quinta-feira, 21 de outubro de 2021


 

 

RENOVAÇÃO EM VIDRO I – 14 OUT 21

 

Passageira desse barco, suponhamos

que sejas tu, incauta viajante,

turista de um destino expectante,

sem um traçado exato de teus planos.

Na amurada de teu rosto assim vejamos

um olhar meio assombrado e delirante,

a contemplar os olhos do gigante,

incompatíveis os pontos em que estamos.

 

Se estender meus dedos e tocar-te,

eu só te causarei susto e arrepio,

minhas falanges contra o vidro frio,

em minha inútil ilusão de amar-te,

na garrafa de meu peito prisioneira,

apenas tu nesse barco passageira.

 

RENOVAÇÃO EM VIDRO II

 

Pois somos todos nesta estranha vida

passageiros de um barco em miniatura,

a alma apenas se mantém no corpo pura

pela espessura de um vidro protegida;

singra esse barco no mar da despedida,

perpétua e permanente em sua lisura;

nunca se encrespa das ondas canelura,

não há borrasca que o leve de vencida.

 

Nem o Sol se levanta sobre os crentes,

nem a Lua protege os impiedosos,

somente o vidro em nosso espaço onipresente,

nossos temores todos transparentes,

nacarados em nossa concha de cristal,

um abalone além do bem e além do mal.

 

RENOVAÇÃO EM VIDRO III

 

Mas é somente ao quebrar desse casulo

que poderemos outros mundos percorrer

e em plena liberdade discorrer

os horizontes sem fim do espanto nulo;

é na quebra dos cacos que eu engulo

que me percebo assim a envelhecer:

igual lagarta que tende a perecer,

sei de meu fim e aos deuses não adulo.

 

Porém se conseguir ser borboleta,

não deixarei por isso de ser presa,

por breve tempo a fornecer certa beleza

e assim eu nutro essa ambição secreta

de balançar meu navio no teu regaço,

caindo ao solo em que serei só um estilhaço.

 

DEVADASIS I – 15 OUT 21

 

A Devaradrijar se faz serva de um deus,

quando controla seus impulsos naturais

e se consagra às divindades imortais,

submetida inteiramente aos seus

ensinamentos em Vachaspati, Os ateus

não conseguem conceber estes sinais,

não é uma freira em jejuns inaturais,

nem sacerdotisa com pendores fariseus.

 

Porém escuta na alma os mandamentos

e após curta pralaya de meditação (*)

inicia a sua nova eternidade,

descurando de seus próprios julgamentos,

que só as mensagesn da deidade são

obedecidas em total integridade.

(*) Suspensão da atividade, intervalo, sono de Brahma.

 

DEVADASIS II

 

Ao mesmo tempo, em sua consagração

é tida como esposa de sua divindade,

que pode até requerer sua castidade

ou ao contrário, sua carnal adoração;

contudo existe sempre qualquer depravação

falsos saddhus veem ali oportunidade (*)

de se afirmarem quais profetas da verdade

e os obedecem como parte da missão.

(*) Santos hindus

 

Assim aos poucos foram suas noviças

transformadas quase em escravas sexuais

da hierarquia religiosa ou de sociais

requerimentos, sem se mostrar remissas

e finalmente o sistema se aboliu,

quando já nada do original lhe persistiu.

 

DEVADASIS III

 

Pois realmente uma lei se proclamou,

a Madras Devadasis, destinada à prevenção

de ser realizada qualquer nova dedicação,

como anticonstitucional sendo se afirmou.

Foi Sethu Lakshmi Bai que retirou

desse sistema a final renovação,

meio Madre Superiora, na noção

desvirtuada que no Ocidente se formou.

 

Porém em Goa, na antiga Índia Portuguesa,

ainda persistem as assim-chamdas ‘bailadeiras’,

que a si tomam as sagradas danças,

dentro dos templos  em que a missa se reza,

na castidade de verdadeiras freiras,

a tradição ganhando novas esperanças.

 

TEOPANISMO I – 16 OUT 2021

 

Pouco se fala sobre o Teopanismo,

termo inventado para se designar

um conceito induísta e o interpretar,

na visão Romana do Catolicismo;

não se confundirá com Panteísmo,

tal como Spinoza o quis pregar,

em que das coisas materiais o congregar

corresponde à emanação do Divinismo

 

O Teopantismo como termo foi cunhado

para indicar um relacionamento

entre o Infinito e as mil coisas do Finito,

um pelo outro assim complementado,

o Infinito a depender do pensamento,

para ser por nossa mente circunscrito.

 

TEOPANISMO II

 

O Infinito não precisa em absoluto

do Finito,  salvo apenas no sentido

de precisarmos de um corpo ter nutrido

e cada célula faz ali parte do conduto.

Mas há o logos, a Palavra e o physis  bruto,

o material pelo Infinito concebido

e não existe um deles sem o contido

no seu oposto, em pleno ideal arguto.

 

Mas para a alma há a Epístome,  a Verdade,

e para o corpo apenas Doxa, a opinião;

somos Imagem de Deus  só no reflexo

bem diluído em sua carnalidade,

pelo Infinito a ansiar nessa razão,

do limitado  conscrita no seu nexo.

 

TEOPANISMO III

 

Todo o Finito faz parte do Infinito,

pois fora dele nada será possível,

o Infinito sendo inexaurível

e desse mmodo a compreender todo o bendito

e tudo aquilo que julgamos ser maldito;

sair fora do Infinito é impossível,

mas para nossa mente é incompreensível,

pois sou matéria e na matéria habito.

 

E assim, eu me vejo constrangido

entre os limites da Temporalidade

e as dimensões da Espacialidade,

sendo apenas um reflexo comedido,

a Abbild  da Urbild, o arquétipo inicial,

que abrande em si o total do bem e mal.

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