INTRA DUE CIBI I – 25 FEV 2023
(Entre dois Alimentos)
IMargot Fnteyn e Rudolf Nureyev, par balé clássico)
A história do asno é bastante
conhecida,
com que o naturalista Buridan
experimentou:
o pobre bicho a igual distância
colocou
de um monte de feno e um balde em que
servida
estava a quantidade de água com que
seria vencida
a sua sede. Tudo bem, só que ao burro ele amarrou
e enquanto ele hesitava, Buridan se
acomou
para observar, sua curiosidade até
incontida
para ele parecendo ser ciência. O animal hesitava
e Buridan tranquilamente o observava,
sem que o animal infeliz se
resolvesse...
A este fato, são duas conclusões
apresentadas,
ou as cordas foram enfim
desamarradas,
ou ficou preso sem piedade até
morresse!
INTRA DUE
CIBI II
Há uma
variante dessa história, mais recente:
seriam
dois jumentos, ou ao outro atado,
com dois
montes de feno acumulado,
os dois
puxando cada qual para sua frente;
até que
bem zurraram e racionalmente
foram os
dois para o feno colocado
de uma
parte e depois para o outro lado,
os dois
comendo à vontade e alegremente.
Contigo
ocorre também algo semelhante,
ao se
propor uma escolha conflitante,
como se
fosse exclusiva e necessária,
em que
poderias hesitar bem tolamente,
sem
decidir qual vontade a mais premente,
tua mente
e alma em situação nefária...
INTRA DUE
CIBI III
Hesitam
muitos entre Deus e o mundo,
como os saddhus mendicantes em verdade,
predispostos
a passar necessidade,
enquanto
meditam no yoga mais profundo.
Outros
preferem os bens em tal segundo,
jamais
confiando na divina caridade,
já
condenados a se achar por sua maldade
perante um
deus ciumento e iracundo.
Porém
existem os que vivem em mosteiro,
onde se
dedicam ao estudo e à oração,
porém
trabalham para a própria nutrição,
pomares e
hortas, até gado leiteiro,
sem aqui
verem qualquer contradição,
bebendo a
água e devorando o feno inteiro!
NO DELÍRIO DA SEDUÇÃO I – 26 FEV 2023
Nem todo estranho será um andarilho,
mal se revela desde o primeiro abraço,
de sua presença demarcando o traço,
de suas andanças esquecido o trilho.
Talvez revele o seu pendor de peralvilho,
como diziam antigamente, infiel madraço,
que só pretende desfrutar de algum pedaço
de tua vida e que talvez te deixe um
filho.
Que de repente e sem aviso vai-se embora,
sem dar de si notícia nunca mais.
Talvez até tenha enriquecido cada hora
com sua presença por seus dotes naturais,
mas sem jamais pretender longa demora,
seu amor gasto a pretender já ser demais.
NO DELÍRIO DA
SEDUÇÃO II
Bem mais
seguro é se amar quem se conhece,
mesmo sem nutrir
quaisquer arroubos de paixão;
tens garantia
de que te dará a mão
ao precisares,
que teu carinho nunca esquece;
mas há tanta
mulher que assim padece,
nesse delírio
e novidade da atração,
de um egoísta
a tombar na sedução,
que como
abutre sobre sua carne desce.
E é tão comum
essa entrega a algum galã,
só por se ver
que as outras o desejam
e como moscas
a seu redor adejam!
Talvez seja biologia
que essa dança vã
faz repetir-se
tão constantemente,
para uma troca
de genética mais frequente.
NO DELÍRIO DA
SEDUÇÃO III
Mas nem todo
forasteiro é um canalha,
por mais que
em ti desperte desconfiança,
talvez até
traga em seus braços a esperança
e a lealdade
com que jamais te falha;
mas é tão
fácil a ilusão que assim se espalha!
Tanta menina
ainda com alma de criança
que é assim
seduzida e só seu mal alcança,
a pisotear-se
como triste maravalha.
Ao andarilho
só se deu em desatino,
de qualquer
modo a procurar retê-lo,
por seu desdém
distribuindo o seu desvelo;
quantas
aceitam assim esse destino,
conquistadas
por sua própria ingenuidade,
ou por
indignas a se acharem na verdade!
NO DELÍRIO DOS ERROS I – 27 FEV 2023
Mais de uma vez já tenho comentado
sobre essa gente que pretende ter
direito
de dos critérios do presente tomar
peito
para criticar os grandes nomes do
passado,
em sua empáfia cada antigo condenado
por não se achar a seus padrões
sujeito,
que importa o mérito ou o resultado
feito,
para vinte gerações um tesouro
elaborado!
É necessário encarar-se a cada herói
pelos padrões em sua época adotados,
seus erros desta forma desculpados,
que toda ética e moral o tempo rói,
tais atitudes são vaidade e
pretensão,
a imaginar-se superiores sem razão.
NO DELÍRIO
DOS ERROS II
Contudo, é
possível e até justo se avaliar
qualquer
vulto conhecido pelo que era adotado
em sua
própria época e em geral recomendado
pelos
conhecimentos que os poderiam orientar.
Por isso a
Colombo eu me arrojo a criticar,
esse que
é, em geral, considerado
como
descobridor da América e nomeado
qual
visionário, por Novo Mundo revelar.
O fato é
que ao menos por duzentos anos
nosso
Brasil era frequente visitado
por
Bretões e Portugueses e na realidade,
até por
Genoveses em barcos soberanos, (*)
mas seu
segredo ciosamente conservado,
mil lendas terríveis a criar em iniquidade.
(*) Cristoforo
Colombo ele mesmo Genovês.
NO DELÍRIO
DOS ERROS III
Sem se
falar nos navegantes do passado
que aqui
aportaram antes de nossa era,
Egípcios,
Judeus, Fenícios em galera
e muito
menos Vikings tendo mencionado,
mas a
navegante no século treze aqui aportado,
em busca
do pau-brasil que o lucro gera,
por
Carbono-14 confirmada a longa espera
de móveis
e esquadrias, tal qual foi comprovado.
Sem falar
de Thor Heyerdahl, que em ato viril
confirmou
com o Barco Rah ter sido atravessado
pelos
Egípcios o Atlântico antes dos Portugueses (*)
cruzarem
intrépidos esse mar de anil,
suas rotas
comerciais escondidas com cuidado
dos
concorrentes Espanhóis e dos Franceses.
(*) Em
1957, após cruzar o Índico na balsa Kon-Tiki.
NO DELÍRIO
DOS ERROS IV
Não admira
Portugal ter rejeitado
esse plano
que Colombo apresentou
e que a
Espanha finalmente financiou,
para o
caminho mais longo enfim ser adotado!
Em
Tordesilhas o segredo bem guardado
perante os
Castelhanos se afirmou,
que os
Ameríndios a Espanha massacrou,
por
Europeus o Novo Mundo a ser povoado.
Não há
razão para criticar os Portugueses,
no Caminho
das Índias mais interessados
que nesses
territórios por eles despovoados,
que a
Coroa Espanhola permitiu por Holandeses
Franceses
e Ingleses serem conquistados,
com a
prata dos Incas a encher os seus arnezes!
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