NOVELETTE
1 – 4 FEVEREIRO 2024
(ANNA SOPHIA
BERGLUND, atriz islandesa)
Em minhas
paixões por quem eu nunca tive,
As rédeas
soltas sempre dou à imaginação,
Especialmente
se experimento a sensação
Que não
as tive porque apenas me contive;
E quando
penso naquelas com quem estive,
Os critérios
consulto de meu tolo coração
E então
eu penso que tão curta duração
Só
amargurou a ilusão que não obtive.
E então
me indago como tanto romantismo
Sobreviveu
ao contatar da realidade:
Curtido o
beijo, desfeita essa vontade,
Só na
lembrança recordo esse modismo,
Que me
leva a sentir tanta saudade
Dessas
que tive sem ter queremismo.
NOVELETTE 2
Então me indago: será mesmo que as queria
Ou não queria e assim mesmo tive
Ou então queria para sempre e não obtive
Tal resultado dessa ânsia que nutria?
Beijos são beijos, por mais que algum se esquive,
Talvez os que obtive quando amor me perseguia
Tenham sido perdidos por alguém que os esquecia
No côncavo de um rosto em que a lembrança vive.
Talvez os que mais tive foram só os imaginados,
Os beijos verdadeiros sem receber jamais,
Mas furtados de sonhos e à saudade condenados,
Beijos perdidos permeio a fios dourados,
Por sobre a comissura dos lábios consensuais,
Contidos em si mesmos, mas buscando ser beijados.
NOVELETTE 3
Porém de tantos beijos, quais são os verdadeiros?
Esses gravados nas películas mais ardentes,
Que nos sonhos se conservam mais como entrementes
E a carne só arrepiam num orvalho seresteiro?
São os beijos mais reais que recebi primeiro,
Mas que logo coagularam em degustar frequente,
Em hemoptises breves de amor subjacentes,
Ao passado pertencentes de que não mais me abeiro?
Mas os beijos dos senhos, quer sejam de terceiros,
Casados de algum modo nos cantos de minha mente
Ou sonhados só por mim em cantochões arteiros,
Renovam-se, afinal, a cada vez que os sonho,
Enquanto esses reais se evolaram totalmente,
Deixando só um sabor nos versos que proponho.
INSISTÊNCIA 1
– 5 fevereiro 24
Já lá se vão
talvez uns trinta anos,
Em que compus
diariamente uns três sonetos,
Esculpidos por
minha fé nos desenganos...
Ou quatro ou
seis na esteira dos afetos.
São tantos
que escrevi de amores incompletos
Ou de amores
nutridos na multidão dos danos
Que a mim
mesmo causei, julgando ser diletos,
Ou que causei
a outrem, satisfeitos meus afanos.
O certo é que
os esqueci e quando algum releio,
Não consigo
encontrar o motivo para o pranto
Ou para a
exultação que neles descrevi,
Ao serem
beijos agrestes nas flores de algum seio,
Ou no umbigo
da vida, em seu eterno canto,
Em vitórias e
derrotas que nunca mereci.
INSISTÊNCIA 2
E nem ao menos sei o tempo que encontrei
Para os datilografar na máquina de escrever,
Enquanto traduzia o quanto pude ler,
Nos intervalos perdidos que assim lhes dediquei.
Nem reconheço como meus centenas que mandei,
A maioria de fato a deixarem-se esquecer,
Talvez porque tão rápido deixassem-se fazer
Esses retalhos da mente que apenas arranquei.
Tempo houve para a escrita, mas não para a lembrança,
Dois minutos em média, sem nada corrigir,
Esses versos de luar que o Sol logo queimava
E que se foram lançar nas vagas da esperança,
Jamais recordados seus instantes de sentir,
Que as asas se escaparam enquanto as enviava.
INSISTÊNCIA 3
Por isso, tantas vezes eu afirmo que são teus,
Se assim os recolheste em plena madrugada,
Cada estrofe tiritante assim abandonada,
Perdida para a vida por meus atos saduceus.
Mas tanta gente conheço de humores fariseus,
Que junta os próprios versos tal qual alma penada,
Para vê-los impressos veloz em revoada...
Mas se acaso os imprimir se tornarão em meus?
De qualquer modo é certo que tempo não me sobra,
Para reler mil páginas de estrofes completadas,
Satisfeirtas consigo em auas verves limitadas,
Indolentes de orgulho por tão pequena obra,
Tantas vezes relida, memórias segregadas
Nesses egos vertidas em tanta água salobra!
AMOR
ORBITAL 1 – 6 FEVEREIRO 24
Quando
ofuscado de amor eu me encontrava,
Inadequado
satélite de tua luminescência,
Rondava a
teu redor à luz de minha impaciência,
Mas de tua
translação o ritmo me escapava,
Porém tua
rotação constante me chamava,
Cada hora
outra face me incitava a ardência,
Tua
libração, contudo, possuía igual potência,
Em cometa
me mostrava, mas nunca te alcançava!
