O DEUS DA
CLEPSIDRA I – 15 MAR 23
(Angela Bassett, atriz de séries)
“Fica comigo
só mais cinco minutos”,
quem te revela
o que o amanhã trará
ou sequer que
um tal dia chegará
a
contemplar-te com seus olhos astutos?
Quem te revela
quais sejam os condutos
por onde o
tempo te dirigirá
e assim sua
serva obediente te fará,
através de
teus sucessos e teus lutos?
Pois hoje
estás aqui entre meus braços,
mas onde os
dois estaremos amanhã?
Se nem sequer
se sabe viveremos...
Se o deus do
tempo enigmático em seus traços,
Olhos safira e
comissuras de romã
Nos guardará
ou ao invés pereceremos?
O DEUS DA CLEPSIDRA 2
Cinco minutos serão igual à eternidade
ou ao contrário passarão num só segundo?
Existe o tempo em palpitar fecundo
ou se resume a um átimo em verdade?
Que em todo tempo está a relatividade,
meus cinco minutos um sussurrar jocundo,
os teus minutos de conflito mais profundo,
será que duram com igual intensidade?
Bem preferia que desta hora fugitiva
pudéssemos em plenitude desfrutar,
em hora mística poder-nos abraçar,
sem que se torne ainda mais furtiva
e apenas nos pretenda controlar
em cada ponto de sua vista esquiva
O DEUS DA CLEPSIDRA 3
Mas quem te diz não seja fantasia
este conceito com que te busco conservar?
Afinal já é de crença milenar
que existe o tempo no gnômon que se via,
O Sol apenas a manter-nos em harmonia,
sem de fato conosco se importar:
do mesmo modo que nos leva a despertar,
para o desgaste final transportaria.
Destarte, qual diziam os antigos,
aproveita cada momento singular
e nos meus braços permanece a descansar,
tão inconcebíveis os seus dotes ambíguos,
no Carpe Diem com que vem-nos requeimar,
qual sacrifício sobre seu próprio altar.
O RELÓGIO DE
SOL 1 – 16 MAR 2023
De ti mesma nunca
podes escapar,
sempre contida
na massa corporal,
que certamente
te protege o cerebral,
mas que tua
mente quer nele aprisionar.
Má solução é
pretender se suicidar,
a carne apenas
sofrendo o seu final,
porém tua alma
encontrará o fanal,
ou
simplesmente fica presa em tal lugar?
É até possível
que o Sol seja divino,
mas não um
deus de bem-fazer e amor,
talvez só
exija de ti sobrevivência,
em seu domínio
quando se acha a pino,
tua umidade
absorvendo em seu calor,
pleno senhor de
tua subserviência.
O RELÓGIO DE SOL 2
Quem sabe o deus divino, o tal Amon,
criou-te apenas para teu próprio benefício
e de algum modo aproveita o teu bulício,
pela tua vida a cobrar seu próprio dom
e o faraó que adorou somente Aton,
aos demais deuses atribuindo malefício,
a divindade afrontou em pleno vício,
sem reconhecer em seus raios nada bom?
Verdade é que o sol do antigo Egito
era mais forte que o de hoje é exigente,
mas as pessoas ainda buscam se bronzear,
em cada praia, por mais seja maldito
esse câncer de pele e o mais premente
câncer de mama que à morte irá levar.
O RELÓGIO DE SOL 3
Mas se fores do Sol serva obediente
irás viver cada instante que te dá,
até a velhice em que te massacrará,
se doença não te sobrevier ou acidente.
E neste caso tal deus seria complacente
ou de algum modo te castigará,
por recusares a extensão que te dará
e te furtares a obedecer subserviente?
Um certo dia, esperamos no futuro,
virá o Sol ampliar-se em explosão,
cada um dos que gerou a consumir;
será só então o teu final mais puro,
só de ti mesma terás assim libertação,
nessa fornalha de seu máximo sorrir.
ESCOLHA
SIMPLES 1 – 17 MARÇO 23
Jamais no
antanho me passou pela cabeça
que meu
destino tal seria como hoje é,
que meus
planos se quebrassem e que até
os seus
efeitos inteiramente desconheça.
Hoje só posso
esperar que me aconteça
o estranho e o
inesperado. Tenho fé
de que toda fé
é inútil. Apenas tenho sé
no coração de
que todo o plano cessa.
Pois tanta
vez, ao longo de minha vida
meus planos
fiz tão cuidadosamente,
quando previ
toda alternativa que podia,
mas foram todos
levados de vencida,
por qualquer
emergência mais premente,
sem dar o
mínimo para a mágoa que sentia.
ESCOLHA SIMPLES 2
Mas não descreio de livre-arbítrio ter,
o problema foram minhas tolas decisões
e as consequências de tantas paixões
que a cada plano vieram desfazer,
pois meu destino eu mesmo fui fazer,
a cada escolha com suas conotações,
novos caminhos em diversas direções
do que teriam caso outro fosse o escolher.
Não me cabe protestar contra o destino,
visto que foi inteiramente de minha escolha,
seria bem outro se escolhera diferente,
das probabilidades o total refino:
as mil eclusas que entupi com rolha,
não mais se abriram de forma permanente.
ESCOLHA SIMPLES 3
Somente eu mesmo fui por tudo responsável
e a mais ninguém jamais posso culpar,
mesmo que viessem a me prejudicar,
fui eu mesmo a tornar-me vulnerável.
Que não se diga que a genética é indomável
e nossas escolhas venha assim determinar,
nem que o ambiente nos possa dominar,
sempre é possível enfrentar o imponderável.
Que há muitos anos afirmei ser impossível
que hoje pudesse minha vida dedicar
e à poesia tantas horas dar guarida:
“Não fui poeta, não sou e é inconcebível
que em poeta jamais possa me tonar!”
Porém Dionyso enfim tomou-me de vencida!
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