A PRINCESA DO MAR XV
(Lago Ladoga)
Então a sala
dissolveu-se, a espumejar.
Prendeu-se Sadko nos
braços da princesa.
Sobre uma concha
viajaram, abraçados,
foram às margens do
Ilmen transportados.
Dormiu Sadko,
embriagado de beleza,
Volkhova um acalanto
a murmurar...
Mas a princesa não
adormeceu,
pois lentos passos
sobre a areia ouviu.
Era Lyubova, chamando
seu marido,
que para sempre
receava ter perdido.
O coração de Volkhova
se partiu
e em seu amor traído,
ela gemeu...
Sendo uma fada, logo
percebera
a profundeza do amor
de Lyubova.
Já não podia ao
oceano retornar...
Contudo, Sadko não
iria disputar!...
Porém do amor que
tinha, última prova,
resolveu dar ao homem
que escolhera.
E nadando para a
margem mais ao norte,
desfez-se em água,
então, completamente.
Abriu um canal até o
lago Ladoga
e nele as lágrimas,
uma a uma, afoga...
No rio Volkhov
transformou-se inteiramente,
a seu amor dedicando
a inteira sorte...
A PRINCESA DO MAR XVI
Assim o Ilmen até hoje
está ligado,
pelo Volkhov, até o
lago Ladoga,
que pelo rio Neva
corre até o mar.
Foi assim que Volkhova
quis provar
seu grande amor, que
no Báltico se afoga.
E por seu rio todo o
comércio é transportado.
Lyubova outra vez
achou o marido,
na mesma praia, ao
lado do instrumento.
Ele acordou, com
profundo olhar tristonho
e disse à esposa que
tivera um lindo sonho,
imerso num profundo
encantamento,
que corpo e mente lhe
haviam seduzido...
"Passei a noite
inteira nesse sonho!...
Só resta agora compor
nova canção..."
Mas Lyubova lhe
afirmou que ele partira
três anos antes e só
agora surgira...
"Seus três navios
no cais do porto estão..."
Ergueu-se Sadko,
então, com ar risonho,
de braços dados
com Lyubova caminhou,
ao longo da arenosa e
mansa praia,
até o porto rumoroso
da cidade,
Lyubova a derramar
felicidade,
enquanto o vento lhe
agitava a saia,
pois seu amor, enfim,
recuperou!...
A PRINCESA DO MAR XVII
Ao chegarem ao porto,
toda a gente
comentava a chegada
dos navios,
pois afirmavam ter
chegado de alto-mar
os capitães e a
tripulação a confirmar,
passando por um lago
e por dois rios,
um dos quais não
existia, certamente...
Foi Sadko
pelos marinheiros aplaudido
e lhe contaram então
os oficiais
que bem depressa se
dissipara o nevoeiro
e ao rio Neva tinham
chegado bem ligeiro;
e após o Ladoga,
abriram-se canais,
em direção ao sul,
que haviam seguido.
Foram ao norte do
lago os mercadores:
maravilhados as
notícias confirmaram!...
"Seu nome é
Volkhov," Sadko afirmou.
Ninguém tal nome
contestar ousou.
Pagou-lhes Sadko a
soma inteira que emprestaram,
com juros muito acima
dos pendores.
E após outras
expedições ter dirigido,
tornou-se o homem
mais rico da cidade.
Mas no fundo da mente
ele sabia
qual a origem do rio
que assim surgia...
Tinha Lyubova, que o
amava de verdade,
mas um amor
muito maior havia perdido!...
EPÍLOGO
Porém Nazhata
retirou-se, envergonhado
e nunca mais a Novgorod
retornou...
Dizem alguns que foi
cantar para o Sultão;
outros afirmam, talvez
com mais razão,
que para a terra da
Finlândia se mudou
e que lá, a tocar gusli
havia ensinado...
Viveu Sadko feliz por
muitos anos
e cem barcos a fortuna
lhe traziam.
No rio Volkhov, às
vezes. se banhava
e o grande amor de
Volkhova recordava...
Mas nunca mais viu seus
olhos que luziam,
com muito mais amor que
o dos humanos...
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