quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024


 

 

O TERCEIRO HÓSPEDE XV

 

“Dê-me a taquara em que guarda sua água!”

Macário obedeceu, sem nem pensar.

De um só trago viu El Magro a esvaziar.

 

Podia enchê-la no riacho, facilmente,

mas o outro tinha intenção bem diferente

e o contemplou com expressão de mágoa.

 

“Vai-me levar ao Paraíso, em recompensa?

E quem irá cuidar de minha mulher

e de meus filhos, sem este meu mister?”

 

“Ou quem fazer com que morram de fome?

São jovens vidas que você mais come!...”

Disse-lhe El Magro: “Não é o que você pensa.”

 

 

E levantou-se, batendo com o pé,

aqui e ali e pelo chão cuspindo...

Macário persignou-se.  Estava findo

 

Esse breve adiamento que alcançara;

pensava ver que El Magro se zangara

e encomendou-se a Deus, com muita fé.

 

 

O TERCEIRO HÓSPEDE XVI

 

Mas de repente, viu quando jorrou

uma fonte na clareira, de água pura:

nela inclinou-se a estranha criatura

 

e sua taquara encheu inteiramente.

A fonte cessou de fluir, incontinenti!

E o viajante para ele retornou.

 

“Nem toda morte tem de ser obrigatória,”

disse ele, com os olhos reluzindo.

“Eu sei que poucas vezes sou bem-vindo.”

 

“Sempre apareço em caso de doença

e dependendo do poder da crença,

as almas levo para o Inferno ou a Glória!”

 

“Mas agora, eu lhe dou a Água da Vida!

Caso me encontre postado à cabeceira,

a morte da pessoa é bem certeira...”

 

“Mas se estiver aos pés, eu posso adiar:

basta uma gota e posso me afastar

e conceder-lhe uma certa sobrevida...”

 

 

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