DE
AMOR E ÁGUAS I – 17 FEV 22
Quando
me encontro contigo, é igual que Oceano
a
recobrir-me a pele totalmente:
parte
nenhuma de mim é indiferente,
cada
órgão vem informar-me que amo!
Esse
encontro contigo é igual que Arcano,
como
as cartas do Tarot se faz presente;
é
meu destino repetido tão frequente,
que
em tua ausência me sentirei insano.
Porque
não é tão só questão de sentimento,
nem
que meu cérebro perca sua razão,
nem
que adoidado me bata o coração:
algo
me impele, muito além do julgamento
e
é só nas ondas de teu ser que então mergulho
e
é só de seres minha que me orgulho!
DE
AMOR E ÁGUAS II
Não
estou em busca de modelos de escrever,
mesmo
me atendo às regras da poesia:
somente
escrevo o que um dia sentiria,
pouco
me importa se afinal me venhas ler.
Ou
se alguém mais há de sentir algum prazer
nestas
linhas de calidez e de euforia:
longe
de ti só experimeno a desvalia
e
apenas quero teu rosto enfim rever!
Porque
te amo com minhas pernas e meus braços,
com
minhas coxas e com meus antebraços,
com
os meus pulsos e os meus tornozelos;
porque
te amo com todos os meus espaços,
com
os meus joelhos e com os cotovelos,
na
expectativa feroz de outros compassos!
DE
AMOR E ÁGUAS III
Por
isso afirmo que mergulho em ti,
não
apenas com o membro mais sensual,
mas
com todas as facetas do carnal
e
por momentos não me encontro mais aqui.
Porém
sou teu, em teu corpo é que me vi,
ondas
e vagas de amor espiritual,
maré
constante a se esbater no terrenal,
bateste
em mim e em ti me consumi!
Meu
umbigo, meu ventre, o peito inteiro,
minhas
costas, meu pescoço, meus cabelos
emaranhados
nessas algas que me envias,
na
flutuação das maresias pegureiro,
eu
subo à máxima altura dos desvelos,
só
por instantes, ao saber que me querias!
DE
AMOR E METEOROS I – 18 FEV 22
Por
algum motivo, esses primeiros descobertos
dos
asteróides cruzando a órbita da Terra,
receberam
nomes em que amor se encerra,
por
mais que fossem opostos seus acertos.
Eros
e Amor, perigosos seus apertos,
Apollo
e Adônis, nos quais prepondera (*)
a
direção do Sol, que não se altera
enquanto
os olhos teus mantens abertos.
(*)
Adônis era filho de Apollo, deus do Sol.
Na
verdade, foi qualquer estranho sentimento
de
romantismo, por sua aproximação
ou
quiçá por algum tipo de ironia,
que
influenciou o ardiloso julgamento,
a
descrevê-los como amantes de ocasião,
que
a Terra por sua vez escolheria...
DE
AMOR E METEOROS II
Verdade
fosse, provável mais odiantes,
pois
sua presença constitui certa ameaça:
a
cada órbita cruzada uma negaça
de
alguns abraços mais que delirantes!
Até
hoje, não se beijaram esses amantes,
mas
talvez isso não seja só trapaça:
a
cada vez que um dos tais ao Sol perpassa,
altera-se
a sua órbita por instantes!
E
se acaso se tornar mais perniciosa,
suspenderão
a sua cobiça permanente
e
realmente virão beijar a Terra,
um
ou mais deles, em dança sediciosa,
sua
colisão violenta realmente,
que
para a humanidade o fim descerra!
DE
AMOR E METEOROS III
Talvez
seja bem mais do que ironia,
mas
o apelo a algum feroz sarcasmo:
seria
um ato de amor de ausente orgasmo,
porém
um clímax como antes não se via!
E
quanta vez através da história havia
alguma
outra consumação de causar pasmo,
posto
de lado qualquer prévio marasmo,
mas
que a seguir à morte conduzia!
Quantos
amantes abraçaram esse Amor,
a
que por Eros se deixaram conduzir
e
no calor de Apollo se queimaram?
Sem
que um Adônis produzisse o seu calor,
mas
simplesmente a memória a transmitir
dessa
tragédia por que ambos perpassaram!
DE
AMOR E ABRAÃO I – 19 FEV 22
A
questão é que Abraão confabulava
com
o Deus Supremo como se fosse igual:
no
coração o acendia por fanal
e
à sua imagem ao mesmo Deus orava!
Este
Abraão que a Escritura nos legava
seria
o protótipo de qualquer deus carnal,
transmogrifado
já e em parte espiritual,
Sua
carne inteira que não se desmanchava
e
nem tampouco em sangue se afirmava,
mas
direto sublimava em nuvem de vapor,
em
holocausto transformado por inteiro!
Por
isso o filho sacrificar pensava,
como
figura desse divinal amor,
que
outro Filho transformaria em Cordeiro!
DE
AMOR E ABRAÃO II
A
diferença está é que o nobre Abraão
com
o seu Deus Yahweh se identificou:
à
sua imagem e semelhança o conformou,
totalmente
entronizado ao coração!
De
que outra forma a criatura de emoção
que
esse Deus Único inicialmente apresentou
O
poderia conceber, como O julgou,
senão
por mescla de amor e de razão?
Mas
não se afirme que a Deus ele criou,
mas
tão somente o conceito transmitido.
Akhenaton
também foi monoteísta,
mas
foi a Aton, o Sol, que ele adorou,
que
todo o Egito lhe havia concedido
e
a quem louvou com seu louvor egoísta.
DE
AMOR E ABRAÃO III
É
até possível que antes de Abraão
e
antes do estranho Faraó do Egito,
que
só um Deus houvesse fosse dito,
mas
para poucos fez-se tal revelação.
Akhenaton
tentou fazer a imposição
do
sentimento de um coração aflito,
mas
seu Aton foi somente deus finito,
após
sua morte, sem maior aceitação.
Muito
além do Trimurti Brahmanista, (*)
há
o conceito desse Deus Universal,
mas
que não foi repassado às multidões,
enquanto
esse velho Abraão monoteísta
nos
legou esse direito divinal
de
guardar Deus em nossos corações!...
(*)
Brahma, Vishnu e Shiva, a Trindade dos Hindus.
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