Minha esposa Maritza recentemente publicou
seu livro A FENDA DA ROMÃ – OFÍCIO DE
TREVAS, escrito ao longo dos anos. Ao
ler o livro impresso, embora tivesse datilografado, depois digitado várias
versões e acompanhado todo o processo de editoração e publicação, senti como se
meu crânio se fendesse, as meninges se afastassem para os lados e permitissem
que o cérebro fosse invadido por uma adaga de prata, um estilete de aço e um
kriss malaio de bronze.
My wife, Maritza, has recently published THE CRACK IN THE POMEGRANATE –
RITES OF DARKNESS, written along the years.
When I read the publication on its last format, after typing the text first
in the typewriter, then in the computer on its several drafts and later
followed all the editing and publishing
process, I felt like my skull was cracking itself open, the meninges folding
apart so as to allow the brain to be broken into by a silver dagger, a steel
stiletto, and a brass Malayan kriss.
O
CRIADOR DE ESCORPIÕES I – 7 JANEIRO 2024
Por
um sábio chinês, escorpiões foram criados,
Sob
as redomas de vidros escondidos,
Porém
sem má intenção – assim contidos,
Melhor
podiam ser combatidos e estudados.
Seus
reservatórios, porém, foram rachados
E
os escorpiões que ali estava recolhidos ,
Pelas
fendas a escapar-se compelidos,
Por
todo o mundo até se acharem espalhados.
Não
lhes retiraram as bolsas de veneno,
Com
que fariam soro antiescorpiônico,
Ficaram
livres para se alimentar
Dos
mil insetos encontrados no terreno,
Fortalecido
o seu deeneá biônico,
Cães
e humanos podendo assim apeçonhar.
O CRIADOR DE ESCORPIÕES II
Foi desse modo que os escorpiões Covid
De seu laboratório conseguiram egressar.
Exatamente o que pretendiam estudar
Nesses vírus em que tanto mal reside,
Não saberei eu, apenas sei que incide
Transformação realizada sem cuidado,
Capacidade de mutação sem limitar,
Muito difícil dos organismos o revide.
Há quem afirme que foi deliberado
Lançarem esse mal sobre o Ocidente:
Não chegaria a tanto, realmente,
Mas fendeu-se o laboratório assim criado
E dele assim partiram os escorpiões,
No mundo inteiro a se espraiar como ladrões.
O CRIADOR DE ESCORPIÕES III
Tal afirmar-se naturalmente é condenado,
Muito incorreto a ser politicamente,
Mas é de espantar que morresse tanta gente
Por todo o mundo assim avassalado,
O povo chinês em pouco ou nada afetado,
Quando de lá partiu essa insolente
Marcha de vírus por cada continente,
A grande China sem terem perturbado.
A não ser que politicamente incorreto
Seja o massacre de seu povo reconhecido,
Que muitos milhões acabaram por morrer,
Mas hoje assisto ás fendas em secreto,
Há dois anos a diminuir sua população:
Qual o motivo da inesperada redução?
O
CRIADOR DE MUNDOS I – 8 JANEIRO 2024
Se
acaso Deus dissesse: “Faça-se a treva!”
De
onde havia de sair, senão da luz?
Do
mesmo modo, a luz que nos seduz
Tão
só da escuridão se nos descerra.
Naturalmente,
o tempo-espaço nos aterra,
Mas
não é mais que a sombra que reluz:
Infinito
não é tão só o que nos conduz,
Até
os limites em que o cosmos nos emperra.
Se
é infinito, nunca teve algum começo,
Do
mesmo modo que nunca terá fim,
Todo
esse espaço-tempo é ilusório,
Só
imaginável pela vida em que padeço,
Permanente
tudo a demonstrar-se assim,
Sem
um começo assaz peremptório.
O CRIADOR DE MUNDOS II
Sei que é difícil aceitar tal realidade,
Nós somos seres de começo e duração,
Um dia todos de nós terminarão,
O que nos leva a incompreensão da eternidde.
