AMOR
SÍNOPLE I – 25 JUL 2022 (*)
(*)
A cor verde em heráldica.
(Rhonda Fleming, Hollywood Golden Age)
Recordo
o título de uma canção que ouvi
de
Country Music, mas que não lembro agora
do
autor da letra ou melodia nesta hora,
simplesmente
há muito tempo que esses vi.
Send me the pillow that you dream on, então eu li:
“Envia-me
o travesseiro” em que demora
a
tua cabeça e em que sonhos teus de outrora
foram
gerados... Essa a razão por que o pedi.
Não
sei se fui em tais sonhos incluído,
mas
realmente isso em nada importa,
são
sonhos teus e guardam teu calor;
sobre
a almofada deitaste o teu ouvido
e
a presença do tecido me conforta,
qualquer
que fosse a razão de teu amor.
AMOR
SÍNOPLE II
Amor
em sendo amor não é egoísta,
porém
tudo quanto é teu ele aprecia,
por
breve fosse o tempo em que te via
por
longo seja em que perdi tua pista.
Nesse
tecido a tua imagem se conquista,
de
certo modo ali entranhada ela estaria
e
o teu perfume junto a ti dormia,
nele
algo de tua mente ainda se avista.
Mas,
por favor, não laves o travesseiro
antes
que te disponhas a me enviar,
quem
sabe a água cause grande estrago
e
essas lembranças de que então me abeiro
desbotadas
já estejam por lavar
e
não partilhem comigo igual afago...
AMOR
SÍNOPLE III
Quiçá
o teu perfume ainda respire,
esse
travo sutil de teus cabelos,
das
faces que beijei em meus desvelos,
das
ilusões de um sonho que ainda gire...
Mas
sobretudo, que minhalma mire
os
sonhos que tiveste, para eu tê-los:
nada
haverá em sua trama que me fire.
Pois
só queria era partilhar tua mente,
por
mais que teu rosto vá distante
e
certamente também nele irei sonhar,
nessa
quimera de que nele estás presente,
que
teu amor para mim seja constante
e
que em teus sonhos de mim possas lembrar.
AMOR
JALDE I – 26 JUL 2022 (*)
(*)
A cor amarela em heráldica.
Alguma
coisa me diz que é a força do destino
que
nunca olhos azuis me olhassem com amor,
castanhos
foram todos que me amaram com fervor,
seu
brilho o peito a percutir-me como um sino,
que
nele despertasse meus sonhos de menino,
que
relembrasse da infância algum calor,
tudo
esse tempo já olvidado e sem valor,
submetido
ao peneirar mais fino.
Certo
é que amei a olhos de outra cor
e
que até mesmo me tenham acalentado,
mas
nunca o amor foi neles revelado,
sem
na verdade, provocarem qualquer dor,
quando
esse olhar castanho é conquistado,
mas
de meus olhos torna-se o senhor.
AMOR
JALDE II
Talvez
qualquer psicóloga comente
que
eram castanhos de minha mãe os olhos,
recordando-me
avelãs em seus refolhos
e
por isso um olhar azul me descontente;
mas
olhos verdes também espreitei frequente
e
até mesmo naufraguei nos seus escolhos,
suas
lágrimas a me cobrir de santos óleos,
mas
tal amor nunca mostrou-se diligente.
Na
verdade, explica-me a ciência
que
toda íris contém só melanina,
toda
castanha em sua pura natureza
e
que olhar azul, com toda a sua potência
é
só uma disposição que ao frio se afina,
por
mais que os grânulos componham sua beleza.
AMOR
JALDE III
Na
verdade, mesmo a bela borboleta,
que
em Castro Alves “zunia azuis as asas”,
se
em microscópio a sua visão embasas,
mostra
vermelha sua composição secreta;
porém
olhar azul que o olhar afeta,
que
em minhas próprias íris fez suas casas,
sobre
minhalma realizou suas vazas,
por
longo tempo na quimera mais dileta...
Mas
nada resultou dessa intenção,
era
só meu o amor que se irradiava
e
o olhar azul somente me avaliava,
depois
focado em nova direção;
foram
castanhos os olhos que me amaram,
doces
espelhos que jamais me desprezaram.
AMOR
GOLES I – 27 JUL 2022 (*)
(*)
A cor encarnada em heráldica.
Paixão
existe mais forte que corrente,
a
qual por nós escorre em turbilhão;
é
muito mais que uma simples emoção
que
de repente no coração se assente;
que
o assentamento nos chega de repente,
a
dominar a carne inteira em ilusão,
amor
torrente em sua firme brotação,
que
então nas veias escorre complacente.
Amor
existe assim e busca-se esperar
que
seja mais que a corrente caudalosa,
que
por nós não passe e siga adiante;
a
gente quer essa torrente segurar,
mais
do que água é o sangue de uma rosa,
que
de surpresa todo o peito encante.
AMOR
GOLES II
O
problema é que uma rápida paixão
depressa
flui, por sua própria natureza,
por
mais que seja a visão de tal beleza,
por
mais que nos atinja a comoção,
esse
amor logo se perde em combustão,
quente
demais para nos trazer firmeza,
por
demais avassalador em sua certeza,
nunca
se deixa prender em nossa mão.
É
amor de água e não do coração,
um
amor adolescente que se esvai,
sem
nos deixar de si sequer um ai,
amor
levado pelas águas que lá vão,
toda
torrente a descer por seu caminho,
mais
um castigo de fato que um carinho.
AMOR
GOLES III
Mas
enquanto em nós está é onipresente,
cada
fibra, cada célula invadida,
uma
infecção que não pode ser vencida,
o
antibiótico da paixão é inexistente,
inflamação
a dominar-nos cegamente,
a
mente inteira adormecida para a vida,
por
transitória essa paixão de breve lida,
mas
imortal, eterna e onipotente.
Mas
quando cessa, deixando só um vazio,
esguio
fantasma a nos acompanhar,
por
entre nuvens de algodão nosso marchar,
essa
paixão que corre como um rio,
em
cuja margem ficamos, sem pensar
que
nova chegue que nos possa dominar.
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