A PASSAGEM DO ESPAÇO I – 3 ABR 22

(Na ilustração, a atriz Debra Paget)

ENTREI NUM MUNDO EM QUE PASSAM OS LUGARES,

EMBORA OS ANOS SEJAM TODOS PERMANENTES;

MIGRAM DE UM PONTO A OUTRO TANTAS GENTES,

SEM JAMAIS TEREM A CONSTÂNCIA DE SEUS LARES

E VÃO PASSANDO ASSIM POR TAIS AZARES,

SEM POR VELHICE SE TORNAREM DEPRIMENTES,

JÁ QUE O TEMPO NÃO EXISTE NESSAS FRENTES,

SOMENTE O ESPAÇO EM PLENITUDE DE VAGARES.

QUE SABE PENSES QUE ASSIM SERIA MELHOR

E QUE SEM TEMPO NÃO HAVERIA MORTE,

MAS A COISA NÃO TRANSCORRE BEM ASSIM,

PORQUE O ESPAÇO É UM PÉSSIMO SENHOR

E EM CADA CORPO VAI CAUSANDO CORTE

E DEFORMADO O CONDUZ ATÉ O FIM.

 

A PASSAGEM DO ESPAÇO II

ALÉM DISSO É INCAUTA A SEGURANÇA,

AO INVÉS DE SE DORMIR NUM SÓ LUGAR,

O MOVIMENTO CONDUZ-NOS SEM CESSAR,

JAMAIS, MESMO NO SONO, SE DESCANSA;

DIFICILMENTE SE FORMA UMA ALIANÇA,

A CADA VEZ QUE ALGUÉM BUSCA PARAR,

SEGUEM OS OUTROS NUM PERENE CAMINHAR,

NO IRREGULAR DOS PRATOS DA BALANÇA,

PORQUE O ESPAÇO NÃO VIBRA POR IGUAL

E SÃO ALGUNS ACUTILADOS MAIS DEPRESSA,

MUDAM OS CORPOS SEM SE MUDAR A FACE,

TAL COMO O TEMPO NOS PASSA DESIGUAL

E O ROSTO SE DESMANCHA, SEM QUE MEÇA

QUANTO A PASSAGEM DO TEMPO SE ESTAMPASSE.

 

A PASSAGEM DO ESPAÇO III

E O QUE SERIA PARA TI MELHOR,

QUANDO TE QUEIXAS DA VISÃO NO ESPELHO,

DE MÊS A MÊS FICANDO O ROSTO VELHO,

ENQUANTO O CORPO AINDA CONSERVA SEU VIGOR,

SÓ LENTAMENTE A PERDER O SEU FRESCOR,

QUE O TEMPO NO SEMBLANTE APLICA O RELHO;

MAS SE O ESPAÇO MOSTRASSE OUTRO CONSELHO

E AOS POUCOS RECORTASSE AO VIAJOR?

FOI UM SONHO, REALMENTE, NÃO ME QUEIXO,

QUE O TEMPO NÃO ME TRATA MUITO MAL –

E SE EU FICASSE PARA TRÁS DIANTE DO ESPAÇO,

UM ÓRGÃO, UM PÉ, SE A PELE EU DEIXO

E NÃO TIVESSE DE MEU UM SÓ PORTAL?

PORTANTO OS ANOS COM SIMPATIA ABRAÇO!

 

A PASSAGEM DO ESPAÇO IV

E JÁ UM POUCO FOSTE CONSIDERAR

QUE ESSE ESPAÇO AOS POUCOS TE ENCOLHESSE?

SE TEU CORPO, EMBORA NÃO ENVELHECESSE,

FOSSE ENCOLHENDO NO ESPAÇO SEM PARAR?

SERIA ALGO DE FATO A LAMENTAR

QUE IGUAL O ROSTO SEMPRE PERMANECESSE,

MAS QUE TEU CORPO AOS POUCOS SE PERDESSE

E A CADA ESPAÇO FOSSE UM POUCO DESGASTAR?

