalos se superam lentamente
e logo cresce uma nova concordância,
sem dar motivos para ampla rachadura
e o anseio antigo se afirma novamente,
talvez com laivo de rancor daquela
instância,
mas conservado em permanência pura.
FAREJANDO CARINHOS II
Pode até se achar subjacente tal rancor,
no despertar de injúrias mais antigas,
mas predominam certezas mais amigas,
que tudo apagam por força do calor.
Que amor não é busca e espera de um favor,
nem a guia constante dos aurigas,
é mais refrão guardado nas cantigas,
que dentro dalma se alojam nesse amor.
Sem que se esperem sempre horas de alegria,
nem sequer horas de concordante apoio,
seres humanos são falhos e cometem
erros profundos em impulsos de folia,
mas amor sabe separar trigo do joio:
e os bons instantes de novo se repetem.
FAREJANDO CARINHOS III
Pois amor mútuo é tal qual mútuo perdão
de qualquer erro do par que se desculpa;
no pior dos casos, se atribui a alguma
tulpa (*)
essas palavras de escárnio e humilhação.
(*) Companheira interna, de bom ou mau
pendor.
Que em tal amor recíproca há aceitação,
mesmo no instante da mágoa de uma culpa,
mas que é abrandada pelo favor que exculpa,
sempre pesando o bem maior em gradação.
Ai, grande amor, que destoa da paixão:
a esposa é como filha; e seu marido
também se torna em parte filho de sua
esposa,
em sentimentos mais gentis que uma emoção,
um dando à outra o quanto lhe é devido
e uma ao outro a demonstrar-se dadivosa...
FAREJANDO SOMBRAS I – 7 NOV 21
Na solitude da vida quotidiana,
há sempre sombra oculta de mulher,
que seu corpo projetou em dia qualquer,
que um dia se quis e inda a alma inflama.
Na melancólica dureza de minha cama,
sem o carinho e companhia que se quer,
braços involvem em um amplexo mistér
esse fantasma que a memória ainda reclama.
Não é preciso sofrer separação,
nem necessário que o amor faleça,
a sombra pode se mover no mesmo lar,
porém seu corpo mostra alheia projeção,
próxima ausência de que jamais se esqueça,
que um beijo antigo não se pode farejar...
FAREJANDO SOMBRAS II
Nenhum ósculo haverá que se repita:
um novo beijo só se encontra no futuro,
de forma alguma será algo de seguro
e o beijo antigo já se prende à longa fita
da lembrança amontoada que se agita:
corre a memória por esse longo furo
da ampulheta por que escorre o tempo duro,
e ainda o presente em desespero grita,
por perceber até que ponto é transitório
e assim o beijo de apenas hora atrás,
que na recordação não se desfaz,
se encontra unido nesse sombrio velório
dos dias de ontem e só a sombra espera
de um beijo novo em tal face ainda sincera.
FAREJANDO SOMBRAS III
Então chegaste e tua sombra projetou-se
contra a parede vazia de meu quarto;
algo ficou de ti, estranho parto:
foi quase um filho que de ti gerou-se.
Depois te foste e a sombra conservou-se,
de um resquício de ti meu sonho farto,
breve retalho teu, cinto de esparto,
em que minha solidão dessedentou-se.
Guardei tua sombra, em pura exaltação,
outro era o gosto e o cheiro do reboco,
circuncidado por essa esguia rede
das próprias fibras de teu coração,
só me restando esse destino louco
de cheirar sombras ao longo da parede...
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