quarta-feira, 10 de maio de 2023


 

 

ALTERNÂNCIA I – 5 maio 2022

(Patricia Neal)

 

Se quiseres definir maturidade,

talvez seja a certeza de tua morte,

talvez conformidade com essa sorte,

que a todos chega, em velha ou tenra idade.

 

E para ao invés definir puerilidade,

talvez indique sentimento de outro porte,

de quem se arrisca, sem temer o corte,

em sua ilusão de invulnerabilidade.

 

Sobretudo, é preciso a aceitação,

sem revolta e a um só tempo com certeza

de que o destino a todos nós atinge,

 

sem ter por nós qualquer comiseração,

reconhecendo que possui em sua beleza

todas as fitas com que o fado nos cinge!...

 

ALTERNÂNCIA II

 

Contudo, urdefesas nos permaneceram,

cada um tem a transcendência que merece;

a grande maioria escolhe a prece,

quaisquer que sejam os deuses em que creram,

 

enquanto há outros que à ciência se entregaram,

na alopatia a buscar um bem que desce

e se espalha pelo corpo e mesmo favorece

as precauções com que se acostumaram,

 

nessa ilusão de imortalidade

que os leve ao futuro com frequência,

pela extensão do alimento natural

 

enquanto negam em estulticidade

os alimentos conservados em sua essência,

sem as impurezas do mundo vegetal.

 

ALTERNÂNCIA III

 

Mas onde entram as questões de bem e mal,

é mais fácil acreditar em mecanicismo

que expliquem os paradoxos, afinal

de um deus que crie o mundo com o sadismo

 

de um gato exercido em sua total

crueldade para um rato, enquanto o idealismo

tem de enfrentar os fatos e a banal

renovação diária de todo o humano egoísmo.

 

E então se afirma que um deus onipotente

não pode ser também benevolente,

mas que se for benévolo, é impotente

 

e que apenas um poder malevolente

poderia criar um ser humano eterno

pelo prazer de vê-lo arder em seu inferno!

 

DESCONFIANÇA I – 6 MAIO 2023

 

Uma coisa é se crer na vida eterna

e bem outra no eterno sofrimento,

descendo ao Hades após sofrer o julgamento

que à permanência a libertação se alterna.

 

Mas a mansão dos mortos tão superna,

para os Gregos, era um lugar de esquecimento,

o asfódelo para os mortos alimento,

bem raro aquele que ao Tártaro se aderna.

 

Porém São Paulo declarou, bem firmemente,

que a Lei Antiga não se aplicava mais

e que a Graça era concedida num momento

 

a qualquer um que de Cristo fosse crente,

sem possuir mérito ou culpa por demais,

só por perdão de Seu divino alento.

 

DESCONFIANÇA II

 

Eu não encontro nos Dez Mandamentos,

nem tampouco na Oração Dominical

referência a um tal inferno no total,

do Credo Niceno tais temas são isentos.

 

Foi o Papa Silvestre, que em seus momentos

no Credo Apostólico acrescentou tal mal,

mesmo que a crença na Gehenna original

já se encontrasse nos judaicos testamentos.

 

Desta forma, melhor poderia controlar

rebanhos crédulos dentre seus seguidores,

a acalentar-lhes nas almas mil temores

 

e suas Indulgências por pagamento dar,

como forma de seus poderes aumentar

por seu temor de sofrer eternas dores.

 

DESCONFIANÇA III

 

Eu acredito que o Inferno exista só

para aqueles que nele acreditarem

e na bondade divina não confiarem,

do julgamento a negar o menor dó.

 

Esse deus em que creem é igual que mó,

um Cristo Pantocrátor a temerem,

na divina Graça até mesmo crerem

negada a seres que são apenas pó.

 

Mas mesmo que essa Graça não exista,

contrariando as Santas Escrituras,

nada nos leva a crer nessas impuras

 

convicções em que a culpa só persista,

que um Deus Onipotente não possa perdoar

a quem sem pena vá a si mesmo condenar.

 

A VERDADEIRA CRENÇA I – 7 MAIO 2023

 

Na verdade, acreditam muito mais

em horóscopos mostrados nos jornais,

em seu destino totalmente artificial,

revelado pela Vereda dos Animais,

 

o significado do Zodíaco, afinal,

capaz de lhes prever o bem e o mal,

desconfirmado por fatos naturais,

sem possuir justificativa mais cabal.

 

Assim deixam macular o seu presente,

pelo temor de um mal que se acha à frente,

diariamente temendo esse caudal

 

de tristezas, de ódio e de desgraça,

sem confiar de forma alguma nessa Graça

de a cada dia bastar seu próprio mal.

 

A VERDADEIRA CRENÇA II

 

E quem diria que ao longo dos milênios

essa certeza falsa perdurasse,

que a esperança humana só alcançasse

o mesmo horóscopo dos antigos gênios...

 

que persistisse a antiga astrologia

desse Sol que percorre seu trajeto,

a nos cobrir de ouro e azul o teto,

dali apagando as estrelas que se via...

 

Cada astro guardado em sua caixinha,

tampada por tal Sol diariamente,

para que rejam os destinos só à noite!

 

Que pelos dias seja o Fado onipresente,

somente Hélios a balançar sua chibatinha,

queimando a todos com seu feroz açoite!

 

A VERDADEIRA CRENÇA III

 

Mas essa gente insiste em sua agonia,

querendo horóscopos de uma astrologia,

em que cada charlatão, sem cerimônia

escreve coisas com que os orientaria...

 

sem que sequer acreditem no que fazem,

suas mensagens totalmente trazem

como uma espécie tola de alimônia,

para que bobos nelas sonho embasem.

 

Tudo porque, no temor de escuras vias,

buscam caminhos para sua ambição.

na busca fútil dos menores traços

 

e assim  sempre justificam profecias

por meras coincidências de ocasião,

logo esquecidos de tantos mil fracassos!

 

 

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