RENOVAÇÃO EM VIDRO I – 14 OUT 21
Passageira desse barco, suponhamos
que sejas tu, incauta viajante,
turista de um destino expectante,
sem um traçado exato de teus planos.
Na amurada de teu rosto assim vejamos
um olhar meio assombrado e delirante,
a contemplar os olhos do gigante,
incompatíveis os pontos em que estamos.
Se estender meus dedos e tocar-te,
eu só te causarei susto e arrepio,
minhas falanges contra o vidro frio,
em minha inútil ilusão de amar-te,
na garrafa de meu peito prisioneira,
apenas tu nesse barco passageira.
RENOVAÇÃO EM VIDRO II
Pois somos todos nesta estranha vida
passageiros de um barco em miniatura,
a alma apenas se mantém no corpo pura
pela espessura de um vidro protegida;
singra esse barco no mar da despedida,
perpétua e permanente em sua lisura;
nunca se encrespa das ondas canelura,
não há borrasca que o leve de vencida.
Nem o Sol se levanta sobre os crentes,
nem a Lua protege os impiedosos,
somente o vidro em nosso espaço onipresente,
nossos temores todos transparentes,
nacarados em nossa concha de cristal,
um abalone além do bem e além do mal.
RENOVAÇÃO EM VIDRO III
Mas é somente ao quebrar desse casulo
que poderemos outros mundos percorrer
e em plena liberdade discorrer
os horizontes sem fim do espanto nulo;
é na quebra dos cacos que eu engulo
que me percebo assim a envelhecer:
igual lagarta que tende a perecer,
sei de meu fim e aos deuses não adulo.
Porém se conseguir ser borboleta,
não deixarei por isso de ser presa,
por breve tempo a fornecer certa beleza
e assim eu nutro essa ambição secreta
de balançar meu navio no teu regaço,
caindo ao solo em que serei só um estilhaço.
DEVADASIS I – 15 OUT 21
A Devaradrijar se faz serva de um deus,
quando controla seus impulsos naturais
e se consagra às divindades imortais,
submetida inteiramente aos seus
ensinamentos em Vachaspati, Os ateus
não conseguem conceber estes sinais,
não é uma freira em jejuns inaturais,
nem sacerdotisa com pendores fariseus.
Porém escuta na alma os mandamentos
e após curta pralaya de meditação (*)
inicia a sua nova eternidade,
descurando de seus próprios julgamentos,
que só as mensagesn da deidade são
obedecidas em total integridade.
(*) Suspensão da atividade, intervalo, sono de Brahma.
DEVADASIS II
Ao mesmo tempo, em sua consagração
é tida como esposa de sua divindade,
que pode até requerer sua castidade
ou ao contrário, sua carnal adoração;
contudo existe sempre qualquer depravação
falsos saddhus veem ali oportunidade (*)
de se afirmarem quais profetas da verdade
e os obedecem como parte da missão.
(*) Santos hindus
Assim aos poucos foram suas noviças
transformadas quase em escravas sexuais
da hierarquia religiosa ou de sociais
requerimentos, sem se mostrar remissas
e finalmente o sistema se aboliu,
quando já nada do original lhe persistiu.
DEVADASIS III
Pois realmente uma lei se proclamou,
a Madras Devadasis, destinada à prevenção
de ser realizada qualquer nova dedicação,
como anticonstitucional sendo se afirmou.
Foi Sethu Lakshmi Bai que retirou
desse sistema a final renovação,
meio Madre Superiora, na noção
desvirtuada que no Ocidente se formou.
Porém em Goa, na antiga Índia Portuguesa,
ainda persistem as assim-chamdas ‘bailadeiras’,
que a si tomam as sagradas danças,
dentro dos templos em que a
missa se reza,
na castidade de verdadeiras freiras,
a tradição ganhando novas esperanças.
TEOPANISMO I – 16 OUT 2021
Pouco se fala sobre o Teopanismo,
termo inventado para se designar
um conceito induísta e o
interpretar,
na visão Romana do Catolicismo;
não se confundirá com Panteísmo,
tal como Spinoza o quis pregar,
em que das coisas materiais o
congregar
corresponde à emanação do Divinismo
O Teopantismo como termo foi
cunhado
para indicar um relacionamento
entre o Infinito e as mil coisas
do Finito,
um pelo outro assim
complementado,
o Infinito a depender do
pensamento,
para ser por nossa mente
circunscrito.
TEOPANISMO II
O Infinito não precisa em
absoluto
do Finito, salvo apenas no sentido
de precisarmos de um corpo ter
nutrido
e cada célula faz ali parte do
conduto.
Mas há o logos, a Palavra e o physis
bruto,
o material pelo Infinito
concebido
e não existe um deles sem o
contido
no seu oposto, em pleno ideal
arguto.
Mas para a alma há a
Epístome, a Verdade,
e para o corpo apenas Doxa, a
opinião;
somos Imagem de Deus só no reflexo
bem diluído em sua carnalidade,
pelo Infinito a ansiar nessa
razão,
do limitado conscrita no seu nexo.
TEOPANISMO III
Todo o Finito faz parte do
Infinito,
pois fora dele nada será
possível,
o Infinito sendo inexaurível
e desse mmodo a compreender todo
o bendito
e tudo aquilo que julgamos ser
maldito;
sair fora do Infinito é
impossível,
mas para nossa mente é
incompreensível,
pois sou matéria e na matéria
habito.
E assim, eu me vejo constrangido
entre os limites da Temporalidade
e as dimensões da Espacialidade,
sendo apenas um reflexo comedido,
a Abbild da Urbild,
o arquétipo inicial,
que abrande em si o total do bem
e mal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário