PIEROMA (Plenitude) I – 29 abril 2023
(Josephine Baker, bailarina franco-americana)
Ouço dizer que amor desarma a alma,
também que amor refaz eras de paz,
que todo amor é causado pelo karma.
Até é agradável pensar que assim se faz,
embora amor se envolva mais em dharma
e tenha mesmo provocado guerras más.
De fato, pelo amor de uma mulher
(ou pelo menos qual relata Homero),
que em sua épica Ilíada assim nos quer
fazer crer que fosse o amor motivo mero
de um juramento em que se faz mister
cumprir promessa feita em desespero,
surgindo a guerra que nos foi documentada,
através dos milênios desta história,
pelo mundo ocidental já consagrada,
consoante sua poesia em pura glória,
por mais que outra razão fosse ocultada,
por sua ambição e por sua honra transitória...
PIEROMA II
O fato é, que através
da história,
a despeito de seu véu
do romantismo,
bem mais que ouro,
amor foi causa inglória,
envolvido em ciúme ou
puro egoísmo,
disfarçado de paixão,
luta e vitória,
provocado muito mais
por narcisismo.
Amor, mais do que
tudo, é amor de si,
uma ânsia de se ter,
por se possuir,
que amor nos traga paz
eu nunca cri,
que amor desarme a
arma me faz rir,
amor é a forte arma
que provém de ti,
mulher que agora lês o
meu sentir.
Enquanto fores bela e
atraente,
dessas formas
secretas, que ninguém,
sequer o amante
percebe totalmente,
esse amor que suscitas
em alguém
será motivo para luta
permanente
e como dominá-lo,
sabes bem!...
PIEROMA III
Pois de fato, somente
amor desarma
ao homem que o
experimenta, enquanto tem
entre seus braços a
força desse karma,
mas quando o perde, se
arma muito bem,
por falsa honra ou por
despeito se rearma,
por não querer que o
substituam por nínguém.
E enquanto amor só
acena em sedução,
mas permanece em um
corpo insatisfeito,
o que pode armar mais
que uma paixão?
Amor nunca nos traz a
paz ao peito,
bem ao contrário, só
nos traz exaltação,
o próprio orgasmo só
traz a paz no leito.
Mas é somente pot
instantes, nunca mais,
que sensações
conflitantes nos provoca,
mesmo o amor
satisfeito até demais,
que para a paz
certamente não se toca
e desarmar-nos é uma
coisa que jamais
pode fazer quanto a
paixão invoca.
PIEROMA IV – 30
abril 2023
Enquanto busca
conquistar seus fins,
amor é um sentimento
“despiadoso”,
como nos diria
Camões, em versos afins,
que pacifico não é,
nem generoso:
amor paixão provém
bem mais dos rins
do que de um coração
dito amoroso.
Contudo, é
necessário compreender
qual é a espécie de
amor que se entendeu,
quando pacífico se o
queria pretender,
que é metamorfo
amor, bem mais do que eu,
amor sacrificial que
nos leva até a morrer,
amor de altruísmo,
por que tudo se perdeu?
Existe amor da
matéria e da riqueza,
amor da pátria, amor
que surpreendeu
por sacrifício, em
toda a sua nobreza
e existe amor que
mais amor te deu,
que em nada foi
egoísta, com certeza,
que ao amor próprio
em nada enalteceu.
PIEROMA V
Mas tampouco esse amor de nostalgia
nos poderá trazer a paz, só a aquiescência,
igual que o amor descrito em elegia
sobre uma sepultura em decadência,
esse amor triste que o romantismo descrevia,
ao impossível prometer plena obediência.
Mil facetas tem amor, qual metamorfo,
amor à glória, à arte, à religião,
amor do que se houve com esforço,
amor do que nos veio em dotação,
amor do fardo que se transporta ao dorso,
amor independente, amor de escravidão,
amor paterno por sua descendência,
em que se enxerga, às vezes, o retrato
ou a parcial garantia da sobrevivência,
sem encontrar-se a plenitude em pleno ato,
pelo menos em uma certa equivalência,
dessa imortalidade genética em recato.
