sábado, 4 de março de 2023


 

 

INTRA DUE CIBI I – 25 FEV 2023

(Entre dois Alimentos)

IMargot Fnteyn e Rudolf Nureyev, par balé clássico)

 

A história do asno é bastante conhecida,

com que o naturalista Buridan experimentou:

o pobre bicho a igual distância colocou

de um monte de feno e um balde em que servida

estava a quantidade de água com que seria vencida

a sua sede.  Tudo bem, só que ao burro ele amarrou

e enquanto ele hesitava, Buridan se acomou

para observar, sua curiosidade até incontida

 

para ele parecendo ser ciência.  O animal hesitava

e Buridan tranquilamente o observava,

sem que o animal infeliz se resolvesse...

A este fato, são duas conclusões apresentadas,

ou as cordas foram enfim desamarradas,

ou ficou preso sem piedade até morresse!

 

INTRA DUE CIBI II

 

Há uma variante dessa história, mais recente:

seriam dois jumentos, ou ao outro atado,

com dois montes de feno acumulado,

os dois puxando cada qual para sua frente;

até que bem zurraram e racionalmente

foram os dois para o feno colocado

de uma parte e depois para o outro lado,

os dois comendo à vontade e alegremente.

 

Contigo ocorre também algo semelhante,

ao se propor uma escolha conflitante,

como se fosse exclusiva e necessária,

em que poderias hesitar bem tolamente,

sem decidir qual vontade a mais premente,

tua mente e alma em situação nefária...

 

INTRA DUE CIBI III

 

Hesitam muitos entre Deus e o mundo,

como os saddhus mendicantes em verdade,

predispostos a passar necessidade,

enquanto meditam no yoga mais profundo.

Outros preferem os bens em tal segundo,

jamais confiando na divina caridade,

já condenados a se achar por sua maldade

perante um deus ciumento e iracundo.

 

Porém existem os que vivem em mosteiro,

onde se dedicam ao estudo e à oração,

porém trabalham para a própria nutrição,

pomares e hortas, até gado leiteiro,

sem aqui verem qualquer contradição,

bebendo a água e devorando o feno inteiro!

 

NO DELÍRIO DA SEDUÇÃO I – 26 FEV 2023

 

Nem todo estranho será um andarilho,

mal se revela desde o primeiro abraço,

de sua presença demarcando o traço,

de suas andanças esquecido o trilho.

Talvez revele o seu pendor de peralvilho,

como diziam antigamente, infiel madraço,

que só pretende desfrutar de algum pedaço

de tua vida e que talvez te deixe um filho.

 

Que de repente e sem aviso vai-se embora,

sem dar de si notícia nunca mais.

Talvez até tenha enriquecido cada hora

com sua presença por seus dotes naturais,

mas sem jamais pretender longa demora,

seu amor gasto a pretender já ser demais.

 

NO DELÍRIO DA SEDUÇÃO II

 

Bem mais seguro é se amar quem se conhece,

mesmo sem nutrir quaisquer arroubos de paixão;

tens garantia de que te dará a mão

ao precisares, que teu carinho nunca esquece;

mas há tanta mulher que assim padece,

nesse delírio e novidade da atração,

de um egoísta a tombar na sedução,

que como abutre sobre sua carne desce.

 

E é tão comum essa entrega a algum galã,

só por se ver que as outras o desejam

e como moscas a seu redor adejam!

Talvez seja biologia que essa dança vã

faz repetir-se tão constantemente,

para uma troca de genética mais frequente.

 

NO DELÍRIO DA SEDUÇÃO III

 

Mas nem todo forasteiro é um canalha,

por mais que em ti desperte desconfiança,

talvez até traga em seus braços a esperança

e a lealdade com que jamais te falha;

mas é tão fácil a ilusão que assim se espalha!

Tanta menina ainda com alma de criança

que é assim seduzida e só seu mal alcança,

a pisotear-se como triste maravalha.

 

Ao andarilho só se deu em desatino,

de qualquer modo a procurar retê-lo,

por seu desdém distribuindo o seu desvelo;

quantas aceitam assim esse destino,

conquistadas por sua própria ingenuidade,

ou por indignas a se acharem na verdade!

 

NO DELÍRIO DOS ERROS I – 27 FEV 2023

 

Mais de uma vez já tenho comentado

sobre essa gente que pretende ter direito

de dos critérios do presente tomar peito

para criticar os grandes nomes do passado,

em sua empáfia cada antigo condenado

por não se achar a seus padrões sujeito,

que importa o mérito ou o resultado feito,

para vinte gerações um tesouro elaborado!

 

É necessário encarar-se a cada herói

pelos padrões em sua época adotados,

seus erros desta forma desculpados,

que toda ética e moral o tempo rói,

tais atitudes são vaidade e pretensão,

a imaginar-se superiores sem razão.

 

NO DELÍRIO DOS ERROS II

 

Contudo, é possível e até justo se avaliar

qualquer vulto conhecido pelo que era adotado

em sua própria época e em geral recomendado

pelos conhecimentos que os poderiam orientar.

Por isso a Colombo eu me arrojo a criticar,

esse que é, em geral, considerado

como descobridor da América e nomeado

qual visionário, por Novo Mundo revelar.

 

O fato é que ao menos por duzentos anos

nosso Brasil era frequente visitado

por Bretões e Portugueses e na realidade,

até por Genoveses em barcos soberanos, (*)

mas seu segredo ciosamente conservado,

 mil lendas terríveis a criar em iniquidade.

(*) Cristoforo Colombo ele mesmo Genovês.

 

NO DELÍRIO DOS ERROS III

 

Sem se falar nos navegantes do passado

que aqui aportaram antes de nossa era,

Egípcios, Judeus, Fenícios em galera

e muito menos Vikings tendo mencionado,

mas a navegante no século treze aqui aportado,

em busca do pau-brasil que o lucro gera,

por Carbono-14 confirmada a longa espera

de móveis e esquadrias, tal qual foi comprovado.

 

Sem falar de Thor Heyerdahl, que em ato viril

confirmou com o Barco Rah ter sido atravessado

pelos Egípcios o Atlântico antes dos Portugueses (*)

cruzarem intrépidos esse mar de anil,

suas rotas comerciais escondidas com cuidado

dos concorrentes Espanhóis e dos Franceses.

(*) Em 1957, após cruzar o Índico na balsa Kon-Tiki.

 

NO DELÍRIO DOS ERROS IV

 

Não admira Portugal ter rejeitado

esse plano que Colombo apresentou

e que a Espanha finalmente financiou,

para o caminho mais longo enfim ser adotado!

Em Tordesilhas o segredo bem guardado

perante os Castelhanos se afirmou,

que os Ameríndios a Espanha massacrou,

por Europeus o Novo Mundo a ser povoado.

 

Não há razão para criticar os Portugueses,

no Caminho das Índias mais interessados

que nesses territórios por eles despovoados,

que a Coroa Espanhola permitiu por Holandeses

Franceses e Ingleses serem conquistados,

com a prata dos Incas a encher os seus arnezes!

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