O PRÍNCIPE CEGO III – 15 ABR
2022
Porém Goyko foi adiando a
obrigação,
sem decidir o que fazer
primeiro:
“Estamos em luto e devemos
esperar,”
foi declarando a Milovan sem
mais aquela.
Dez dias passados, apresentou-se
seu irmão:
“Qual o destino que me dás, bom
companheiro?”
“Não sei ainda. Estou tendo que pensar...”
“Dá-me o comando da tropa; é a
natural sequela...”
“Normalmente,
é o que se esperaria
de um
filho segundo...” “Não concordo,
o
comandante sou eu e bem disciplinado
deixei o
exército, que me é muito leal.”
“Bem,
nesse caso, o que mais se proveria?
Vais-me
encontrar qualquer noiva de acordo?”
“É bem
difícil se acertar tal resultado,
um mau
casamento te poderia ser fatal!”
“Não te posso enviar a qualquer nobre
que disponha de filha casadoura;
ao se tornar teu sogro, pensaria
talvez mesmo em desafiar o meu poder;
tampouco posso designar-te noiva pobre,
seria para nós vergonha imorredoura...”
“Mas como cumprirás o que te ordenaria
El-Rei nosso pai, conforme o ouvi
dizer?”
“Melhor
seria te tornares sacerdote,
mas o
Bispo deverias ser por tradição
e o
atual bispo é leal e bom amigo,
não
posso lhe exigir que se demita...
Sempre
há menores bispados nesse lote,
porém
não creio que tenhas vocação...”
“Não,
Goyko, ser padre é até um perigo,
quero
casar-me com mulher que me admita...”
“Pois desse modo, ficamos num dilema.
Por que não vais fazer uma viagem?
Talvez encontres a noiva que desejas
ou formes tropa a fim de combater
os inimigos que nossa gente tema.
Acho que é isso, Visita outra paisagem,
serás sempre meu irmão e onde quer
estejas,
um Embaixador de nosso reino podes
ser...”
O PRÍNCIPE CEGO IV – 16 ABR 2022
“Não é o que eu queria, mas és o
rei,
serei sempre leal e a ti
obedeço.”
“Pois se é assim, esta noite
partirás.”
“Por que de noite? Por que não
em claro dia?
Amanhã cedo, de bom grado,
partirei.”
“Não posso arriscar que nossa
mãe o avesso
deste destino peça e não me
deixe em paz.
Nâo, Milovan, esta noite segue a
via.”
“De
nossa mãe não irás te despedir,
não
quero que interfira em tua missão;
podes ir
visitá-la e dar-lhe um beijo,
como se
fosse por carinho no seu luto,
mas de
forma alguma lhe darás a ouvir
de tua
partida, entendes bem, irmão?”
“Não
acho justo, mas se este é teu desejo...”
“É minha
ordem, mas não penses que sou bruto.”
“Podes levar o teu cavalo de combate
e te darei provisões e um saco de ouro.”
“Bem, então vou avisar meu escudeiro.”
“Não, Milovan, deves partir sozinho,
sei bem que tua valentia não se abate
e viajar sozinho não é qualquer
desdouro;
somente eu te acompanharei primeiro.”
Milovan
assim foi preparar a sua bagagem,
sem
avisar a ninguém e ao escudeiro
deu a
noite de folga, simplesmente;
ele
mesmo foi buscar o seu cavalo
e
dispensou, bem espantado, o pagem;
o animal
lhe ensilhou o estribeiro.
“Vai viajar
esta noite?” Calmamente,
respondeu-lhe:
“Volto ao cantar do galo.”
E nessa noite, todos já adormecidos,
na intenção de iludir as sentinelas,
Goyko o levou até passagem lateral,
em que aos dois já esperava o
estribeiro,
com os dois cavalos, sem serem
percebidos
por ninguém que espreitasse das janelas;
evitaram mesmo a estrada principal,
Goyko em silêncio, a cavalgar ligeiro.
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