RESSURREICIONISMO I – 17 OUT 21
(Theda Bara, atriz do cinema mudo)
RESSURREIÇÃO É COISA BEM DIFÍCIL,
MAS SEGUNDO AS ESCRITURAS, É POSSÍVEL,
NÃO APENAS JESUS, QUE É COMPREENSÍVEL
QUE PODER TENHA SOBRE A CARNE FÍSSIL,
PORÉM DE PEDRO E DE PAULO ESSE ATO INCRÍVEL
É MENCIONADO COMO SENDO CONCEBÍVEL,
NOS ATOS DOS APÓSTOLOS É LEGÍVEL
QUE DOMINASSEM TAL PROEZA IMPOSSÍVEL,
MAS IGUALMENTE NO VELHO TESTAMENTO,
TANTO ELIAS COMO ELISEU REALIZARAM
RESSURREIÇÕES, EMBORA BEM ESCASSAS,
ALÉM DE QUE EXERCESSEM JULGAMENTO
E MUITO MAIS MORTES PROVOCARAM,
SEM VENDER RESSURREIÇÃO EM QUAISQUER PRAÇAS!
RESSURREICIONISMO II
HOJE EM DIA, OS RELATOS SÃO FREQUENTES
DE EXPERIÊNCIAS DO QUE CHAMAM QUASE-MORTE;
JÁ É COMUM QUE SE EXPERIMENTE A SORTE,
EM OPERAÇÕES PROLONGADAS NOS PACIENTES;
CORAÇÕES SÃO REATIVADOS POR POTENTES
ARTEFATOS CIRÚRGICOS E O ABORTE
É ASSIM REALIZADO DE OUTRA MORTE,
SEM INTERVENÇÕES DIVINAS APARENTES.
CONTUDO, PORQUE SÃO TÃO INSISTENTES
ESSES ANSEIOS DE NAO SE MORRER?
SEM MORTE, O CORPO SEGUE A ENVELHECER,
POR MAIS QUE CRIEM TRATAMENTOS COMPLACENTES
E CAPAZES DE CAUSAR ESSA ILUSÃO
DE UM REJUVENESCIMENTO EM OCASIÃO.
RESSURREICIONISMO III
JÁ AS ARTES MÁGICAS SÃO, NÃO OBSTANTE,
INCAPAZES DE REALIZAR O SORTILÉGIO,
NÃO HÁ DOUTRINA SECRETA OU FLORILÉGIO
QUE TRAGA À VIDA QUEM DELA ESTÁ DISTANTE.
E CERTAMENTE AINDA É ESPERANÇA DELIRANTE
RESSUSCITAR QUEM JÁ PAGOU O PEDÁGIO:
A SEPULTURA LHE COBROU UM FORTE ÁGIO,
DOS WALKING DEAD A MENTIRA É SIBILANTE!
LI DE UMA BRUXA, QUE CHEIA DE SAUDADE,
TENTOU TRAZER DE VOLTA AMOR PERDIDO,
PELAS RECEITAS DO NECRONOMICRON
SECRETO;
COM O ESQUELETO DO AMOR, EM ANSIEDADE,
ATÉ DANÇAVA APÓS RECEITAS TER SEGUIDO,
MAS SEM A CARNE RESTAURAR DE SEU DILETO!...
CAPTURA I – 18 OUT 21
Às vezes, vejo a Palavra em um poema
ou imagem de livro técnico transcrita,
que sem qualquer porquê me inspira a
escrita
de novos versos, com diferente gema.
De ser original conservo o lema:
de plágio ou cópia evito a larga fita,
mas faço minha essa palavra assim
bendita,
qualquer que seja a origem do fonema.
De forma alguma vou copiar alheia ideia;
contos de fadas até redijo em novo brio
e assim fecundo a Palavra vista ali.
E aqui confesso a razão desta epopeia:
eu vi num livro o comum termo “navio”
e vinte e quatro outros sonetos escrevi!
CAPTURA II
Por mais de década guardei originais:
há pouco tempo os fui ressuscitando,
nesta magia sem qualquer teor nefando;
eram rascunhos sem gozar os iniciais
momentos de suas vidas. No jamais
das prateleiras jaziam meditando,
filhos do escuro todos se tornando,
até que um dia os tomei, de muitos mais.
Mas cada rascunho originou poemas vários,
três ou quatro, a cada soneto ressurreto;
vai-se o Escurial assim que enxergam luz.
E há tantos mais ocultos nos sacrários,
algum mais tolo e outro mais dileto,
que então entrego do digital à cruz.
CAPTURA III
Porém sonetos retirar da sepultura
não é, de fato, qualquer ressurreição:
nunca morreram, nascituros são,
não há milagre nem sequer magia obscura.
O que existe é que sempre me perdura
esse ignoto que apelidaram inspiração
que de meu tempo me toma a profusão,
até mesclar-me com traços de loucura;
por mais que tenha o soneto esquadrejado
e com meus próprios dedos compassado,
não me parece que nada seja meu.
E me surpreendo e quase me revolto
pela insistência com que me sinto envolto
por tantos versos, qual Medusa de Perseu!
AEDO
CONTRARIADO I – 19 OUT 21
Se permitir
que me arraste a natureza,
torneira
aberta em liberada eclusa,
do
eterno lago a represada musa,
transbordarão
em toda a sua grandeza;
tais
versos não são meus, tenho certeza,
um
outro espírito de minha mente abusa;
que
não se tome apenas por escusa:
sou
tão somente o escriba da beleza!
Quem
me inspira acredito ser Dionyso,
do
mosto o deus, senhor da embriaguez,
sem
que seu álcool minhas artérias beatifique.
Aedo
eu sou, mas as sendas por que piso
estão
juncadas de mil sonhos de altivez,
a me exigir
que a Palavra eu santifique!
AEDO
CONTRARIADO II
Contudo
creio que há muitos avatares,
talvez
de Vishnu, ou de Apollo, pai das musas;
quiçá
do próprio Phtah receba escusas, (*)
todo
esse vinho a brotar de meus lagares,
versos
felizes, outros cheios de pesares,
reminiscêncas
das métricas mais lusas...
Ah,
Noosfera, se de mim abusas,
dá-me
energia para enfrentar tantos azares!
(*)
Leia-se “Ftá” com F.
Nestes
últimos meses, com meus olhos
fortemente
afetados, qual paixão
me
permite ainda cumprir esta missão,
que
escolhi da Sansara nos escolhos?
Que
hoje percebo que nada mais eu faço,
salvo
com versos preencher meu tempo e espaço...
AEDO
CONTRARIADO III
Antigos
deuses a me trazer inspiração
nunca
foram exclusivas entidades;
sãoa
avatares a emanar de eternidades,
que as
fontes brotam revestidas de ilusão
é um
só Espírito, em tal manifestação,
seja o
que for que entenderes por verdades,
quaisquer
que forem tuas crenças ou impiedades,
são do
Universo a constante vibração.
E se o
alvo me tornei da longa obra,
de que
em vão tento Pralaya provocar, (*)
só
devo aos mil avatares gratidão;
dos
poemas já perdidos só o que sobra,
vindo
junto a minhas cocleias murmurar, (+)
em
breve súplica por qualquer ressurreição!
(*) O
Grande Sono entre duas eternidades.
(+)
Núcleos nervosos cerebrais da audição.
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