O GIGANTE CANIBAL – 24 SET 21
Capítulo Quinto
Sete anos se passaram. As faldas da montanha
se achavam cheias de homens e rebanhos;
ninguém temia mais de Krom a sanha,
de suas pastagens a aproveitar os ganhos
e embora Teddy ainda os prevenisse,
como a razão de sua certeza nunca disse,
achavam mesmo que o gigante havia morrido
e que o perigo totalmente havia sumido.
Enquanto isso, o menino já crescera
e se tornara num rapaz garboso;
aos pais adotivos fiel permanecera,
de sua horte seu pomar bem cuidadoso;
as comadres diziam que era belo
como um príncipe morando num castelo,
mas ele apenas afirmava, sem vaidade:
“Vamos ver, chegada a hora da verdade!”
“Logo o gigante vai de novo se acordar!”
Todos troçavam do que ele dizia.
As meninas ele chegava a namorar,
mas com nenhuma se comprometia,
cada namoro chegando a terminar,
quando insistia que o gigante iria acordar;
os adultos e até mesmo o pai pastor
que o criara a pôr em dúvida
esse horror.
Contudo Teddy pai não se atrevia
a descer até o vale ou a subir
a outra montanha, porque nunca se esquecia
da horrível cena que pudera um dia assistir...
Mas certo dia, cumpridos sete anos,
se escutaram três rugidos desumanos!
“Esse idiota do Teddy tanto nos falou:
por causa dele é que o gigante se acordou!”
Naturalmente, uma tolice imensa,
o resultado desse medo que sentiam;
e seus rebanhos, numa turba tensa,
começaram a retirar quando fugiam:
“O gigante acordou, vai nos matar,
ou pelo menos nossos rebanhos devorar!”
E logo os pés do gigante se moviam
e o imenso corpanzil todos já viam!...
Logo surgiu, no alto da montanha,
aquela horrivel cabeçorra do gigante,
cabelos desgrenhados; e a fome era tamanha
que então sentia, que as garras, num instante,
esticou sobre o vale, um carneiro segurando,
depois cabras e vacas agarrando,
a devorar quanto podia cru,
correndo o sangue por seu peito nu!
Então as gentes deixaram para trás
seus animais, a correr em desespero!
Mas para Krom diferença isso não faz,
ia comendo e resmungando, bem sincero:
“Bem que eu fiz em dormir por tanto tempo!
Tanta comida me trouxeram a contento!
Lembro que tinha de andar, antigamente,
procurar longe! Era bastante deprimente!...”
Dava risadas enquanto sangue escorria,
a correr pela montanha em rubra fonte;
o pastor em sua casinha se escondia,
os rebanhos a tropear até o horizonte;
o outro monte lhe dava certa proteção,
nem poderia enfrentar
tal multidão!...
Mas de repente deram falta do rapaz,
que rota inversa à dos fugitivos faz!...
Lá do alto viram que cruzava o vale,
por entre as tropas de bois e de cavalos;
que logo a seguir pela montanha escale,
ossos roídos ali tombando com estalos!
E perceberam nada poderem fazer,
em sua cabana de novo a se esconder,
pois Teddy subia as rochas agilmente,
até o ponto em que a águia estava assente!
Chegando à frente da ave, descansou:
“Subiste até aqui em cima, finalmente!
Até pensei que o gigante te assustou!”
“Não, minha senhora, mas havia tanta gente
querendo descer, que minha subida atrapalharam,
mas nem rugidos, nem medo me assustaram...”
“E como estás agora?” – a grande ave indagou.
“Bem, e a senhora?” – Teddy contestou.
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