domingo, 21 de maio de 2023

 


 

AS TRÊS MANTILHAS XIII – 11 outubro 2022

 

“Não estou mentindo.  Não quero o seu castelo,

só vim aqui para conseguir uma corrente.”

“Não obstante, conosco irá partir

e o levaremos, coisa alguma a protegê-lo!

Nem a imagem tricéfala de seu pescoço rente!”

Milovan teve a impressão de estar ainda a dormir,

mas de repente se encontrou em um prado,

frente à frente a um carneiro de pelo bem dourado!

“Também tu vieste me assaltar?

Queres roubar o meu velo de ouro!

Matei teu pai e te matarei também!”

Sem com a fala do carneiro se assombrar,

Milovan segurou firme o seu tesouro,

o amuleto em que tanta confiança tem:

“Estás enganado, meu pai está bem vivo

e em seu trabalho é forte e bem ativo!”

“Você é filho do rei de Bielograd!

Ele veio me roubar e eu o matei!...”

“Não, meu pai é Vsevolod, um camponês,

nenhum de nós te fez qualquer maldade,

no seu castelo apenas me abriguei;

o grão-vizir do rei é que me fez

aparecer aqui no meio da campina

e sequer temo essa tua fúria assassina!”

“Mas que fazia você nesse castelo?”

“Só vim pedir um favor para a princesa,

que me desse de presente uma corrente.”

O carneiro o contemplou com grande zelo:

“Você responde com real presteza,

por que então se encontra na minha frente?”

“Eu já lhe disse que apenas me trouxeram

E nenhuma explicação então me deram!”

“Salvo que sobre o castelo há maldição...”

“É bem verdade: eu mesmo é que a lancei.

Você não é da princesa um pretendente?”

“De forma alguma, ainda que os olhos dela são

de tal beleza que por ela me encantei,

mas sou apenas um camponês pobre e inocente

de qualquer pretensão por conquistá-la...”

“Mas o temor de mim não o avassala...”

 

AS TRÊS MANTILHAS XIV – 12 outubro 2022

 

“E no seu caso, a maldição suspenderei,

visto que vejo que de fato és inocente...”

E com um balido, no ar o levantou;

Milovan viu-se libertado de sua grei

e pelos ares viajou rapidamente,

até que de novo sobre o leito se encontrou.

Que coisa estranha conhecer esse carneiro!

Mas os olhos fechou e adormeceu ligeiro.

No outro dia, quando alguém a porta abriu,

notou que ainda estava perfeitamente adormecido

e o mordomo retirou-se, satisfeito

com a boa notícia que à sua ama transmitiu.

Foi o rapaz novamente conduzido 

até o salão, em que encontrou já feito

seu desjejum, que tomou com a princesa,

que mais ainda o tratou com gentileza.

“Já duas vezes a maldição enfrentaste

e te agradeço muito profusamente;

toma este cofre que contém o que pediste

e uma espada e escudo ainda ganhaste,

monta a cavalo e vai para a tua gente.”

“Irei, princesa, mas confesso que estou triste,

de sua presença sinto já saudade,

mais que a beleza, me seduz tanta bondade!”

De sua palavra nem um instante duvidou

e quando finalmente à casa retornou,

os dois irmãos zombaram dele alegremente:

“Vejam só como o atrasado enfim veio chegar!

E os seus grossos grilhões onde carregou?

Trouxe um escudo e espada, mas e a corrente?”

“Está aqui”, respondeu confiadamente.

“Senhor meu pai, aqui está o meu presente!”

Com desconfiança, Vsevolod o cofre abriu

e realmente, havia uma corrente ali enrolada,

não de ferro e nem de bronze, mas de ouro.

E em direção à casa a conduziu,

sete voltas completando ao ser ali experimentada,

os dois irmãos invejosos em desdouro.

“Certamente, é você o vencedor,

a disputa se decidiu em seu favor!

 

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