A REDENÇÃO PELO PECADO I -- 9 OUT 2017
Segundo afirmam, o monge Rasputin
descria do Pecado Original,
certeira, a salvação espiritual
só pela Graça se alcançaria assim.
Mas sem haver um pecado carmesim,
não haveria da Graça o bom caudal;
era preciso dar-lhe forma material
para alcançar de Deus tal Graça, enfim.
O monge russo assim interpretou
de Paulo Epístolas no Novo Testamento:
sem ter pecado que a Graça não se achasse!
E às seguidoras então recomendou
que acumulassem até o arrependimento
esse tesouro em que o pecado se tornasse!
A REDENÇÃO PELO PECADO II
Era contrário a seu temperamento
de a seu próximo qualquer coisa furtar
e sem motivo não poderia matar,
contra a mentira sentindo impedimento.
Como vivia no mais total comedimento,
não estava em sua natureza cobiçar,
sendo um bom russo, a mãe iria respeitar
a seu pai obedecendo em algum momento.
Em um só Deus ele cria realmente,
sem adorar imagens de escultura
e sem de Bog
tomar o Nome em vão! (*)
(*) "Deus", em russo.
Para pecar, o que fazer, então?
De um mandamento apenas a ordem pura:
dedicando-se a infringi-lo com paixão!
A REDENÇÃO PELO
PECADO III
Sobrava assim
tão só um julgamento,
o "Não
Adulterarás", ou seja, o sexo
fora do
matrimônio, cujo nexo
aceitaria sem
maior impedimento...
Com as
discípulas praticava a bom contento
a velha arte do
amoroso amplexo,
que na verdade
nada tinha de complexo:
tantos praticam
sem precisar de tal assento!
E convenhamos
ser bastante conveniente
acumular-se uma
dívida com a Graça
tanto mais vezes
quando mais se abraça!
Mas com os
homens ele era indiferente:
o que apreciava
mesmo era a mulher,
sempre com elas
mais Graça a requerer!
A REDENÇÃO PELO
PECADO IV
Qual Rasputin,
existe tanta gente
que destarte
justifica o seu desejo
de gozar com
frequência de algum beijo,
sem compromisso
qualquer com a lei vigente!
Mas poucos têm
um porte assim valente
e muitas vezes
deparam mau ensejo,
que algum marido
irá cobrar seu pejo,
provocado pela
ação desse insolente!
Não é preciso
haver pecado original
e nem ao menos
quebrar os Mandamentos
para que o
Espírito sobre nós derrame a Graça!
Porém em nós há
a tendência natural
de condenar-nos
pelos próprios julgamentos,
na amarga culpa
que o peito nos perpassa!
A REDENÇÃO PELO PECADO V
No extremo oposto estão os confessores,
que passam garimpando algum pecado
para depois absolver o confessado
que antes nele nem notara tais pendores!
Mas de seus púlpitos espalham os terrores
de um inferno de sofrer atribulado,
de um purgatório que deva ser atravessado
antes que o Cristo distribua Seus favores!
Foi tal doutrina que conduziu às indulgências,
comprada assim alguma salvação,
bastando para isso a excelsa mão
de sacerdotes flexíveis de consciências,
com o pretexto de dispor de algum tesouro
para perdoar Cristão, Judeu ou Mouro!...
A REDENÇÃO PELO PECADO Vi
E ainda existem os místicos sinceros
que se atormentam em cilício e no jejum,
em suas consciências encontrando sempre um
pecado a expiar em gestos feros!...
Alguns deles se demonstram muito austeros
e realmente se convencem ter algum
pecadilho de orgulho; e, sem nenhum,
cobram de si os menores lero-leros!...
Mas nisso tudo contrariam as Escrituras,
que nos declaram somente haver um sacrifício,
pelo qual sobre os humanos desce a Graça;
basta aceitar essa doutrina sem pirraça,
sem penitência para o próprio benefício,
de São Paulo a seguir doutrinas puras!
ESVAIMENTO I -- 30/3/2006
eu vi Teu vulto a se escoar aos poucos,
iluminado em forma intermitente
por luz que se filtrava; indiferente
fulgor, que a meu olhar ouvidos moucos
fazia, enquanto a sombra de alguns tocos
de árvores cruéis, malevolente,
recobria Teu busto, competente
e Teus quadris somente esgares loucos
podiam divisar... até o instante
em que Te foste enfim e, de meu peito,
saiu largo suspiro temerário,
daquela queixa o arauto palpitante:
por que dormes sozinha no Teu leito,
enquanto eu durmo em leito solitário?...
ESVAIMENTO II -- 10 OUT 2017
que infausta coisa é Teu afastamento!
Tu que já foste tão grande para mim,
ir encolhendo, a diminuir, enfim,
guardada a proporção de meu lamento...
que estranha coisa o calmo movimento,
em que Teus braços, aroma de jasmim,
foram girando e Teus quadris, assim,
um pouco a balançar em manso alento...
e vais ficando cada vez menor,
ainda que sempre guardada a proporção,
só meu lamento é que nunca diminui!
perdida toda a proporção, se faz maior,
de Tua longa ausência em expectação,
enquanto toda a esperança ao redor rui!...
ESVAIMENTO III
posso afirmar tão só que, enquanto vejo
Teu corpo diminuindo até sumir,
contigo a transportar todo o desejo
para a incerteza que não há de diminuir,
dentro da mente não se pode diluir
reminiscência sutil de um simples beijo,
expandido, em solidão a se imiscuir,
loucamente a reviver o antigo ensejo.
vais-Te escoando ao longo da calçada
e quando esperava Te ver, mesmo pequena,
sem ter mais pena, dobras uma esquina,
minha visão a tornar despedaçada,
na amargurada coesão da mágoa extrema,
pois mesmo a sombra nos ladrilhos já se fina...