SE ALGUÉM NO ESPAÇO VIVESSE BASTANTE,

JÁ QUE NO TEMPO NÃO IRIA VIVER,

É BEM POSSÍVEL QUE ACABASSE REDUZIDO

ÀS DIMENSÕES DE UMA FOTO NESSE INSTANTE,

FEITO BIDIMENSIONAL E SEM PODER

SEQUER MOVER-SE NO ESPAÇO DECORRIDO!

 

A PASSAGEM DO MAR I – 4 ABR 22

AS MULHERES CANTAVAM JUNTO AO MAR,

BATENDO PALMAS À FORÇA DAS MARÉS,

NAS MARESIAS DEPOSITANDO AS FÉS,

OS SEUS LAMENTOS DISTRIBUINDO PELO AR.

QUANTOS MARIDOS A JAMAIS VOLTAR,

QUANTOS IRMÃOS E FILHOS EM CONVÉS,

QUE AS BUJARRONAS, PORTALÓS E GURUPÉS

NÃO PROTEGIAM QUE PUDESSEM RETORNAR.

E ASSIM CANTAVAM AS MÃES DOS MARINHEIROS

E AS MENINAS POR TEMER PERDER SEUS PAIS,

ENQUANTO IA SE EXPANDINDO PORTUGAL

ATÉ DA TERRA OS CONFINS MAIS DERRADEIROS;

SOMENTE ASSIM ESTE SOLO PISAR VAIS,

EM DETRIMENTO DE TANTO TEMPORAL!

 

A PASSAGEM DO MAR II

HOJE EM DIA SÓ NAUFRAGA RARAMENTE

ALGUMA NAU, CARAVELA OU ALGUM VAPOR,

PORÉM EXISTEM PESCADORES CUJO ARDOR

SERÁ ENFRENTAR ESSE DEUS SEMPRE INCLEMENTE.

E ANTE A PRAIA AINDA EXISTE CERTA GENTE

A FAZER PRECES NA INQUIETAÇÃO MAIOR

SOBRE A FOME DOS PEIXES NESSE ANDOR

QUE EM VEZ DE SANTO, TRANSPORTA ALGUM VALENTE.

MAS CONTINUA DE ANFITRITE A SEDUÇÃO,

A QUEM DÃO HOJE O NOME DE IEMANJÁ

E AINDA OS HOMENS SE ELANÇAM PARA O MAR;

FICAM NA PRAIA EM ABANDONO E ORAÇÃO

AS QUE POSÊIDON PARA SI NÃO CHAMARÁ,

POBRES SEREIAS NA MUDEZ DE SEU CANTAR.

 

A PASSAGEM DO MAR III

HOJE AS PRAIAS SE RECOBREM DE MULHERES

QUASE DESNUDAS, QUE MAIS POSSAM ATRAIR

OU REALMENTE EM SUA NUDEZ A SEDUZIR,

QUE CUMPRAM HOMENS SOBRE A TERRA SEUS DEVERES.

POR QUE NO MAR DESFAZER-SE EM AFAZERES,

QUE HUMANOS OSSOS JÁ PUDERAM RECOBRIR

TODO O LEITO DO MAR, SEM NADA RELUZIR,

CONSUMIDOS POR CRUSTÁCEOS SEUS HAVERES?

NÃO OBSTANTE, ATÉ HOJE LANÇAM FLORES

PARA A DEUSA DO MAR, ESSA ANFITRITE,

QUE NÃO PROCURE NOSSAS PRAIAS INVADIR,

NA INTENÇÃO DE SE ATRAIR NOVOS CULTORES

NUM HOLOCAUSTO QUE SEU MUNDO HABITE,

MAIS QUE POSÊIDON SACRIFÍCIOS A EXIGIR!

 

A PASSAGEM DAS VIDAS I – 5 ABR 22

DENTRE AS MUITAS ASSERÇÕES DO BRAMANISMO

O DEVASHAN É DESCRITO CLARAMENTE,

ESSE ESPAÇO EM QUE A VIDA ESTÁ PENDENTE

NOS INTERVALOS DE SEU RECRIACIONISMO.