PIEROMA VI
E qual amor nos poderia trazer paz
dentre essa gama universal de amores?
O amor materno satisfação compraz,
sentindo a mãe justificadas quantas dores,
nesse bebê que entre os braços traz,
na completude dos biológicos pendores.
Mas afirmar que lhe trouxe paz um filho?
Na realidade, só lhe traz preocupação,
que irá durar ao longo de seu trilho,
até a pancada terminal do coração
e desarmar-se pela força desse brilho
jamais ocorre ao longo dessa união.
Bem ao contrário, fará o que puder
para afastar os outros do caminho
dessa cria que ama e tanto quer
ou por ciúme, há de correr do ninho
a intromissão de qualquer outra mulher,
no atrevimento de roubar-lhe seu carinho.
PIEROMA VII -- 1º maio 2023
E trouxe paz de fato
o amor a Deus?
Traz segurança,
talvez, para teus medos,
mas nunca trouxe
qualquer paz para os Judeus;
que é logo
transformado, sem segredos,
no amor da Igreja
pelos servos seus,
que os dogmas mais
incríveis aceitam quedos
e entra logo em jogo
essa ambição
de o mundo todo
converter à mesma ideia,
quando o massacre
vale mais que a conversão
ou pelo lado oposto
da odisseia,
o impulso de subir
pela ambição
os degraus da
hierarquia em epopeia.
Pois quantos “santos”
souberam derramar
o sangue dos hereges
na discórdia,
na plenitude da
adoração ao seu altar,
queimando os
protestantes em concórdia
por que do inferno
os pudessem libertar,
no que afirmavam ser
tão só misericórdia?
PIEROMA VIII
E que diremos então do pátrio amor
que tantas guerras incitou abertamente,
qual a paz que se encontra em tal pendor,
qual o desarme de tal paixão ingente,
só traz a paz da tumba sem calor,
para os maiores patriotas tão frequente...
e que dizer do amor pelo idealismo
de uma nobre causa, o amor ao povo,
o amor fascista, o amor do comunismo,
amor fremente por um profeta novo,
na eclosão esplendorosa do nazismo,
que pregava destruir para um renovo
da humanidade, em seu sonho de ferro?
Dizia Schopenhauer que o orgulho nacional,
pregado por alguém em ardente berro
só demonstrava não possuir nada, afinal
do que a vaidade de seu próprio enterro,
entre as migalhas de seu arcano ideal.
PIEROMA IX
Pois esse amor que enfim se compartilha,
com quem se inflama por igual teor,
pouco sobra afinal na própria trilha,
que deveria recobrir com mais amor,
por mais que o patriotismo se perfilha,
deixando à pátria uma herança de valor.
E que dizer dessa gente que ama tanto
e até se mata em razão de futebol
e se comove na plenitude desse canto
de uma torcida inflamando qual farol
aos jogadores, tal e qual cálido manto,
antecipando o orgasmo desse gol?
Mas que catarse seja é incontestável,
porém desarma alguém em tal pendor?
Bem ao contrário, se torna inabalável
esse entusiasmo tão avassalador,
em resultado que possa ser irreparável,
tão somente pela força desse ardor.
PIEROMA X
Voltando assim ao amor tão misterioso,
em mil facetas metamorfoseado,
só me atenho ao de todos mais formoso,
esse amor pelas coisas do passado,
a quanto pereceu, ao amor ruinoso,
pelo espírito afinal do ultrapassado
ou pelo amor de um futuro inalcançado,
mas que é o destino de minha humanidade,
uma só raça de teor diversificado,
à qual me apego, sem qualquer vaidade,
na plenitude de todo o seu pecado,
a que chamamos de desumanidade.
O amor egoísta que o mundo conquistou,
não pela força, pelo poder da mente,
que sempre algures se estabilizou
fez rebrotar a arte, com frequente
amor pelo que foi e se findou,
na plenitude de se mostrar impermanente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário