NASREDDIN-HODJA E ZALINA
XIII/XIV FINAL – 5 JUL 2022
“Mulher, eu vou chamar o sacerdote,
para vir te dar a
extrema-unção!...”
“O primeiro é meu?” – meio
dura de cangote,
a obstinada insistiu em
igual canção.
“Não, não é! Não te darei mais esse dote!”
“Então chama o padre, não
tens coração!...”
Nasreddin foi então o pope
convocar,
que Zalina eu seu caixão
veio abençoar!
Rezada dos defuntos a oração,
recebendo uma oferta do marido,
traziam pratos já em profusão,
Nasreddin já se achava comovido,
quase chorando, a abraçou com emoção:
“Mulher, levanta!” – sussurrou no seu ouvido.
“O primeiro é meu?” – a teimosa murmurou.
“De jeito algum!” – o marido protestou.
“Pois me enterrem, então!” – decidiu ela.
Então pregaram a tampa do ataúde
e o carregaram do cemitério até a capela.
Aberta a cova para seu destino rude,
sem nem saberem da teimosia dela,
lançaram terra sobre a tampa que o escude,
as oraçoes finais se repetiram
e com o pope, todos os demais saíram.
“Por favor, vem conosco para o lar,
já contribuímos com bebida e alimento...”
“Vou depois, assim que terminar
de cobrir o caixão com meu lamento...
Depois de assistir a todos se afastar,
entrou na cova, já no último momento:
“Zalina, ainda podes te salvar!”
“O primeiro é meu?” – gritou de dentro do caixão,
sempre teimosa, mas esperando compaixão...
“Não, não é, eu conservo a
minha razão!”
“Pois então, vais me
deixar aqui,
vai atender os teus amigos
de ocasião,
todos pensam, de fato, que
eu morri!”
“Mas logo vais perder a
respiração!...”
“O primeiro é meu?” – só
assim saio daqui.
“Não, não é teu, outra vez
te digo não!’”
“Pois então, chama logo
esse coveiro,
que meu caixão ele cubra
bem ligeiro!”
NASREDDIN-HODJA E ZALINA
XIV – 6 JUL 2022
Nasreddin então saltou fora
da cova.
“Já me despedi...” – disse
ao coveiro,
”Cumpre agora a tua função
como se aprova!”
E para casa fingiu partir
ligeiro...
O coveiro e o ajudante a
tumba nova
começaram a encher... No
derradeiro
instante, ao perceber que
logo a iam tapar,
Zalina lá de dentro
começou logo a gritar!
“O primeiro é do meu marido!”
Os coveiros pararam de jogar
a terra no buraco meio enchido,
assustados, as pás foram largar.
Mas Nasreddin estava ao lado, prevenido,
tirou a terra e foi desaparafusar
o caixão da mulher, que o abraçou.
Estava fraca, mas satisfeito a carregou!
Em casa, encontrou todos os amigos,
como de praxe, a comer e a beber,
e não querendo causar quaisquer perigos,
Nasreddin apresentou-lhes a mulher,
mortalha suja com a terra dos jazigos:
“Não tenham medo, por um minuto sequer!
Não é a Zalina, já me casei de novo,
esta é a Zelina, que será o meu renovo!”
Mas é claro que não acreditaram,
pois Zalina ainda se achava amortalhada,
mas cheios de surpresa, lhe indagaram:
“Será verdade essa coisa desusada?”
E claramente, todos a escutarm,
em voz bem fraca, mas muito bem postada:
“Se meu marido diz, verdade só pode ser,
tudo o que fala, eu irei sempre obedecer!...
E desse modo, daí para a
frente,
Zalina desistiu de ser
teimosa
e a Nasreddin se tornou muito
obediente,
alegre, sincera e em tudo
carinhosa.
Nasreddin suspirou, já bem
contente,
fora difícil a lição, mas
proveitosa:
Zalina nunca mais
contrariou
e a cegonha no outro ano
até chamou!
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