quarta-feira, 1 de março de 2023


 

 

NASREDDIN-HODJA E ZALINA XIII/XIV FINAL – 5 JUL 2022


“Mulher, eu vou chamar o sacerdote,

para vir te dar a extrema-unção!...”

“O primeiro é meu?” – meio dura de cangote,

a obstinada insistiu em igual canção.

“Não, não é!  Não te darei mais esse dote!”

“Então chama o padre, não tens coração!...”

Nasreddin foi então o pope convocar,

que Zalina eu seu caixão veio abençoar!

Rezada dos defuntos a oração,

recebendo uma oferta do marido,

traziam pratos já em profusão,

Nasreddin já se achava comovido,

quase chorando, a abraçou com emoção:

“Mulher, levanta!” – sussurrou no seu ouvido.

“O primeiro é meu?” – a teimosa murmurou.

“De jeito algum!” – o marido protestou.

“Pois me enterrem, então!” – decidiu ela.

Então pregaram a tampa do ataúde

e o carregaram do cemitério até a capela.

Aberta a cova para seu destino rude,

sem nem saberem da teimosia dela,

lançaram terra sobre a tampa que o escude,

as oraçoes finais se repetiram

e com o pope, todos os demais saíram.

“Por favor, vem conosco para o lar,

já contribuímos com bebida e alimento...”

“Vou depois, assim que terminar

de cobrir o caixão com meu lamento...

Depois de assistir a todos se afastar,

entrou na cova, já no último momento:

“Zalina, ainda podes te salvar!”

“O primeiro é meu?” – gritou de dentro do caixão,

sempre teimosa, mas esperando compaixão...

“Não, não é, eu conservo a minha razão!”

“Pois então, vais me deixar aqui,

vai atender os teus amigos de ocasião,

todos pensam, de fato, que eu morri!”

“Mas logo vais perder a respiração!...”

“O primeiro é meu?” – só assim saio daqui.

“Não, não é teu, outra vez te digo não!’”

“Pois então, chama logo esse coveiro,

que meu caixão ele cubra bem ligeiro!”

 

NASREDDIN-HODJA E ZALINA XIV – 6 JUL 2022

 

Nasreddin então saltou fora da cova.

“Já me despedi...” – disse ao coveiro,

”Cumpre agora a tua função como se aprova!”

E para casa fingiu partir ligeiro...

O coveiro e o ajudante a tumba nova

começaram a encher... No derradeiro

instante, ao perceber que logo a iam tapar,

Zalina lá de dentro começou logo a gritar!

“O primeiro é do meu marido!”

Os coveiros pararam de jogar

a terra no buraco meio enchido,

assustados, as pás foram largar.

Mas Nasreddin estava ao lado, prevenido,

tirou a terra e foi desaparafusar

o caixão da mulher, que o abraçou.

Estava fraca, mas satisfeito a carregou!

Em casa, encontrou todos os amigos,

como de praxe, a comer e a beber,

e não querendo causar quaisquer perigos,

Nasreddin apresentou-lhes a mulher,

mortalha suja com a terra dos jazigos:

“Não tenham medo, por um minuto sequer!

Não é a Zalina, já me casei de novo,

esta é a Zelina, que será o meu renovo!”

Mas é claro que não acreditaram,

pois Zalina ainda se achava amortalhada,

mas cheios de surpresa, lhe indagaram:

“Será verdade essa coisa desusada?”

E claramente, todos a escutarm,

em voz bem fraca, mas muito bem postada:

“Se meu marido diz, verdade só pode ser,

tudo o que fala, eu irei sempre obedecer!...

E desse modo, daí para a frente,

Zalina desistiu de ser teimosa

e a Nasreddin se tornou muito obediente,

alegre, sincera e em tudo carinhosa.

Nasreddin suspirou, já bem contente,

fora difícil a lição, mas proveitosa:

Zalina nunca mais contrariou

e a cegonha no outro ano até chamou!

 

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