HASTES DE MUSGO XIII – 15 MAIO 2023
(Cyd Charisse, Hollywood Golden Age)
Mas no momento só eu percorro as trilhas,
quando se entrega em pleno turbilhão,
sua carne mais magia que paixão,
imenso é o mar na abordagem dessas ilhas,
nas tempestades de sua memória as filhas,
nessas cem vagas de sonhos e ilusão,
nesse estremunho a inusitar o coração,
ambos bebendo o licor das mesmas bilhas.
Nada mais fica para a imaginação,
tu és comigo qual nuvem esplendorosa,
cada acendalha nova haste me prendendo,
muito mais que tão somente o coração,
com seus espinhos penetra em mim sua rosa,
nessas mil hastes em que vou desfalecendo!
HASTES DE MUSGO XIV
E quando entre tuas pernas e teus braços,
nessa primeva e seminal nudez,
enquanto amor se faz e amor se fez,
o musgo sobe na pira dos abraços
e eu vejo musgo na escuridão dos traços
e beijo o musgo em plena maciez,
enquanto ambas as bocas tu me dês,
essa que beija e a que comprime os laços.
Inalo o musgo ao perpassar de cada seio,
percorro o musgo nas axilas e pescoço,
nessas mil hastes que saem de teus cabelos
e existe musgo nos cantos de permeio,
existe musgo nessa carne em que me roço,
hastes sem fim em todos teus desvelos
HASTES DE MUSGO XV
Eu rego o musgo que brota em cada rego,
com sêmen de cristal e fogo brando:
eu me esgoto a regar e mesmo quando
tudo
eu desgasto na vastidão que lego,
nessa firmeza com que teu ventre pego,
em outra dose de amor e vou arando,
de teu útero as trompas fecundando,
nesse desejo que me torna cego.
Mas tudo tem seu fim e finalmente
já não posso outro começo começar,
mas nada impede de o carinho festejar,
que nunca tive depressão após-coital
e é nas carícias posteriores, afinal,
que bebo o teu amor completamente.
HASTES DE MUSGO XVI – 16 MAIO 2023
Depois, enquanto dormes abraçada,
tua cabeça em meu ombro, satisfeita,
só me resta pensar em outra feita
que o destino me tenha reservada,
sem qualquer consumação mais apressada,
dedos nos dedos, em comunhão perfeita;
no travesseiro a sua cabeça deita,
de meu ombro essa dormência já aliviada.
Esses cabelos de musgo rebelados,
essa entrega total da intimidade,
em que não sente obrigação de se pentear
e no meio de seus cílios mal cerrados
eu vejo os olhos, nessa fugacidade
que revela o teu momento de sonhar.
HASTES DE MUSGO XVII
Fico a pensar se sonhará comigo,
ou se deixou-se abraçar por um fantasma,
por uma sístole meu coração se pasma,
logo a diástole a afastar o inimigo;
o pensamento, porém, encontra abrigo:
será no instante em que comigo orgasma
que sua mente não acolhe esse miasma
de antigo amor que ainda traz consigo?
Será que lembra abraços do passado
ou tais abraços que quis e que não teve?
Será que a prontidão com que se entrega,
seu corpo no meu corpo enovelado,
não denuncia outros corpos com que esteve,
até quando a si mesma o sonho nega?
HASTES DE MUSGO XVIII
Depois, que importa, se o momento é nosso,
por que razão ciúmes ter de um sonho?
E no entretanto, o coração bisonho
ainda se arrenega e o controlar não posso..
Mas tal insegurança eu não endosso,
eu mesmo sei que em meu viver tacanho
a mente fervilhou-me em igual tamanho...
Porém se o dela troca o nosso pelo vosso?
Mas novamente, que importância tem,
se no passado beijei os meus fantasmas,
na pretensão de outras companheiras
a me excitar para o sexo também
e já olvidei a maioria dos miasmas
que me levaram a ejaculações certeiras?
HASTES DE MUSGO XIX – 17 MAIO 2023
Contudo, a ideia sobe e desta vez
não me desperta mais qualquer rancor,
do musgo eu sinto de novo o perfumor,
hastes erguidas em madeixas cor de grês...
E já percorro de novo a sua nudez,
ao longo de sua espinha o meu calor,
até as nádegas em todo o seu primor,
voltadas para mim com altivez
e então os dedos se insinuam lentamente,
em sombra de carícia, até o tesouro
e vejo então que para de sonhar...
E se move contra mim, dolentemente,
a contemplar-me sem qualquer desdouro,
em sua lascívia novamente a me abraçar...
HASTES DE MUSGO XX
Mais que desejo, eu sinto gratidão
por esta dádiva de novo renovada,
em sua entrega firmemente enrodilhada,
cada beijo qual diamante de paixão
e então vejo, de permeio à exultação
como se arqueia contra mim, alçada:
é toda carne, inteira despertada,
sem qualquer sonho ou sombra de ilusão...
Se algum fantasma relembrou, foi afastado,
nessa súmula do orgasmo material
e limpo a mente do rosnado de minhas feras,
enquanto o ventre de novo é penetrado,
qual da primeira vez, pois afinal,
nele consumo todas minhas quimeras!
HASTES DE MUSGO XXI
Depois... saliva que aos poucos se mistura
nessa gentil inversão de posições,
com doces líquidos de outras condições,
boca na carne, na carne a boca pura!
E essa saga do clitóris me assegura,
na odisseia em que jorro borbotões,
nessa certeza desnuda de ilusões,
que a sinto minha e sou dela com ternura.
De onde brotou aflito esse desejo,
a superar quaisquer quimeras de poesia
e por que ora se renova em turbilhão
não saberei dizer, nem qual ensejo
hastes de musgo então produziria
a me crescer por todo o coração!
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