quinta-feira, 28 de outubro de 2021


 

 

PELES GÊMEAS I (2007?)

 

Se o homem e a mulher coabitam longos

períodos de vivência, lado a Lado,

Seus cheiros se misturam, conjugado

o sangue e o alimento: são dois Gongos.

 

Seus gérmens coabitam, as bactérias

Proliferam de um na outra, então se Cruzam;

Palavras trocam, hábitos escusam

e compartilham mais tantas Matérias...

 

Porém as almas não dividem cheiros,

tem outros gostos, toques e Carinhos,

As almas não se fundem, mas se esfolam:

 

só quando surgem amores Verdadeiros,

É como se tais almas, seus caminhos

entrecruzassem; e em alma só se Isolam.       


 Na ilustração, Cinzia de Roccaforte, 

atriz italiana dos anos cinquenta e sessenta.


PELES GÊMEAS II – 26 OUT 2021

 

É costume falar em “amor de Pele”,

manifestado em atração carnal;

faz-se o corpo a nosso lado Natural,

como se a carne nossa à sua apele.

 

Alguma coisa se experimenta ali que sele

o homem e a mulher no amor Sexual;

ou, quem sabe, em um certo carnaval,

ao próprio sexo certa atração então Revele.

 

Costuma-se dizer não ser Amor

tal tipo rápido e violento de atração,

mas tão somente uma forma de Paixão

 

que bem depressa perde o seu calor,

tal como chamam de “Amor Recém-Casado”,

pelo costume tão depressa desgastado...

 

PELES GÊMEAS III

 

Contudo as coisas não são bem assim:

existe mais que um desejo só Carnal,

quando uma pele se cola em consensual,

peito no peito que se volta para Mim.

 

Ou quando as costas me dá essa Arlequim,

dentro do sono sua morada temporal,

meu peito contra espáduas, em total

abnegação, que parece não ter Fim.

 

E mesmo o cheiro provindo de sua mão,

quando eu a beijo Subrepticiamente,

sem querer extraí-la de seu sonho,

 

se cola a minhas mucosas, em Profusão

de alheias células a voar suavemente,

nariz e lábios a preencher de amor Bisonho.

 

PELES GÊMEAS IV

 

Não se renega aqui o amor Sexual:

faz parte do querer, profusamente,

mas é um tolo quem apenas se Contente

com as mucosas da área genital.

 

Toda essa pele macia é um dom fatal,

dos pés à testa, de forma Independente;

que minha pele dessa pele se alimente,

muito mais vale que qualquer paixão Casual.

 

Nem me refiro à parte Emocional,

deixei de lado a alma neste instante,

a mente apenas, de forma Tonitruante,

 

é invadida por tal toque do carnal,

em que mesmo o suor é Impactante

e nos transporta num torpor alem do mal.

 

PROGÊNIE I – 13/06/09

 

Se os deuses nos retomam com a esquerda

o bem que haviam dado com a direita,

com nosso mal transcorre de igual feita:

se uma castiga, a outra afasta a perda...

 

E assim se trama o destino com tal cerda,

tal como o gume de uma lâmina se ajeita,

um pouco de calor, dose perfeita:

e então o frio, com que a têmpera se herda.

 

Pois há equilíbrio entre a perseverança

e a indolência, que também se adensem,

nas traças de alternância mais honesta.

 

E ainda bem que é assim.   Sempre esperança

possuímos de que os males nos compensem:

não noutra vida, mas justamente nesta...

 

PROGÊNIE II – 27 out 21

 

Todos pensamos o centro ser do mundo

e que por nós se interessem as estrelas,

olhos de deuses a espiar pelas cancelas,

alguns benignos, talvez outro iracundo.

 

Isto é humano, pois no cerne mais profundo

de nossa mente, erigimos as estelas,

em homenagem a nossos feitos e querelas,

como os antigos reis, algo de furibundo,

 

para deixar de nós além da morte,

mesmo que construído tão só no cerebral,

alimentado por todo o nosso emocional:

 

essa vaga esperança, além da sorte,

de que algo de nós no afã perdure,

mesmo depois que até da ossada se descure!

 

PROGÊNIE III

 

Dizem teósofos que existe arcana lei,

a “Lei do Ciclo” e que no meio está a verdade,

que o pêndulo só oscila em obliquidade:

fui a um extremo e ao oposto chegarei.

 

Tantas teorias abstrusas já estudei,

quiçá me expliquem minha esperançosidade,

que só na vida me atrasou, na realidade,

sempre no aguardo de que trono ganharei!

 

Já muitas vezes repreendi essa Pandora,

que não quis manter fechada a esperança,

o maior mal que na vida nos alcança.

 

Saíram os outros, mas pesada essa senhora,

ou talvez adormentada em indolência,

bem lá no fundo ainda aguardava com paciência...

 

PROGÊNIE IV

 

Porque esperava que algo mais acontecesse,

que do fundo do escrínio a retirassem,

nesse esperar na espera que a agarrassem,

sem desejar que sobre o mundo se perdesse.

 

E sua vingança sobre nós ela exercesse,

que a Pandora os outros males alcançassem

e que a toda a humanidade dominassem,

que algum triste até dela se lembrasse...

 

Então diria: “Deixa só para amanhã,

não faças hoje o que pode ser adiado,

muitas bênçãos tem o futuro reservado...”

 

Tão escarninha quanto a Estrela da Manhã,

que sobre a testa nos brilha, indiferente,

sem o menor interesse ter em qualquer gente!

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