ESVAIMENTO IV
não sei dizer se Te percebo qual menina
ou no constante suspeitar de um manequim,
se nem a sombra mais acena para mim
e só imagino o vago odor que me fascina.
como lamento não seguir parelha sina,
casca de amor em botões de gergelim,
casas rasgando das veias no jardim:
para fechá-las eu corro e dobro a esquina...
e Te persigo, mas não mais estás na rua,
entraste em alguma porta e não me vês,
em minhas pupilas Te concebo toda nua,
mas é somente um vulto esquivo de fumaça,
sem que outro beijo solitário ainda me dês,
rude fantasma, que me assassina e passa!
SINGULARIDADE I -- 31/3/2006
Sempre uma sorte de amor,
Porém nunca amor sem sorte,
Pequeno ardor sem fragor,
Porém vasto ardor de porte,
Amor de ardor de valor,
Lançado em árduo reporte,
Singelo em seu destemor,
Audaz em seu vasto esporte
De compreensão só mental,
De afago ter racional
Amigo amor nesta hora
Gera espanto e exultação,
Na espera da avaliação
De quanto amor nos devora.
SINGULARIDADE II -- 11 out 17
Amor brisa tão ligeira,
Em umidade no ar,
Costura tão singular
Quando do peito se abeira
Fechando a ferida inteira,
Mas permanente a ficar,
Passageiro a se escoar
Nessa ausência verdadeira
Doce amor que a mente rói
E ocupa o espaço vago,
Amor que nos olhos trago,
Amor que em meus ossos dói,
Que ocupa veia e tutano,
Fraturar de cada ano.
SINGULARIDADE III
Amor sendo singular
Quando plural se queria,
Amor sentido imortal,
Quando morto se fazia.
Amor doce que iludia
Em redondilha fetal,
Que em poema se dizia,
Eivado de bem e mal.
Amor de um amor sem sorte,
Mas que sorte sempre o é,
Por mais se julgue ser má.
Melhor amor ter que a morte,
Morta sorte sendo até
O amor que comigo está.
SINGULARIDADE IV
Amor que não se perdia,
Que não surge nunca mais,
Amor feito de jamais,
Em dourada nostalgia...
Amor da melancolia
De sonhos feitos carnais
Em mil ausências mortais
De um parto que não viria...
Amor singularidade,
Tal qual explode universo,
Até hoje a se expandir,
Esse amor sem caridade
Que se acorda no meu verso
E depois não vai dormir.
CONGREGAÇÃO I -
Wm. Lagos, 21 OUT 03
Se duvidas de
Deus, contempla as flores:
Elas existem,
belas e concretas.
Não precisam de
ti, pois são completas,
Nem compartilham
tuas fomes, teus temores.
Se duvidas de
Deus, contempla as flores:
Elas existem,
meigas e perfeitas,
Mas não escutam
tuas preces contrafeitas
Nem se comovem ao
peso de tuas dores.
Elas existem, em
plena natureza,
Perfumam teu
olfato, com certeza
Agradam teu olhar
e até murmuram
Ao farfalhar do
vento; até pensas, para ti...
No pensamento e
coração perduram.
Elas existem...
mas vivem para si.
CONGREGAÇÃO
II -- 12 OUT 17
Se
duvidas de Deus, pensa em estrelas,
Na
plenitude da luz sempre invisíveis,
Na
escuridão a se mostrar inexauríveis:
Para
o mundo do vazio abrem janelas...
Se
duvidas de Deus, pensa em donzelas,
Convertidas
por amores indizíveis
Nessas
purezas de prata, imperecíveis:
Nesse
manto da noite as mil fivelas...
Elas
existem, por mais que a luz da Lua
As
possa esmaecer durante a noite
E
que a canícula, em todo o seu açoite
Não
te permita vê-las de tua rua,
Mas
ainda brilham nos seus mil cantinhos,
Porém
não brilham para os teus caminhos.
CONGREGAÇÃO
III
Se
duvidas de Deus, pensa no espaço,
O
qual percorres, porém sem poder vê-lo,
Somente
o vento aliciando o teu desvelo
E
até imaginas receber dele um abraço.
Se
duvidas de Deus, contempla o passo
Do
zéfiro nas moitas, pelo gelo,
A sacudir
sem ter mãos, com forte zelo,
Mil
folhas farfalhando em peri passo... (*)
(*) Simultâneas.
Que
todo o espaço percorres sem o ver,
Mas
consegues duvidar que exista o ar?
E
como podes percorrê-lo sem o ver?
Ou
quando alguém se aproxime, a bom correr,
A
sua minúscula aragem a agitar...?
O
espaço existe, sem ser teu para o prender...
CONGREGAÇÃO IV
Se duvidas de
Deus, pensa no amor,
Essa bênção total,
mas intangível,
Pelas palmas de
tuas mãos nunca preensível;
Sentes no peito
tão só algum calor.
Se duvidas de
Deus, lembra da dor,
Que dentro ao
coração é inatingivel,
Por mais que
queiras descartar essa insensível,
Mesmo que afirmes
ter só hormonal valor.
Existirá algo tão
certo mas abstrato
Como esse amor de
força tão total
Que já habitou em teus
antepassados?
Que amor existe,
vibrante e sem recato,
Mas não o tocas,
nem Deus vês, afinal,
Transformado teu
futuro em mil passados.
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