quinta-feira, 15 de julho de 2021


 

A CASA DO SOL

Capítulo Onze – 11 jul 21

 

“Tereis de bater na porta junto à fonte,

ignorar a segunda feiticeira

e ir correndo até a terceira porta,

que uma jovem linda irá abrir;

com sua beleza de fatal reponte

tentará vos seduzir, a sorrateira,

e vos reter, que a vida vos aborta:

empurrai-a para um lado, sem ouvir!”

 

“O Espelho do Sol é gigantesco,

fácil é o corpo inteiro contemplar,

mas ele tende a seduzir também,

os incautos prendendo, por vaidade,

para sofrerem esse fado tão grotesco:

Deem-lhe apenas o mais rápido olhar,

que o tempo ali é falso no seu vaivém,

mais depressa a correr na realidade!”

 

Os dois irmãos encontraram o caminho,

tiraram as roupas antes do Sol nascer

e pela porta depressa se enfiaram,

como antes, chegando à outra porta,

a bruxa velha empurrando sem carinho,

mas a segunda custou mais a atender!

Suas solicitações também ignoraram,

só que a terceira porta estava torta!

 

Custou a abrir e então a jovem bela

tentou aos dois com beijos seduzir,

mas correram os irmãos até o espelho,

contemplaram-se depressa e já fugiram!

E ignorando os convites da donzela,

por toda a gruta puseram-se a fugir:

a porta da Casa, como avisara o velho,

já se fechava! Por um tris não conseguiram! 

 

Quase ficaram presos mesmo no lugar,

porém São Sunday com um cajado a segurava

e junto a ele, encontraram os outros três

anacoretas que antes os auxiliaram,

São Friday e São Saturday a guardar

suas roupas e também os acompahava

São Thursday e ainda viram outra vez

até a raposa-mãe!  Juntos marcharam.

 

No caminho, encontraram a rainha,

ainda bela, apesar do seu castigo,

e com as preces dos quatro anacoretas,

ela saiu ilesa e bela de sua cova!...

Mas comentaram que ainda não convinha

que o rei a visse libertada do jazigo.

“Vamos guardá-la em locações secretas,

que ela está linda e saudável como nova!...

 

CNOSSOS ÓRFÃ I – 13 JUL 21

 

Por que o tempo é homem e a tempestade

pensamos ser mulher?  Seja veloz

tempo de vida, longo o sofrimento atroz,

é sempre homem em sua potestade.

Mas o tempo existe assim na eternidade,

enquanto a tempestade vem a nós,

cheia de fúria e logo parte empós

de outra paisagem em sua finalidade.

 

Segue os caprichos, sem sombra de saudade

pelo modismo de suas depredações,

e o tempo fica e aos poucos nos engole,

em permanência de fatal totalidade,

enquanto nos tira uma a uma as dotações

e da vida mesma afinal nos desconsole...

 

CNOSSOS ÓRFÃ II

 

Éolo era o deus dos ventos dos Helenos,

tendo ele muitos filhos, na verdade,

Zéfiro sendo o de maior gentilidade,

do oeste a lhes soprar em dias amenos...

Bóreas do norte, Notus do sul, nada serenos,

Apiliotis do leste, Lipsos do sudoeste em brevidade,

Quéquias do noroeste, Euros do sudeste, sem maldade, Esquíron do nordeste com sopros mais plenos...

 

Todos prontos a formar as tempestades,

mas nenhum deles entidade feminina;

ganhou Ulysses um saco cheio de presente,

para soltar só ao sentir necessidades,

mas a cobiça a um marinheiro inclina

e abriu o odre para libertar sopro inclemente!

 

CNOSSOS ÓRFÃ III

 

Já nós pensamos, na língua Portuguesa,

Em Francês, em Italiano e em Espanhol,

Que seja feminina a tempestade sob o sol,

Mas seja o tempo masculino com certeza!

Para os nórdicos, do vento a fortaleza

é masculina e violenta qual crisol,

vem mais do sul e do oeste nesse rol,

as montanhas a lhe cortar furiosa alteza.

 

E em Alemão, Alpdrücken é “pesadelo”,

essa pressão que dos Alpes é exercida

por esse vento que sopra das montanhas...

De onde virá, então, um sonho belo?

Qual o vento que ao tempo dá guarida,

qual sopra o tempo de quem tua vida ganhas?

 

CNOSSOS ÓRFÃ I

 

Mas a pior tempestade dos Helenos

foi o vento que provocou a erupção

do vulcão de Santorini, num malsão

ato de glória que destruiu templos Micenos;

de Cnossos em Creta em violência seus acenos

e de Tirinto apagou a civilização,

somente lendas a sobreviver-nos desde então,

abrindo a estrada a povos mais serenos

 

que os Micenianos e seus humanos sacrifícios.

De certo modo, foi tempestade feminina,

que desposou aos então bárbaros do norte,

de seus deuses masculinos a impor ofícios,

do próprio Chronos a vencer fúria assassina,

no Olimpo ao Tempo erguer um contraforte.

 

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