SOB A TÚNICA LUNAR I – 18 JUL 21
Sobre minha casa vejo a Lua estar velada:
será que da cidade se esconde por pudor
ou não quer demonstrar o seu pendor,
se está sentida – ou mesmo, despeitada?
Sobre mim vejo essa cadeia entrelaçada
de raios de luar em argênteo ardor;
normalmente, mais se expande seu fulgor,
mas há nevoeiro e a Lua está marcada
por essa cobertura que nuvem arremeda,
mas não a pode cobrir inteiramente.
Tive ontem mesmo outro tipo de ilusão,
qual se uma estrela saltitasse na vereda,
até pensando ser um satélite presente,
mas não o efeito de uma simples cerração.
SOB A TÚNICA LUNAR II
Em horóscopos não creio, certamente:
estão as estrelas distantes por demais
para em mim projetarem seus sinais;
qual importância para elas se apresente
o meu destino ou proceder frequente?
Sou um apenas entre mil seres carnais;
dificilmente os meus fados capitais
seriam vigiados por sentinela assim luzente.
Já a Lua bem mais perto está de mim;
não que me julgue importante para ela,
mas para mim seu pairar é bem superno
e sempre posso desiludir-me assim,
no ideal desfeito do fumegar da vela
de seu cuidado que almejara fosse eterno.
SOB A TÚNICA LUNAR III
Ou pelo menos, que o clarão fosse mais terno
que essa premência dura e impactante
que mostra o Sol, a empurrar por diante
minha pobre sombra que pelo solo alterno.
Recordo anos atrás como um arverno
foi dito concluído em certo instante,
término da Era de Pisces delirante,
pela de Aquarius a substituir o bem superno.
Nova era a ser de paz e compreensão...
Mas o que vemos hoje ao derredor?
Nada concreto a se encontrar no zodiacal.
Contudo a Lua me ilumina o coração,
posso fingir que me ilumina com amor,
por mais gelado o seu carinho maternal...
AO ESCURO DO SOL I – 19 JUL 21
A luz do sol não quer raiar em mim,
porque possuo, em minha escuridão,
calabouços e masmorras de ilusão,
em que meus monstros agrilhoo assim.
Porém dependo desses monstros, sim,
sem eles não esculpiria a multidão
destes meus versos de pureza e podridão,
cujo colheita até parece não ter fim.
Se não sofresse do intenso devaneio
de querer muito mais do que possuí,
eu não teria desse inspirar o veio;
e é desse modo que em versos eu vivi:
a escuridão transformo que escolhi,
para que o Sol nasça em mim sem ter receio.
AO ESCURO DO SOL II
Talvez mais me acompanhe a escuridão
vista a ojeriza que me dá o calor;
da luz, porém, não há qualquer pavor,
ter seu farol me alegraria o coração.
Mas do que eu quero não se faz questão,
porém daquilo que o astro de esplendor
pode cobrar para me dar o seu fulgor:
tudo tem preço.
Qual será a oblação
que esse disco solar que se adorou
forçosamente, no Romano Império,
pretende a troco de todo o seu favor?
Mithra já morto, tal como se finou
Nimrod, que o alvejou em despautério.
Só em Apollo ainda busco um condutor.
AO ESCURO DO SOL III
Um avatar que me seja inspirador,
sem minha cabeça queimar em demasiado;
Hélios não mais que um carro tripulado,
mas que me traga cem odres geradores
de centenares de poemáticos lavores,
como sempre me trouxe, lado a lado
com Pan-Dionysos nas parreiras abrigado,
com seu vinho de luz em mil fragores!
A luz do Sol desejo em meu cantar.
a luz do céu desejo em mim raiar
e a tais faróis demonstro gratidão,
por mais perceba que me estão a utilizar,
como apenas transmissor na geração
de tantos cantos a queimar-me o coração!
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