E quem nos diz que do Sol a claridade,
Já não se extinguiu desde sua criação?
A luz brotada da treva uma ilusão,
Que acolhemos na maior alacridade,
Colhendo o tempo porque os dias são maus,
Sempre aguardando as pompas do futuro,
Por mais seja o advir sempre inseguro,
Talvez os filhos dessa Teoria do Caos,
Que há algumas décadas nos preconizaram...
Mas a Entropia até o presente não provaram.
O CRIADOR DE MUNDOS III
Um dia a terra era sem forma e vazia
E o espírito de Deus sobre o magma pairava,
Só em escuridão o Pluriverso de mostrava,
Até quando o imaginar nos permitia
E só depois que o Criador nos anuncia:
“Faça-se a Luz!” -- mas a Voz que a anunciava
Só brotar podia da treva em que nadava,
Na vastidão do universo em que existia.
Mas essa luz será a Distropia?
Toda essa imensa energia condensada,
A partir da dispersão dessa Entropia,
Que nos propalam como a senda destinada
Ao Multiverso, no final de sua jornada,
Na qual nenhum de nós persistiria.
O
CRIADOR DO ANTANHO I – 9 JANEIRO 2024
Quando
eu já tinha quiçá meus cinco anos,
Minha
mãe contou-me que ela havia criado
Para
a Berceuse de Brahms o poema recantado
Que
tantas vezes derramara em meus afanos
De
minha infância a afastar os danos,
Mas
foi em tempo posterior mais descuidado
O
seu cuidado de mim, a fazer-me abandonado,
Numa
mortalha de esfarrapados desenganos.
Realmente,
quando eu era bem pequeno,
Ela
cantava e com frequência me embalou,
Mas
foi dar aulas e a uma babá me descartou,
A
seus alunos dando um atender mais pleno,
O
que causou-me um certo desencanto
E
o firme impulso de mastigar meu pranto.
O CRIADOR DO ANTANHO II
Na mesma época, no salão da frente
Havia um sofá dando costas a um afresco,
Cuja lembrança mal e mal ainda atesto
E sobre as portaladas outra visão frequente,
Alta demais para mim nesse presente,
Mas desse grande mural o pleno gesto,
Um rio a correr por um bosque destro,
Um cisne nele a vogar imovelmente.
Ali ela dava suas aulas de leitura
Para uma jovem empregada recolhida
E eu subia no encosto a observar;
Com meus três anos, à minha memória pura
Alfabeto e qualquer frase submetida,
Enquanto à moça não conseguia isso ensinar.
O CRIADOR DO ANTANHO III
Infelizmente, meu pai determinou
Que nos mudássemos para bem distante,
A casa a ser vendida e em breve instante
Foi demolida e do mural nada restou,
Salvo a imagem que em minha mente se gravou.
Nesse salão a árvore de Natal gigante,
No meio de um presépio triunfante,
Se erguia firme e nunca desabou.
Foi-se o painel e o pátio o acompanhou,
Cheio de árvores, tendo até um bambuzal.
Ali há um prédio de três ou quatro andares,
Ali mesmo uma igreja Pentecostal se instalou,
Nem sei se a pregação faz bem ou mal,
Contando a Deus prazeres e pesares
O CRIADOR DO ANTANHO IV
Assim cortaram as quatro figueiras,
Teve a pereira um igual destino,
O bambuzal rasgou corte assassino
E então se foram as duas ameixeiras,
A bela-emília enviaram às lixeiras,
Os canteiros de minha mãe que vi menino,
A grinalda-de-noiva decepada em desatino
E o corredor com sua coberta de parreiras.
Talvez a igreja Pentecostal compense
A calamidade que meu antanho destruiu,
Acompanhando da casa o demolir,
Que ao dinheiro de minha avó dispense,
Quando a reforma inteira permitiu
E que da casa a derrocada foi seguir.
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