COSMOLOGIA
PESSOAL I – 5 OUT 21
A
narrativa do Gênesis até parece
indicar
cronologia e movimento,
mas
para onde prossegue esse portento,
se o
infinito ao menor rincão já tece?
É
muito mais um ladainhar de prece
que
do tempo ou do espaço um só momento:
só em
termos humanos tem alento
esta
noção de que o poder divino desce,
que
na verdade, desde sempre é a criação
e
para sempre e sempre durará,
“séculos
dos séculos” não somente indicará
o
futuro a distribuir-se em profusão,
porém
compreende todo o antanho acumulado,
todo
o prsente em seu correr atribulado.
COSMOLOGIA
PESSOAL II
O
Todo, o Uno, o Fiel do Infinito
não é
igual ao fiel de uma balança,
não
existem pratos a mover-se nessa dança,
não
há éons a correr em mudo grito.
Só
existe tempo na Terra em que eu habito
e
existe o espaço que meu pé alcança,
mas
se fores examinar com temperança,
nem
neste mundo existem em que me agito.
O
Presente é só essa tênue linha
que
corta em faixas o Futuro que não é
e o
deposita no Passado que já foi
e
esse Porvir só no irreal se alinha,
mil
caminhos a depender de escolha e fé,
enquanto
o Presente o tempo inteiro rói.
COSMOLOGIA
PESSOAL III
Pois
o Espaçotempo é mais do que um conceito,
é um
contínuo em que o Tempo fica imóvel
e o
Espaço não se expande em teia móvel,
que
um chama o outro e desse outro é feito;
bem
velozmente o Tempo se contrai,
enquanto
o Espaço avança inexorável;
não
existe um Espaçotempo mensurável,
tudo
é ilusão que só o viver humano atrai.
Porém
o Gênesis para humanos se escreveu
e
seus parâmetros foram mais simbólicos,
os
dias mencionados são retóricos,
somente
a sucessão é que ocorreu,
mas
apenas para nós, a Humanidade perecível,
sem
impor limites à Divindade incognoscível
DENOMINAÇÃO
PESSOAL I – 6 OUT 2021
Há
muitos anos conheci uma mulher,
com
quem quase iniciei caso de amor:
Mi nombre es Nadie! --
respondeu-me com calor,
porém
me chame de “Nádia”, se quiser...
“Meu
nome é Ninguém!” – nesse dizer
só
arremedava ao velho embarcador,
Ulysses
ou Odysseos, nesse temor
da
caverna de Poliphemo, o horrendo ser,
este
filho de Netuno, de um só olho,
o
“Cíclope”, como também já foi chamado,
embora
houvesse vários outros semelhantes,
que
arremessou a rocha como escolho,
porém
seu barco sem conseguir ter afundado,
preservados
assim tais navegantes...
DENOMINAÇÃO
PESSOAL II
Já
muitas vezes se empregou também
esse
artifício para qualquer ocultação
da
identidade, fosse qual fosse a razão:
dizem
que o nome dá poder a alguém
sobre
quem ou o quê seus olhos veem;
mas por
igual motivo de omissão,
simples
desejo de casual satisfação,
sem
compromisso com o par que então se tem.
“Meu
Nome é Ninguém!” – por causa alheia,
quando
existe alguém que inferior se sente
ou se
revolta por ser inferiorizado;
tanta
coisa a negativa assim permeia,
quais
variados comportamentos se apresente
ou
quando ferve por exclusão marcado.
DENOMINAÇÃO
PESSOAL III
Metaforicamente,
ainda se descobre
o
Capitão Nemo e seu submarino,
o
Náutilus, com seu reino pequenino,
sob os
oceanos, que a tantos mais sossobre,
sob o
pretexto de que assim se cobre
de
algum suposto malefício; e assassino
se
transforma... e Kirk Douglas, de
inopino,
frustra
seus planos de coração tão dobre!
E
finalmente, há o personagem de cartum
de
“Procurando por Nemo”, em inversão,
mas
ambos ‘nemos’ quais ninguéns não são
e para
mim ela empregou lugar-comum
para
esse caso de amor que não durou,
por que
sua identidade a jovem me ocultou?...
BARCA PESSOAL I – 7 OUT 12
Afinal, sempre existe outro navio;
posso
pedir ao capitão que me transfira
antes de arribar, num escaler de gira,
por entre as vagas em vago corrupio;
de seu lampião transformo-me em pavio,
bebendo querozene que me fira;
sob minha luz mortiça o mundo mira
os aventais da multidão no cio;
sou poliglota da mudez eterna,
sou quem sempre deseja demonstrar
que existe algo por detrás da luz dos olhos;
que cada um por si então discerna
o que lhe tem sua rota a revelar,
antes que o barco sossobre em seus escolhos.
BARCA PESSOAL II
Afinal, não fui simples marinheiro
nessa nave que Aronnax comandou,
nem esse Nemo a mim cooptou:
nenhum dos dois me teve por inteiro;
mas meu registro é longo e hospitaleiro,
em seis naves meu nome se embarcou
e passo de um a outro, se deixou
de ser seguro seu destino derradeiro;
posso ser sempre assim mais do que um,
nunca “ninguém” oculto em meu plural,
meu nome informo sem temer o mal,
sou “Yo-ho-ho e uma garrafa de rum”,
sou passageiro de mim mesmo no caudal,
na vicissitude de ser sempre mais algum.
BARCA PESSOAL III
Não uso pseudônimo, mas foi longa demais
esta carga de meu nome de batismo, (*)
que hoje limito sem ter grande saudosismo,
sou seis em um, por motivos oficiais;
quem me conhece, tem escolhas naturais
desses seis nomes, mais o breve nihilismo
de um apelido, porém sem “ninguém-ismo”,
pois tenho escolhas bem mais amplas que os
demais;
e quem não me conhece, o nome emprega
pelo qual se inicia o registrado:
sempre protesto que não seja esse o empregado;
mas é impossível contrariar ao que se apega
a sociedade, que me obriga a ser Alguém,
com tantos nomes que me impedem ser Ninguém.
(*) Luis Humberto William Lagos Teixeira Guedes
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