CLEPTOURNAS I – 16 abr 2022
A cada vez que lançares o teu voto,
por uma urna eletrônica engolido,
o teu desejo também será perdido:
mais um imposto no teu bolso roto!
Antigamente, eram votos de papel
e apenas escrevias ou marcavas.
Antes ainda, as cédulas lançavas
de cartolina caixa servia de quartel...
Hoje não basta que os políticos afetem
a falsa honestidade em suas ações,
para espoliar-te de forma bem selvagem...
Mas essas novas urnas te refletem:
tens de tocá-las, para acionar botões,
assim te roubam uma parte de tua imagem!
CLEPTOURNAS II
Não se contentam em tomar parte da imagem,
no reflexo contida e proveniente do solar:
teus próprios dedos podem então copiar,
de forma a formar futura e igual miragem.
Nunca acreditei, sem sombra de visagem,
que esse voto eletrônico pudesse revelar
a verdadeira intenção do teu votar
ou que de fato ele aceite a tua mensagem.
E não somente hoje acredito ser possivel
alguma fraude de cunho eleitoreiro,
como alimento um temor bem mais profundo,
que de algum modo possa fazer algo de incrível:
imprimir em tua mente prazer bem sorrateiro
de votar nesse que antes tinhas por imundo!
CLEPTOURNAS III
Que de algum modo, quando vais tocar
esses botões, então te roubam digitais
e em seu lugar te transmitem algo mais,
qual candidato em que deverás votar.
Assim as tuas opiniões te vão roubar,
mediante toques de aparência naturais:
pelos teus dedos subirão os seu sinais,
tua própria ideia conseguindo transformar.
Ainda que fosse tão só o que se perde!
Mas temos de aceitar furto maior:
que nossa alma se perfure nesse instante
e tudo quanto nossa inteligência herde
seja manchado por esse transmissor,
para tornar-te em seu escravo delirante!
CLEPTOURNAS IV – 17 ABR 22
É bem possivel que, copiada a digital,
possa ser reproduzida mais adiante,
que alguém mais de forma vote bem confiante,
mas não registrem o seu dedo natural,
bem ao contrário, de forma artificial,
tua digital se superponha à dominante,
surja outra vez o mesmo voto delirante
que não querias e para o outro é irreal!
Ou que o oposto ocorra facilmente:
sobrepõem outra à marca de teus dedos
e novamente a fraude tem repetição;
o favorito do golpe, inteiramente,
é abençoado por tais caprichos e segredos
e ao invés de perder, ganha a eleição!
CLEPTOURNAS V
Mas não se pense que acuso esse sistema,
que pode ser funcionalmente honesto,
mas acredito que qualquer mágico – presto!
possa acessá-lo sem demasiada pena.
Continumente, os resultados dessa gema
são demonstrados – dizem – fortes como asbesto
e nada encontram que confirme o gesto
de que algo foi fraudado nessa cena.
Mas é questão de se aferir o procedimento:
em que lugares qualquer artista ‘hackeroso’
consiga introduzir seu ideal maldoso,
pois quantos são os sistemas de portento
que já foram invadidos por ladrões,
algumas vezes tão só por sensações...?
CLEPTOURNAS VI
Mas de outras tantas, por razões de ganho,
mesmo aqueles considerados os mais seguros,
tão controlados por especialistas puros,
que acima se julgam de qualquer amanho,
tanto que governos, já sem maior acanho,
contratar chegam aos atrevidos mais maduros,
para que passem a defender de quaisquer furos
seus muitos dados de um futuro lanho!
Portanto, não me afirmem os doutores
que atacar nosso sistema eleitoral
seja o mesmo que atacar a democracia,
quando, de fato, só expresso meus temores
de que o sistema seja bem mais artificial
que qualquer defensor seu admitir podia!
CLEPTODATAS I -- 18 ABR 22
Espera-se que eu fale,
num soneto,
sobre o Dia das Mães,
já consagrado
por tantas gerações,
desde o passado,
na gratidão forçada em
dom secreto.
Que seja a carne
enfiada num espeto,
para fazer churrasco
para as mães,
segundo dizem prepotentes
capitães,
cujo curso devamos
seguir reto.
Mas ao
darmos presentes, uns bem caros,
a maioria
modestos, nessa hora,
para cumprir o ritual
assim cobrado,
não é o amor que
inspira preitos raros,
nem são as mães
que neles se honra agora,
mas sim o lucro e a
glória do mercado.
CLEPTODATAS II
A vida traz lampejos
de ocasionais lembranças,
nos momentos fugazes,
em que a mente desconecta
por um instante apenas
e logo se intercepta
o manto cortical,
deletando as esperanças.
São borrifos apenas, trazidos
do passado,
que pingam num
segundo, sem razão, sem nada,
e, num piscar de
olhos, tal memória é ejetada,
por mais que deveria
ser vista com cuidado.
Porque essas, afinal,
são memórias uterinas,
trazidas desse meigo,
profundo e escuro asilo,
ou que assim devia
ser, se bem que falhe, às vezes.
Que nem todas
as mães são perfeitas ou divinas:
há mães de toda
espécie e de diverso estilo,
ainda que suportem seu
fardo em nove meses.
CLEPTODATAS III
A sociedade nos rouba,
diariamente,
da independência,
nosso maior pendor;
somos forçado a
desmonstrar calor
ante uma data para nós
indiferente...
Espera-se cumprimento
bem contente,
roubado assim de nós,
com desfavor
e se recebe assim o
aumento desse horror
dos impostos, sem que
retorno se apresente.
Esperam-se de nós
contribuições
para ONGs, igrejas,
outras instituições
e gorjetas nos exigem
os garções,
Por iluminação das
ruas pagamento,
conservação das
calçadas a contento,
breve virá o imposto
sobre as respirações!...
CLEPTODATAS IV
Que já existe em
numerosas cidades,
efeito direto de sua
poluição;
mas não é somente esta
reclamação:
somos cleptados em
mais profundidades.
Nestas datas não só
impõem-nos suas vontades,
mas em nós causam
certa modificação;
quem é roubado de uma
parte da razão
é convencido de suas
necessidades.
E nesse manuseio sobre
as mentes,
algo no fundo vai
sendo deixado
no lugar das que foram
retiradas;
por tais cleptodatas
tão frequentes,
será nosso proceder
condicionado
e até julguemos ser
tais coisas aprovadas.
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