segunda-feira, 6 de março de 2023


 

 

A PRINCESA DO MAR XV

(Lago Ladoga)

 

Então a sala dissolveu-se, a espumejar.

Prendeu-se Sadko nos braços da princesa.

Sobre uma concha viajaram, abraçados,

foram às margens do Ilmen transportados.

Dormiu Sadko, embriagado de beleza,

Volkhova um acalanto a murmurar...

Mas a princesa não adormeceu,

pois lentos passos sobre a areia ouviu.

Era Lyubova, chamando seu marido,

que para sempre receava ter perdido.

O coração de Volkhova se partiu

e em seu amor traído, ela gemeu...

 

Sendo uma fada, logo percebera

a profundeza do amor de Lyubova.

Já não podia ao oceano retornar...

Contudo, Sadko não iria disputar!...

Porém do amor que tinha, última prova,

resolveu dar ao homem que escolhera.

E nadando para a margem mais ao norte,

desfez-se em água, então, completamente.

Abriu um canal até o lago Ladoga

e nele as lágrimas, uma a uma, afoga...

No rio Volkhov transformou-se inteiramente,

a seu amor dedicando a inteira sorte...

 

A PRINCESA DO MAR XVI

 

Assim o Ilmen até hoje está ligado,

pelo Volkhov, até o lago Ladoga,

que pelo rio Neva corre até o mar.

Foi assim que Volkhova quis provar

seu grande amor, que no Báltico se afoga.

E por seu rio todo o comércio é transportado.

Lyubova outra vez achou o marido,

na mesma praia, ao lado do instrumento.

Ele acordou, com profundo olhar tristonho

e disse à esposa que tivera um lindo sonho,

imerso num profundo encantamento,

que corpo e mente lhe haviam seduzido...

 

"Passei a noite inteira nesse sonho!...

Só resta agora compor nova canção..."

Mas Lyubova lhe afirmou que ele partira

três anos antes e só agora surgira...

"Seus três navios no cais do porto estão..."

Ergueu-se Sadko, então, com ar risonho,

de braços dados com Lyubova caminhou,

ao longo da arenosa e mansa praia,

até o porto rumoroso da cidade,

Lyubova a derramar felicidade,

enquanto o vento lhe agitava a saia,

pois seu amor, enfim, recuperou!...

 

A PRINCESA DO MAR XVII

 

Ao chegarem ao porto, toda a gente

comentava a chegada dos navios,

pois afirmavam ter chegado de alto-mar

os capitães e a tripulação a confirmar,

passando por um lago e por dois rios,

um dos quais não existia, certamente...

Foi Sadko pelos marinheiros aplaudido

e lhe contaram então os oficiais

que bem depressa se dissipara o nevoeiro

e ao rio Neva tinham chegado bem ligeiro;

e após o Ladoga, abriram-se canais,

em direção ao sul, que haviam seguido.

 

Foram ao norte do lago os mercadores:

maravilhados as notícias confirmaram!...

"Seu nome é Volkhov," Sadko afirmou.

Ninguém tal nome contestar ousou.

Pagou-lhes Sadko a soma inteira que emprestaram,

com juros muito acima dos pendores.

E após outras expedições ter dirigido,

tornou-se o homem mais rico da cidade.

Mas no fundo da mente ele sabia

qual a origem do rio que assim surgia...

Tinha Lyubova, que o amava de verdade,

mas um amor muito maior havia perdido!...

 

EPÍLOGO

 

Porém Nazhata retirou-se, envergonhado

e nunca mais a Novgorod retornou...

Dizem alguns que foi cantar para o Sultão;

outros afirmam, talvez com mais razão,

que para a terra da Finlândia se mudou

e que lá, a tocar gusli havia ensinado...

Viveu Sadko feliz por muitos anos

e cem barcos a fortuna lhe traziam.

No rio Volkhov, às vezes. se banhava

e o grande amor de Volkhova recordava...

Mas nunca mais viu seus olhos que luziam,

com muito mais amor que o dos humanos...

 

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