O TERCEIRO HÓSPEDE XV
“Dê-me a taquara em que guarda sua água!”
Macário obedeceu, sem nem pensar.
De um só trago viu El Magro a esvaziar.
Podia enchê-la no riacho, facilmente,
mas o outro tinha intenção bem diferente
e o contemplou com expressão de mágoa.
“Vai-me levar ao Paraíso, em recompensa?
E quem irá cuidar de minha mulher
e de meus filhos, sem este meu mister?”
“Ou quem fazer com que morram de fome?
São jovens vidas que você mais come!...”
Disse-lhe El Magro: “Não é o que você pensa.”
E levantou-se, batendo com o pé,
aqui e ali e pelo chão cuspindo...
Macário persignou-se.
Estava findo
Esse breve adiamento que alcançara;
pensava ver que El Magro se zangara
e encomendou-se a Deus, com muita fé.
O TERCEIRO HÓSPEDE XVI
Mas de repente, viu quando jorrou
uma fonte na clareira, de água pura:
nela inclinou-se a estranha criatura
e sua taquara encheu inteiramente.
A fonte cessou de fluir, incontinenti!
E o viajante para ele retornou.
“Nem toda morte tem de ser obrigatória,”
disse ele, com os olhos reluzindo.
“Eu sei que poucas vezes sou bem-vindo.”
“Sempre apareço em caso de doença
e dependendo do poder da crença,
as almas levo para o Inferno ou a Glória!”
“Mas agora, eu lhe dou a Água da Vida!
Caso me encontre postado à cabeceira,
a morte da pessoa é bem certeira...”
“Mas se estiver aos pés, eu posso adiar:
basta uma gota e posso me afastar
e conceder-lhe uma certa sobrevida...”
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