E assim
te acompanhei ao longo de três anos,
Três
meses e três dias, buscando teus sorrisos,
Com
apertos de mão, conversações gentis,
Em minha
insensatez mostrando mais insanos
Os meus
desejos, só encontrando risos,
Sem
insistir demais, só insinuações sutis.
AMOR ORBITAL 2
Como em canção de gesta, os anos se passaram,
Até 333, o número místico, nos chegar,
Somente então teu amor poder provar
E nesse abraço, corpo e alma calcinaram.
Não sei se te fiz bem, os anos continuaram,
Sem ser mais um satélite a teu redor andar,
Depois que realizei meu sonho milenar:
Talvez quais meteoros dois corpos se juntaram.
Se meteoro eu fui, que grande cataclismo
Causei na superfície de tão meigo estelar,
Um astro e um cometa assim a se mesclar
E ainda desconfio, na vastidão do abismo,
Que número afinal eu pude completar:
Seria 666 no acoplar-se desse par?
AMOR ORBITAL 3
Para mim, pelo menos, foi algo apocalíptico;
Nunca mais sendo o mesmo após te contemplar,
Meu amor apaixonado sempre a revelar
Senti-me transformado de individual em díptico,
Porém tanto insisti na força desse tríptico,
Pensando em minha soberba poder te completar,
Em minha razão egoísta julgando ser teu umbílico.
Talvez devera enfim, ter-te deixado só,
Porém me diluí no oceano de teu beijo
E assim te persegui tal qual um maremoto,
A desconfiar às vezes que foi bem mais por dó
Que enfim condescendeste ao ardor de meu desejo,
Mesmo temendo em mim perigos ignotos...
AMOR ORBITAL 4
Contudo, em mim por certo tu foste um terremoto,
Pois quando um meteoro invade alguma estrela,
Sugado no fulgor de sua estranheza bela,
Se afunda integralmente em qualquer ponto secreto
E se esfarela no forte choque in toto,
Cinza e poeira a distribuir ao derredor qual vela,
A estrela a recobrir nesse termo de prccela,
Tal qual coroa de flores deposta como ex-voto.
Assim que me incluí em ti sem mais perdão,
Mas penetrei bem fundo até teu coração,
Nada sobrando que em ti ficasse de intocado
E se mal eu te causei após essa implosão,
Recorda apenas como foste o meu ideal amado
E que é dentro de teu peito que me encontro sepultado!
INVASORES 1 – 7 fevereiro 2024
Temo que os javalis um dia invadam
minha cidade
E me encontrem passeando ao redor do
cemitério,
Entrando em multidão qual pleno
despautério,
Que eu fuja às pressas de sua
ferocidade!
Por enquanto só imagino a sua
atividade;
Até o presente apenas compus o meu
saltério,
Escavando o imaginar de um arcano
eremitério,
Para o implantar em turfa de feraz
fertilidade.
De fato, até o presente jamais os
encontrei,
Exceto em sonho, quiçá, mas nunca em
pesadelo,
Mas sei que o pampa devastam em
tal tenacidade;
Alguma vara javalina nos jornais
somente achei
E os agricultores deter não podem
tal flagelo
Devido a leis injustas, nem diminuir
sua quantidade!
INVASORES 2
Porém não há motivos, são de algures importados,
Para variar um pouco o sabor de seus churrascos,
Pelos suínos mansos demonstrando certos ascos,
Sem conseguirem de fato mantê-los confinados!
Muitos nobres na história já foram massacrados,
Durante essas caçadas, pisados pelos cascos,
Mordidos pelas presas e seus colmilhos vascos,
Que foram buscar lã e enfim foram tosquiados!
Porém na antiga Europa, frequente era a escassez,
Era a caça necessária para a mesa abastecer
E as colheitas e hortas igualmente proteger,
Porque fuçam o solo na maior desfaçatez;
Porém carne de ovelha não falta para nós,
Por que importar assim tropilha tão atroz?
INVASORES 3
Ocorre que as pocilgas vêm sendo devastadas,
Quando um macho javali vem as porcas conquistar
E se o marrão resiste, fácil o podem massacrar,
As crias mostrarão os fenótipos passados,
Antes que os porcos fossem por nós domesticados;
E esses javalis não se deixam limitar
Pelo cio das porquinhas, quais humanos a forçar:
Suas próprias javalinas com crias já ocupadas.,,
Por que então não posso hoje imaginar
Que uma vara de javalis invadisse minha cidade
E humanos atacassem na maior ferocidade?
Até o presente, que eu saiba, não o foram realizar,
Mas se as plantações e hortas destruirem sem parar,
Só posso imaginar tal infeliz possibilidade!
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