NÃO SE ENCONTRA AQUI SALVACIONISMO,

SEM QUE A PALAVRA SE IMOLE PLENAMENTE,

ABRINDO MÃO DE SEU TODO TRANSCENDENTE

PARA HUMANOS PROTEGER DO PRÓPRIO EGOÍSMO.

CONTUDO KRISHNA TAMBÉM SE SACRIFICA

AO ENCARNAR-SE EM CADA UM AVATAR,

PORÉM O FAZ PELA HUMANIDADE INTEIRA;

SUA PERMANÊNCIA DESTE MODO INDICA

QUE NA SANSARA NUNCA CESSEM DE RODAR

ATÉ CUMPRIR-SE SUA ESCOLHA DERRADEIRA.

 

A PASSAGEM DAS VIDAS II

PORÉM ENQUANTO NO SANSARA NOS ACHAMOS,

AO DEVASHAN SEMPRE RETORNAREMOS,

NESSES PERÍODOS EM QUE NADA VIVEREMOS

E QUE TAMPOUCO REAIS MORTOS NOS TORNAMOS.

NO DEVASHAN AOS DEVAS NOS SUBMETEMOS

DURANTE ESSE NÃO-TEMPO QUE ENCONTRAMOS

E PELAS PLAGAS SEM SENTIR VAGAMOS

ATÉ O TEMPO EM QUE REENCARNAREMOS.

NÃO É UM NIRVANA, APENAS UM DESCANSO,

EM QUE NOS PREPARAMOS PARA A VIDA,

MAS É FALSO ESSE REPOUSO ALI CONTIDO

POIS O MUNDO MATERIAL, COM OLHAR MANSO,

AINDA PODEMOS PERCEBER, SEM ACOLHIDA,

NENHUM DOS VIVOS A TER-NOS PERCEBIDO.

 

A PASSAGEM DAS VIDAS III

ALI ESCOLHEMOS QUAL SERÁ NOSSO DESTINO,

QUAL SITUAÇÃO HUMANA VIVEREMOS

E A FORÇA ALGUMA ALI NOS SUBMETEMOS,

QUE APENAS NOS ACONSELHAM O MAIS FINO

OS DHYÂN CHOHAN, MENSAGEIROS DO DIVINO,

DOS DEGRAUS MÚLTIPLOS A QUAL ACEITAREMOS;

NUM VENTRE HUMANO SÓ ENTÃO RETORNAREMOS,

ATÉ ESGOTARMOS NOSSO KARMA PEQUENINO

QUE EM NADA É O QUE COSTUMAM AFIRMAR,

NÃO  SERÁ PRÊMIO, CULPA OU ALGUM CASTIGO,

SOMENTE DE OUTRA ESCOLHA A CONSEQUÊNCIA,

UMA SITUAÇÃO HUMANA A VIVENCIAR,

CUJA ABRANGÊNCIA EM MIM ESTÁ E CONTIGO,

ATÉ SE ENCERRE NOSSA ATUAL CONSCIÊNCIA.

 

A PASSAGEM DAS VIDAS IV

ALI NÃO HÁ UMA REAL FELICIDADE,

É APENAS UMA POUSADA, A PREPARAR

A VIDA NOVA QUE DEVEREMOS ENFRENTAR

E QUE ESCOLHEMOS POR TÃO SÓ LIVRE VONTADE.

POR ISSO, JAMAIS DIGAS, EM IMPIEDADE:

“EU NÃO PEDI PARA NASCER!” – QUE ESSE AFIRMAR

É SÓ UMA FORMA DA OBRIGAÇÃO NEGAR

DE TEU ESPÍRITO PARA COM A HUMANIDADE.

POIS TENS O DHARMA, O DEVER PARA TEUS PARES,

QUE PARTILHARAM DE TUAS PRIMEIRAS SITUAÇÕES

E O QUE TE DERAM, SEMPRE DEVES RETRIBUIR,

QUE OS DEVAS, EM SUAS FACES MILENARES,

SÓ TE ACONSELHAM SEM QUAISQUER OBRIGAÇÕES,

SALVO AQUELAS QUE ESCOLHERES ASSUMIR.